quinta-feira, 21 de setembro de 2006

Daniela

Não acho muito divertido falar dos outros, mas, em alguns casos, é inevitável, mesmo que continue não sendo divertido, especialmente para os outros sobre quem estamos falando.
Com relação ao mais novo vídeo da Daniela Cicarelli (é assim que se escreve? Também não sei escrever Ana Hickmann, nem Luize Altenhofen e nem Gisele Bundchen – qual o problema com essa mulherada gostosa?), minha declaração é a seguinte: quem faz sexo em público não pode reclamar de filminho, não pode reclamar de curioso e não pode reclamar se for parar na cadeia. Se o sexo entre quatro paredes já pode ter uma conseqüência séria, que é o filho, imagine o sexo no meio da rua, que pode envolver um sem-número de variáveis.
Eu, particularmente, não vejo nada de amoral no sexo, seja na praia, em casa ou no supermercado e gostei muito da versão espanhola do vídeo, com trilha sonora e frases de efeito dando o clima da putaria. Coisa fina.
Dizem que a Daniela falou em processar alguém pela história. Parece-me falsa indignação, para poder das as caras na próxima reunião da família. A Daniela que aparece no vídeo estava bem consciente de onde e como a sacanagem rolava. Relaxa Dani, revelar a intimidade deu certo para a Pamela Anderson e para a Paris Hilton.
E, nós aqui, vamos deixar a menina dar em paz e cuidar da nossa vida, certo?
Ah, se alguém ainda tiver o vídeo pode me passar? É que já tiraram do ar a versão do You Tube...

Aspas

Recentemente, um amigo me chamou a atenção para a versatilidade das aspas. A informação alojou-se em alguma parte do meu cérebro, mas não escrevi imediatamente sobre o assunto. É que descobri um site novo com várias fotos “artísticas” de algumas “modelos”, no qual me perdi alguns dias em aprofundada “pesquisa”. Mas estou de volta, cheio de “disposição” e mais animado do que nunca.
Ah, as aspas!
Elas são a licença para matar da literatura. Com elas, você pode dizer qualquer coisa e depois desmentir, dizendo que não era isso que você queria dizer. Ou escrever isso, querendo dizer aquilo. Ou fingir que se trata de uma citação de alguém real ou fictício. Você pode até disfarçar o fato de desconhecer a grafia correta de determinada palavra. Para que olhar no dicionário se existe as aspas?
Entre aspas, tudo é permitido, pois tudo é relativo: estive na exposição de fulano de tal e achei o quadro “razoável”. Opa! Como assim? Razoável em que contexto? Tanto faz! Não interessa. Que enlouqueçam tentando descobrir se gostei ou não do quadro. Poderia ser ainda pior. Eu poderia ter colocado a palavra quadro entre aspas, deixando a afirmação ainda mais enigmática.
Mas o perigo real aparece quando as aspas são usadas fora do papel, na linguagem falada. Invisível ao olho nu, as aspas atingem todo seu potencial para a destruição.
— Mas, meu amor, você disse que não tinha problema, que eu poderia fazer um happy hour com meus amigos...
— Jamais afirmei tal coisa!
— Eu disse que estávamos programando uma cervejinha e perguntei se estava tudo bem. Perguntei se tinha algum problema e você respondeu...
— Eu lembro muito bem do que eu disse!
— Você falou, abre aspas, problema? Nenhum, fecha aspas. Não foi isso?
— Quase. Você só errou nas aspas. O que estava entre aspas era só a palavra nenhum.
Conheço pessoas que falam tudo entre aspas. E, em algumas noites, tenho pesadelos com elas.

sexta-feira, 15 de setembro de 2006

Rotina

Determinadas pessoas são capazes de extrair tanto prazer da rotina que não possuem mais hábitos, possuem manias.
É claro que um certo nível de familiaridade é saudável para o cérebro e necessário para o corpo (dormir na mesma casa na maioria dos dias, por exemplo), mas alguns preferem o pacote completo. Almoçam sempre na mesma hora, no mesmo lugar, o mesmo prato. E compram roupas na mesma loja, tomam sorvete sempre do mesmo sabor e vêem sempre os mesmos programas na TV. E mais: dormem sempre no mesmo horário, fazem sexo sempre dentro de determinadas circunstâncias, divertem-se fazendo as mesmas coisas. E você pode estar se tornando uma dessas pessoas.
Como bichinhos assustados em torno da mãe protetora, o estresse e a correria do dia-a-dia nos empurram para os braços confortáveis da familiaridade e, quando percebemos, nossa vida está misteriosamente carente de momentos imprevisíveis e acabamos mesmo ficando despreparados para lidar com o inusitado – uma doença fora de hora ou um pneu furado são o bastante para iniciar acessos de fúria e de depressão.
Se eu fosse você, hoje voltava para casa por um caminho diferente.

quinta-feira, 14 de setembro de 2006

E ainda mais drogas

É Fácil começar, mas muito difícil se livrar das drogas. Prova disso é que estou escrevendo sobre o assunto de novo.
Antes de ler isso aqui, dê uma olhada no comentário do Fred sobre minha última crônica, pois a crítica que ele escreve é bastante coerente e o posicionamento dele bem interessante.
Já aviso que a discussão vai ficar incompleta, pois não devo voltar a tocar no assunto e não vou conseguir escrever tudo o que penso sobre a história. E, se conseguisse, provavelmente perderia meus poucos leitores.
Fred está certo quando diz que a masturbação pública (você algum dia já imaginou que drogas e masturbação pública estariam algum dia na mesma discussão?) não é um bom exemplo. Ele está certo, mas o que eu quis dizer com esse exemplo esdrúxulo é simples: não podemos fazer tudo o que desejamos. De qualquer maneira, segue alguns outros exemplos de coisas que a sociedade não nos permite fazer, mesmo na privacidade do nosso lar: navegar em sites de pedofilia, guardar armas sem porte e, oras, usar e cultivar certas drogas.
Outro ponto que acho legal ressaltar é o de que é possível, sim, diferenciar uma droga da outra. Umas causam menos dependência que outras e, mais importante, com algumas drogas é praticamente impossível sofrer uma overdose fatal (maconha e tabaco, por exemplo). O grande problema é que o álcool, uma droga legal, é muito parecido com uma série de substâncias ilegais, pelo seu potencial de vício e destruição do organismo. Mas como discutir sobre a legalidade ou não do álcool é provavelmente uma das coisas mais improdutivas que podemos fazer, sigamos em frente.
Basicamente, o direito de usar drogas se resume ao direito de obter mais prazer da vida em troca de um preço, nem sempre individual. No mínimo, é preciso ter consciência de que um eventual vício pode afetar as pessoas que se importam ou dependem de você.
No fim, autorização para o uso também significa autorização para distribuir o que, para mim, é uma espécie de passe livre para estragar a vida dos outros e ainda por cima ganhar dinheiro com isso.
Conheço várias pessoas que usam ou usaram drogas lícitas e/ou ilícitas e, de uma forma geral, isso não afeta o que sinto ou penso delas. Não os condeno – não tenho poder, mérito, capacidade ou intenção de fazer isso. Não os percebo como criminosos perigosos e, salvo algumas exceções, detestaria vê-los na cadeia. Fico feliz de ver a legislação caminhando para penas cada vez mais amenas para o uso e hm... Melhor parar antes que eu comece a soar contraditório.
É o que dá escrever doidão.

segunda-feira, 11 de setembro de 2006

Mais drogas

A discussão é longa e, obviamente, não tenho respostas, mas tenho algumas opiniões a respeito que agora divido com vocês atendendo a demandas. O tema é, claro, a legalização das drogas.
Estes são os argumentos mais comuns de quem defende a legalização:
1. O crime organizado ficaria desestruturado, pois não teria mais o dinheiro do tráfico. Bobagem. O crime organizado teria que, no máximo, se readaptar. Tênis, CDs e DVDs são objetos legalizados e a indústria de produtos piratas com estes itens é imensa. Ora, a indústria de produtos piratas é ainda maior que a do narcotráfico, movimentando cerca de 500 bilhões de dólares ao ano (contra mais ou menos 300 bi). Continuariam existindo drogas ilegais e rastreá-las seria ainda mais difícil. Pior – poderíamos estar oferecendo uma saída legal para quem já explora o tráfico por anos. Pior ainda: estaríamos abrindo uma janela de oportunidade para empresas que gostariam de explorar jovens e crianças, assim como faz a indústria de tabaco (veja o site http://www.thetruth.com/).
2. O corpo é meu e posso fazer o que quiser com ele, certo? Infelizmente, não. Apesar do corpo ser seu, você não pode masturbar-se em público e nem mesmo andar pelado por aí. Você não pode nem ouvir música alta depois das dez da noite. Por outro lado, você pode fazer greve de fome e furar os próprios olhos se quiser. Você pode fazer umas coisas e outras não. O limite é determinado pelo grupo ao qual você pertence – a sociedade. Na minha opinião, comprar drogas altamente viciantes seria favorecer o crime. E não apenas o crime organizado. Se alguém te vende um apartamento que não existe, isso é crime, vender uma ilusão é crime – se você conseguir provar que foi iludido. Existe uma linha ética tênue sobre quais seriam os reais motivos para alguém oferecer ou comprar drogas. São produtos que não trazem benefício algum ao usuário e contribuem para o processo auto-destrutivo do ser humano que, convenhamos, não precisa de mais ajuda. As drogas atualmente legalizadas já fazem um bom estrago. Não sou inocente a ponto de achar que tenhamos que banir o álcool e o cigarro. São produtos já institucionalizados e o homem, não sei porquê, parece precisar de vícios. Ninguém – salvo algum monge budista exemplar – vive a vida sem comprometer, por opção própria, sua saúde (seja pulando de pára-quedas ou transando sem camisinha ou comendo bacon ou cheirando cocaína), mas acho importante que tenhamos, em algum ponto, um limite.
3. As pessoas vão continuar usando drogas da mesma forma, só que hoje correm risco de morte para consegui-las. Se tivessem acesso a uma farmácia... Bem, é verdade que ter que subir o morro para conseguir a droga é perturbador, mas é muito mais uma questão psicológica. O morro é um lugar relativamente seguro para o usuário (ninguém quer perder um cliente). Além disso, com drogas como heroína e cocaína, o risco de morte existe de qualquer forma. Além disso, já fiz algumas entrevistas em colégios e, embora o número de adolescentes que têm acesso a drogas seja alto, ainda é expressivo o número de pessoas que nunca tiveram contato por falta de oportunidade ou medo de se envolver em algo ilegal. Legalizar as drogas só aumenta a distribuição.
4. As doses obtidas em uma farmácia seriam controladas. Certo... Assim como conseguimos controlar as doses de cigarro, álcool, pílulas para dormir e antianciolíticos que as pessoas tomam. Além do mais, a droga pirata vai estar aí justamente para preencher essa lacuna.
Sinceramente, não prego a existência de uma sociedade virtuosa que seria, convenhamos, bastante chata, mas defendo a existência de limites, que podem parecer chatos, mas a verdade é que nos ajudam a viver mais e melhor. Os limites que definimos para nós mesmos tendem a ser egoístas e pouco objetivos (assista Dogville). A maioria das pessoas que conheço a favor da liberação são ou foram usuários (ou usam eventualmente), assim como a maioria das pessoas que conheço que são contra são caretas (ou tiveram experiências traumatizantes).
Defendo um meio-termo. Deixem as que já estão aí, melhorando o controle e as informações sobre o uso, acrescente a maconha e alguma outra coisa menos viciante (não sei se existe), mas deixe as com potencial de destruir vidas de forma fulminante de fora. Já basta o álcool.

Mundo cão

Hoje falarei sobre Dogville. Se você não assistiu ao filme, pare de ler e resolva o problema. O filme é ótimo e meu amigo Leonardo tem o DVD e empresta. Se você não conhece o Leozinho, acho que a produção já está disponível nas locadoras.
Longo, sem cenários, cheio de atores conhecidos que trabalharam por uma miséria, rodado em apenas uma locação e sem trilha sonora musical de espécie alguma - evidências de que o diretor estava fazendo o possível para ser considerado genial. Surpreendentemente, o filme é mesmo genial e todas as esquisitices acima realmente contribuem para o resultado final e não são apenas jogo de espelhos, como os filtros coloridos do Kieslowski (os filmes do polonês são espetaculares, mas o filtro é um capricho).
Dogville é o filme mais pessimista que já assisti e duvido que exista algum outro que o supere. Veja algumas conclusões mais alegres e “pra cima” que pude extrair do roteiro:
Poder absoluto corrompe absolutamente.
Amor é circunstância.
O homem é naturalmente mal.
A moral é relativa.
Nossa existência se resume ao sexo e suas conseqüências.
E, a minha preferida, a vingança é um prato que se come frio.
A única coisa que impede você de se matar imediatamente após assistir ao filme é, pensei, o fato de que se trata de uma história de ficção. Uma reflexão sobre a humanidade em geral, mas sobre ninguém em particular... Mas aí cai a ficha.
Todos nós estamos, em alguma medida, representados no filme. Cuidadosamente, o diretor distribui a trama entre dezessete arquétipos bastante ancorados na realidade. Acuado, vi que não tinha alternativa a não ser me matar. O filme retratava mesmo a natureza humana, sem máscaras – e somos todos uns canalhas.
Decidi que iria por fim a vida mergulhando uma torradeira ligada na banheira. Foi uma decisão inteligente que me ganhou um tempo, pois não tenho nem banheira e nem torradeira. E o tempo foi o suficiente para que refletisse um pouco mais sobre o filme – e percebesse um detalhe sutil, que fez toda a diferença.
Os seres humanos retratados no filme parecem reais, mas não são. Falta a eles uma coisa importantíssima: espiritualidade. A igreja de Dogville não tem padre, assim como os habitantes da cidade não tem religião. A eles faltam os sentimentos de arrependimento, de esperança, de compaixão e de humildade. Cá entre nós, os sentimentos mais difíceis de serem cultivados. É fácil amar, pois todos queremos ser amados e entendemos que, para isso, temos que amar um pouco em troca. Além disso, o amor é um sentimento muito próximo do desejo – e pode ser facilmente confundido. Mas perdoar verdadeiramente é muito difícil e verdadeiramente aceitar os próprios erros é quase impossível.
Quase.
A moral humana é relativa, mas existe uma moral maior que a nossa. Estuprar uma criança é errado, independentemente de qualquer contexto. Tortura física e psicológica é errado. Desviar verbas públicas para investir na campanha de reeleição é errado. Absolutamente errado.
A sociedade é uma obra humana e isso tá na cara. Qualquer um pode ver que não temos feito um trabalho muito bom – trata-se de uma estrutura falha e incoerente, que traz à tona tudo o que há de pior em todos nós.
Mas ainda existe esperança. Pode chamar de Deus, pode chamar de força superior, pode chamar de ingenuidade, mas ela existe. E a prova disso é o próprio filme, pois alguém percebeu o perigo de esquecermos de que há uma moral maior que nossas limitações. Alguém contou a história de Dogville, para que possamos refletir um pouco mais sobre nós mesmos.
Mas mandei instalar a banheira assim mesmo. Nunca se sabe o dia de amanhã...


O tom pessimista da crônica combina com o tom do filme, mas, apesar do final macabro, nunca considerei o suicídio uma alternativa viável e sinceramente acredito que o melhor da vida de todos nós ainda está por vir, junto com o pior, claro. Pois a vida, meus caros, é sempre o que está por vir, o resto é apenas memória – podemos viver com elas, mas nunca viver delas.

sexta-feira, 8 de setembro de 2006

Radicalismo

Fui acusado de ser radical. Era uma discussão complicada e, salvo engano, já escrevi sobre isso em algum lugar do blog: legalização das drogas. E se não escrevi, não vai ser agora que escreverei - o assunto aqui é outro, o radicalismo.
Basicamente, meu interlocutor era a favor da liberação geral do uso e da comercialização de todos os tipos de drogas possíveis de serem extraídas da natureza ou de serem obtidas por processos químicos. Eu já acho que algumas coisas deveriam ser liberadas, outras não.
Ele queria liberar tudo. Eu achava que o melhor era uma solução intermediária. E o radical sou eu?
Talvez eu tenha sido muito enfático em defender minha solução moderada, mas isso não faz de mim um radical. Para mim, radical é quem define um posicionamento extremo. Quem guarda a opinião no cofre forte e não empresta e não negocia é teimoso. E, sim, a discussão não teve desfecho, não foi produtiva e não chegou a lugar nenhum.

O celular do surdo-mudo

Hoje participei de uma campanha humanitária inusitada. Contribuí com cinco reais para a realização de um dos sonhos do surdo-mudo que trabalha na equipe de limpeza do meu edifício: comprar um celular.
A situação resvala no absurdo, mas não chega a ser um, visto que o rapaz pode, de fato, utilizar o parelho, por causa das funções de mensagem de texto e vibração, prova definitiva que o celular já não é mais apenas um telefone móvel, mas um aparelho muito mais sofisticado.
De qualquer maneira, ajudei a comprar um telefone para um surdo-mudo. E o fato é que ainda estou digerindo o conceito.
Sou a favor do supérfluo. Uma vítima do capitalismo que acredita no poder renovador de um presente absolutamente inútil. Pelo menos inútil do ponto de vista da simples sobrevivência. Mas, como todos sabemos, na selva social nada é completamente inútil. Tudo que pode ser ostentado ou ligado em uma tomada tem o seu valor. Mas, mesmo assim...
O celular sempre foi, para mim, um símbolo da vitória do consumismo desenfreado. E hoje descobri que ele é objeto de desejo até dos surdos-mudos. Não demora vamos encontrar por aí altares de adoração ao aparelhinho. Hoje o celular mostrou para mim quem é que manda.

Cabaré – uma visão sócio-antropológica da putaria (no bom sentido)

Somente depois de casado é que comecei a freqüentar cabarés com maior assiduidade. Explico. A primeira vez que entrei em um foi justamente na minha despedida de solteiro e, de lá para cá, muitos amigos também se casaram e, nada mais natural, fui à despedida de solteiro deles. Não posso, portanto, me considerar um especialista em boates exclusivas para homens, mas já deu para observar uma ou outra coisa que agora divido com vocês.
Em primeiro lugar, o cabaré é um dos poucos lugares onde a perspectiva de prostituição não me deprime. Pelo menos, não na maior parte do tempo. Lá tem música, bebida, shows e um clima muito mais festivo que de sedução. Um ambiente meio despudorado, no qual fumar, beber, falar palavrão e coçar o saco não choca e não incomoda ninguém. E ainda tem mulher pelada.
Acho graça das performances exageradas nos estriptísis (como escreveria o Millôr) e admiro a criatividade das meninas que tentam surpreender sempre, seja com o auxílio da platéia, microfones, fantasias ou animais de borracha (sim, animais de borracha – e não me pergunte detalhes). Acho mais graça ainda da empolgação primitiva que toma conta dos homens e que transforma todo o jogo de cena em uma grande festa, com direito a imagens inusitadas, como mulheres que tiram a roupa de cabeça para baixo e o zeloso garçom que, entre um show e outro, limpa o cano de metal no qual as moças esfregam suas partes íntimas com uma flanelinha e álcool.
É claro que também tem os programas a dinheiro, os velhos babões e os tarados de atitude suspeita encolhidos no canto. E também sei que nem todas as garotas de programa estão felizes por estar ali e, não podemos esquecer, tem todo o aspecto explorador do dono da boate. O mundo não muda só porque a gente está no cabaré. Todas as injustiças sociais, destemperos emocionais e defeitos de fabricação da humanidade estão lá no cabaré junto com a gente.
Mas, tendo como referência o cabaré, me pergunto se o mundo não seria um lugar bem melhor se tivesse mais gente pelada. E, se não melhor, pelo menos mais divertido.