quinta-feira, 25 de maio de 2006

Sexo e saúde

Acabei de ler uma reportagem em uma revista que deve ser muito séria, já que tinha uma artista da Globo na capa, que dizia o seguinte (a revista, não a artista): sexo é bom para a saúde.
Não foi a primeira vez que vi inferências a isso, mas a afirmação estava bastante categórica na matéria em questão. Além disso, ouvi falar que exercícios regulares são fundamentais para a manutenção do funcionamento do corpo. Acredito, contudo, que essas afirmações são falsas ou, ao menos, questionáveis. E, ao contrário do que costumo fazer, desta vez posso provar.
E as freiras?
Posso estar mal informado, mas não sei se os conventos andam equipados com academias de ginástica e musculação e, tudo bem que uma ou outra escorregue de vez em quando, mas sexo não é um elemento que faça parte da rotina da madre superiora.
E freira vive. Vive muito e vive feliz. Já fiz parte de movimento de jovens da Igreja católica e nunca me chamaram para enterro de freira. De padre, fui em dois. Freira nunca nem vi doente.
Não deve ser a roupa preta, pois nunca vi punk e dark velho. Talvez tenha algo a ver com a permanência em ambientes austeros e mal iluminados... Pode ser, já que bibliotecário também vive muito. Mas, em todo caso, não deve ser nem o exercício e muito menos o sexo.
Tudo bem - quem quer viver para sempre?

quinta-feira, 18 de maio de 2006

Aventura

06:45 – Pablo Marques acordou, fez seu alongamento matinal, tomou banho e preparou-se para ir ao trabalho com seu melhor amigo, Heitor Lobo. Mais um dia normal pela frente, pensou Pablo.

07:12 – O carro de Heitor passou a centímetros do caminhão de lixo. Pablo conferiu o velocímetro: 160 quilômetros por hora. Pegue a arma no porta-luvas, gritou Heitor enquanto desviava de uma senhora grávida – o carro já estava sobre a calçada. O veículo negro que os estava perseguindo parecia cada vez mais próximo.

08:20 – O vento frio quase derrubou Pablo do edifício. Estava no décimo-segundo andar e procurava desesperadamente uma maneira de voltar para o interior do prédio. Reunindo suas forças, quebrou uma janela com um poderoso chute, interrompendo uma sessão de fotos para uma revista masculina.

08:46 – A top model internacional Heidl Kim, vestindo apenas uma camiseta branca molhada e uma calcinha da Hello Kit, abraçou Pablo e, encarando-o com seus belíssimos olhos azuis, disse, sem hesitação: Confio em você. Então, segure-se, respondeu Pablo. E jogou-se do topo do arranha-céu. E se o pára-quedas roubado da loja esportiva na cobertura não funcionasse?

10:56 – A correnteza quase arrancou a bolsa com os diamantes da mão de Pablo. Com uma mão, agarrava-se firmemente a um tronco. Com a outra, segurava a bolsa. Heidl, com a camiseta cada vez mais molhada e mais transparente permanecia agarrada em seu pescoço. O crocodilo se aproximava lentamente.

12:05 – E agora? Qual seria a senha do computador de Heitor? Qual seria o envolvimento de seu amigo com o Culto das Três Serpentes e com a CUT? Olhou em volta em busca de uma pista. Lá fora, um tumulto – o corpo havia sido descoberto!

14:28 – Heidl, com um movimento rápido, arrancou a espada da parede e arremessou-a para Pablo, rasgando um pedaço de sua camiseta branca molhada. Pablo não estava mais indefeso, seus movimentos eram lentos e estudados, com a espada em punho, aproximava-se de seu adversário, que empunhava um florete. Heitor, diga onde está a bomba. A voz de Pablo era sombria e determinada.

16:32 – Ferido, exausto e com a visão embaçada, Pablo sentiu o suor escorrendo em sua testa. Naquele estado, jamais conseguiria acertar um alvo móvel a trezentos metros de distância. Mas o País precisava dele. Respirando fundo, ajeitou o rifle sobre o antebraço esquerdo e olhou novamente na mira telescópica. Lá estava Heitor, entrando na lancha e arrastando a pobre Heidl pelos cabelos.

17:01 – O helicóptero chocou-se com o hidroavião.

17:14 – Puxe o fio verde! Puxe o fio verde!, Heidl gritava, com a voz já anasalada, por causa de um resfriado (ela havia passado o dia inteiro com a blusa molhada). Mas Pablo lembrava-se muito bem de seu tempo como membro do Esquadrão de Elite Especial (o EEE) e sabia que dispositivos termonucleares resfriados com hidrogênio líquido e com timers analógicos não podiam ser desarmados de forma simples. Eles haviam chegado tarde demais, a bomba ia explodir. A não ser que...

18:00 – Pablo chega em casa e a esposa o recebe com mais um longo e caloroso beijo. O cheirinho agradável que emana da cozinha não deixa dúvidas: o jantar vai ser frango com açafrão.

Decifra-me ou te devoro

Assim como o livro, um certo mistério ronda o filme O Código da Vinci. De forma completamente pretensiosa, revelo, aqui, como será o filme antes de assisti-lo.

OS HERÓIS
O QUE PODE DAR CERTO: Tom Hanks. Carismático e bom ator (uma coisa nem sempre está junto da outra), ele tem tudo para ser o Robert Langdon que você sempre sonhou.
O QUE PODE DAR ERRADO: Sua coadjuvante é bonitinha e é francesa. Será que é mais que isso?
O QUE PROVAVELMENTE VAI ACONTECER: Tom Hanks vai carregar o resto do elenco nas costas. Não será brilhante, mas será o suficiente.

OS VILÕES
O QUE PODE DAR CERTO: O assassino albino é um personagem marcante. Pode roubar a cena.
O QUE PODE DAR ERRADO: No livro, todos os vilões são meio caricatos, como nos filmes de James Bond da década de setenta. Se o diretor não tomar cuidado, podem ficar meio ridículos.
O QUE PROVAVELMENTE VAI ACONTECER: Os vilões irão alternar bons e maus momentos, mas o gostinho do exagero ficará na sua boca quando sair do cinema.

A TRAMA
O QUE PODE DAR CERTO: A investigação é envolvente e o livro tem um bom ritmo, alternando cenas de ação com momentos de investigação.
O QUE PODE DAR ERRADO: Os produtores esquecerem que o forte de O Código da Vinci é a ficção científica (as ciências são, no caso, a simbologia e a história da arte). Se tentarem fazer um filme de ação, será formulaico e banal. Tirando a parte científica, a história do livro é cheia de clichês e é previsível. Outro risco é o dos produtores acharem necessário mudar um pouco a trama, já que o livro é muito conhecido – se isso acontecer, será um desastre.
O QUE PROVAVELMENTE VAI ACONTECER: Não vai dar para entrar nos detalhes filosóficos e históricos essenciais ao tom de veracidade da trama e as cenas de ação vão ocupar um espaço maior que o necessário. Quem não leu o livro vai ficar sem entender porque um negócio tão absurdo e obviamente mentiroso deu calafrios na igreja.

A PARTE TÉCNICA
O QUE PODE DAR CERTO: Praticamente tudo. Som, fotografia, trilha, montagem. Vai ser um show.
O QUE PODE DAR ERRADO: Quase nada, mas vai faltar criatividade. Seria mais legal ver um Brian de Palma ou um Quentin Tarantino na direção.
O QUE PROVAVELMENTE VAI ACONTECER: Tomadas grandiosas e vários closes do rosto do Tom Hanks fazendo cara de inteligente se alternarão. O clima geral vai ser bem agradável.

O RESULTADO FINAL
O QUE PODE DAR CERTO: O filme vai arrebentar nas bilheterias, podendo até mesmo ganhar algum prêmio técnico no Oscar. Você vai sair do cinema satisfeito e vai adorar comentar com os amigos as inconsistências da trama.
O QUE PODE DAR ERRADO: Os católicos podem perder a paciência e sair no meio. A bilheteria ser boa, mas nem tanto e pouca gente vai comprar a edição especial em DVD que sairá no Natal.
O QUE PROVAVELMENTE VAI ACONTECER: O filme vai ser muito parecido com National Treasure, do Nicholas Cage, só que ambientado em Paris e com temas religiosos. As argumentações mais consistentes do livro não serão bem traduzidas para a tela e a fragilidade da história ficará mais evidente. Mas você vai assistir e não vai achar que jogou dinheiro fora. Daqui a dois anos será cogitada uma continuação, baseada no livro Anjos e Demônios, mas é possível que Tom Hanks não aceite reprisar o papel.

Ervas daninhas no jardim

Por motivos de força maior só fui assistir ao Jardineiro Fiel agora. Achei o filme chatíssimo.
História boa, uma fotografia meio década de setenta (competente, mas não era o que eu esperava), atuações comportadas e flashbacks desnecessários (que contam o que você já deduziu e só contribuem para a lentidão da narrativa). Este talvez seja o primeiro caso que presencio no qual o livro é mais dinâmico que o filme. No livro, o suspense se sustenta. No filme, o suspense aparece e vai embora sem se despedir.
É duro falar mal do filme do Fernando Meireles, principalmente depois de Cidade de Deus, que é um dos melhores filmes que já assisti. Não um dos melhores filmes nacionais – um dos melhores filmes e ponto. Divertido, dinâmico, ousado, crítico, brilhante. Obra-prima. Não é o caso do Jardineiro Fiel.
Para ser honesto, o tema é ácido e atual e os ares de documentário tentam mostrar uma África chocante (como é mesmo), mas ficou faltando alguma coisa. Sir Richard Atemborough mostrou uma África bem mais intrigante e emocionante em Um Grito de Liberdade. Hotel Ruanda, filme mais contemporâneo, também foi mais contundente.
O filme não é uma porcaria, que fique bem claro, mas não é muito divertido. Meio lento, meio previsível. Não chorei, não ri, não fiquei puto e avancei uns pedaços no controle. Dispensável.
Mas como é possível um filme assim ganhar tantos prêmios?
A resposta é muito simples. O que está escrito aí em cima é a minha opinião e minha opinião não vale lá grandes coisas. Mas podem existir outras explicações: Meireles está no embalo, respeitado pelos atores, respeitado pela crítica e parece ser um cara carismático à beça. Além disso, estamos vivendo uma certa euforia com o cinema nacional, algo parecido com o que acontece no futebol. Não interessa se o gol foi de barriga, o importante é que a bola entrou. E não podemos esquecer que esse povo que freqüenta festival de cinema é meio esquisito e tem uns gostos duvidosos – eu não deixaria minha filha andar com eles.
Contudo, essa crítica não estaria completa sem uma confissão: tenho uma paixão declarada pelo entretenimento. Na minha estante, ao lado da Ilíada (em verso) está o Manual do Sexo Manual do Casseta e Planeta – e o livro do Casseta está bem mais usado.
Faça o seguinte: construa uma lista mental dos seus cinqüenta filmes preferidos. Se não tiver nenhum do Schwarzenegger, vá ver o filme.

quarta-feira, 17 de maio de 2006

Isadora, a Insone

Isadora era assim, bastava botar a cabeça sobre o travesseiro que o cérebro se ativava. Mil pensamentos aleatórios invadiam sua mente e o que é pior, ela precisava dividi-los com alguém. Pobre do Fernandinho, que tinha que acordar cedo no dia seguinte.
— Fernando...
— Que é, Isadora?
— Ontem eu sonhei com um dragão...
— Que ótimo, Isa. Agora me deixa dormir, vai...
— Como você sabe que foi ótimo?
— Porque você disse que foi um sonho. Se tivesse sido ruim, seria um pesadelo.
— Oh! Tem razão!
— Boa noite.
— Era um dragão falante.
— Que bom. Boa noite.
— Você não acha estranho um dragão falante?
— Isadora, se eu visse um dragão falante na parada de ônibus eu ia achar estranho, mas em um sonho, especialmente um sonho seu, não acho. Um dragão falante no sonho é algo perfeitamente normal.
— Como assim, especialmente no meu sonho?
— Porque seus sonhos são especiais.
— Hm...
— Boa n...
— Você acha que vou sonhar com ele hoje de novo?
— Não, não acho.
— Por que?
— Porque se você não dormir, não tem como sonhar. Pelo visto, nem eu nem você vamos sonhar com nada hoje!
— ÊÊÊÊÊ, grosso!
— Isa, meu amor, tenho que acordar cedo amanhã...
— Tá bom, tá bom. Vai dormir, vai.
— Boa noite. Beijo.
— Beijo.
— ...
— ...
— ...
— Fernandinho, você já dormiu?
— ...
— FERNANDINHO, VOCÊ JÁ DORMIU?
— Hã?
— Você acredita em fantasma?
— Fantasma? Isa...
— Porque eu estava pensando: tem vários tipos de fantasma – aparições, poltergeist, ghoul... Você sabe o que é um ghoul, Fernandinho?
— Sei. Eu adoro futebol.
— Não é gol, bobinho, é ghoul, com a língua grudada no céu da boca e agá no meio. É aquele fantasma do Senhor dos Anéis. Aquele com a espada.
— Certo. Posso dormir agora?
— Você pode dormir na hora que você quiser. Tem alguém te impedindo?
— Espero que não.
— ...
— ...
— Por que será que eles têm espada? Deve ser porque era um objeto muito comum na época. Hoje em dia, os fantasmas devem aparecer de celular e óculos escuros. Fernandinho, Fernandinho. Acorda, homem, é importante.
— Que foi? Que foi?
— Você acha que fantasma tem celular?
— Fant...? Celular? Isadora, você está louca? São duas horas da manhã e você está aí falando de gente morta com celular? Pirou, é?
— ÊÊÊÊÊÊ. Tá bom. Pode dormir, não falo mais nada.
— Hmm... Vem cá, vem.
— Você não ia dormir?
— Agora não consigo mais, você me acordou. Vem cá, me deixa tirar sua camisolinha...
— Eu te acordei? Que absurdo. Fernando, tira a mão daí.. Ai, ai. Tá bom, mas deixa eu fazer uma coisa primeiro.
— Você está pegando o telefone? Isadora, ce vai ligar pra quem a essa hora?
— Pro tio Armando.
— Isadora, o tio Armando morreu no ano passado!
— Tem razão, bobagem minha. Jamais conseguiria falar com ele.
— Claro.
— Ele já deve ter trocado o número.
Mas o Fernandinho ama a Isadora assim mesmo.

segunda-feira, 15 de maio de 2006

Pessoas estranhas

O mundo está cheio delas, as pessoas estranhas. Já disseram, com muita propriedade, que ninguém é normal, mas algumas pessoas tornam públicas suas esquisitices, destacando-se na multidão. Uma coisa é gostar de vestir-se de urso panda na hora de transar, outra, bem diferente, é transar com o urso panda no horário de funcionamento do zoológico.
Veja, por exemplo, o evento que testemunhei há pouco tempo atrás.
Vi uma moça fazendo jogging com uma senhora, três gerações mais velha. A moça gritava com a senhora como um sargento grita com um soldado raso, estimulando-a a correr e a suar aos gritos de incentivo:
— Vai, caralho!
A senhora vestia uma roupa verde-limão colada ao corpo e corria de chinelos. Sua acompanhante histérica estava de vestido estampado.
As roupas não eram apropriadas, as palavras não eram apropriadas, a atitude de nenhuma das duas era apropriada. Podemos dizer, com segurança, que se tratavam de pessoas estranhas.Existem outras e tenho certeza de que você poderia citar diversos outros exemplos. Por favor, não me mande nenhum.

domingo, 14 de maio de 2006

Frases

A não ser que alguém prove o contrário, todas as frases aqui listadas são minhas. Inclusive essa.

Não existe originalidade. O que existe é falta de informação do interlocutor.

Originalidade é a diferença entre o seu conhecimento e o do interlocutor. Chatice é quando a diferença dá um número negativo.

Sexo é oportunidade. Amor é circunstância. E nada acontece por acaso.

O sucesso é individual, o fracasso é coletivo.

O chefe cuspiu marimbondos, mas, inexplicavelmente, o que o funcionário engoliu foi um sapo.

Já repararam que os homens muito práticos sempre recorrem à poesia, à música e à filosofia para continuarem sendo práticos?

Existem dois tipos de decisão. A que cria alternativas e a que é resultado da ausência de alternativas. O segundo tipo é o preferido dos incompetentes.

Para o cabeça-dura, ter razão é mais importante que estar certo.

Persuadir é praticar ilusionismo com as palavras.

Saudade é mais que ausência, é a presença do vazio.

Na vida, o sofrimento é garantido, mas as alegrias precisam ser conquistadas.

É mais rápido escrever frases do que uma crônica inteira.

quinta-feira, 11 de maio de 2006

Sexy beast

Por uma vez na vida tive a felicidade de ter um computador de última geração, uma máquina mais avançada que a mais avançada das tecnologias, como já disse Caetano. É a sensação mais próxima do tesão que já conheci. Sem dúvida, um dos maiores prazeres da vida, além do sexo, é o da conquista. Conquistar dinheiro, fama, um objeto.
Notem que não falo sobre os prazeres sublimes, que elevam nosso espírito e purificam nossa alma (ter filhos, plantar árvores, escrever livros, etc.). Falo do prazer pecaminoso que alimenta o egoísmo e a vaidade.
Cada um tem sua droga. A minha é a tecnologia. Videogames, computadores, som, essas coisas. Por isso, no meu caso, ter um supercomputador é algo verdadeiramente luxuriante.
Eu instalava no computador os mais avançados jogos e softwares, com todas as opões que sobrecarregavam a máquina ligadas ao máximo e ela, como uma verdadeira vilã de novela mexicana, jogava os cabelos para trás e emitia uma sonora gargalhada.
— Mais! – Ela pedia. – É só isso que você pode fazer? Mais! Maaaaais! Ha, ha, ha, ha, ha!
Programas rodando ao mesmo tempo, gráficos maravilhosos, tudo se movendo em 60 frames por segundo ou mais. Um computador médio já teria se incendiado ou apelado para a tela azul da morte, mas não o meu.
Porém, o tempo passou.
Na semana passada, instalei um jogo chamado Oblivion em meu computador. Trata-se de um RPG avançadíssimo, com gráficos, física e inteligência artificial ultrasofisticados. Como sempre faço, coloquei todas as opções do jogo no máximo. Anti-aliasing, anisotropic filtering, volumetric shadows, view distance, complex physics, blur, high definition textures, o caralho. O jogo nem carregou.
OK, nada de pânico. Falhar uma vez é normal, pode acontecer com qualquer um. O estresse do dia-a-dia, uma noite mal-dormida. Pode desabafar, vamos conversar a respeito. Baixei a resolução e desativei os programas que estavam rodando no plano de fundo. O jogo rodou, mas tudo se movimentava em câmara lenta. Diminuí a qualidade das texturas, baixei ainda mais a resolução e desativei mais alguns efeitos especiais. O resultado? Insatisfatório. Meu computador estava tornando-se obsoleto diante de meus próprios olhos e não havia nada que eu pudesse fazer.
Oblivion fez minha máquina ficar de joelhos, pedir água e chorar feito mulherzinha. Vi um lado do meu computador que eu não conhecia. É triste vê-lo frágil e impotente.
Ele ainda devora outros softwares com facilidade, mas já não ri mais na cara deles, está mais humilde, já não me olha mais nos olhos, nossa relação se deteriorou. É uma questão de tempo agora, já iniciei os planos para trocá-lo.
Ai, ai. A vida é dura.

Histórias reais do mundo virtual

Tobb Plier é um soldado americano das Forças Especiais. Ele é, na vida real, o que muitos fingem ser enquanto jogam videogames. Talvez por isso, quando joga videogames, Tobb gosta de fingir que é alguém comum. Seu jogo preferido é Another Life, simulação de uma cidade, com uma comunidade virtual, onde seu personagem é um pacato corretor imobiliário.

Mark Gold, talvez influenciado por seu sobrenome, troca dinheiro virtual por dinheiro de verdade. Ele, com o auxílio de um exército de bots (programas que simulam jogadores), acumula o dinheiro dos principais jogos online e vende, no e-bay, para jogadores que têm preguiça de juntar riquezas no mundo do jogo. Mark Gold está milionário.

Kim Jeoun é um coreano que faleceu após passar mais de quarenta horas ininterruptas sentado à frente de seu computador jogando um RPG online. Seu corpo entrou em colapso. Adorado pela comunidade virtual, sua morte foi sentida por centenas de jogadores, que promoveram um funeral dentro do mundo do jogo. Às 18:00hs (horário do reino de Tamriel), na colina de V’laferndall, elfos, troggs, anões, gigantes e até mesmo ogros juntaram-se em um simbólico minuto de silêncio em homenagem à Lady Shiva, a druida guerreira, personagem de Kim.

Marcos Barbosa é diretor corporativo de uma multinacional com mais de 15.000 funcionários. Usa terno e gravata todos os dias e trata a todos no ambiente de trabalho com firmeza e austeridade. Em seu perfil do Orkut, podemos vê-lo fantasiado de Batman, em um local não identificado e verificar que ele participa das comunidades “Os Reis da Suruba” e “Eu Amo o William Bonner”.

O RPG online mais vendido no mundo (World of Warcraft) é o que tem o maior suporte para que se jogue sozinho, sem precisar interagir com outras pessoas. Curioso, quando o propósito de um jogo online é justamente interagir com outros.

Patrícia Calman descobriu que seu namorado a traía com outra. Indignada, terminou tudo, em um e-mail colérico. Patrícia Calman nunca esteve pessoalmente com este namorado, cujo nome era Arthur Kruegger e mora em Munique. Todo o relacionamento entre os dois foi construído por intermédio de comunidades virtuais, e-mails e msn. Apesar disso, o sexo entre os dois era ótimo e patrícia o amava profundamente.
Dominiquea Lizt, participante de um jogo de guerra online, calculou que seriam necessários cerca de 800 jogadores de alto nível em um ataque coordenado, para matar o Rei Khronos, avatar do jogo controlado pelos produtores do game e responsável por distribuir as missões para os jogadores e dar o andamento da história. Sem que os desenvolvedores do jogo tomassem conhecimento, ela orquestrou um golpe de estado virtual, conseguindo a adesão de mais de dois mil jogadores do mundo todo. Com o avatar destruído, os produtores perderam o controle do jogo. Eles poderiam ter criado um novo avatar (desta vez invencível) para dar continuidade a seus planos, mas preferiram reconhecer que o golpe foi legítimo e bem executado. Este servidor do jogo é agora controlado pelos jogadores, que estabelecem as regras, a missão e a estrutura econômica virtual. Dominiquea foi nomeada como a primeira presidenta do servidor.

terça-feira, 9 de maio de 2006

O Hip, o Hop e o Rap

O Hip hop é um movimento de origem nas classes populares, cujas raízes estão na cultura negra, mas que já está devidamente assimilado por diversas outras culturas. Fazem parte do Hip hop a contestação, o grafite e o rap (ritmo e poesia) que é parte musical do Hip hop. Parece simples, mas na verdade a coisa toda é um verdadeiro labirinto cultural, por isso resolvi entrevistar o Mano Brother, para jogar um pouco de luz ao assunto.
— E aí, Mano, valeu?
— Beleza, véio. Na boa?
— Só.
— Tô ligado...
— Presença.
Meia hora depois...
— Mano Brother, por que é que, no rap, ficam umas quinze pessoas no palco, mas só umas duas cantam?
— É a posse, chegado. A banca, tá ligado? A moçada que tava quando tudo começou e vai ficar até o final.
— Mesmo sem fazer nada?
— Eles dão as idéias e também buscam a coca.
— Vocês tomam refrigerante?
Mano Brother dá um sorriso enigmático.
— Mano Brother, e essa história de ficar copiando música dos outros, botar uma batidinha eletrônica por cima e fingir que é música nova?
— Não é cópia, não, animal. É sampler. Tira um trecho de uma música aqui, mistura com outra ali e fica no jeito.
— Mas às vezes não é só um trecho que é copiado, é a música tod...
— É SAMPLER, CUMPADI. É SAMPLER! SAMPLER!
— Tá bom, tá bom, já entendi.
Mano Brother me encara fixamente.
— Mano Brother, e a mensagem? O rap tem o objetivo de contestar, de questionar de forma inteligente a ordem estabelecida, certo?
— Mandou bem.
— Então por que existem tantos rappers que exaltam a ganância (50 Cent), a luxúria (Snoopy Dog), a violência (Cypress Hill, diversos funks do Rio) e outros que não dizem coisa com coisa (Black Eyed Peas)?
— O espírito do Hip hop foi corrompido, véio. A coisa virou comercial e tem muito mais gente preocupada em vender do que em passar mensagem. Além disso, virou forma de expressão de uma galera cheia de ódio no coração. E quem ta imerso no ódio só consegue falar de ódio. Vários elementos do Hip hop e do rap foram apropriados por outros estilos musicais (Madonna faz sampler, Kelly Key também) com resultados questionáveis. O importante é entender o movimento para saber o que pensar dele. Também tem rock ruim e também tem sertanejo ruim, certo?
— Agora quem mandou bem foi você.
— Valeu.
— Só.
— Presença...etc.