quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Três pequenas coisas – parte 4

A notícia que li no jornal dizia que o sábio que havia me dito tantas coisas interessantes e profundas havia sido preso. A acusação era de charlatanismo ou algo assim. Por algum tempo, fiquei sem saber o que isso significava.

Ele não havia me cobrado dinheiro nenhum pelas conversas que tivemos, mas o jornal não iria se enganar. Ou iria? A polícia poderia estar equivocada? Será que tudo não passava de um mal-entendido? Não havia como saber. Mesmo que eu fosse conversar com o sábio (ou suposto sábio) eu ouviria apenas a versão dele – e a versão dele poderia não ser a verdade.

Mas minha cabeça fervia. Será que ele havia deixado de ser sábio por causa disso? Será que suas palavras perderam o valor? Se eu o admirava tanto antes, agora que ele havia sido preso, o que fazer com minha admiração? Ele, sem dúvida, era convincente, mas será que era um enganador?

Senti-me traído e percebi que meus sentimentos por ele mudaram de admiração para pena. Fosse ele um incompreendido ou um canalha, ele agora havia perdido o status de homem honrado e com credibilidade.

Lembrei que nossa conversa sobre o perdão havia ficado no ar e que eu esperava ansiosamente por uma continuidade. Agora, preferia não ser visto ao lado dele. Ouvi também as pessoas falando mal do deposto sábio e, embora não me juntasse ao coro, também não o defendia, pois não tinha como saber exatamente o que havia acontecido. Além disso, parecia tudo correto com o processo de prisão. De acordo com o jornal, houve testemunhas e tudo o mais.

Mas... E se todos estivessem errados? Afinal, o que caracteriza o sábio é sua capacidade de ver e fazer coisas que ninguém mais consegue ver ou fazer. O ponto de vista do sábio só é claro para ele próprio. Afinal, Jesus Cristo havia sido perseguido e condenado.

Percebi que eu estava fazendo um juízo de valor do destituído sábio não por tudo o que ele havia feito, mas pelo seu pior momento. Já imaginou ser sempre avaliado pela pior coisa que já aconteceu com você?

Decidi que era um erro não conversar com ele – e um erro maior ainda conversar achando que o que eu ouviria seria apenas um desabafo ou só a opinião do sábio. Para conhecer a verdade, eu precisaria ouvi-lo de coração aberto, sem opinião formada. Isso era quase impossível para mim, mas resolvi tentar.

Mandei uma carta, longa e cheia de rodeios, na qual fiz diversas perguntas. Relato aqui apenas as perguntas e as respostas, em nome da concisão:

"O que dizem de você é verdade?"

"Sim. Mas essa não é a pergunta correta. Você deveria estar se perguntando se o que dizem de mim é justo. A verdade não tem mestre e serve a diversos propósitos. Mas a justiça é apenas uma. A mentira nada mais é que a verdade flexibilizada, ou reinterpretada. Já a justiça é dura e inflexível – por isso é tantas vezes quebrada. A verdade, como o coqueiro, se dobra com o vento."

"E o que é, enfim, o perdão?"

"Perdoar é aceitar a verdade do outro".


 

Um Feliz Ano-novo para todos os leitores do Ninguém Perguntou. Que no ano que vem as coisas justas e corretas aconteçam com freqüência e em abundância.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Três pequenas coisas, parte 3

O terceiro homem extraordinário que encontrei era um sábio que vivia recluso e,diziam, sabia explicar o que era a honra, o que era o amor e o que era o perdão. "Grande coisa!", pensei, "Todo mundo sabe o que são essas coisas. Nem todo mundo as pratica, mas todo mundo sabe". Mas minha curiosidade era maior que minha arrogância e decidi visitá-lo mesmo assim.

Ele não parecia um sábio, pois não era nem velho e nem usava óculos. Tinha trinta e poucos anos, estava em boa forma física e sua expressão era uma estranha mistura de disposição e tristeza, mas ele me recebeu com um sorriso absolutamente honesto e, depois de me servir chá, passeou comigo pelo parque, onde conversamos por horas, que pareceram apenas breves minutos.

— O espelho é um objeto largamente desnecessário – disse ele em um determinado momento – pois, na maior parte do tempo, as pessoas enxergam apenas elas mesmas. E é por isso que é tão difícil amar, perdoar e ser honrado, pois o segredo dessas três pequenas coisas está na nossa capacidade de enxergar o outro, coisa que raramente somos capazes de fazer.

— Você então considera a honra, o amor e o perdão pequenas coisas?

— Sim, claro! Muito pequenas e frágeis. Tão pequenas que você pode carregá-las com você e nem perceber e tão frágeis que você pode quebrá-las apenas com um olhar.

— Mas dar a vida por alguém pode ser um ato de amor ou de honra – e isso é algo grandioso.

— Dar a vida por alguém também pode ser uma grande bobagem – disse ele, sorrindo e, obviamente, me provocando.

— Um pai que dá a vida por um filho só faz isso por amor...

— Sem dúvida, mas escolher esse exemplo para definir o amor é uma indução ao erro. Amar não é se sacrificar pelo outro, não é sofrer pelo outro – amar é querer fazer o outro feliz. Isso pode trazer sofrimento e sacrifício, mas é uma sutil diferença. No amor, o importante não é o seu sacrifício, o seu esforço, o seu sentimento – mas apenas a felicidade do outro. Se você pensar no amor em termos de sacrifício, é provável que, um dia, você vá exigir algo em troca pelo seu amor.

— Mas o amor é uma troca! Amor sem reciprocidade vira sofrimento.

— Sim, vira, mas ainda assim é amor. Amar é uma decisão importante, você precisa saber no que está se metendo!

Não consegui segurar o riso e resolvi continuar a conversa de forma direta:

— Certo, certo! E o que é honra?

— Se você, sem querer, pisa no pé de alguém, o que você faz?

— Peço desculpas!

— E?

— E? Ué, mais nada! Peço desculpas e pronto. O que você faria?

— Depende. Era uma pessoa mais velha? Mais nova? Era um amigo? Um desconhecido? Eu sujei o sapato do outro? Eu estraguei? Eu machuquei a pessoa? A pessoa ficou com raiva ou pareceu não se importar? A honra exige que você reconheça a circunstância. A honra não é sobre o que é certo ou o que é errado, é sobre o que é justo. Se eu, por exemplo, estraguei um sapato, é justo que eu compre outro. Se eu não tenho dinheiro, é justo que eu dê o meu sapato. Se eu não tenho sapato, é justo que eu me ponha a serviço daquela pessoa, perguntando a ela o que eu poderia fazer para compensar meu equívoco. A honra não é o que você diz, é o que você faz. Não existem palavras honrosas – apenas atitudes.

— Mas tudo isso por causa de um pisão no pé?

— O erro de achar que honra é uma coisa grande, reservada apenas para situações grandiosas, é que deixamos de utilizá-la nos contratempos corriqueiros. Quando a situação grandiosa aparece nos falta a prática – e não sabemos como nos comportar honradamente. A honra é uma coisinha pequena, mas, se alimentada, pode se tornar verdadeiramente enorme. Mas é necessário ter bom-senso. Como disse antes: é preciso reconhecer a circunstância – não é pra comprar um sapato novo toda vez que você pisa no pé de alguém!

Mais uma vez, sorri e, também mais uma vez, mudei de assunto bruscamente:

— E o perdão, o que é?

— É o que você terá que fazer agora, pois tenho outro compromisso urgente e, infelizmente, não posso mais continuar a nossa conversa. Peço, dessa forma, perdão pelo inconveniente.

E, dizendo isso, apenas acenou com a cabeça e foi embora. Fiquei um pouco irritado, mas procurei não me incomodar com o fato. Dois dias depois, li uma notícia no jornal que me deixou estupefato, mas essa é uma história para ser contada em outro dia, pois agora já é tarde e vou me recolher. A exemplo do "sábio", peço o perdão de vocês por interromper o meu relato.


 

Por enquanto, Feliz Natal.


 

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Três pequenas coisas, parte dois

O segundo homem extraordinário que encontrei foi num lugar bem longe daqui, em uma cidade no meio do deserto. Ele estava tentando atravessar o deserto a pé. Havia, milagrosamente, chegado até ao meio do caminho, mas estava doente e com os pés machucados e não tinha condições de prosseguir a viajem...

... Mas ele estava disposto a prosseguir da mesma forma.

Sentei-me ao lado dele, apresentei-me e após trocarmos palavras cordiais, mas de forma breve e objetiva, travamos o seguinte diálogo:

— Homem, por que insistes em prosseguir nessa loucura? Por que queres atravessar o deserto?

— Para chegar ao outro lado – ele me respondeu sorrindo, em clara referência à piada da galinha que teima em atravessar a rua.

— Gostaria de te lembrar que a galinha não é animal dos mais inteligentes.

— Mas veja você que minha busca não é pela inteligência, é pela felicidade.

— Mas não podes ser feliz aqui?

— Mas como posso ser feliz aqui, se aqui não tenho mais nada? Nem casa, nem amigos, nem trabalho, nem família?

— Mas, quando chegares lá, continuarás não tendo nada disso.

— Quando eu chegar, eu terei a satisfação de ter conquistado algo que muitos consideram impossível.

Ponderei o que ele disse e percebi que não o demoveria de sua peregrinação, mas resolvi insistir um pouco mais, utilizando-me de uma palavra mencionada por ele próprio:

— Então, sabes que a tua empreitada é impossível de ser realizada.

— Sim, é claro que é impossível. Só deixará de ser impossível depois de ser realizada.

Dizendo isso, ele se levantou com dificuldade e, mancando um pouco, dirigiu-se para o nada, levando consigo uns nacos de comida, um coldre de água e um assobio.

Mais tarde, à salvo do calor inclemente dentro de meu quarto de hotel com ar-condicionado, peguei-me rememorando minhas conquistas. Meus títulos, meus amigos, minhas amantes, meu dinheiro, meus filhos. Nada do que fiz para conseguir o que consegui é comparável ao esforço que esse homem está fazendo para, possivelmente, fracassar. Porém, se ele conseguisse, imaginei que ele teria uma sensação de realização que eu jamais poderei sentir ou experimentar e fiquei com um pouco de inveja.

Vi que gostaria de ser um pouco mais como aquele homem, mas éramos muito diferentes e, em um triste momento de lucidez, percebi que o que nos tornava diferentes não era o que havíamos conquistado em nossas vidas, mas, sim, o que havíamos perdido.

Aquele homem havia me ensinado a verdadeira dimensão do que é perseverança e determinação.

Prosseguir nosso caminho apesar das dificuldades é importante, mas prosseguir quando o caminho parece impossível é mais que importante, é fundamental.

Meu terceiro encontro foi, talvez, o mais marcante de todos, mas outros afazeres me chamam no momento. Retornarei em breve.


 

Três pequenas coisas, primeira parte

Desculpem-me pelo longo intervalo em meus escritos, mas eu estava viajando. Em minhas viagens, passei por muitos lugares e encontrei três homens extraordinários.

O primeiro deles morava em uma casa na qual toda a parte leste era feita de vidro. Ao se aproximar da residência por essa direção, inevitavelmente qualquer pessoa veria o movimento interno da casa e uma sensação de estranheza em relação àquela bizarra arquitetura seria bem provável. Por que alguém viveria assim, sob o escrutínio de seus vizinhos, criaturas que podem, como todos sabem, ser bem terríveis?

Se era a luz natural que ele buscava, por que não colocar ao menos uma pequena cerca para impedir os olhares curiosos? Por que não usar o vidro no teto para preservar sua privacidade e, mais ainda, sua segurança?

Bati à porta deste homem extraordinário, levado pela também extraordinária força da curiosidade e dele obtive, após uma conversa, franca, aprazível e pontuada por amenidades, a seguinte confissão: sua mãe o havia deixado quando ele ainda era muito novo. As circunstâncias sob as quais a moça havia partido foram tristes, mas não essenciais ao entendimento do meu relato. Então, por discrição, em consideração à enorme falta de discrição a qual esse homem submeteu sua própria vida, não vou entrar neste pormenor.

O fato é que a mãe do sujeito o havia deixado há cerca de 20 anos e, certo dia, ele teve um sonho. Sonhou que sua mãe estaria voltando, e que chegaria pelo Leste.

— Assim, poderei vê-la ao longe. Não corro o risco de ela chegar ao pé da porta e recuar, arrependida. Quando ela vier, eu saberei.

— Mas como pode saber se ela realmente virá? – Perguntei, incrédulo. Pois ainda se estivéssemos falando de um bilhete deixado pela moça – mas um sonho?

— Eu não sei. Eu acredito que ela virá. São duas coisas muito diferentes.

— Diferentes como?

— Saber não é a mesma coisa que estar certo. Nosso conhecimento é limitado pela nossa capacidade de interpretação. Eu poderia saber que a minha mãe viria e, no entanto, caso não acreditasse nisso, esse conhecimento de nada me serviria, pois ele não me traria nem conforto, nem esperança.

E, depois de um breve silêncio, com os olhos fixos no leste, ele concluiu:

— Mas sempre é possível acreditar.

Saí de lá pensando nas coisas que eu sabia e nas coisas nas quais eu acreditava e me peguei pesando quais teriam maior impacto em minha vida e em minhas decisões como pessoa. Foi uma reflexão surpreendente e percebi que aquele homem havia me ensinado o que era fé.

Agora é tarde e outras atividades estão cobrando o seu quinhão de tempo. Em breve relatarei os meus outros encontros aqui, nesse mesmo diário de viagens.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Trocando de frases

Finalmente achei uma frase capaz de substituir a terrível "o importante é competir".

Atribuída ao Barão de Coubertin, a frase acabou se tornando o lema de perdedores por todo o mundo, e serve como um consolo de quinta categoria para aquele que se esforçou, mas não ganhou. E é mentira. Porque nenhum atleta vai para a Olimpíada apenas para participar da festa (com a possível exceção do único representante de Burkina Faso). Assim como ninguém participa da vida só pra curtir a paisagem (com a possível exceção do meu cunhado). A gente quer vencer – e a derrota tem um gosto amargo e triste, especialmente se houve esforço para evitá-la.

Conformar-se com a derrota é bobagem – o segredo está em não se abater com ela. A derrota não é o fim do mundo e ela também não significa que o seu empenho foi em vão. Mas como resumir isso em uma máxima que faça sentido?

Eu estava trabalhando intensamente nisso quando o matemático e desenvolvedor de jogos Reiner Knitzia passou à minha frente (o babaca!): "The goal is to win, but it is the goal that is important – not the winning.

Algo como: "O objetivo é vencer, mas o que importa é o objetivo – e não a vitória".

Agora sim, pois o máximo que podemos exigir de nós mesmos é que nos empenhemos para alcançar nossos objetivos. O importante é o esforço, é querer chegar lá – a vitória é conseqüência e, quase sempre, não depende de nada que a gente possa fazer.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Eficiência e honra

Dia desses descobri que, surpreendentemente (pelo menos pra mim), vários pilotos kamikazes que chegaram a atuar em missões, sobreviveram. O motivo é que os generais japoneses permitiam que o piloto abortasse a missão em dois casos: se não houvesse nenhum alvo razoável para ser atingido ou se o avião apresentasse problemas técnicos.

A primeira situação é meio óbvia e bastante prática e razoável, mas o segundo motivo é um exemplo magnífico do incrível senso de honra japonês, que vem se diluindo ao longo dos anos.

Ora, se o avião está mal, porque não tentar despencar com o avião em cima do alvo a todo custo? Se errar, pelo menos o cara tentou, certo? Se ele já ia morrer mesmo...

Acontece que, para os japoneses, era fundamental que a missão kamikaze fosse um sucesso. Se o piloto fosse perder a vida, essa atitude não poderia ser em vão. A vida era algo muito precioso para ser desperdiçada em uma tentativa que poderia ser frustrada porque o sistema de navegação não estava cem por cento.

A morte é inevitável, mas não precisa ser sem significado.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Muita calma nessa hora

Na maioria das vezes, procuramos não correr riscos. Não tomamos decisões definitivas para não nos arrepender depois. Afinal, ninguém sabe o dia de amanhã.

Embora haja um pouco de sabedoria nesse pensamento, é preciso tomar cuidado para não sermos comedidos demais, cautelosos demais, pois o cauteloso viverá mais, mas terá uma vida mais chata. O cauteloso, por exemplo, terá menos filhos e terá feito menos sexo (e não em muitas posições).

O cauteloso terá comida para o inverno, mas não terá levado o seu paladar a extremos. O cauteloso jamais caçará sua própria comida e em qualquer restaurante pedirá sempre o mesmo prato. Nunca faltará dinheiro ao cauteloso, mas ele nunca será milionário. O cauteloso não vai sofrer demais e nem amar demais – o cauteloso pode ler uma poesia, mas nunca irá vivê-la.

O cauteloso terá pouquíssimos inimigos – e menos amigos ainda. Porém, muita gente irá ao enterro do cauteloso, pois acautela aproxima a todos e não repele ninguém – mas é que a cautela também impede que uma aproximação maior aconteça.

O cauteloso obedece a sua cabeça e raramente obedece ao seu coração. Para o cauteloso, a opinião da maioria é mais importante do que a sua própria. Com o tempo, ele não vê mais diferença entre uma opinião e outra e, inclusive, utiliza a opinião da maioria para justificar a sua.

O cauteloso sorri o tempo todo, mas nunca está realmente feliz. O cauteloso sempre sabe o que dizer, mas raramente diz o que pensa.

O passado e o futuro do cauteloso são a mesma coisa: não há nada que o reprove nem nada que o destaque – a maior virtude do cauteloso é que ele nunca decepciona, pois faz sempre o que se espera dele, nem mais, nem menos.

Algumas pessoas se esforçam, mas não saem da mediocridade, mas o cauteloso é o único que se esforça para permanecer medíocre. A meta do cauteloso é não mexer a panela, não jogar pedras no lago, é, enfim, não perturbar a superfície.

É abaixo da superfície que é preciso tomar cuidado com o cauteloso. No seu íntimo, ele também quer ser da turma dos que fazem a diferença. Quer ser o grande amigo que recebe telefonemas no meio da madrugada, quer ter a grande idéia que ficará imortalizada, quer escrever a grande poesia, quer ter aventuras pra contar. O que falta ao cauteloso não é ambição, é coragem para mandar tudo pro alto e fazer o inesperado. Essa covardia faz do cauteloso um frustrado que acredita que é um sucesso, pois o cauteloso jamais tem uma imagem ruim de si mesmo. E como poderia? Se ele nunca fez nada de errado?

E isso é verdade: o cauteloso evita fazer o errado. O problema é que ele também evita fazer o certo, se isso for trazer complicações. O cauteloso, diante de um dilema moral, vai deixar que os outros decidam por ele.

O cauteloso é alguém que vai pelo caminho da menor resistência, e pode passar por cima de quem estiver nesse caminho, pois se engana quem acha que o cauteloso é manso e pacato. Pelo contrário, o cauteloso tem toda a paciência para escolher suas batalhas. Se algum dia você se confrontar com alguém cauteloso, recomendo – como não poderia deixar de ser- muita cautela.

Uma dose de cautela é saudável e importante para todos. Viver orientado apenas pelo instinto é abrir mão da nossa própria racionalidade. É involução. Mas tem gente que exagera: segue pelo confortável caminho da cautela e perde de vista as outras trilhas da vida. Mais esburacadas, é verdade (algumas até sem asfalto), mas que levam a lugares fantásticos. Tá certo – umas dessas trilhas mais ousadas também levam a localidades inóspitas (Não sei por que, lembrei do Acre), mas viver sem surpreender a você mesmo não é vida, é conformismo. É se contentar com o bom, por ter medo de buscar o melhor.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Nada é impossível

Foi com perplexidade que recebi a notícia da morte de Michael Crichton. É claro que eu não o conhecia pessoalmente, mas é impossível não ser íntimo de um escritor que nos agrada.

Quando lemos algo que nos interessa, comove ou encanta, estabelecemos conexão com as palavras e, não raro, com o autor.

E de que autor estamos falando: Jurassic Park, O Enigma de Andrômeda, Linha do Tempo, Congo, Vírus e o desconhecido Presa – que trata dos perigos da nanotecnologia.

Graças a Michael Crichton, tive despertado o interesse por temas como física quântica, microbiologia e engenharia genética. Já a predileção pelos aspectos mais fantásticos de sua literatura, como dinossauros e viagem no tempo, é algo que carrego desde a infância, período no qual minha imaginação foi devidamente alimentada pelo meu pai.

Crichton sabia, como poucos, dar verossimilhança ao inacreditável. Sua idéia de trazer os dinossauros de volta à vida por conta do DNA preservado em mosquitos foi simplesmente sensacional.

Acho que Crichton é uma espécie de Júlio Verne moderno. Sua imaginação tinha a capacidade de transformar o impossível no improvável e o improvável, às vezes, até vira realidade. Assim como Verne "previu" a ida do homem à Lua, me pergunto se um dia não veremos dinossauros nos zoológicos, máquinas microscópicas substituindo nossos anticorpos ou uma traquitana capaz de teleportar humanos (que, se mal utilizada, pode também nos deslocar no tempo, claro).

Meu Deus, que saudades das idéias maravilhosas que se foram com ele. Descanse em paz, Michael.

Mais diálogos

Dois amigos conversando:

— Calor, né?

— Ô!

— Nesse calorão, sabe o que me dá a maior vontade de fazer?

— Pô, claro que sei! Também tô na maior vontade.

— Não brinca! De verdade?

— Claro!

— Você topa, então?

— Demorou!

— Ótimo!

E, quase que imediatamente, começou a tirar a roupa.

— Peraí! Que que você tá fazendo?

— Ué, tirando a roupa, como combinamos!

— Mas eu não combinei nada disso. Eu achei que você queria tomar uma cerveja!

— Não era ficar pelado?

— Claro que não!

Eram bons amigos, mas, depois disso, têm se falado cada dia menos.


 

Moral: Quem acha que sabe o que passa pela cabeça dos outros têm uma pequena probabilidade de estar certo. Quem tem certeza de que sabe, está invariavelmente errado.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Kicking Ass

Sou um grande fã... hm... Como ando emagrecendo, vou mudar o começo dessa frase para evitar comparações errôneas. Sou um animado fã da série House, da Universal. Tão animado que resolvi ver o que o ator principal Hugh Laurie fazia antes da série. E olhe o que eu encontrei: http://br.youtube.com/watch?v=6riY-103vbc&feature=related.

Isso mesmo. Ele andava chutando bundas e fazendo sketches de humor na Inglaterra. Acho interessante que nesse vídeo ele toca violão, o que costuma fazer também na série House (na série é uma guitarra – uma Fender e, depois, uma Gibson).

Se você não conhece a série, procure assistir. Ele também chuta muitas bundas por lá.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Gears of War 2

O mundo dos vídeogames anda em polvorosa por conta de três títulos que foram lançados recentemente: Fallout 3, Gears of War 2 e Dead Space.

A série Fallout, pra quem não conhece, conta a história de um mundo pós-apocalíptico. É um RPG no qual o seu personagem tem toda a liberdade do mundo para fazer as escolhas mais absurdas como, por exemplo, casar e prostituir a própria esposa para ganhar dinheiro. Essa nova versão está um pouquinho mais leve (eles tiraram a opção de dar um tiro no saco dos inimigos, por exemplo), mas o clima adulto e o alto nível de produção continuam.

Já Dead Space é uma nova franquia e o jogo se destaca pelo altíssimo nível de produção e pela ambientação fantástica. Você é um engenheiro preso em uma nave espacial à deriva tendo como companhia apenas um par de amigos e um monte de monstros invulneráveis. Isso mesmo – não adianta atirar no corpo e na cabeça dos bichinhos – a única maneira de escapar deles é cortando os braços, as pernas e os tentáculos das criaturas. Coisa de cinema. Os monstros podem atacar de qualquer lugar e até se fingem de morto para pular em cima de você no último segundo – sustos e paranóia são garantidos.

Mas o jogo que mais vai chamar a atenção é mesmo o Gears of War 2, que conta a história do esquadrão Delta, uma unidade militar futurista composta de uma machaiada forte pra cacete (só o pescoço dos caras é mais grosso que a minha coxa). E a missão do esquadrão Delta não poderia ser outra: salvar a humanidade da completa extinção, lutando contra os Locusts, alienígenas que se instalaram debaixo da superfície da Terra. Com gráficos fantásticos e ação ininterrupta, Gears of War 2 promete ser um dos jogos do ano.

O primeiro Gears of War eu joguei cooperativamente com um grande amigo e foi uma das experiências mais legais da minha vida de gamer. Hoje, como perdi contato com esse amigo (a vida, a vida...), é com uma certa tristeza e saudosismo que vejo o jogo.

Pra jogar sal na ferida, a história do Gears tem como tema principal a amizade, e a diversão é bem maior se ele for jogado com um amigo ao lado. Foi só botar o jogo pra funcionar que a lembrança do antigo amigo tomou conta.

Curioso como a saudade, assim como os monstros de Dead Space, pode vir dos lugares mais inesperados...


 

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Últimas notícias

O Fantástico ontem fez uma excelente cobertura sobre o seqüestro de Eloá e Naiara, com especial destaque para a incompetência da polícia na invasão da casa e também por terem deixado Naiara voltar a ser refém de Lindberg.

Os jornalistas têm razão: a seqüência da invasão do cativeiro é de um amadorismo inacreditável (especialmente considerando que os policiais tiveram dias para planejar o assalto. Dava tempo até de importar dos Estados Unidos as famosas bombas de luz e de fumaça). Ver os policiais tropeçando uns nos outros e carregando a menina ferida sem nenhuma consideração pelo básico dos primeiros socorros foi dolorido e, como disse o especialista entrevistado, uma vergonha para o Brasil.

Além disso, usar a menina que tinha acabado de ser solta para tentar negociar com Lindberg é de uma burrice incontestável. Nunca ouvi falar de uma estupidez tão grande em uma negociação de seqüestro: devolver um seqüestrado para o seqüestrador!!!

Sem contar que depois do primeiro dia de seqüestro já dava pra saber que tudo iria acabar mal e que a invasão do cativeiro era a única saída possível. Isso é psicologia de bolso: quanto mais tempo o cara tivesse pra pensar, mais acuado iria se sentir. Esperar cinco dias para invadir o apartamento só garantiu o que o garoto queria: atenção.

O que me leva um ponto fundamental nisso tudo que a matéria deixou de fora, talvez por acaso (alerta de sarcasmo!): o papel da imprensa.

Se dá pra ter vergonha de ser brasileiro por causa da atuação da polícia, então dá pra ter vergonha da natureza humana por causa da atuação da imprensa.

Depois da entrevista que o jornalista da Globo fez com o seqüestrador, o menino passou a se achar o cara mais importante do mundo, criou coragem, desistiu de se entregar e não cumpriu o acordo que fez com o próprio advogado. Em nome de um "furo" de reportagem, o jornalista fez a maior imbecilidade de todas: deu poder a um cara que queria justamente isso e condenou tanto o seqüestrador quanto as seqüestradas. Uma boa parte do sangue derramado no desfecho trágico desse incidente é de responsabilidade desse jornalista.

Ele vai alegar que estava fazendo apenas o seu trabalho e que o papel da imprensa é justamente esse: noticiar. Ele está errado: a notícia não tem mais valor que a vida humana e a própria rede globo avaliou mal as duas coisas novamente, quando deu a notícia prematura da morte da menina, só para serem os primeiros a dar o "furo". Foram obrigados a se desculpar, momentos depois.

E mais: a imprensa ficava filmando o apartamento e dando notícias do movimento da polícia na TV, alertando o seqüestrador de tudo o que estava acontecendo e fazendo com que ele se sentisse ainda mais famoso. E, provavelmente, foi com um desejo inconsciente de ser uma heroína na frente das câmeras que Naiara resolveu se arriscar e decidiu entrar novamente no cativeiro. Estou indo longe demais nas minhas conclusões? Talvez, mas já está provado que as pessoas agem de forma muito diferente quando sabem que estão sendo filmadas e que o ser humano está disposto a se expor a qualquer coisa para ser famoso (ou não existiriam os Big Brothers).

É claro que atitude da menina foi também motivada pela amizade e pelo desejo de colaborar para que tudo acabasse da melhor maneira possível, mas... Olha, posso afirmar o seguinte: se todo psicopata tiver o nível de exposição à mídia que esse Lindberg teve, vamos ter muitos mais por aí.

E o festival de horrores continuou: desde o pai da hospitalizada Naiara, sendo entrevistado, por telefone, no Faustão (????????) até o Zeca Camargo, depois do Fantástico ter passado vinte minutos mastigando os detalhes mais sórdidos do acontecido anunciar, animado, que no próximo bloco haveria uma entrevista exclusiva com os ídolos de High School Musical. Êêêê! Viva!

É falta de bom senso, é falta de caráter, é falta de humanidade.

Não acho que o acontecido deveria ser mantido oculto da opinião pública, claro, mas será que não era o caso dos diretores de jornalismo das emissoras articularem suas ações com a própria polícia? Guardar todas as imagens para um especial para ser exibido depois? Pesar o que era realmente notícia e o que era exploração do fato para conseguir audiência?

Foi um episódio infeliz. E espero que tenhamos, todos nós, aprendido alguma coisa com isso, porque uma coisa dessas não pode ser encarada como só mais uma notícia.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

O brasiliense e a crise

Brasília na década de sessenta quase não tinha carros. O que acontecia com um carro em um lado da cidade não afetava outro. Assim era a economia mundial no século, sei lá, catorze, antes das grandes navegações. Se faltasse paca na floresta amazônica, o europeu estava pouco se fodendo (desculpe o palavreado, é que falar de economia hoje em dia é coisa de macho!).

Hoje em dia, com um milhão de pessoas em uma área projetada pra duzentos mil, qualquer batidinha pode atrasar a vida de uma porrada de gente. Mais carros circulando no mesmo espaço físico é igual a mais contato, mais interação e mais interferência. A economia mundial hoje também anda congestionada – a velocidade da comunicação e dos transportes eliminou a distância e ampliou o acesso: nunca tivemos tantos carros tão perto um do outro. Nesse ambiente, se um mosquito peida na África, pode vir feder por aqui, no nosso supermercado, subindo o preço do... do... sei lá... do Doritos!

Agora fique com essa imagem do trânsito de Brasília na cabeça e imagine que estamos em Agosto, no meio da seca. E sabe o que acontece? Chove torrencialmente. A chuva começa pontualmente às 17:40 e vai até umas 20:30. Se você mora em Brasília sabe o que isso significa: batidas e carros parados pra tudo quanto é lado.

Pois é. Foi isso que aconteceu com a economia mundial: choveu.

E a solução do Bush foi bem interessante: pegar bastante dinheiro pra comprar bastante guarda-chuva – mas só pra quem não está se molhando.

O problema

O problema, é claro, é o dólar.

Hoje, fechou em baixa de cerca de 3%. Tive que escrever essa crônica no meio da noite, porque senão corria o risco da informação aí em cima não ser lá das mais exatas.

E, mais uma vez, todas as bolsas de valores do mundo fecharam em baixa. Nasdaq, Londres, Tóquio, Paris e Bovespa, sendo que a menor baixa foi em Tóquio. Japonês realmente é um povo mais sóbrio que nós, ocidentais desesperados. Se bem que a bolsa lá, a essa hora, ainda tá aberta. Ou seja... Nada tá garantido.

Se eu tivesse um dinheirinho sobrando, ia brincar de cassino na bolsa, que deve tá emocionante. Pelo que entendi, a Bovespa vem com tendência de queda desde setembro, então a chance de se recuperar no final do ano ou início do ano que vem... Será, hein? Será?

Rapaz, seria tentador comprar na baixa agora, mesmo que fosse umas blue chips como a Petrobrás e a Vale... O único problema é esperar aí uns cinco, oito anos pra ver resultado – ou então uma recuperação abrupta da Bovespa.

Se bem que o que eu queria mesmo era que o valor real do imóvel caísse como aconteceu lá nos EUA. Quem sabe, assim, não dá pra finalmente comprar um quatro quartos aqui em Brasília? E a gente teria o benefício adicional de ver o Paulo Otávio chorar em cadeia nacional igual ao Diego Hipólito.

Enfim, como ninguém fala mais de outra coisa, resolvi ir na onda, porque meu blog, afinal, está sempre na moda. Mas com o mercado do jeito que está, amanhã mesmo já vai estar desatualizado.

Ai, ai. Se servir de consolo, na área de commodities, o ouro e a prata continuam subindo, mas o paládio, que sempre andou tão bem, teve uma queda moderada de 1,44%. É... Hoje em dia não dá pra confiar nem no paládio.

Que saudades da poupança...


 

O outro eu

Quem você prefere: o Hulk ou o Mister Hide?

Os dois monstros são alter egos de pessoas pacatas e calmas que, quando libertos, são fortes, arrogantes e agressivos. A diferença entre eles não está no comportamento, mas, sim, na relação que cada um tem com o seu outro eu.

Para o Dr. Bruce Banner, o Hulk é uma maldição. O cientista não quer ser mais forte que todo mundo, não quer ficar verde e, principalmente, não quer perder o controle e ficar irritado ("Sr. MacGee, por favor, não me irrite". Lembram?). Pois ele sabe que, se ficar puto, não terá mais o controle de suas ações.

Para o Dr. Jeckyll, Mr. Hide é uma libertação. Ele buscou ativamente uma cura para a sua timidez e insignificância. Tudo bem que o tiro saiu pela culatra, mas o objetivo do médico era se libertar, ser maior, mais forte, melhor.

A metáfora é a mesma: quando ficamos com raiva, não somos nós mesmos (o personagem de Hide é um pouco mais complicado que isso, mas colabore um pouco senão o raciocínio não se sustenta). Mas, afinal, somos como Banner ou como Jeckyll? Acho que um pouco dos dois.

Todo mundo gostaria de poder soltar a sua fera interior. Gritar, xingar, falar mal de quem te atormenta. Sem medo de ser censurado, sem ter que prestar contas a sociedade. Enfim, desabafar. Para, no dia seguinte, voltarmos a ser nós mesmos e a nos comportar de forma civilizada e racional. Mas não podemos fazer isso, pois a sociedade vai usar tudo o que você fizer ou disser contra você. Na vida real, nós não nos transformamos no Hide e, portanto, não podemos botar a culpa em outra pessoa, mesmo que essa outra pessoa seja a gente mesmo.

Então, quando queremos explodir e não podemos, a raiva vai só acumulando, acumulando e acumulando até que ela transborda e viramos o Hulk, com uma ira sem controle e contra a nossa vontade. A raiva do Hulk não é desabafo, é desespero, é falta de alternativa. O Hulk é o que de pior temos dentro da gente, mas não é a gente. Mas, de novo, teremos que responder pelas ações do Hulk, pois, na vida real, não tem uma transformação que deixa claro que, naquele momento, quem está no controle é o seu sentimento e não você.

A grande questão é: sem a transformação física, fulano ou sicrano estão apenas em um momento de raiva e frustração ou são monstros de verdade? É comum, depois de um momento de raiva ou desespero alguém virar pra você e dizer:

— Não sabia que você era assim. Agora estou te conhecendo como você realmente é.

Será? Ou era apenas o Hulk saindo para dar uma volta? Como saber? Bom, minha filha conhece o segredo.

Não importa quantas vezes eu brigue ou grite com ela, no fim do dia ela me dá um abraço e um beijo de boa noite com todo o carinho do mundo. Ela sabe que o verdadeiro papai dela é aquele que a ama e protege e não aquele monstro que a sacudiu como um saco de batatas quando ela pintou de canetinha a tela da TV de LCD novinha.

Desconfio que, quando crianças, todos nós conhecíamos o segredo. Sabíamos que as pessoas podiam ser um bando de coisas diferentes e passar por diversas transformações, mas também sabíamos reconhecer a essência de cada um. Sabíamos ver o médico (ou o cientista) por trás do monstro. Ou éramos muito mais compreensivos. Dá na mesma.


 

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

A Última Palavra

É da natureza humana querer ter a última palavra. Em qualquer discussão, mesmo nas mais frívolas, ter a última palavra dá um certo prazer... Uma euforia inexplicável. Nada é mais recompensador para o ego que deixar alguém sem palavras – e depois sair da sala, antes que a discussão continue e, principalmente, antes que o interlocutor descubra um argumento mais convincente que o seu.

Mas é importante que a gente controle esse instinto para não cometer atrocidades, especialmente quando se tem o poder de dar a última palavra. Como já diria o tio do Homem-Aranha: "Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades". Policiais, juízes, chefes e a minha esposa, todos podem facilmente dar a última palavra, simplesmente usando da autoridade que lhes foi investida. Aí o que vale não é a força do argumento, mas a força da instituição. Ou, no caso da minha esposa, a força física mesmo.

Agora, curioso mesmo é quando você coloca alguém disposto a dar a última palavra discutindo com um outro alguém com a mesma intenção. Um encontro desses pode levar dias e nunca acaba bem. Pode acabar em pancadaria ou guerra nuclear, 50% de chance para qualquer das opções.

O prazer que a palavra final propicia em pequenas doses é, na verdade, uma ilusão. A busca pela palavra final é, historicamente comprovado, o princípio gerador do lado negro da Força no Guerra nas Estrelas. É a isca que leva um sujeito desavisado a cometer uma maldade ou uma injustiça.

E somente quem se dedica muito a ter a última palavra consegue usar a última palavra definitiva: o silêncio.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

O chapéu

No desenho animado da Disney A Família do Futuro tem um vilão que não é um vilão. Quem é mau mesmo é o chapéu dele; o pobre é apenas manipulado pelo próprio chapéu. Trata-se, possivelmente, do vilão mais deprimente dos desenhos animados: suscetível, burro, solitário e miserável. Um fracassado que só é vilão por falta de alternativa.

O curioso é que o contrário também acontece: alguém improvável pode virar herói pela simples falta de alternativa. O exemplo mais claro disso é o Lula. Ele é o bizarro do vilão da Família do Futuro, o seu oposto.

A motivação do chapéu do Lula talvez seja diferente. Quem o está manipulando não quer saber de vingança – quer saber é de poder e de manter o status quo (fora o churrasco e uma cervejinha que ninguém é de ferro). Dependendo da personalidade do chapéu, nossa vida pode tomar rumos bem diversos – do vilão deprimente ao presidente adorado (E, nem por isso, menos deprimente).

Sei que hoje em dia a vida não deixa a gente parar pra pensar, mas pense nisso mesmo enquanto faz outra coisa: ultimamente, quem está sendo o responsável pelas suas decisões, você? Ou o seu chapéu? Se você refletir de verdade sobre isso, pode ser que se assuste com a resposta.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

É tarde até que arde

Ultimamente, não tenho tempo pra mais nada. Acho que ouvi tanto essa frase nos últimos anos que acabei pegando essa doença aí – a da falta de tempo.
Os motivos são inúmeros, mas todos eles, quando ditos em voz alta, soam como desculpas esfarrapadas, inventadas de improviso e não muito convincentes. Quando os colegas cobram (porque os amigos de verdade nunca cobram nada), a resposta tende a ser genérica, para não comprometer.

— Rapaz, faz tempo que você não aprece!
— Pois é, ando numa correria!

Mentira, a falta de tempo tá tanta que não ando encontrando nem tempo pra correr. Inclusive, dei até uma engordadinha...

Mas hoje resolvi que ia arrumar um tempo para escrever. Arrumei e escrevi. Só não sei se ficou bom, porque não vai dar tempo nem de revisar.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Sem escolha

Em uma história em quadrinhos muito antiga chamada Skreemer, um dos personagens defendia a moral acima de qualquer coisa. Ele acreditava que todo homem sempre tinha escolha – e que fazer o mal era justamente isso: uma escolha – e não falta de alternativa. O homem sempre poderia escolher fazer o bem, por mais difícil que fosse.

Pois bem, o vilão da história põe uma arma na mão desse personagem e diz o seguinte: ou você mata um dos seus filhos ou eu matarei os dois. A situação era tal que ele não poderia, por exemplo, matar o vilão e nem se matar – ele só tinha essas duas opções. O cara mata o filho mais velho e enlouquece.

É um pouco como o filme A Escolha de Sofia. Enfim, uma situação limite, onde as alternativas parecem não mais existir.

O que essas duas histórias têm em comum é que elas são ficção. Eu até acredito que podemos nos ver diante de uma situação impossível uma vez ou outra na vida, mas isso não acontece todo dia e nem com todo mundo.

A maior parte das pessoas, quando diz que não tem escolha está mesmo é dando uma boa desculpa. Na maioria das vezes pra elas próprias.


 


 

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Jornalismo de verdade

Olha, jornalista é um sujeito muito sacana.

Acho que todo jornalista, antes de fazer uma entrevista, deveria recitar aquele texto (Miranda qualquer coisa) que os policiais de filme americano falam no momento em que agarram o malfeitor – e que, presumivelmente, também é dito pelos policiais estadunidenses de verdade: "você tem o direito de permanecer calado. Se abrir mão desse direito, tudo o que disser poderá ser usado contra você", e, se a entrevista for pra Veja ou pra Globo, o repórter continuaria: "... você tem direito a um advogado, etc...".

Digo isso porque não faltam exemplos de declarações tiradas de contexto e de edições mal-intencionadas, mas o pior, pior mesmo, é quando o sujeito se aproveita da humildade das pessoas só pra fazer uma sacanagenzinha. Só pra dar uma rapidinha e manter o pique.

Nesta semana, na paraolimpíada (como se escreve isso?), um atleta brasileiro cotó – o cara só tinha um braço e, mesmo assim, só até o cotovelo – e sem pernas, competiu de forma emocionante com um chinês que nem um braço tinha. Era uma prova de natação e os dois terminaram a prova dando uma cabeçada no sensor.

O brasileiro ganhou e bateu o recorde mundial – medalha de ouro para o Brasil!

Aí o FDP do jornalista foi lá pegar uma declaração do atleta brasileiro que, emocionado, não se conteve:

— A prova foi mesmo empolgante! Foi decidida na batida de mãos!

Se o editor tivesse um mínimo de consideração, cortava essa parte da matéria. Maldade, gente, maldade...

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Diálogo 2

Há muitos anos atrás, um sábio passava pela cidade de Brasília, quando foi abordado por uma pequena turba de deputados distritais:

— Ó, Sábio, precisamos da sua ajuda!

— Mas como sabem que sou sábio?

— Ora, pela barba branca e o cajado – responderam, em coro, os deputados distritais.

— Ah, sim! – exclamou o sábio, achando que ter comprado o cajado tinha sido... bem... muito sábio de sua parte, uma grande jogada de marketing.

E completou, em seguida:

— E como posso ajudar?

O deputado distrital mais velho explicou:

— Temos aqui dois amigos que não se falam mais. Estão bravos um com o outro.

— Se não se falam mais, é possível que não sejam mais amigos...

— Sim... Bom, o fato é que gostaríamos que eles financiassem nossa reeleição, mas, para isso, precisamos que eles voltem a se falar, pois o dinheiro só de um será insuficiente.

— E por que eles pararam de se falar?

— Um acusa o outro de que suas palavras são sempre mal-interpretadas.

O sábio ficou em silêncio por um longo tempo. Ele sabia que não adiantava um terceiro argumentar, pois eles também interpretariam as palavras do terceiro de acordo com sua vontade. E ele também sabia qual era o problema: um não confiava mais no outro. E o sábio também sabia (pois era bastante sabido) que a confiança, uma vez quebrada, só pode ser remontada com uma ferramenta especial, chamada humildade, que ninguém mais fabricava. Finalmente, o sábio falou:

— Podem procurar outras pessoas para financiar as campanhas de vocês!

— Quer dizer que eles nunca mais voltarão a se falar?

— Talvez sim, talvez não. Mas se um dia esses dois voltarem a ser amigos, eles terão suplantado seu próprio orgulho e terão atingido um nível de sabedoria maior que o meu. E isso significa que dificilmente eles cairão no papo-furado de um bando de deputados distritais.

Diálogo 1

— Hm... Eu não sei como dizer isso...

— Então não diga!

— Hã?

— Se você não sabe como, é melhor não dizer. Existe uma grande chance de que você faça a escolha errada de palavras e eu acabe me ofendendo.

— Mas o que eu tenho a dizer é importante.

— Importante pra quem?

— Hã?

— Se é uma coisa que está apenas na sua cabeça, pode ser importante pra você, mas, se é algo que eu desconheço, talvez não seja importante para mim. Pelo menos, ainda não.

— Sei...

— Também tenha em mente que, uma vez dito, você não pode "desdizer". Falou, tá falado – e isso pode trazer conseqüências! Especialmente se você não fizer a escolha certa de palavras...

— Sua braguilha está aberta!

— Hã?

— Sua braguilha está aberta!

— Meu Deus! Por que você não me disse antes?


 

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Respeito e risadas

Um bom comediante não pode respeitar nada. Nem ele mesmo. Pra mim, o Jô Soares deixou de ser engraçado a partir do momento em que ele começou a se levar a sério.

Um bom exemplo do que eu quero dizer é o Rafinha Bastos.

Ele é um representante dessa nova leva de comediantes que vêm tentando reviver o stand-up comedy aqui no Brasil – e vêm alcançando um relativo sucesso na Internet e nos palcos.

O cara é realmente engraçado e algumas idéias dele são ótimas. Lembra muito o Seinfield, guardadas as devidas proporções. Dá uma procurada no youtube que você vai se divertir.

Porém, tem um quadro dele, chamado Papo-Furado, no qual ele critica a gramática dos Nardoni. Entendi a piada, mas achei que passou do limite. Pelo menos, do meu limite. Foi ali que eu vi que eu não daria um bom humorista. Determinadas coisas acabam com o meu bom-humor e, sem dúvida, pais assassinando seus próprios filhos e dando depoimentos emocionados na TV é uma delas.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Cantora preferida

O rock pop americano (mundial, na verdade) tem uma nova bad girl, Katy Perry. Ainda não ouvi nenhuma música dela, mas já sou fã.

Primeiro, por conta do visual pinup, meio anos cinqüenta, com pose de menininha cheia de inocência fingida. Ela diz que Lolita é um dos seus filmes favoritos (e claro que não leu o livro).

Depois, por conta das letras bem-humoradas e que se encaixam perfeitamente dentro do espírito de liberdade de gênero que virou moda: "não sou lésbica, mas beijo umas meninas de vez em quando pra manter os homens em temperatura máxima" e "não sou gay, mas uso camisetinha colada, vou à manicure e falo de forma afetada". Mais do que o amor livre, estamos nos tempos da orientação sexual livre e da diversidade de gênero. A mocinha é moderna.

Mas o que mais me atraiu nela foi sua declaração quando foi criticada por grupos homossexuais por causa da sua música "Ur so gay".

A música tem o seguinte refrão (ou algo parecido):

"Você é tão gay, e nem gosta de meninos!"

E, mais pra frente na letra, ela reclama do fato de ter se apaixonado por um cara que usa mais maquiagem do que ela.

A comunidade homossexual ficou indignada, dizendo que ela está fazendo pouco dos gays.

Katy respondeu: "parece que as pessoas querem ser ofendidas, a música tem só um texto bem-humorado".

A declaração é brilhante. Mesmo que o tom da música fosse preconceituoso (e talvez nem seja), essas reações indignadíssimas, como se todo mundo estivesse conspirando contra as minorias, perderam muito do seu impacto. Fica difícil levar a sério quem se indigna por qualquer coisa e fica, realmente, parecendo que a turma do politicamente correto "quer" se ofender.

Conheço alguns militantes assim, que passam o tempo procurando fio de cabelo em ovo, afastando até os mais bem-intencionados de uma conversa racional, pois qualquer coisa pode ser interpretada como agressão e ofensa.

Mas, enfim, da Katy Perry eu já gostei – agora só falta ouvir a música.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Arrogância sem medalha

O Brasil, apesar de ser comandado por alguém que não tem a menor experiência administrativa, está dando mais ou menos certo, especialmente na área econômica, com as medidas inauguradas pelo presidente anterior. Já imaginou se o presidente fosse bom?

Com a seleção brasileira acontece algo parecido. Temos jogadores tão bons, que às vezes até esquecemos que o nosso técnico não tem credencial nenhuma para estar ali. A culpa da derrota para a Argentina nas Olimpíadas pode até não ser do técnico, mas enquanto não tivermos um bom, não vamos ter como saber - ele será sempre o primeiro suspeito.

Espero que essa moda de privilegiar a conveniência em detrimento da competência passe, pois está virando mania e já vi acontecer também no âmbito profissional.

Além da falta de experiência, essas pessoas só têm em comum uma coisa: a arrogância de achar que merecem estar ali. Tá todo mundo se achando o Michael Phelps.

Esporte espetacular

Após ponderada análise, cheguei á conclusão que o esporte mais erótico que existe é o vôlei (de quadra) feminino. Aquela mulherada toda de shortinho, passando a mão nas bundas umas das outras a cada ponto, é desconcentrante. Isso aí, no treino deve acabar em sacanagem fácil, fácil.
No vôlei de praia, as mulheres têm até menos roupa, mas tem menos mulher e mais areia, o que conta como negativo.
Algumas lutas têm bastante agarração, mas acho a mãozinha de leve na bunda com beijinho no rosto mais legal – pode me chamar de romântico.
Ah, sim, esqueci de dizer que essa é a minha opinião, o que já desqualifica qualquer esporte masculino, a Edinanci e a Rebeca Gusmão e, só pra não deixar nenhuma dúvida, o Rodrigo Hipólito.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Jogos Olímpicos

Olimpíada é um negócio meio exagerado. Juntam um bando de gente que, em tese, é o melhor que a população mundial tem a oferecer, o filé da seleção natural, pessoas que são o exemplo do que pode acontecer se o ser-humano chegar ao limite – em todos os sentidos - e o resultado não poderia ser outro: drama, muito drama.

Começando pela escolha do local, a China. Nada melhor que um ambiente político supercarregado para não falar de outra coisa que não seja paz e união entre os povos. Drama garantido. Quer dizer, se o Galvão Bueno deixar, pois ouvi de soslaio... é possível isso? Bom, se é possível, não sei, mas foi o que eu fiz: ouvi de soslaio ele dizer que esporte não tem nada a ver com política e que os jornalistas estavam lá pra falar só de esporte. Coerente. Quando o Pan-Americano foi no Brasil também fizemos a mesma coisa: fechamos os olhos pra qualquer outra coisa que não fosse esporte.

E tem também a Guerra na Geórgia, com os atletas e jornalistas sem comunicação com suas famílias e a Rússia fazendo ouvidos moucos para os pedidos de cessar fogo. Quer apostar quanto que vai rolar um encontro improvável de um atleta de cada um desses países em alguma modalidade? Mais drama.

Mas esses grandes dramas geopolíticos ganham um destaquezinho e logo somem, eles são bons mesmo é pra virar filme daqui a uns dez anos. O que o povão quer ver mesmo são os dramas pessoais. E esses também não faltam. Tem a da Ketlen, a primeira brasileira a ganhar medalha individual para o Brasil, que precisou vender os móveis da casa pra conseguir ir a Beijing. E, pra permanecer no judô, tem até novela. O português que ganhou do João Derly afirmou que fez questão de humilhar o brasileiro porque o Derly comeu a namorada dele. A medalha que se exploda, o corno português queria era vingança.

E acabou de sair na Internet que a garotinha chinesa que encantou o mundo cantando na abertura era só um dublê. A cantora-mirim real era, de acordo com os organizadores, muito feia para aparecer na televisão. É muito drama.

Pois é, na Olimpíada, o mundo fica concentrado em um lugar só, inclusive com os seus problemas e injustiças. Eventozinho deprimente, hein?

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Exploração

Tem gente que guarda a ideologia na estante e a consulta eventualmente. Outros a levam no bolso, para sacá-las em caso de qualquer eventualidade e tem ainda uns que já a carregam na mão, prontos para arremessá-la na cabeça do primeiro desavisado.


 

Dia desses falei que estava procurando uma empregada para dormir em casa e uma colega levantou-se da cadeira e disse, indignada:

— Eu acho isso um absurdo!

— Hã?

— Quando você estiver sem fazer nada, abra a constituição. Você vai ver que uma série de direitos que se aplicam a todos os trabalhadores não se aplicam às empregadas domésticas! Você, por exemplo, paga adicional noturno?

— Não...

Eu poderia argumentar que, na verdade, paga-se mais quando a pessoa fica pra dormir. Não sai discriminado na carteira como adicional noturno, mas é uma remuneração adicional. Mas não me ocorreu isso na hora e não acho que teria adiantado, de qualquer maneira. Ela estava empolgada:

— Pois um jardineiro ganha adicional noturno! As domésticas são tratadas como uma profissão menor e não recebem o que merecem.

Eu concordei que se trata de uma profissão realmente muito difícil. Ganha-se pouco e exije-se muito. Mas que, por outro lado, trata-se de uma relação muito diferente de qualquer outra profissão e que, caso fosse regulamentada da mesma forma que as outras, ela provavelmente deixaria de existir como conhecemos, pois muita gente não poderia pagar. Ela pareceu achar isso ótimo e que as mulheres têm mais é que buscar outras oportunidades na vida e não se submeter a trabalhar na casa dos outros.

Ela pode até estar certa, como eu acho que também estão certos os caras que querem salvar as baleias e os alertas sobre o aquecimento global, mas não sei se procurar uma empregada que possa dormir (sem pagar adicional noturno discriminado na carteira) seja algo tão sórdido e imoral assim.

A questão do subemprego no Brasil me parece um pouco mais complexa. Se o desenvolvimento econômico apresentar alternativas, quem não tiver inclinação para doméstica vai naturalmente migrar para outra área, diminuindo a oferta e conseqüentemente valorizando a profissão (como já acontece nos países desenvolvidos).

Enquanto isso não acontece, acho que, nós, os porcos capitalistas bem intencionados, que pagam o que podem pagar, vamos fazendo a roda girar. Se alguém souber de uma pessoa que saiba cozinhar e passar e que goste de crianças, por favor, me avise.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

I’m Batman

O novo filme do Batman tive a oportunidade de assistir na estréia, graças a uma empolgação que peguei emprestada de alguns amigos que fizeram todo o trabalho sujo: marcaram a data, escolheram um cinema do lado de casa, compraram os ingressos e ainda guardaram lugar na fila. Minha esposa ainda foi e voltou dirigindo. Ou seja, o único esforço que precisei fazer para assistir ao filme foi manter o olho aberto.

O filme precisaria ser muito ruim pra não valer a pena e, como o filme foi bom, a noite foi divertidíssima. Mas vamos responder às perguntas que não querem ser caladas:

1 – O Ledger merece o Oscar póstumo? Dependendo da concorrência, sim. O Coringa dele é bem melhor que o do Jack Nicholson, que não era nada mal;

2- A história presta? Mais ou menos. O filme ficou mais longo do que o que deveria, depois do diretor ter acrescentado todas as cenas que ele tinha do Coringa. E o roteiro não vai surpreender ninguém que já tenha lido uma cota honesta de quadrinhos. Mas os diálogos são interessantes, roubados de obras mais importantes do Batman, como A Piada Mortal e o próprio Cavaleiro das Trevas (só os diálogos, a trama não tem nada a ver).

3- E os outros atores? Todo mundo bem. Até o ator que faz o duas-caras. E colocar o Michael Caine e o Morgan Freeman num mesmo filme é sacanagem.

4- Sem exceção? A menina que faz a Rachel é tão má atriz quanto a menina da boca torta de Dawson's Creek, só que bem mais feia. E a voz de laringite do Batman é mais engraçada que aterrorizante.

5- Valeu a pena? Basta dizer o seguinte: mesmo que eu tivesse usado o meu carro e gasto o meu dinheiro teria valido a pena – o filme é divertido.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Ceticismo

Não se pode confiar em mais nada. Todo mundo já usou a expressão "do Oiapoque ao Chuí", que quer dizer nada menos que toda a extensão do território brasileiro, certo? Quando dizemos que Fulano já viajou do Oiapoque ao Chuí, queremos dizer que Fulano já viajou o Brasil todo, certo?

Errado.

A expressão correta seria do Monte Caburaí ao Chuí. Pois estes sim, são os extremos norte e sul do país. Pois é, em uma consulta besta à Wikipédia descobri a verdade. Durante anos, a expressão popular nos induziu ao erro – e posso apostar que tem muito professor de geografia por aí que usa a frase.

Não estou aqui para defender a precisão histórica e geográfica de "lugares comuns" e expressões cotidianas. Não se trata de saber a latitude e longitude de onde o Judas perdeu as botas e nem o CEP da casa do Caralho, mas é que havia uma certa credibilidade por trás da expressão "do Oiapoque ao Chuí".

Ledo engano: o Oiapoque é apenas mais uma farsa, mais uma prova de que a verdade é apenas uma mentira que ninguém descobriu ainda.

Já a assessoria de imprensa do Chuí divulgou que ele não faz parte do esquema e que ele também foi enganado como todos nós.

Duvido.


 

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Evolução

Para mim, uma das invenções mais significativas do século passado foi o walk-man. Não por causa do que isso representou em termos de avanço tecnológico, mas porque o sucesso da empreitada diz muito sobre a natureza humana.
Nossa felicidade em poder carregar nossas músicas conosco foi palpável e se traduziu em um dos maiores sucessos comerciais da história da Sony. Uma felicidade provavelmente só comparável à de poder carregar o nosso telefone conosco e, mais recentemente, o nosso computador e a nossa internet, que é nada menos que o mundo inteiro. Saímos da caverna, mas com a condição de levarmos a própria caverna e o resto do mundo nas costas. Nosso processo evolutivo pode ter começado no macaco, mas, nessa toada, vai terminar no caramujo.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

O essencial

Minha filha esses dias, quando entrou em um antiquário (não pergunte por que), falou, sem cerimônia:

— Aqui é igualzinho à casa do moço.

— Moço? Que moço? – Perguntou minha esposa, meio surpresa, pois não tínhamos ido à casa de nenhum anônimo recentemente.

— Aquele de barba branca.

Pensei no Papai Noel, imediatamente. Mas minha filha já tinha cinco anos e não ia confundir qualquer um com o Papai Noel, ainda mais em julho.

— O tio Paulo? – Era o único tio que lembrávamos que tinha barba branca, mas fazia uns três meses que não íamos a casa dele.

— Não, mãe. Aquele moço que já morreu.

Minha mente já estava fervendo com as possibilidades mais malucas, quando, finalmente, caiu a ficha: ela tinha ido à exposição do Darwin na escola. O moço era o Charles Darwin!

E aí começamos a conversar sobre a exposição.

A Bia (minha filha, pra quem não conhece) comentou solenemente que, além de ver muita coisa velha, lá na exposição ela ficou sabendo que o Darwin gostava de andar de barco, que já tinha enfiado um inseto na boca e que gostava dos animais. Para ela, o essencial a saber sobre o Darwin não tinha nada a ver com a teoria da evolução das espécies. O Darwin da minha filha era um velho de barbas brancas que comia insetos.

Nunca imaginei o Darwin dessa forma e, se meus professores tivessem me apresentado à esse Darwin em vês de ir direto para a explicação da seleção natural, eu talvez gostasse um pouco mais de biologia.

De qualquer maneira, ficou a lição: depois de adultos, nos acostumamos a classificar as pessoas pelo o que elas são capazes de fazer e não mais por quem elas são.

Nossas realizações são importantes, claro e, no caso do Darwin, importantíssimas, mas não vale à pena perder de vista o jardineiro por trás do jardim.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Pílulas de sabedoria

Era um sábio. Disso ninguém duvidava. Tinha até a barba branca, a postura sóbria e o olhar contemplativo para provar. Se perguntassem para qualquer um, qualquer um diria: trata-se de um sábio.
Mas o sábio tinha um problema: ninguém ouvia seus conselhos.
É que diferente dos charlatães, que normalmente diziam o que os outros queriam ouvir, o sábio falava apenas a incômoda e desconfortável verdade.
Combinaram então o seguinte: cada um perguntava para o sábio apenas sobre a vida dos outros, que assim poderiam ouvir as opiniões brilhantes do sábio sem se preocupar em olhar para o espelho.
Era um sábio. Mas como só falava dos outros, ficou com fama mesmo é de fofoqueiro.

Moral: Sabido mesmo é quem fica na sua. A vida dos outros, é, pasmem, só dos outros.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Comentando o comentário

O Fred deixou um comentário interessante no post “Põe aqui o seu pezinho”(vá lá ler), mas acho que ele não entendeu muito bem o que eu quis dizer. Tudo bem, eu mesmo não me entendo na maioria das vezes.
Pra jogar luz sobre a questão, imprimi o texto e mostrei para o surdo-mudo que trabalha aqui com a gente e ele me explicou, em linguagem de sinais (que também não entendo), o que eu quis dizer. Foi o seguinte:
Todos nós sofremos pressões sociais e todos nós nos adequamos, em maior ou menor grau. O sapato é apertado pra todos, mas para alguns, é mais apertado e, para outros, o aperto é mais insuportável.
Enquanto uns se contentam em tirá-los no fim do dia e beber uma cerveja com o pé pra cima, outros tiram logo a roupa toda, dançam rumba sobre a mesa de centro, tomam banho com o gato, filmam tudo e colocam no Youtube. E o que me chama atenção é que tem cada vez mais gente fazendo isso – não apenas escrevendo blog ou se relacionando pela Internet, mas fazendo uma auto-análise sem limite e sem critério, expondo-se ao ridículo para a avaliação dos outros.
Acho que essas pessoas estão, de certa forma, mostrando as suas cicatrizes, assim como a gueixa que divulgou o seu pé atrofiado na internet.
Porém, concordo que não são apenas pressões culturais e sociais que deixam cicatrizes. Desilusões amorosas, catástrofes naturais, guerra e assistir o Faustão do começo até o final são coisas que já provaram seu poder de destruição da alma humana mais de uma vez.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Louras e BFG

Toda vez que posso escolher um personagem antes de iniciar um videogame, opto por uma mulher. O motivo é bem simples: a maioria desses jogos é em terceira pessoa e, se vou ter que olhar para a bunda de alguém por horas a fio, porque não uma mulher? Se tiver uma roupinha apertada ou praticamente roupa nenhuma, melhor ainda.

Sexista? Só se eu revelar minhas verdadeiras intenções. Minha filha, por exemplo, acha que minha preferência por mulheres mostra que tanto homens quanto mulheres podem brincar com bonecas, que é bobagem achar que meninos só podem brincar de carrinho.

Voyeurismo juvenil e educação moderna ao mesmo tempo não é para qualquer um. Não tente fazer isso em casa sem a ajuda de um especialista.

Mas voltando ao assunto: na falta de mulheres, opto pelo bárbaro. O cara mais grosso, escroto e forte disponível. Os psicólogos de plantão podem achar que estou querendo reafirmar minha masculinidade. Mas eu posso garantir que reafirmar a masculinidade jogando RPG é meio perda de tempo. É que o cara estúpido normalmente tem as melhores falas, como a clássica “Eu vim aqui pra dar porrada e mascar chiclete. E acabou o chiclete!” do Duke Nukem.

Tem sempre também o velho que curte magia e uma magrela (ou baixinha) que gosta de andar pelas sombras. Às vezes tenho que optar pela magrela, especialmente quando não há uma outra personagem feminina presente, mas o bom mesmo é quando consigo juntar o fetiche do personagem feminino com a diversão que um personagem casca-grossa representa.

No RPG Mass Effect, a comandante Sheppard, que escolhi, não apenas mandou o presidente do conselho galáctico se ferrar, como adorava freqüentar boates de strip-tease. Além disso, perto do fim, ela “apertou” a alienígena mais gostosa do jogo. E a bundinha da Sheppard não era nada mal...

Mas nada se compara a Seraphin, a anja peituda de Sacred. Todas as armaduras disponíveis para ela eram basicamente versões diferentes de calcinha e sutiã, seu feitiço preferido se chamava BFG (Big Fuckin’ Gun, para os não-iniciados), uma de suas frases mais legais era: “isso aí é sua espada ou você está feliz em me ver?” e sua marca registrada era gargalhar loucamente sempre que um golpe seu arrancasse a cabeça do adversário.

Psicótica, linda e politicamente incorreta, Seraphin vai estar de volta no fim do ano, com o lançamento de Sacred 2. Nessa era do politicamente correto, quer apostar quanto como vão enquadrar a anja? Já comecei o abaixo assinado pra mandar pra produtora!

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Põe aqui o seu pezinho

Como metade das pessoas que têm computador, eu também recebi o e-mail bizarro da velha gueixa com o pé completamente atrofiado e deformado. Com uma mistura de orgulho e tristeza, a senhora mostrava o estado pé, com os dedos dobrados, peito do pé estufado e, como último recurso, o tendão cortado. Tudo para conseguir calçar um sapato número, sei lá, 29? 28?

O sapato era pequeno, mas é o que menos importa nessa história. O que importa é o seguinte: até onde estamos dispostos a ir para sermos aceitos? No caso da senhora japonesa, ela suportou uma imensa violência física por conta de determinadas pressões culturais e sociais. Mais freqüentemente, nós nos submetemos a algumas violências psicológicas para subir na vida e para ser convidado para as festas.

Às vezes nem percebemos e, outras, levamos na brincadeira. São as demandas do chefe chato, o terno de segunda à quinta, o sorriso amarelo diante do desafeto que casou com sua melhor amiga, o aniversário da tia inconveniente. Pressões sociais e culturais que, pensamos, não significam nada e, afinal, precisam ser obedecidas, sob pena de ostracismo ou, pior, indiferença.

Mas quando vejo essas páginas pessoais do Orkut e afins, com gente tirando a roupa, declarando que faz sexo com plantas e exibindo sua vida pessoal de forma explícita, me pergunto se essa onda de mostrar as cicatrizes na Internet já não tem um tempo. É que algumas cicatrizes são mais visíveis que outras...

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Pro buraco

Por falar em pessimismo, nesse exato momento, em um túnel gigante embaixo de um lugar qualquer na Europa, tem um grupo de doidos com PhD acelerando partículas e mandando umas de encontro às outras em velocidade dez vezes superior à da luz. Eles fazem isso o dia inteiro e ficam lá, sentados, pra ver o que acontece.

Até aí, nada demais, pensa o desavisado. Melhor que assistir ao Big Brother deve ser.

O único problema é que o passatempo desses rapazes pode ter um pequeno efeito colateral: a criação de um buraco negro.

Sim, aquele mesmo tipo de buraco negro que, por ter um centro de gravidade imenso, arrasta galáxias inteiras para o seu interior. E podemos ter um na Europa. Veja bem que não é o risco de algo simples como uma explosão atômica, ou a destruição total do planeta Terra, mas o risco de criar uma coisa que pode aspirar toda a Via Láctea. Imagine se o Maradonna fosse viciado em corpos celestes. É isso: VUPT! E lá vamos nós pra dentro da narina do buraco negro.

O responsável pela brincadeira disse que, caso o buraco negro seja criado, ele será microscópico e instável e sobreviverá 0, 000...1 segundo (são dezesseis zeros). E, nesse tempo, ele não pode fazer um estrago muito grande. Talvez inale um átomo e dois e pronto.

Mas e se essa porra ficar estável, cidadão? E se não se desfizer?

Aí ele disse que a tendência é que o Buraco negro continue viajando em dez vezes a velocidade da luz e que só vai dar merda há alguns milhões de anos-luz daqui. Já estou até vendo os cabeçudos do planeta do E.T. putos da vida com a gente. Escreve o que estou dizendo que essa história vai acabar em invasão alienígena. Se alguém larga um buraco-negro na minha porta, pode ter certeza de que vou interpretar como um ato de guerra. Se os caras escaparem, vai dar rolo.

Mas e se essa porra trombar com um nêutron ou um quark, perder a velocidade e chegar, no máximo, em, sei lá, Luziânia?

Aí ele vai ser atraído pela gravidade da Terra.

Ah, certo. Podemos ter um buraco negro no centro da terra. Mas e aí?

Aí ele vai começar a sugar matéria.

Não poderia ser melhor. E aí?

Bom, eventualmente ele sugaria toda a Terra e a Via Láctea, mas isso demoraria uns seis bilhões de anos e a Terra só vai viver mais cinco bilhões, mesmo.

Então quer dizer que, se por um acaso a gente conseguir dar um jeito de evitar que o Sol se apague, não vai adiantar nada?

O cientista diria que, em primeiro lugar, é pouco provável que o buraco negro se forme e que, caso isso aconteça, é praticamente impossível que ele se aloje no centro da Terra. Praticamente impossível, Né?

Hnf... Foi o que disseram quando o Lula pensou em se candidatar à Presidência da República pela primeira vez.


 

O caminho

Sempre preguei o pessimismo e sempre fui um incompreendido. Pois bem, acabou de sair um estudo que prova que o verdadeiro caminho para a felicidade é o pessimismo.

O pensamento positivo e o otimismo ajudam você a conseguir seus objetivos, mas quando você chega lá, as coisas não são exatamente como você pensava, não é mesmo? Vem a decepção e certa depressão é inevitável antes que você chegue à conclusão de que o que você precisa mesmo é de outro objetivo. E mais outro, e outro, e outro...

Já o pessimista sabe exatamente sabe que as possibilidades do pior acontecer quando ele chegar lá são grandes. Então, qualquer coisa boa é lucro e vai ser encarada com deliciosa surpresa. E pronto: felicidade.

O otimista acha que tudo tem jeito e, quando assiste ao estupro de crianças e o espancamento do jovem que saiu da boate no telejornal, se vê sem argumento para justificar a vida, se deprime e se engana até se abraçar com uma nova ilusão.

O pessimista sabe que o mundo vai acabar e já desistiu da humanidade tem um tempo. Quando vê qualquer coisa agradável, não consegue segurar um sorriso, mesmo que seja cínico. Mas não se deixa enganar: seja lá o que for que viu, era apenas a exceção que confirma a regra.

Já o deprimido usa a visão do pessimista para justificar sua permanente tristeza que, na verdade, não tem motivo nenhum.

Sei que já é a décima vez que falo sobre isso aqui e provavelmente vocês já estão de saco cheio. É bem provável que ninguém goste dessa crônica e que eu acabe perdendo mais leitores por insistir no tema. Pelo menos, isso é o que eu acho que vai acontecer – mas provavelmente vai rolar algo pior ainda. Se não acontecer, é lucro.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Uma pequena Indiana Jones

Nesse ano, a minha maior surpresa com o Indiana Jones veio de uma fonte completamente inesperada: o jogo Indiana Jones Lego. Pra quem não acompanha o que rola no mundo dos videogames, a série Lego pega filmes e personagens famosos (Indiana Jones, Star Wars, Batman) e transforma em um jogo de aventura, tudo montado com os bloquinhos Lego.
Os jogos são muito bem feitos e é impressionante o resultado final, pois, além de tudo no cenário poder ser montado e desmontado (pois é tudo Lego), os desafios são interessantes e inteligentes. E mais um detalhe: o enredo é sempre uma versão bem-humorada e censura - livre dos filmes. Os bonequinhos não falam e vários elementos são traduzidos através da expressão corporal. Para mostrar que o Indiana Jones tem medo de cobra, por exemplo, o bonequinho cobre o rosto com as mãos e se treme todo quando chega perto de uma cobrinha Lego, que parece um cocôzinho vermelho.
Tudo muito simpático, mas talvez bonitinho e “clean” demais, para quem, como eu, prefere jogos como a Conspiração Bourne, no qual você pode pegar um lápis na mesa e enfiar no olho do seu adversário – se não fosse por um detalhe: Indiana Jones lego eu posso jogar com a minha filha!
Assim como meu pai dividiu sua paixão por cinema comigo usando o Indiana Jones, posso, com o mesmo personagem, dividir minha paixão por videogames com minha filha, que vibra com cada cena do joguinho e não pára de apertar os botões nem quando os cineminhas pré-gravados do jogo são disparados. Para ela, ela continua controlando a ação, fascinada com tudo que consegue fazer e montar.
Se não fosse pela Bia, eu jamais iria perceber o tanto que um jacaré de Lego pode ser assustador. Quando o personagem dela cai no rio de jacarés, ela grita, larga o controle e tampa os olhos, pedindo minha ajuda para passar de fase.
E ela comenta as ações, briga com os bonequinhos, coordena as estratégias mais engraçadas e imprevisíveis, se diverte atropelando o meu personagem (várias vezes seguidas) e levanta a mão para um “high five” toda vez que conseguimos, juntos, superar um obstáculo.
É como ser criança de novo – exatamente o que um filme do Indiana Jones se propõe a fazer.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal

O novo Indiana Jones faz sentido. Com a cronologia da série entrando nos anos 50, época de desenvolvimento tecnológico e nos primórdios da guerra fria, a nova descoberta arqueológica do Dr. Jones se encaixa perfeitamente no tema.

Além disso, dividir a cena com o filho e reviver um grande amor também são idéias que amarram bem as tramas anteriores.

E o resto também está lá: o nacionalismo, um vilão determinado, a ação, o bom-humor e o chapéu. E esse é o problema do novo Indiana Jones: ele não surpreende – e por isso é um filme bem mais fraco que seus antecessores.

O roteiro é interessante, mas tão formulaico que você vê o que vai acontecer a quilômetros de distância. Além disso, diferente da Arca da Aliança e do graal, o novo "tesouro" já foi explorado à exaustão em uma série de filmes recentes. O resultado é que, depois de quinze minutos de filme, eu já sabia como o filme terminaria.

A inclusão do filho é interessante, mas também previsível – e são poucos os momentos que a química entre pai e filho realmente funciona (Shia LeBeuf não é o Sean Connery). E manter o suspense de que o jovem é filho dele durante mais de uma hora foi, na verdade, uma oportunidade perdida. Não contribui para a história, pois todo mundo sabe do "segredo" e diminui as cenas com o clima "pai e filho". Quando o "segredo" é revelado, não resta mais nada a não ser acelerar para o final do filme.

As cenas de ação também são o que se podia esperar (com uma ou outra exceção) e, em um caso bem específico, Spielberg errou a mão e exagerou tanto no absurdo que eu saí do clima do filme por alguns instantes.

Mas o filme diverte, especialmente na primeira metade. E eu cheguei até a levar um susto bem honesto em um determinado momento, prova de que Spielberg entende mesmo desse negócio de direção.

Mas fiquei chateado pela ausência de surpresas.

O primeiro filme foi o primeiro, e a surpresa estava justamente aí.

O segundo filme abandonou a arqueologia, uniu Indiana Jones com dois parceiros improváveis e, em alguns momentos, repetiu as fórmulas do primeiro – mas a fórmula ainda era nova o suficiente, e as cenas de ação foram coreografadas à perfeição.

O terceiro filme tinha o objetivo de dar uma geral no personagem e encerrar com chave de ouro a trilogia. Tivemos o pai do Indiana, a origem do nome, excelentes diálogos, cenas de ação criativas, o Indiana Jones novo...

Já o quarto filme só introduz como elemento inesperado o exagero. E apenas adiciona mais um capítulo na vida do herói. Em vez de filmão, ficou com cara de novela. Dessas que a gente assiste mesmo sabendo o que vai acontecer, porque já se afeiçoou aos personagens. Pra fazer um filme interessante, Spielberg e Lucas tinham que reimaginar um Indiana Jones mais velho (como Frank Miller fez com o Cavaleiro das Trevas), mas o que fizeram foi um cara ainda mais fodão que nos outros três filmes anteriores.

É o pior filme da série. O que talvez equivalha a dizer que é o pior carro na loja da Ferrari. Mas, enfim, é o pior.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Ensaio sobre a cegueira (não resisti a esse título)

Como você é uma pessoa bem informada, tenho certeza de que já ouviu falar do efeito McGurk, mas eu, que só leio a página de esportes do jornal e só assisto ao House, só descobri sobre o McGurk ontem.
Estava justamente lendo sobre o cérebro (como vocês podem constatar na crônica abaixo) quando deparei com a seguinte curiosidade: se alguém está movimentando a boca falando GA, GA, GA, GA, GA, e você está ouvindo o som de alguém falando DA, DA, DA, DA, o seu cérebro vai fazer a maior confusão e achar que a pessoa está falando BA, BA, BA, BA.
Se você achou tudo uma coisa meio idiota, acho que está no caminho certo, mas parece que dá pra tirar uma conclusão científica disso: o nosso cérebro completa informações. Em nome da praticidade, ele resolve uma situação e pronto: arquiva em assuntos concluídos, mesmo que não seja uma resolução muito correta.
Por isso é muito difícil para nós, depois que já pensamos sobre um assunto, mudar de opinião. Só te falar que você ouviu na verdade DA, DA, DA não vai ser suficiente. Para nos convencermos, temos que ver gráficos, o áudio separado do vídeo e uma longa explicação.
O cérebro processa milhões de informações e tem horas que, pro pensamento andar, não dá pra ser razoável. Por questões práticas, somos naturalmente teimosos. É o que o gordinho que escreveu o livro chama de cegueira não-intencional.
Conheço uma porção de gente que vai usar mais essa informação pra justificar a cabeça-dura.
Mas, apesar de sermos todos neurologicamente meio míopes, o velho ditado continua valendo, com uma pequena atualização: o pior cérebro é aquele que não quer ver.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

O velho Indiana

Pediram-me para fazer uma crônica sobre o novo filme do Indiana Jones. Como não vi o filme ainda e não sou de recusar pedidos, vou falar sobre os velhos.

O primeiro filme, Caçadores da Arca Perdida, assisti depois de ter visto o segundo, no saudoso videocassete (daqui a alguns dias, a palavra sai do dicionário). Claro que me diverti muito. A cena inicial é antológica, o take do doido da espada é fenomenal e nem o nazista derretendo, nem o Indiana Jones pendurado no submarino conseguem te tirar do clima do filme – especialmente se você tem catorze anos de idade.

Mas o segundo filme foi quem me vendeu o herói. Assisti com o meu pai, no saudoso cine Atlântida (estou começando a perceber um padrão aqui). E foi uma experiência tão marcante que lembro em detalhes até hoje – até do lugar onde sentei no cinema. E da conversa que tive com meu pai:

— Eca! Sorvete de cérebro de macaco! Que nojo!

— Eu comeria – respondeu o meu pai, provocador e cínico como sempre.

— Comia nada! E aquela caverna cheia de insetos! Será que era tudo de verdade?

— Claro que era! Mas eram todos insetos treinados. Eles não mordem os atores.

— Insetos treinados? Uau.

— Foi a primeira vez na história do cinema que insetos foram treinados com sucesso.

— É impressionante.

Meu pai sorriu. Eu desconfiava que ele estivesse brincando, mas me recusava a sair do clima de fantasia que o filme tinha deixado. Insetos treinados! Fenomenal!

Já o terceiro filme, foi uma experiência traumática. Combinei com minha namorada da gente se encontrar na porta do cinema e ela chegou atrasada. Quando entramos, o filme já estava na cena dos ratos.

Chegar atrasada! No filme do Indiana Jones! Terminamos uma ou duas semanas depois.

Mas o Sean Connery como pai do Indiana compensou. Estava explicado – o filho do James Bond tem mais é que ser aventureiro mesmo.

É claro que minha experiência com o Indiana Jones não parou por aí. Vi a série (meh), li os quadrinhos (bons) e fui ao show da MGM ("an exploding car never gets old", para parafrasear o próprio Indiana).

Espero que esse último filme não repita o fiasco que foram os novos Star Wars, que ainda reste alguma ousadia nas mangas de Spielberg e de Lucas. Vamos ver.

Ah, sim. Meu diálogo preferido:

Willie Scott: You're gonna get killed chasing after your damn fortune and glory!
Indiana Jones: Maybe. But not today.

Nós e o cérebro

Você e seu cérebro não se conhecem tão bem como você imagina. Para provar, visite esse link, assista ao vídeo e depois volte para continuar a ler à crônica: http://www.youtube.com/watch?v=jB9SRm2c_LA&feature=related.

É sério! Vá primeiro ver o vídeo ou o resto do texto não vai fazer muito sentido.

Pronto? OK, continuemos.

A verdade é que nosso cérebro é péssimo para realizar várias tarefas simultaneamente. Ele simplesmente não foi feito pra isso e ter o foco em duas coisas ao mesmo tempo é praticamente impossível. Por isso, é muito comum que pessoas classificadas como inteligentes sejam também distraídas, o que não significa que todo distraído é um gênio – não se animem, louras.

Dirigir e falar ao celular, chupar cana e assoviar, fazer sexo e rezar o terço são todas atividades incompatíveis de serem realizadas ao mesmo tempo, por questões puramente neurológicas, o que não impede alguns desavisados de tentar. Um estudo, inclusive, comprovou que quem dirige e fala ao celular simultaneamente está agindo mais perigosamente que um motorista bêbado. Não consegui encontrar nenhum estudo sobre a cana/assovio e o sexo/terço. E aconselho você a não digitar "sexo+terço" no Google. E, se digitar, não clicar no guia "imagens". E, se clicar na guia, não olhar a décima primeira foto.

Quem se orgulha de ser multitarefa, como eu, pode calçar a sandália da humildade. Na verdade, o que fazemos é fragmentar tarefas, interrompendo-as e reassumindo-as em curtíssimos intervalos e, provavelmente, seríamos mais eficientes se tivéssemos um pouco mais de disciplina e bom-senso.

Mas talvez não. O cérebro não é tão simples quanto parece e, na verdade, sua eficiência está ligada a uma série de fatores, como, por exemplo: sono, estresse, exercício e até gênero (sim, o cérebro feminino é mais complexo que o do homem).

Curiosamente, estou escrevendo esse texto enquanto assinto à televisão, depois de uma noite mal-dormida, sob estresse prolongado, depois de alguns meses de completo sedentarismo e, pelo menos da última vez que me olhei no espelho, ainda sou homem. Será que vai ficar bom?

terça-feira, 3 de junho de 2008

Fazendo graça

Humor é uma coisa engraçada: todo mundo tem, mas nem todo mundo sabe usar. E fazer os outros rir (intencionalmente) não é tão fácil quanto parece.

Alguns truques são simples, como gritar um palavrão a toda altura em uma sala completamente silenciosa. Dependendo do lugar, você pode até ser expulso, mas te garanto que vai arrancar umas boas risadas da platéia, pelo inusitado e pelo susto.

Mas isso vai funcionar uma vez só (tá bom, duas). O difícil mesmo é conseguir fazer rir sistematicamente, todos os dias, as mesmas pessoas. É por isso que blogs como o do kibeloco pegam seu conteúdo de outros lugares, utilizam colaboradores e, na falta disso tudo, vão pela quantidade, na esperança de que alguma coisa cause impacto. Funciona. Eu gosto de acessar o kibeloco que, como faz piada com notícia, ainda me dá a vantagem adicional de ficar por dentro do que está acontecendo. Pra mim, o site fez a melhor cobertura do caso do Ronaldinho com as travestis.

Estou escrevendo isso porque um leitor me pediu para escrever mais coisas engraçadas, como aquela crônica das mulheres distraídas.

O curioso é que aquilo não foi uma piada inventada. O texto foi enfeitado e floreado, mas aquilo aconteceu. Foi quando me toquei que, no Ninguém Perguntou, tudo o que é escrito é uma metáfora para as coisas que observo, pois o comportamento humano me fascina. E os humanos às vezes são engraçados e, às vezes, não.

Quer dizer, somos engraçados quase sempre, mas para ver isso é preciso aprender a rir de nós mesmos, o que considero uma arte e um objetivo a ser alcançado. Afinal, estou sempre procurando novas formas de rir e de fazer rir, pois o humor precisa ser refinado – quem ri várias vezes da mesma coisa não é bem-humorado, é bobo.

No fim, se a gente for parar pra pensar, o Jornal Nacional é muito mais engraçado que o kibeloco. Infelizmente.

Aniversário

Queria deixar registradas aqui duas homenagens: Ao Garfield e ao Leozinho. Os dois não se conhecem e não consigo imaginar duas pessoas mais diferentes uma da outra, mas os dois fazem aniversário no mesmo dia e, portanto, se não estão unidos pelas circunstâncias, unidos estão pelo destino.

E por mim.

Socialmente, faz tempo que não me encontro com nenhum dos dois (o Léo vejo todo dia, mas por obrigação), apesar de algumas tentativas frustradas. Mas isso não muda o fato de que o mundo é um lugar bem mais interessante com eles dentro.

Parabéns pra vocês e parabéns pra quem teve a idéia de deixar vocês circulando por aí.

Metalinguagem

Neste último sábado participei de uma partida interessante de um jogo de tabuleiro chamado Struggle of the Empires. Nele, cada jogador controla uma nação na época das colonizações e deve tentar ser o mais bem sucedido em exercer sua influência no mundo. Batalhas se seguem, dados são rolados e cartas de upgrades são compradas para simbolizar a evolução do seu império.

Mas a mecânica mais interessante do jogo é a seguinte: a partida é dividida em três guerras e, em cada uma delas, os jogadores irão se dividir em dois grupos de aliados. São alianças de conveniência, pois você ainda está tentando ganhar o jogo sozinho, mas você não pode atacar seus aliados, o que pode limitar seriamente seus planos de expansão. E o mais interessante: as alianças mudam de guerra para guerra e são definidas em leilão.

Então, quem era seu amigo no começo, pode virar inimigo ferrenho no segundo turno apenas para voltar a ser aliado no fim do jogo. O interessante é que, se você não tiver influência suficiente sobre os outros jogadores (financeira ou diplomática), dificilmente você vai conseguir manter as alianças que te interessam. Os outros jogadores vão tentar resolver os problemas deles, cooptando seus antigos aliados, e só vão te beneficiar se isso não for atrapalhá-los. Ou seja, fatores externos são determinantes na manutenção das suas amizades.

Achei a idéia brilhante e fiquei um bom tempo me perguntando de onde o designer poderia ter tirado essa mecânica tão interessante e perversa. Foi quando me ocorreu: da vida, claro. No jogo, obviamente, é mais divertido.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

O incêndio

Quando o incêndio começou, Marcos entrou em pânico e só pensou na própria salvação. Estava entre os primeiros a sair do prédio, mas, depois de alguns momentos lá fora, botou um lenço no rosto para se proteger da fumaça e voltou para o edifício em chamas. Arriscou a própria vida várias vezes e ajudou os bombeiros a remover as pessoas até o prédio finalmente desabar.

O homem com um lenço no rosto foi considerado um herói. Marcos foi considerado mais um dos que entraram em pânico – ninguém desconfiou que os dois fossem a mesma pessoa. Marcos nunca desfez o mal-entendido. Ele não havia entrado no prédio para obter glória pessoal, ele apenas fez o que achou certo.

Já o Júlio logo gritou: "mulheres e crianças primeiro!". Carregou um cachorrinho no colo, deixou um velhinho apoiar-se em se ombro. Ficou na porta do prédio, em um local seguro, direcionando as pessoas para o serviço médico. Júlio conhecia o prédio como ninguém e poderia acessar vários lugares de forma segura e tirar muito mais gente do prédio, mas ele pensou consigo mesmo: "já fiz o suficiente. Ninguém poderá me culpar se eu não fizer mais. Tirar as pessoas do prédio nem é minha responsabilidade – já ajudei bastante."

E todo mundo pareceu concordar com o Júlio, que foi considerado um herói. Muita gente, inclusive, acredita que o Júlio era também o herói mascarado.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Torre de Babel

Já tem um tempo que não consigo me fazer entender. Ultimamente, depois que falo, eu olho para a cara dos meus interlocutores e tenho certeza de que eles ouviram outra coisa – e não o que acabei de dizer.
A situação não chega a ser desesperadora, mas é estranha. O que ainda não consegui descobrir é se eu é que estou com dificuldades de me expressar ou se o que eu tenho a dizer não é o que os outros querem ouvir.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Novos nerds

Estou fazendo um curso de imersão. Na verdade, não é bem um curso e nem é bem imersão, mas, em termos bem gerais, "curso de imersão" passa a idéia.

Com a incumbência de escrever para jovens, tenho freqüentado os lugares mais inapropriados para as pessoas da minha idade para tentar captar a "vibe" da molecada de hoje. Minha última aventura foi na UnB, num encontro de RPG. Na verdade, fui nesse encontro fazer outra coisa, mas tinha jovens lá e aproveitei para dar uma espiada no nerd moderno. No menino que sabe inglês, gosta de RPG e cardgames, lê quadrinhos e que sabe que as elfas noturnas usam roupas mais transparentes que as elfas da floresta.

Para minha surpresa, havia muitas mulheres no encontro e, ainda mais surpreendente, muitas delas eram bonitas.

Não é preconceito, mas não é segredo que ser nerd era uma área de atuação eminentemente masculina até pouco tempo atrás. Mas o tempo é vanguardista e gosta de nos surpreender, e o nerd de hoje gosta também de esportes, sabe falar sobre outros assuntos, namora e pode até ser do sexo feminino.

Claro que ainda existe aquele menino mais reservado, menos empolgado socialmente e até, vamos ser sinceros, um pouco alienado. Mas não vou mais me surpreender se, em uma rave, descobrir um grupinho de from-UK num canto conversando sobre qual o melhor combo num deck vermelho e azul de Magic.

AVISO: Se você não sabe o que é Magic, tudo bem. Se você não sabe o que é um elfo, você só anda meio desinformado. Agora, se você não sabe o que é from-UK, você tá é velho mesmo.

Mil Perdões

Quando eu tinha quinze pra dezesseis anos, ouvi pela primeira vez a música Mil Perdões do Chico Buarque. Se você não se lembra da música, é aquela que termina com a frase "te perdôo por te trair". Na época achei uma idéia muito louca e pensei que só alguém com a cabeça muito perturbada poderia raciocinar daquela forma.

Eu estava enganado. Ou então tem gente demais com a cabeça perturbada por aí, porque, de fato, tenho visto que esse tipo de atitude é bastante comum.

Quando duas crianças se desentendem, o normal é não dar razão a nenhuma das duas e fazer com que uma peça desculpas para a outra. A idéia é mostrar que, apesar dos pontos de vista diferentes, errado mesmo é brigar. Quando adultos, a gente tende a se comportar da mesma forma, especialmente quando existem opiniões bem arraigadas dos dois lados de uma discussão. Os dois lados se "perdoam", mesmo sem ninguém ter pedido perdão, mesmo sem ninguém achar que está verdadeiramente errado.

Mas, e quando isso não acontece?

Aí a gente precisa deixar de ser criança e entender que nossas atitudes têm conseqüências.

Infelizmente, sei que essa é uma verdade que nem todo mundo está disposto a ouvir ou encarar. Estão perdoados.


 

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Formigas loucas

Nesse período de vacas magras do Ninguém Perguntou muita gente acaba me estimulando a escrever de uma maneira ou de outra. Alguns, de forma consciente, me mandam e-mails sugerindo temas. Outros, simplesmente, me mandam e-mails com temas tão esdrúxulos que, mesmo sem intenção, dariam excelentes crônicas.

É o caso das formigas loucas que invadiram alguns computadores do Texas.

Sim, meus amigos me mandam e-mails sobre formigas loucas.

Mas, voltando ao assunto, essas formigas são consideradas loucas pelo mesmo motivo que alguns humanos também o são: seu padrão de comportamento não bate com o da maioria.

Elas não andam em fila, não dão muita bola pra rainha mãe, são inexplicavelmente atraídas por aparelhos eletrônicos, tem uma dieta péssima e adaptam-se rapidamente ao ambiente.

A ciência não tem explicação para o fenômeno, mas só porque a ciência não quer enxergar o óbvio: são formigas adolescentes.

O prêmio Nobel pode mandar entregar lá em casa.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Passando a borracha

Algumas pessoas têm mais interesse em apagar o passado do que outras. O assaltante, o assassino e o Marcos Valério são escolhas óbvias, mas tem mais gente na fila da máquina do tempo.

Claro que alguns falam em “passar a borracha” apenas da boca pra fora. Conheço um cara que traiu a esposa e a única coisa que ele queria, na verdade, é que a esposa esquecesse. Ele mesmo não estava lá muito arrependido da noitada espetacular que havia tido e não tinha nenhuma intenção de esquecer.

Tem muita gente que comete o crime e se diz arrependido, mas, no fundo, quer mesmo é limpar a memória da testemunha.