sexta-feira, 27 de abril de 2007

Domingo

O pior dia da semana é o domingo. A segunda-feira é horrível, mas a expectativa pela segunda é pior.

O domingo começa até bem, talvez até com boas lembranças da noite anterior, seguidas de um passeio, um clube, um almoço com a família ou amigos. Quem sabe um pouco de sol ou um bom livro. Mas, por volta de duas horas da tarde, a ansiedade começa a tomar conta da gente. "A segunda vem aí", repete nosso inconsciente.

O mau-humor se instala e o Faustão não ajuda. O futebol alivia um pouco (para os homens – as mulheres permanecem em agonia crescente). Depois das sete da noite, o nosso organismo inteiro se recusa a fazer algo interessante e nos conformamos em esperar pela segunda-feira, como um condenado no corredor da morte.

Raramente marcamos alguma coisa para o domingo à noite, o sexo no domingo à noite nunca é memorável e os programas de televisão são os piores possíveis. Até o que comemos no domingo à noite é, quase sempre, algo requentado de um momento melhor do final de semana. Não é à toa que a maioria das religiões prefere o domingo como dia de culto – trata-se de uma tentativa de aliviar o espírito que, quando vira obrigação, contribui ainda mais para a sensação de angústia.

O domingo é a realização do masoquista, que adora sofrer por antecedência já que, assim, tem a oportunidade de sofrer por mais tempo. Agora, pior mesmo que o domingo só mesmo se o domingo for o último dia de um feriado prolongado. Rapaz, só de escrever sobre o assunto já fico deprimido.

terça-feira, 24 de abril de 2007

Extremos

Todo homem é um obcecado por sexo. Aquele que diz o contrário, além de obcecado por sexo é mentiroso. Ele trabalha para fazer sexo, se diverte com o sexo e para esquecer o sexo (inutilmente) e se relaciona para conseguir sexo (ou para se gabar de suas aventuras sexuais). Sei que algumas mulheres também o são, mas não tenho certeza se todas. Algumas mulheres que conheço aparentam, em alguns momentos, pensarem em outra coisa, mas pode ser fingimento.

Afinal, toda mulher finge melhor que o homem. São treinadas desde cedo a serem dissimuladas e a aparentarem a ser uma coisa que não são: maquiagem, depilação, postura, etiqueta, tom de voz, feche as pernas, etc. Mais tarde, aparecem oportunidades para fingir o prazer, o interesse, a simpatia e outros.

O romantismo só existe porque a mulher estabeleceu condições para o sexo. Entre elas, banho tomado, um mínimo de educação e, eventualmente, flores. Alguns homens vão além e até se envolvem com... Devo dizer? Por que não?... Poesia. Um relacionamento homossexual (dois homens) tem pouco ou nenhum romance. Tem cumplicidade, parceria, companheirismo e amor – mas pago para ver um gay abrindo a porta do carro para outro – convenhamos, seria muita viadagem.

Um relacionamento lésbico não sei como é porque toda vez que vejo duas mulheres se pegando fico com um tesão danado e nem raciocino direito.

É isso. Se deixei de ofender alguém me escrevam reclamando que na próxima crônica dou um jeito.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Segundo

Acho genial a música do Ultraje a Rigor "Terceiro", que conta a história de um sujeito feliz da vida por ser sempre terceiro em tudo o que faz. É realizador, não chama a atenção e é infinitamente mais fácil que ser o melhor.

Pois é, saiu a pesquisa de um órgão muito conceituado aí (não me lembro qual) que afirma que nós, os brasileiros, somos os segundos no ranking do sexo (não sei quem é o primeiro e não me interessa. Eles que se fodam – o que provavelmente é o que estão fazendo mesmo).

Somos o segundo povo do mundo que mais faz sexo e um dos mais satisfeitos (também em segundo lugar), com a freqüência de pelo menos uma vez por semana. Obviamente não entra na estatística as vezes em que os políticos põem na nossa bunda o que, segundo meus cálculos, subiria a média para, no mínimo, três vezes ao dia.

Mas, enfim, o segundo lugar é até melhor que o já mencionado terceiro e deveria, obviamente, nos deixar muito orgulhosos e realizados, mas tai uma coisa que dá para aspirar ao topo do pódio. Gente, é só dar mais uma por semana. Por semana! A gente consegue!

Mulheres bonitas interessadas em bater o recorde podem me acionar que já comprei amendoim e catuaba. Pela pátria! Pelo orgulho nacional!

Observação: a restrição a mulheres feias não é preconceito de minha parte; trata-se de controle de qualidade (já estou vendo os e-mails que vou receber...).

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Tecnologia

Não posso negar que ando meio desapontado com o século 21. Nada de carros voadores, nada de fazedores automáticos de comida e nem a minissaia da Judy Jetson. Tudo bem que não viramos um deserto pós-apocalíptico por conta da terceira guerra mundial, mas isso é coisa que a gente resolve rápido: a tecnologia para acabar com o mundo já temos há algum tempo. O que não tenho visto por aí é a tecnologia que vai mudar completamente nosso modo de vida. Ou, pelo menos, o meu modo de vida porque não sei se você anda satisfeito com o seu. Tem gente por aí que acha o I-Pod o máximo do moderno. Hunpf! Me acorda quando eu puder implantar toda a obra dos Beatles direto no meu córtex cerebral. Me acorda quando meu colchão tiver nano-robôs programados com todas as técnicas orientais de massagem... Peraí... Nesse último caso não me acorda, não e deixa eu dormir bem relaxado que ninguém é de ferro. Mas me acorda quando o João voltar de férias. É que esse amigo meu tem o Xbox 360 e, enquanto o tubo de teleporte não vem, o jeito é quebrar o galho brincando com um videogame de última geração em uma HDTV de cristal líquido.

Bom Aluno

É claro que tirei zero nas provas, mãe, mas também não sei por que dessa mania que o povo tem de botar nome em água. Como eu ia saber do nome do rio? E quem matou Lampião? Não disse! Pronto, não disse! Posso ser burro e muitas outras coisas – mas dedo-duro, não! Dedo-duro, não! E o triângulo? Aquilo foi um absurdo! Vai me dizer que um triângulo que tem os três lados iguais não é socialista? Capitalista é que não é. Aí teve a história do nome do escritor que escreveu aquele livro e eu respondi que não precisava responder. Por quê? Ora, mãe, a gente tem o livro aqui em casa, qualquer coisa é só pegar na prateleira e ver, não tinha a menor necessidade de eu saber disso lá na hora da prova. Pra que a urgência? Onde é o incêndio? Estou te dizendo que a professora não regula muito bem. E vou te falar até uma coisa bem cá entre nós: ela pergunta tudo isso, mas eu desconfio que ela já sabe a resposta. Isso não é coisa de louco? Se já sabe, por que pergunta? E a redação das férias? Não foi você mesma que disse que a gente não ia sair de férias esse ano porque o papai tá desempregado? Então, entreguei em branco! A mulher ficou vermelha e mandou um bilhete pra você... Como cadê o bilhete? Joguei fora, claro. Quando eu passo bilhete pra Zulmira ela sempre me manda jogar fora. Eu não posso e ela pode, é? Comigo, não! Comigo não que eu sou mais esperto!

Herói

Dia desses vi uma homenagem a um grande herói da pátria: "Incansável na luta pela liberdade..." e outras coisas. Fico me perguntando se a homenagem era mesmo merecida. Para mim, o mérito está em, apesar de cansado, continuar lutando.

Volta

O Valdinei estava concentrado no computador do trabalho vendo o e-mail de mulher pelada que o Santos da contabilidade tinha mandado, quando se deu conta que tinha alguém parado atrás dele.
— Oi, Valdinho – disse uma voz grave de barítono.
Valdinho? Não podia ser o chefe. O chefe jamais o chamaria de Valdinho. Ao se virar, deparou-se com um homem de trinta e poucos anos, barrigudinho, de colã roxo bem grudado no corpo, capa amarela e máscara de Zorro. Ah, e bigode.
— Quem é você? – Perguntou o Valdinei, fechando o arquivo rapidamente.
— Como, quem sou eu, Valdinho? Vai dizer que não se lembra? Que é isso?
Valdinei olhou em volta, mas seus colegas de trabalho pareciam alheios àquela versão do Capitão Gay.
— Meu senhor, tenho certeza de que não nos conhecemos...
— Que é isso, Valdinho? Sou eu, o Sargento Brasinha. Eu voltei!
Brasinha... Brasinha... Caiu a ficha!
— Brasinha! O Sargento Brasinha que era meu amigo imaginário quando eu tinha cinco anos!
— Isso mesmo, Valdinho! Eu e você, juntos, derrotamos as criaturas das fossas abissais – que, na verdade, eram o gato e o periquito da Dona Elvira.
— Mas você está diferente...
— Claro que estou, Valdinho. O tempo passa para todos, até para os amigos imaginários. Tive uns problemas aí, andei um tempo com uma turma meio barra pesada... mas o importante é que eu voltei, Valdinho! Voltei para você!
O Valdinei olhou em volta para ter certeza de que só ele era mesmo capaz de ver o Sargento Brasinha. Se o Onofre presenciasse aquele adulto de colã fazendo uma declaração daquelas, não iria mais ter paz...
— Olha, Brasa...
— Brasinha! Pra você serei sempre o Brasinha.
— Olha, Brasinha... Não leve a mal... mas não dá para gente continuar se vendo...
— Como assim? Olha, escrevi em um caderno todas as missões que ainda não completamos... Ainda não visitamos a Dimensão 5, que é o armário da Dona Elvira...
— A Dona Elvira já morreu, Brasinha.
— Mas...
— Brasinha, não me procure mais – ou vou ter que acionar meu advogado.
— Mas eu voltei...
— Tarde demais, Brasinha, tarde demais.

O Ninguém Perguntou também está de volta. Espero que vocês ainda se lembrem de mim - e que não seja tarde demais.

sábado, 7 de abril de 2007

A vida não tem segredo

A essa altura você também já deve estar sabendo do Segredo que, por sinal, não é muito bem guardado. Se não sabe, aqui vai uma pequena recapitulação: O Segredo é o mais novo fenômeno de auto-ajuda que está tomando conta do mundo, um blábláblá com pitadas de física quântica que não passa de uma atualização do discurso do livro A Força do Pensamento Positivo, da década de cinqüenta ou sessenta (não lembro e isso aqui também não é enciclopédia – se tiver interesse, dá uma pesquisada).

Basicamente, O Segredo diz que basta querer que você consegue, o Universo dá de presente para você. Não precisa de esforço, não precisa de sorte, não precisa de um país com oportunidades iguais e uma melhor distribuição de renda: e só pensar positivamente. Se um indigente da Somália acreditar pra valer que pode ser o presidente da Coca-Cola até o final do ano, ele vai conseguir. Só tem uma pegadinha: tem que acreditar de verdade e não pode duvidar de jeito nenhum. Se duvidar, nem que seja por um segundo, não ganha.

Posso passar horas dando exemplo e mais exemplo do absurdo que é essa teoria, de várias formas. Podemos pensar, por exemplo, na situação inversa: o que dizer das pessoas que tiveram sucesso, mesmo sendo pessimistas e não acreditando nelas mesmas? Veja o caso recente da Hale Berry, que tentou suicídio apesar de ser linda, talentosa (com Oscar e tudo) e milionária. Ela acredita ser um fracasso, mas, apesar desse pensamento negativo, o universo material dela vai de bom a melhor. E o Bill Gates? O pensamento dele era vender o Windows para a IBM. O plano dele deu errado e o fato de ter dado errado transformou-o no homem mais rico do mundo... E etc.

Também dá para discorrer sobre a credulidade do ser humano e a necessidade que temos de acreditar em alguma coisa. Especialmente quando a recompensa não requer muito esforço, especialmente quando é aquilo que queremos ouvir. Dá para falar sobre o isolamento dos tempos modernos, do materialismo como fonte da felicidade, do fato de que livro de auto-ajuda ajuda mesmo é quem escreve e, enfim, de uma porção de outras coisas, mas o problema com a filosofia por trás de O Segredo é outro.

O problema é que, apesar de ser uma bobagem sem tamanho, funciona. Ou pode funcionar.

A vida é muito mais complicada que o que O Segredo propõe, sem dúvida. Mas acontece que, simplificar a vida é uma forma de ser feliz. Se uma pessoa traça objetivos pessoais e os persegue, se afasta pensamentos negativos e se busca uma postura positiva e alegre diante da vida, é bem provável que ela seja mais feliz. Não discuto isso. Mas isso é óbvio, não é segredo nenhum e já foi dito antes por milhares de pessoas, de milhares de maneiras diferentes. Mas, pelo visto, as pessoas só vão dar credibilidade ao fato se ele vier disfarçado de filosofia moderninha.

Quando tenta sair do lugar-comum do pensamento positivo, a teologia de O Segredo é medíocre e criminosa – ninguém vai se curar de doenças ou ter o corpo perfeito só com mentalização.

Na verdade, o segredo mesmo é como é que alguém consegue reeditar uma coisa que todo mundo já sabe e ainda fazer esse sucesso todo.

terça-feira, 3 de abril de 2007

Um cidadão abaixo de qualquer suspeita

A olho nu sou um brasiliense como qualquer outro. Tive minha fase de garage band, fiz luau na esplanada, brinquei no parque do foguetão, transitei pelo Bar do Ceará e conheci o Pontão em sua época mais democrática (e mais divertida). Mas uma análise mais cuidadosa pode despertar dúvidas.

Nunca subi na Torre de TV, não conheço a Água Mineral, não conheço a Chapada, nunca fui ao Beirute e nunca comi a pizza da Dom Bosco.

Em minha defesa, posso acrescentar que, sim, já terminei a noite no Templo da Boa Vontade e já tomei café da manhã no aeroporto. Por outro lado, nunca caminhei no Eixão, nunca bati pega no balão do aeroporto e não desfilei pelo Gilberto Salomão. Ok, fui à Zoom, mas não ficava circulando pela Summer.

Sei que para ser brasiliense basta nascer em Brasília e, neste ponto, estou coberto. Mas, se para conquistar a cidadania fosse necessário fazer uma prova, é possível que eu passasse raspando.

300

Até pouco tempo atrás, os efeitos especiais no cinema tinham uma função muito clara: conseguir o impossível e apenas o impossível. O quase impossível ficava por conta de dublês malucos, edições inteligentes e posicionamento de câmeras ousados. A intervenção digital mudou um pouco isso e, em um passo ainda mais ousado, os filmes inspirados na obra de Frank Miller, Sin City e, agora, 300, atribuíram aos efeitos digitais uma nova tarefa: a de contribuir para a estética do filme.
Em 300, dos elefantes aos mamilos do Rodrigo Santoro, tudo é tratado digitalmente. Praticamente tudo é efeito especial, uma verdadeira afronta aos puristas do cinema, uma heresia que seria classificada como inconseqüente se não fosse por um detalhe: o resultado final é belíssimo.
Fiel ao texto e às imagens da graphic novel de Frank Miller, 300 é uma narrativa visual única – e uma das melhores adaptações dos quadrinhos de todos os tempos.
Antigamente, os produtores viam uma boa história em quadrinhos e tentavam adaptar a linguagem para o cinema, com resultados inconsistentes. Sin City e 300 transportam os quadrinhos para o cinema sem fazer concessões: o texto é praticamente o mesmo e a estética é inacreditavelmente preservada.
Se for para ter esse nível, que venham as próximas adaptações.