sexta-feira, 30 de maio de 2008

Torre de Babel

Já tem um tempo que não consigo me fazer entender. Ultimamente, depois que falo, eu olho para a cara dos meus interlocutores e tenho certeza de que eles ouviram outra coisa – e não o que acabei de dizer.
A situação não chega a ser desesperadora, mas é estranha. O que ainda não consegui descobrir é se eu é que estou com dificuldades de me expressar ou se o que eu tenho a dizer não é o que os outros querem ouvir.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Novos nerds

Estou fazendo um curso de imersão. Na verdade, não é bem um curso e nem é bem imersão, mas, em termos bem gerais, "curso de imersão" passa a idéia.

Com a incumbência de escrever para jovens, tenho freqüentado os lugares mais inapropriados para as pessoas da minha idade para tentar captar a "vibe" da molecada de hoje. Minha última aventura foi na UnB, num encontro de RPG. Na verdade, fui nesse encontro fazer outra coisa, mas tinha jovens lá e aproveitei para dar uma espiada no nerd moderno. No menino que sabe inglês, gosta de RPG e cardgames, lê quadrinhos e que sabe que as elfas noturnas usam roupas mais transparentes que as elfas da floresta.

Para minha surpresa, havia muitas mulheres no encontro e, ainda mais surpreendente, muitas delas eram bonitas.

Não é preconceito, mas não é segredo que ser nerd era uma área de atuação eminentemente masculina até pouco tempo atrás. Mas o tempo é vanguardista e gosta de nos surpreender, e o nerd de hoje gosta também de esportes, sabe falar sobre outros assuntos, namora e pode até ser do sexo feminino.

Claro que ainda existe aquele menino mais reservado, menos empolgado socialmente e até, vamos ser sinceros, um pouco alienado. Mas não vou mais me surpreender se, em uma rave, descobrir um grupinho de from-UK num canto conversando sobre qual o melhor combo num deck vermelho e azul de Magic.

AVISO: Se você não sabe o que é Magic, tudo bem. Se você não sabe o que é um elfo, você só anda meio desinformado. Agora, se você não sabe o que é from-UK, você tá é velho mesmo.

Mil Perdões

Quando eu tinha quinze pra dezesseis anos, ouvi pela primeira vez a música Mil Perdões do Chico Buarque. Se você não se lembra da música, é aquela que termina com a frase "te perdôo por te trair". Na época achei uma idéia muito louca e pensei que só alguém com a cabeça muito perturbada poderia raciocinar daquela forma.

Eu estava enganado. Ou então tem gente demais com a cabeça perturbada por aí, porque, de fato, tenho visto que esse tipo de atitude é bastante comum.

Quando duas crianças se desentendem, o normal é não dar razão a nenhuma das duas e fazer com que uma peça desculpas para a outra. A idéia é mostrar que, apesar dos pontos de vista diferentes, errado mesmo é brigar. Quando adultos, a gente tende a se comportar da mesma forma, especialmente quando existem opiniões bem arraigadas dos dois lados de uma discussão. Os dois lados se "perdoam", mesmo sem ninguém ter pedido perdão, mesmo sem ninguém achar que está verdadeiramente errado.

Mas, e quando isso não acontece?

Aí a gente precisa deixar de ser criança e entender que nossas atitudes têm conseqüências.

Infelizmente, sei que essa é uma verdade que nem todo mundo está disposto a ouvir ou encarar. Estão perdoados.


 

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Formigas loucas

Nesse período de vacas magras do Ninguém Perguntou muita gente acaba me estimulando a escrever de uma maneira ou de outra. Alguns, de forma consciente, me mandam e-mails sugerindo temas. Outros, simplesmente, me mandam e-mails com temas tão esdrúxulos que, mesmo sem intenção, dariam excelentes crônicas.

É o caso das formigas loucas que invadiram alguns computadores do Texas.

Sim, meus amigos me mandam e-mails sobre formigas loucas.

Mas, voltando ao assunto, essas formigas são consideradas loucas pelo mesmo motivo que alguns humanos também o são: seu padrão de comportamento não bate com o da maioria.

Elas não andam em fila, não dão muita bola pra rainha mãe, são inexplicavelmente atraídas por aparelhos eletrônicos, tem uma dieta péssima e adaptam-se rapidamente ao ambiente.

A ciência não tem explicação para o fenômeno, mas só porque a ciência não quer enxergar o óbvio: são formigas adolescentes.

O prêmio Nobel pode mandar entregar lá em casa.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Passando a borracha

Algumas pessoas têm mais interesse em apagar o passado do que outras. O assaltante, o assassino e o Marcos Valério são escolhas óbvias, mas tem mais gente na fila da máquina do tempo.

Claro que alguns falam em “passar a borracha” apenas da boca pra fora. Conheço um cara que traiu a esposa e a única coisa que ele queria, na verdade, é que a esposa esquecesse. Ele mesmo não estava lá muito arrependido da noitada espetacular que havia tido e não tinha nenhuma intenção de esquecer.

Tem muita gente que comete o crime e se diz arrependido, mas, no fundo, quer mesmo é limpar a memória da testemunha.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Prazer

Ter prazer em determinadas coisas não é tarefa simples.
Vinhos, por exemplo. Qualquer um pode ficar bêbado ou simplesmente gastar dinheiro em um vinho caro, mas apreciar um bom vinho é algo que só pode ser feito depois de treinar o paladar e o olfato. Depois de entender o básico sobre as uvas, sobre safras e sobre regiões de procedência. Chegará um momento que, antes mesmo de beber o vinho, você será capaz de saborear o momento: desde a compra até a última gota da garrafa.
Ler uma história do Planetary, do Warren Ellis, é outro exemplo. Se você pegar a revista na banca, desavisadamente, vai provavelmente achar a trama curiosa e levemente interessante, mas, para verdadeiramente apreciar esse gibi, você precisa ter um bom conhecimento sobre os últimos 40 anos da história dos quadrinhos, ou não vai “pegar” as referências e os subtextos.
E existem muitos outros exemplos. Ninguém consegue ler Guimarães Rosa sem antes ter esquentado os neurônios com outros autores, sem ter um conhecimento ao menos intermediário de literatura. Ou consegue, mas não tem prazer.
Note que não estou falando de entretenimento, mas de deleite. Não estou falando de uma risada fácil, mas de um bom-humor duradouro. De uma experiência a ser lembrada com nostalgia e olhos umedecidos.
Recentemente, comprei um X-Box 360 e tenho investido muito tempo nele. Estou aprendendo os nuances e conhecendo as idiossincrasias do console. Até ontem, estava só me divertindo a beça, mas, finalmente, ontem à noite, depois de certo investimento de tempo e esforço, tive um verdadeiro momento de prazer ao chegar ao final do jogo Mass Effect.
Isso significa que as atualizações do site devem melhorar, pois o videogame já não está mais me tomando tanto tempo. A não ser que lancem outro jogo no qual eu posso controlar as ações de uma lésbica gostosa, estrábica, comandante de uma nave espacial, especialista em rifles de assalto, que é obrigada a matar o melhor amigo pra salvar o universo.
Ah... Bons momentos...