quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Os pensamentos do Alceu

O Alceu, para quem não sabe, é meu alter ego, meu outro eu e o principal responsável pelo Ninguém Perguntou. Eu mesmo não teria nem tempo nem disposição para tocar um site (quase) diário de crônicas, sem a perspectiva de vê-las publicadas e para um público tão reduzido. Qualificado, mas reduzido.

Já o Alceu não se incomoda porque ele não está nem aí para o que os outros pensam. Ele escreve para que ele próprio possa ler depois e se elogiar – o senso crítico do Alceu é praticamente inexistente e ele gosta de tudo o que faz. Tanto que está prestes a lançar uma coleção introspectiva: um livro de auto-ajuda (para ajudar a ele próprio) e um livreto de pensamentos, para botar na cabeceira da cama – na cama dele.

Mas eu consegui espiar por cima do ombro (foi fácil, já que temos o mesmo ombro) e pescar alguns desses pensamentos, que divido com vocês aqui:

“É bom ter dinheiro, mas melhor ainda é gastar dinheiro – e não precisa nem mesmo ser o seu!”.
“A verdade é só mais um ponto de vista”.
“Não tem nada que você faça que o Brad Pitt não faça melhor. E se você faz algo melhor que o Brad Pitt, então é algo que não vale a pena fazer”.
“A vida é um espasmo”.
“A morte é um presente que relutamos em abrir”.
“Nada tem tanto potencial para nos realizar e nos desiludir quanto os filhos”.
“A mentira e a dissimulação foram inventadas para levar mulheres bonitas para a cama. O uso que políticos, governantes e criminosos fazem delas é nojento e antinatural”.

E tem mais, muito mais. O livrinho de cabeceira já está com 800 páginas e continua crescendo.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Honestidade

— Foi bom?

— Foi ótimo...

— Pode falar a verdade...

— Foi ótimo. Juro.

— Sabe o que eu acho?

— Hã? Não, não sei não.

— Que a maior parte dos relacionamentos é baseada em mentira e dissimulação e que isso, no fim, acaba prejudicando a relação. A sinceridade, quanto vista com maturidade, pode fazer muita diferença. Posso dar um exemplo?

— Não sei...

— Vou dar. O seu pênis, por exemplo.

— Meu pênis é o exemplo?

— Ele é bastante grande. Por isso, quando você penetra com muita impulsividade, machuca um pouco. Se você for mais gentil na penetração inicial, sentirei mais prazer e acho que nossa transa vai ser ainda melhor.

— Você acha?

— Viu? Não doeu nada (sem trocadilho) e já demos um primeiro passo para um segundo encontro mais interessante que o primeiro. Sua vez.

— Minha vez de quê?

— De ser honesto. Pode dizer alguma coisa que você não gostou em mim, que você acha que poderia ser melhor... Pode falar, não vou ficar chateada.

— Mas não tem nada, foi ótimo.

— Ahhh, alguma coisa deve ter. Pode falar.

— Bem...

— Não disse? Sempre tem alguma coisa. Vamos lá, exercite sua sinceridade.

— Você mexeu pouco. Foi, não sei, deixa ver, pouco participativa.

— Pouco participativa?

— Um pouquinho... Ei, você disse que não iria ficar chateada.

— Não estou chateada. É que discordo de você, mas... Tudo bem, vá lá. Pouco participativa, rebolar mais, tá anotado.

— Mais uma coisa...

— Tem mais?

— Uma coisinha de nada. Melhor deixar pra lá.

— Nada disso! Manda.

— Esse seu sutiã engana um pouco a gente, né?

— Como assim?

— Ele é daqueles que levanta o peito, né? Eu achei que você tinha um peitão, aí quando você tirou...

— Você achou meu peito pequeno?

— Não, o tamanho é bom, mas...

— Você achou meu peito caído?

— Não, mas...

— Mas o quê?

— É que eu fiquei um pouco decepcionado...

— Decepcionado?

— Decepcionado não é bem a palavra. Olha, não era o que eu esperava, só isso. Nada de mais.

— Nada disso! Se não foi decepção então qual é a palavra? Quero saber a palavra exata.

— Olha, deixa isso pra lá. Vem mais pra cá e vamos mais uma vez, vamos.

— Não.

— Não? Mas eu pensei...

— Pensou errado. Estou com dor de cabeça.

— Ah, vamos lá. Prometo ir bem devagarzinho dessa vez.

— Me deixa dormir!

E não ficou só nisso. No dia seguinte, ela espalhou para todo mundo que ele tinha o pinto pequeno. "Pra dizer a verdade, minúsculo", foi o que ela disse.


 


 

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Oscar 2007

Quem viu só os resultados do Oscar desse ano deve ter ficado com a impressão de que a cerimônia foi previsível, já que os ganhadores foram mesmo os mais cotados em suas categorias.
Mas esse olhar superficial não traduz o que foi a cerimônia – uma das mais interessantes que já assisti. Hollywood provou mais uma vez que está amadurecendo e mudando. Ainda é uma indústria que se preocupa essencialmente com o dinheiro, mas que não tem mais vergonha de admitir e homenagear o talento que gera esses bilhões de dólares – de forma honesta, emocionada e cada vez mais abrangente.
Questões políticas e morais, que costumavam constranger a academia (alguém se lembra da índia que foi receber o Oscar do Marlon Brando?), hoje são o fio condutor da premiação, o que fica bem claro no discurso de abertura de Helen Degeneres: “Se não houvesse negros, judeus e gays, não haveria cinema. Ou haveria, mas seria muito chato”.

Pulp Fiction puxou, nos anos noventa, o bonde dos bons roteiros, que quase sepultaram Stallone e sua turma (quase. Rocky voltou – mas com um bom roteiro). Depois, a queda das torres gêmeas fez com que a comunidade artística, sempre a primeira a reagir às desgraças do mundo, abraçasse as causas políticas e a consciência social de maneira aberta e declarada. As edições mais recentes do Oscar refletem bem isso – nos discursos e nos filmes indicados (Syriana, Crash, etc.).
A conseqüência natural disso foi um olhar mais crítico à sociedade americana e filmes como Boa Noite, Boa Sorte e Cartas de Iwo Jima. E, claro, o tão adiado reconhecimento do talento negro, corroborado neste ano por Jennifer Hudson e Forest Whitaker.

Neste ano tivemos ainda a tradicional justiça tardia, com Scorcese e Morricone. Martin Scorcese teve seu talento finalmente premiado em um filme bom, mas menor. E Ennio Morricone ganhou um emocionante prêmio pelo conjunto de sua obra – e que obra, mais de 400 composições em filmes. Destaque para o discurso de Morricone, elegantemente traduzido do italiano por Clint Eastwood (o Dirt Harry está com tudo). A alegria e a emoção dos dois premiados também foram prova de que receber um Oscar está longe de ser alguma coisa banal e que a estatueta é, sem dúvida, o prêmio máximo do cinema.

Mas o que me empolgou foi o aspecto internacional da cerimônia. Discursos em chinês, em italiano, em alemão, uma montagem feita por Tornatore com todos os filmes estrangeiros, O Labirinto do Fauno abocanhando estatuetas, indicados de todas as nacionalidades... Foi legal ver Hollywood reconhecer que o cinema não tem dono nem fronteiras.

É uma festa bonita, da qual, infelizmente, pouca gente participa. Exclusiva para famosos, ricos e bem-sucedidos, que podem até se dar ao luxo de se preocupar com o aquecimento global, já que não têm mais que se preocupar em como ganhar o pão de cada dia. Mas assistir só uma vez por ano não faz mal. Ainda mais se eles continuarem se comportando assim tão direitinho.

sábado, 24 de fevereiro de 2007

Brasília e Carnaval

Brasília não merece o Carnaval que a obrigamos a ter. Vamos parar com isso. Sugiro o seguinte: construímos um memorial para aqueles que tentaram incorporar a cultura carnavalesca à cidade – o pessoal do Pacotão, do Galinho, das Escolas, do Ceilambódromo – e pronto, não se fala mais nisso. Acabamos com o Carnaval na cidade.

A Secretaria de Turismo pode até tirar vantagem da situação. Neste feriadão, se você não gosta de Carnaval, venha para Brasilia, estaremos te esperando de braços abertos (não muito abertos, para não parecer destaque de escola de samba). Aí é só promover festivais de cinema, shows de rock, feiras de artesanato, teatro infantil; qualquer coisa, menos carnaval.

Na terça-feira, por volta das sete da noite, passei pelo Pacotão, mais por coincidência que por interesse. Fiquei uns trinta minutos preso no trânsito porque um grupo de, no máximo, cinqüenta pessoas, carregava uma faixa e apitava pelo meio da rua. Eram cerca de quinze policiais, cinco veículos e um sem número de cones para garantir o vai e vem desse pessoal. Deprimente. Não me incomodo de ficar preso no trânsito por conta de uma comoção nacional, uma mobilização popular intensa e febril ou, vá lá, para que dezenas de milhares de pessoas possam se divertir, mas aquele aglomeradozinho não justifica nem o policiamento, nem o trânsito fechado.

Não deu. Valeu a tentativa, mas precisamos reconhecer quando uma coisa não dá certo; é sinal de maturidade e de bom-senso. Não vamos mais insistir no carnaval de Brasília.

Quem disser que se divertiu porque foi ao Ceilambódromo ver o desfile, porque dançou marchinhas de 1950 no Minas ou porque viu pela milésima vez alguém vestido de Lula no pacotão está mentindo. Ou iludido. As pessoas que se divertem no carnaval de Brasília não podem atribuir sua felicidade ao carnaval. Divertem-se porque estão com os amigos, porque não precisam ir trabalhar, porque têm uma disposição natural para a festa ou porque estão completamente bêbadas.

O Carnaval de Brasília é como assistir à TV Câmara e à TV Senado: previsível, monótono, sem audiência e até engraçado de vez em quando, mas só pelo ridículo da situação.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Quatro Homens e uma Jangada

Salvo engano, meu pai já tinha me contado essa história e, fã que era do Orson Welles, é possível que conhecesse toda ela em detalhes. Vocês terão que se contentar comigo para lembrar essa passagem do gênio do cinema pelo Brasil.

Logo após o sucesso de Cidadão Kane (primeiro filme de Welles e uma das obras-primas do cinema), a produtora RKO contratou Welles e outros diretores de renome para fazer um documentário no Brasil, em várias partes, cujo principal objetivo era filmar o carnaval.

Mandaram o diretor errado, como bem lembrou Cacá Diegues. Queriam uma visão alegre, descompromissada e com muita bunda do samba. Welles encantou-se com o povo pobre e feio das favelas e das praias do Nordeste e ficou impressionado com o sistema oligárquico que imperava (imperava?) no Brasil, no qual o pobre, por mais que trabalhasse, permanecia pobre. Numa produção cercada de imprevistos e complicações, Welles decidiu, por conta própria (mas com o dinheiro da produtora), filmar um documentário sobre quatro jangadeiros que iriam, de jangada, de Fortaleza até o Rio de Janeiro, em uma espécie de odisséia neo-vanguardista (um dos meus pleonasmos preferidos).

Mais confusão, falta de verba, contratempos de produção e o vice-presidente da RKO veio ao Brasil pedir para o diretor desistir e filmar, finalmente, o diabo do carnaval.

— Mas eu já filmei! – Respondeu Welles, hipoteticamente.
— Mas são um bando de negros pulando, sem áudio. Onde estão as mulatas? Cadê a Carmem Miranda?
— Mas o Carnaval não é apenas mulatas e a Carmem Miranda. É a catarse de um povo...
— Chega! Nós queremos as mulatas e a Carmem Miranda! E, de qualquer maneira, você não pode contar a história desses jangadeiros.
— Agora é tarde.
— Como assim?
— Já filmei quase tudo. E o líder dos jangadeiros morreu no momento em que chegava à Baía da Guanabara. Devo a ele a conclusão do filme. E pegaria mal para a produtora cancelar um filme no qual um dos protagonistas deu a vida para sua realização.
Os produtores deram mais dez mil dólares para Welles concluir as filmagens e levaram de volta todo o equipamento, salvo uma câmera e um ou outro apetrecho. O diretor de fotografia ficou e terminou o trabalho de graça, pois era Húngaro e, com a segunda guerra mundial pegando fogo, não podia mesmo voltar para casa. Welles recrutou moradores locais, inventou uma história de amor para “dar liga” ao documentário, editou tudo apenas com o áudio das ondas do mar e da madeira das jangadas e o resultado, só recentemente desencavado por um produtor de bom senso, é magnífico.
Sem equipamentos adequados, como uma lente grande angular, por exemplo, Welles cavava buracos na areia e enfiava o Húngaro lá dentro, para garantir a angulação necessária da imagem. E não tenho nem idéia de como ele fez os efeitos de luz. A verdade é que o filme, feito no início da década de quarenta, com orçamento miserável e repleto de situações adversas tem cenas que deixam no chinelo as superproduções de hoje. E não estou falando simplesmente da poesia das imagens – a qualidade técnica do resultado final é inacreditável.
Tive a oportunidade de ver, ontem à noite, Quatro Homens e uma Jangada, um subproduto (está mais para superproduto) da vinda de Welles no Brasil. A história desse filme é muito mais rica e interessante do que o espaço limitado do blog permite contar, mas fica aqui o registro da minha admiração – pelo Welles e pelo Brasil, terra de histórias e personagens marcantes.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Dinheiro traz Felicidade

Em Busca da Felicidade é um filme bonito, emocionante e repleto de interpretações magistrais - e com uma mensagem mais complicada do que possa aparentar à primeira vista. O óbvio está lá: quem acredita sempre alcança, o amor tudo vence, todo esforço é recompensado e a felicidade pode ser conquistada. Boas mensagens que, muitas vezes, são o que precisamos para ganhar novo ânimo, se não para a vida, pelo menos para o dia seguinte. Mas me desagrada o forte vínculo que o filme faz entre a felicidade e o sucesso financeiro.

Não é culpa do roteiro, pois o filme baseia-se em uma história real e conta, com diversos níveis de liberdade artística, o que provavelmente aconteceu na vida real. Além disso, o que mais esperar de uma sociedade capitalista como a americana? Para eles (e para nós também, infelizmente), felicidade é ter dinheiro e ponto final e, embora o filme resvale em outros aspectos da felicidade e mostra como ela pode ser encontrada nas situações mais improváveis, o recado final é mesmo que a verdadeira realização só pode vir acompanhada de dinheiro. E quanto mais dinheiro, mais realização.

Ou não.

Se você parar de prestar atenção no Will Smith por alguns momentos verá em outros personagens, e principalmente no filho dele, outras formas de buscar a felicidade – e outras maneiras de encarar a adversidade. No filme, pai e filho passam pelas mesmas dificuldades, mas os olhares de um e de outro são diferentes e eles reagem de forma muito diferente a várias situações. Não conto mais para não estragar o filme, mas fico com a impressão de que existe uma outra mensagem por trás da primeira mensagem do filme: a de que a verdadeira felicidade está ao nosso lado o tempo todo e que, ao procurá-la em outros lugares, acabamos adiando nosso encontro com ela

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Strawberry Fields Forever

Os Beatles são o maior grupo musical da história da humanidade. Se você não gosta deles deve ser duro viver com essa realidade, mas, se gosta, me passaram um site que agora divido: http://www.thebeatles.artpl/tele.html.

Nesse endereço, alguém, sem dúvida mais desocupado que eu, compilou vários clips de músicas dos Beatles. Eles não gravaram muitos vídeos, então é bem possível que esteja quase tudo lá. Dos primeiros hits nos programas de auditório (letras fáceis e cabelos de cuia) às baladas repletas de poesia, romance e pacifismo, do período de sucesso tão absoluto que parecia que nem banho precisavam mais tomar, tão distanciados estavam do restante da humanidade (assista o clip de Something).

Os vídeos ajudam a provar, ainda, uma teoria da qual sou adepto fervoroso: os Beatles acabaram por causa da Yoko Ono. Com seu eterno semblante fechado, ar soturno e roupas escuras, parecendo um corvo agourento, lá está a Yoko nos clips da banda, sem tocar um pandeirinho, um assobio, sem nem bater palma. O que uma pessoa, que claramente não faz parte do grupo, tem que ficar acompanhando ensaio, viajando com a banda, sentar dentro do estúdio de gravação e aparecer no vídeo?

Até imagino as defesas do John Lennon para a permanência daquele urubu humano entre eles. “Nós somos um”, “sem ela não sou ninguém”, “ela me completa”, e, meu Deus, “ela é minha musa inspiradora”. E por falar nisso, não é só o John Lennon que buscou inspiração nessa criatura. Aposto uma nota preta como a afogada que mora no poço do filme O Chamado foi inspirada na Yoko Ono. É cara de uma, focinho da outra. A Yoko é só um pouquinho mais aterrorizante.

Mas não adianta chorar o leite derramado. Os Beatles acabaram, mas, pelo menos, dá para matar um pouco da saudade nesse site.

E, gostando dos Beatles ou não, não deixem de assistir ao vídeo de All You Need is Love.

domingo, 11 de fevereiro de 2007

Breve Indignação

A morte do menino de seis anos que foi arrastado por quinze minutos preso ao cinto de segurança do lado de fora do carro me lembrou de uma frase do Bill Watterson, dita através de sua mais famosa criação, o Calvin: certas coisas que acontecem conosco são ou cruéis, ou aleatórias e em qualquer um dos dois casos é difícil manter a paz de espírito.

Nossa relação com Deus e o Destino é complicada e atrocidades como essa não ajudam. Conheci um padre que diria que o crime não foi obra de Deus, mas dos homens. Mas Deus não é onipotente? Não foi ele quem criou o homem? No Antigo Testamento, Ele vivia botando a mão na massa, dividindo oceanos, escrevendo em pedras e exigindo sacrifícios. Parece que agora continuamos fazendo os sacrifícios, sem as vantagens da comunicação direta com Ele.

Não faltam livros, de diversas religiões, que dizem que Deus nos fala através de sinais. O que houve com Deus? Virou surdo-mudo? Sinais são coisas complicadas de entender e passíveis de interpretação equivocada. Quantos assassinatos não foram cometidos e guerras não foram travadas porque alguém acreditava que estava em missão divina? Estou cansado de tentar entender os sinais de Deus. Outro dia mesmo quase bati o carro ao olhar para um passarinho que voava de forma irregular. Esquisito? Com certeza. Sinal de Deus? Talvez. O que significava? Aceito sugestões.

E a morte do menino de seis anos? O que significa?

Não estou com raiva de Deus. Não adiantaria nada e acho que não mudaria os sentimentos dele em relação à raça humana. A raiva e a indignação natural que surge quando uma coisa dessas acontece é um sentimento natural, mas pouco produtivo. Talvez Deus não apareça pessoalmente com mais freqüência porque já tenha dito tudo o que precisava dizer: ama ao próximo como a ti mesmo.

Mas é que os criminosos que destruíram a vida do garoto já não deveriam ter amor próprio há muito tempo.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Começar de novo

É melhor ligar para o Procon. Tudo indica que esse ano que mal começou já está usado e de novo não tem nada. Olho em volta e tudo me parece estranhamente familiar. O presidente, meus problemas e o Clint Eastwood no Oscar... nada de novo.

Você também está se sentindo assim? Não tema. Para ajudar a combater essa sensação de déjà vu, basta acessar o novíssimo Ninguém Perguntou. Nova cara, novas crônicas e, bem... é só isso de novo, o resto continua igual. Inclusive, os leitores são os mesmos 103 do final do ano. Ei, falei que ia ajudar a mudar os ares – não disse que iria resolver o problema.

Ah, sim! Mudou também a ferramenta de divulgação do site. Estou usando o Gmail. Agora, se alguém quiser ser incluído no mailing list é só mandar um e-mail para zinho73@gmail.com. Quem já estava no mailling não precisa fazer nada, seu nome já foi transferido com sucesso para o novo processo e continuarei enchendo seu saco, exatamente como no ano passado.

A vocês dois que reclamaram, desculpem o começo lento em janeiro, mas eu precisava arrumar a parte técnica do site e algumas coisas menos técnicas na minha vida. Aos outros 101 que pareceram não notar a diferença, aqui vai mais uma novidade: o site agora tem monitoramento de acessos diários e você pode me fazer feliz com apenas um clique (isso não soou exatamente como eu tinha imaginado).

Enfim, não é muito, mas estou aqui fazendo a minha parte para que o ano fique, finalmente, com cara de novo.

Evolução

Os enlatados americanos evoluíram. Do Homem de Seis Milhões de Dólares e Automan para CSI e Law and Order a distância é grande. Se antes essas produções eram divertidas e descerebradas, passaram a ser divertidas e, com o perdão do adjetivo, inteligentes.

É fácil associar os americanos com produtividade e consumo, mas sempre hesitamos em lembrar o quão inteligentes esses capitalistas podem ser e, de uns tempos para cá, eles têm me surpreendido. Já comentei no blog que não podemos mais criticar Hollywood como antes, pois ela tem produzido muitos dos filmes mais ácidos e instigantes da atualidade. Basta olhar para o Oscar e ver o prestígio dado aos filmes do Eastwood e ao Último Rei da Escócia. Eastwood, que já beijou macacos nas telas do cinema, se deu ao trabalho de fazer dois filmes sobre uma mesma batalha, sendo que um deles aborda o ponto de vista do inimigo. Incrível. E a prova de que as coisas evoluem mesmo.

E coisa parecida tem acontecido na tela pequena. Com inspirações na filosofia, na ciência (e não na ficção científica) e na psicologia, séries como Lost, CSI, Law and Order, 24 e Criminal Minds têm conquistado o mercado americano, o mundo e a mim.

Minha última grata surpresa foi com o Law and Order – Special Victms Unit, que trata sobre crimes de natureza sexual. Os diálogos são interessantes, o clima denso e as discussões éticas e morais absolutamente brilhantes. Até hoje me pego pensando no episódio no qual um pedófilo se casa com uma moça cuja doença a deixa com aparência de menina de quinze anos. O cara pôde dar vazão ao seu distúrbio sem quebrar a lei! É de dar nó na cabeça.

Nunca botei fé no seriado porque pensei que o tema não oferecia muita variedade. Achei que seriam investigações sobre um caso de estupro após o outro. Ledo engano. A sexualidade é um dos mares mais profundos e pouco navegados da alma humana e o que não falta é coisa interessante para dizer sobre o assunto. Coisas interessantes, bizarras, perturbadoras e emocionantes. Não é o mais divertido dessa safra nova de seriados, mas é um dos mais, está aí a palavra de novo, inteligentes.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

O Time dos Sonhos

Depois de assistir a vários filmes de Hollywood e a dezenas de seriados americanos, desenvolvi uma teoria que, salvo um infortunado erro de cálculo, pode ser a salvação do Brasil.
Para o país ir para frente, tudo que precisamos é juntar um punhado (cinco ou seis) de pessoas honestas, motivadas, altamente qualificadas e determinadas em posições-chave em todo o território nacional.
Imagine um grupo de amigos, dois senadores e três deputados, incorruptíveis, com amplo conhecimento jurídico, absolutamente determinados a expor toda a sujeira do congresso e a propor leis modernas, revolucionárias e claras em seu enunciado. Um deles colecionaria selos, outro tocaria trompete e uma deputada, a mais nova do grupo, seria bonita, gostosa, usaria sempre roupas que desafiariam o decoro parlamentar e teria, obviamente, doutorado em análise comportamental.
Ou uma delegacia de polícia com uma equipe que preza a ética acima de tudo, de moral inabalável e ótimo senso de humor. O delegado gordo seria sempre brilhante e com uma carreira política em ascensão e os investigadores estariam munidos da mais sofisticada tecnologia forense e, ainda por cima, saberiam como usá-la. Um dos membros da equipe, descendente de italiano, ficaria famoso por seu temperamento explosivo, seu senso de justiça e sua empatia com as vítimas.
Ou... Você pegou a idéia. Minha tese é a de que essas combinações parecem funcionar na ficção porque funcionariam muito bem na realidade. Tenho a prova – ou quase.
Trabalho em um local que, em alguns momentos chega bem próximo disso. O Programa Nacional de Aids do Brasil chegou a ser reconhecido como o melhor do mundo e, volta e meia, produz resultados interessantes, cutucando um pouco a sociedade e seus mecanismos internos. E, conhecendo o Programa por dentro, sei de histórias e personagens que não ficariam devendo a nenhum seriado americano.
Deve haver outros exemplos, dentro e fora do governo, mas vou falar só do que conheço, pois não quero acusar ninguém de eficiência injustamente. Todo cuidado é pouco, pois, do jeito que as coisas andam por aqui, ser eficiente deve ser crime dos mais graves.

Erros

Todo mundo erra. Mas apenas alguns poucos reconhecem seus erros e uma porcentagem menor ainda aprende com eles. A maior parte quer mesmo é esquecer que errou e volta e meia fantasia com uma improvável máquina do tempo: o mecanismo perfeito para apagar algumas mancadas (e para ganhar na loteria).
Eu, particularmente, acho bom que a tal máquina do tempo não exista. Alguém que tivesse a capacidade de voltar atrás e “corrigir” a própria vida seria, em minha opinião, um ser humano abominável. Não há caráter que resista à possibilidade de não ter que responder por nada. Alguém sem medo das conseqüências é alguém sem moral.
O melhor mesmo é, já que a lembrança dos erros é inevitável, que encaremos essas reminiscências de forma positiva e construtiva, possivelmente nos ajudando a amadurecer e a fazer as pazes com o passado.
Mas eu posso estar errado.

O cartaz

Já comentei várias vezes que um leigo dar palpite sobre publicidade é um pouco como dar palpite na criação dos filhos dos outros. A argumentação pode até ser razoável, mas, normalmente é fora de contexto e sem viabilidade prática.
Ninguém dá palpite no trabalho de um cirurgião, devido á complexidade técnica envolvida, mas, como todo mundo se comunica (uns melhor que outros), todos se sentem à vontade para falar sobre comunicação. Em tese, não vejo muito problema com isso, já que um dos princípios básicos da publicidade é justamente a interação com os outros, mas essa liberdade toda, se contribui com o processo, também produz aberrações.
Exemplo recente é a crítica ao cartaz PROTEÇÃO PARA VOCÊ, do Ministério da saúde, que mostra uma garrafa de cerveja e uma camisinha, lembrando que, se a cerveja precisa de proteção (o isopor) para ficar boa, você também precisa de proteção (a camisinha) para ficar bem. Os críticos da peça têm afirmado que esse cartaz estimula o consumo de álcool. Dá para entender? Bem, entender, é até possível, só não se pode é concordar.
Estímulo, em publicidade, funciona da seguinte forma: pegamos o ato de beber e o associamos a diversas coisas “legais”, como mulheres (ou homens, dependendo da preferência), amigos, farra, relaxamento, prazer, sabor, etc.
A cerveja com a camisinha no cartaz diz simplesmente o seguinte: ao lembrar da cerveja, lembre-se da camisinha. É claro que o cartaz também não produz nenhuma associação negativa com o álcool, o que obviamente impediria que o mesmo fosse colocado nos bares e que o público-alvo aceitasse e entendesse a mensagem.
Entendo que tem gente que morre de medo de tocar em qualquer assunto delicado e prefere que não se faça nada, com medo de errar. Não falamos de camisinha para não falar de sexo, não falamos de seringas descartáveis para não falar de drogas, não falamos de travestis para não revelar ao mundo que elas existem e não falamos sobre cerveja para não lembrar que as pessoas bebem, sim e que, ao beber, podem esquecer a camisinha. É o mesmo tipo de pessoa que vai detestar esse meu texto. Gente que adora dar palpite sem ser questionado.
Paciência. É preciso respeitar o ponto de vista das pessoas. Só não respeito os jornalistas que editaram a matéria do Globo sobre o assunto. Estes últimos, pelo menos em tese, deveriam usar o conhecimento de comunicação que têm para analisar as questões criticamente e não só para fazer barulho.