sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Retrospectiva 2007

O fato de ter chegado vivo e relativamente bem ao final de 2007 é um alívio e, até certo ponto, uma surpresa. Bem que alguns tentaram, mas tive a sorte de escapar com vida de todos os atentados metafóricos - e também dos literais, o que prova que meus inimigos não são muito eficientes. Também pudera, alguns deles chegam a pensar que são meus amigos!

Mas também prova que a vida, assim como eu, tem um senso de humor meio esquisito e que a felicidade pode conviver em harmonia com a decepção.

Lições aprendidas, sigo para 2008 com muito otimismo e com um pouco de desconfiança, desejando a todos os amigos e leitores do Ninguém Perguntou a realização espiritual plena. Ou uma realização espiritual razoável, com sexo toda semana e dinheiro suficiente para comprar uma bobagem de vez em quando sem sentir culpa. Pode escolher.

Oportunidades perdidas

Apesar do sucesso (ao menos estético) das recentes adaptações dos quadrinhos de Frank Miller, a verdade é que, de uma forma geral, a transposição dos quadrinhos para o cinema é um estudo de caso sobre oportunidades perdidas.

Não é de hoje que os quadrinhos têm apresentado idéias interessantes e inovadoras. E também não é de hoje que Hollywood tenta capitalizar em cima desse talento.

Os resultados nunca são tão bons porque os produtores de Hollywood acham que entendem mais de entretenimento do que os autores originais e misturam conceitos.

Acham, por exemplo, como muita gente acha, que quadrinhos e videogame são a mesma coisa. Não são. Hoje em dia, as duas mídias desafiam quaisquer pré-definições, mas ainda são esteticamente muito diferentes uma da outra: Tomb raider e From Hell não poderiam ser mais diversos e, no entanto, são tratados como se fossem a mesma coisa.

Robert Rodriguéz já provou que um pouco de respeito com o material original é um bom caminho para a produção de filmes interessantes, visualmente diferentes e com boa receptividade.

O mais recente exemplo de uma boa adaptação dos quadrinhos é 30 Dias de Noite, que já está em cartaz e conta o pesadelo dos moradores da pequena cidade de Barrow, no Alasca, que têm de repelir uma invasão de vampiros durante o inverno (quando o sol se põe e só volta a nascer depois de trinta dias).

Curiosamente, 30 Dias de Noite é também um bom exemplo de mais uma oportunidade perdida porque, apesar do filme ser divertido, o quadrinho ainda é mais interessante.

No filme, o diretor erra a mão nos vampiros e no timing de algumas cenas, mas, respeitosamente, resiste á tentação de mexer demais na história e o resultado final proporciona uma diversão interessante.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Saco cheio de Peru 2

A viagem ao Peru começou quase não acontecendo. Era para ser uma incursão de trabalho, uma troca de experiências no campo da comunicação em aids com o Peru. A Organização Panamericana de Saúde cuidaria de tudo.
Pois bem, até uma semana antes da viagem, eu não sabia em qual dia eu iria. Até três dias antes da viagem, não sabia a que horas sairia. No dia da viagem, não sabia nem em que hotel ficaria e nem se alguém iria me buscar no aeroporto – nesse mesmo dia, o povo do Peru (não a população, a turma com a qual trabalharíamos) também não sabia quando iríamos chegar. Para uma instituição que tem a palavra “organização” no nome...
Enfim, tudo resolvido de última hora, embarquei para São Paulo. Ao fazer o check in para o Peru, o funcionário da LAN perguntou:
— E o cartão de vacina?
— Que cartão e que vacina? – Perguntei, já prevendo o pior.
— O cartão de vacina internacional dizendo que o senhor já está vacinado para a febre amarela.
— Não tenho. Ninguém me disse que precisava.
— Então o senhor não vai embarcar.
— E se eu tomar a vacina agora?
— Não vai dar porque a vacina precisa de dez dias de incubação. E, além disso, o posto de vacinação do aeroporto fechou às cinco horas.
E já eram seis.
Fomos para o posto da Anvisa assim mesmo, eu e meu colega de trabalho, também sem cartão de vacina, também desinformado e também bastante puto.
Depois de muita conversa, ligações para Brasília para pressionar a Anvisa e muito jeitinho brasileiro, conseguimos um cartão de vacina internacional novo. Para isso, tomamos a vacina e o cara da Anvisa escreveu, à mão: revacinação.
O fato de termos reaberto o posto de vacinação foi, ao menos, benéfico para uma moça de uns vinte e poucos anos que precisava desesperadamente vacinar naquele dia para ir à China. Ela chorava copiosamente ao telefone:
— Vovô, vou vacinar, vovô... Vou vacinar, viu? Vou voar...
Teria sido mais tocante e menos esquisito se ela tivesse usado também palavras que não começassem com a letra “v”. E se eu já não estivesse tão mal-humorado.
Voltamos e, depois de mais conversa para explicar que diabos era a tal da “revacinação”, embarcamos em cima da hora, já cansados e irritados antes da viagem começar.
Amanhã, tem mais Peru, mas desde já adianto: deu merda com o cartão de vacina.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Saco cheio do Peru

Às vésperas do Natal, não sei se por coincidência ou se por ironia, fui parar no Peru. Um país cheio de gente bem intencionada, mas de hábitos esquisitos. Colocam o apelido em documentos oficiais, bebem gasosa, fazem xixi no banho e, mal cheguei, já perguntaram se eu gostava de pica (o que talvez fosse de se esperar, dado o nome do país).

Mas, trocadilhos com o espanhol à parte, ainda assim tive uma viagem repleta de pessoas e acontecimentos curiosos.

Um dos mais engraçados encontros foi com a peruana que comia pingüins. Estávamos na mesa de almoço, conversando obviamente sobre comidas tradicionais. Mencionei a feijoada e a caipirinha. Ela contra-atacou com o ceviche e o pisco sauer. Fui além, e falei da dobradinha e do sarapatel. Ela não se fez de rogada e explicou que os peruanos que vivem na floresta comem formiga e uma espécie de lagarto (vivo, inclusive). Perguntei, no meu portunhol:

— E você? Já comeu algo assim, pouco comum?

— Sí. Hay comido pinguino.

— Pinguino? Como assim? Pinguim? Você já comeu Pinguim?

Meu espanto, para alguém racional, não se justifica tanto. Estávamos falando justamente sobre iguarias excêntricas e, se comemos frango, porque não pingüim, que também é ave? Mas a verdade é que até aquele momento nunca tinha encontrado ninguém que tivesse comido pingüim.

— Mas é comum comer pingüim no Peru? - Perguntei, ainda incrédulo.

— Não - ela respondeu - para dizer a verdade eu também nunca ouvi falar de ninguém que tivesse comido pingüim. E eu também comi golfinho.

Soltei uma gargalhada, numa mistura de falta de educação com idiotice juvenil. A peruana não gostou muito e argumentou que o pinguino era um bicho como qualquer outro. Tão normal quanto comer vaca, peixe ou cuebra.

— Cuebra?

— Sim, cuebra, serpente.

Espirrei gasosa pelo nariz e tive que sair da mesa às pressas, para evitar um incidente diplomático.

E amanhã tem mais Peru no blog.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Delivery

— Orgia Delivery, o prazer é todo seu, boa noite.

— Boa noite. Eu estava procurando algumas anãs albinas para uma festinha...

— Senhor, as anãs albinas estão em falta, devido à grande procura por causa das confraternizações de fim de ano.

— Hmm. E você sugere alguma coisa?

— Senhor, as dançarinas núbias e as contorcionistas coreanas têm tido muita saída. Se tiver algum sado-masoquista no grupo, eu recomendaria uma estivadora russa, senhor.

— Tenho, deixa ver, dez SM por aqui.

— Uma estivadora russa serve bem cinco pessoas, senhor.

— Vou querer duas, então. E também duas contorcionistas coreanas. O endereço é...


 

— Enfermidade Delivery, tratando você bem, pra você ficar mal, boa tarde.

— Boa tarde. Eu estava precisando ficar doente hoje, mas não sei exatamente o que pedir.

— Se o senhor me disser o motivo, talvez eu possa ajudar.

— Eu tenho uma reunião importante no trabalho amanhã, mas não vou conseguir terminar a apresentação para o presidente.

— Então o senhor precisa de algo imediato, de efeito fulminante que faça o senhor faltar ao trabalho por pelo menos uma semana?

— Algo por aí. Um simples resfriado não vai colar.

— O ideal seria alguma doença infecto-contagiosa, como a caxumba ou uma virose tropical, como febre amarela.

— A virose parece ótimo, quanto é?

— Três mil reais e cinqüenta centavos, senhor, já com a taxa de entrega.

— Ah, mas é muito caro. Eu estava imaginando algo na faixa dos cem reais...

— Senhor, por esse preço e com essa urgência que o senhor precisa, o máximo que posso fazer é mandar o Pudim até o senhor.

— Como assim?

— O Pudim, nosso operativo, vai até sua residência, agride o senhor com violência extrema e simula um assalto. O senhor fica com três ou quatro ossos quebrados e, na promoção de Natal, o senhor já ganha a ocorrência policial sem custo adicional.

— Parece ótimo.

— Só tem um probleminha: não garantimos que o senhor sobreviva, senhor. Tudo bem?

— Tudo bem, vale a pena. O endereço é...


 

— Bom-senso Delivery, o óbvio ao alcance de todos, bom dia.

— Bom-dia. Eu queria um pouco de bom-senso, por favor.

— O senhor ligou para o lugar certo! Já conhece o nosso trio? Uma porção de bom-senso e outra de praticidade, acompanhada de uma dose de direitos humanos. Que tal?

— Não, obrigado. Eu queria apenas uma dose gigante de bom-senso.

— Seria para o senhor mesmo?

— Não, é para o meu chefe.

— Ah, certo. Já vai embrulhado para presente, então. Posso ajudá-lo em mais alguma coisa?

— Vocês trabalham com ética?

— Infelizmente não, senhor.

— Sabe onde eu posso encontrar?

— É muito difícil... Hoje em dia, quase ninguém mais trabalha - tem pouca saída. Se o senhor quiser posso ver se ainda tenho um pouco de profissionalismo. Se não me engano, ele já vem com ética dentro.

— Ah, obrigado! Vou querer também, então.

— Sim, senhor. Tudo para a mesma pessoa?

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

O príncipe

No último domingo estava assistindo ao filme Barbie Princesa da Ilha... O que foi? Por que está me olhando com essa cara? Saiba que a série de desenhos da Barbie é o que há de mais Cult no momento - é só o que se comenta na França.

Enfim, estava assistindo a Barbie Princesa da Ilha quando minha filha comentou que ela era a tal princesa. Aproveitando a deixa para investigar a vida afetiva da minha filha, perguntei:

— E o príncipe, filha? Qual de seus amiguinhos seria o príncipe?

Já estava imaginando que tipo de tortura psicológica aplicaria ao menino quando minha filha, como invariavelmente acontece, me surpreendeu com sua resposta:

— Nenhum. O príncipe é esse aí mesmo, pai.

O motivo?

— É mais bonito que os meus amiguinhos.

Essa menina vai longe.