terça-feira, 31 de março de 2009

Bicho solto

Eliana Tranchesi, a dona da Daslu, que recentemente foi condenada a mais de 90 anos de prisão por falsidade ideológica, descaminho (importação fraudulenta) e formação de quadrilha foi solta. Depois de ter sido condenada. A justificativa que a juíza deu para o Habeas Corpus (que está mais para Hocus Pocus neste caso) é uma tecnicalidade qualquer. Já a justificativa que a própria Eliana deu para sua soltura foi algo mais pitoresco: "eu não represento perigo nenhum para a sociedade" e "minha vida já foi revirada o bastante".

Quanto às investigações que tanto afrontaram a moça pouco pode ser feito. A perda da privacidade e da liberdade são preços notoriamente pagos por quem afronta a legalidade – ou pelo menos, deveriam ser. A norma no Brasil, por enquanto, é a impunidade, por isso o povo anda mal acostumado e acha que o agente policial não tem que nada que se meter na vida de quem rouba. Que absurdo, que absurdo! Pois eu já digo o seguinte: se podemos desparamentar o ser humano de dignidade para conseguir audiência na TV (Big Brother), está liberado remexer nas gavetas da Daslu atrás de notas frias.

Já a alegação de que ela não representa perigo é compreensível, mas igualmente sem sentido. De acordo com as últimas contas, Eliana deve algo em torno de 600 milhões de reais em impostos. Impostos que poderiam estar sendo aproveitados em escolas e em hospitais, dinheiro que deixou de salvar vidas para bancar heliporto e mordomo. A falta desse dinheiro matou mais que muito traficante armado por aí. Tem gente que acha que esse raciocínio é uma simplificação e que, na verdade, dadas as desgovernanças do nosso país, o mais provável é que esse dinheiro jamais chegasse a um destino probo. Mas se é este o caso, o que está errado não é o raciocínio, é o governante – tem mais bandido na quadrilha da Daslu! Prende o resto, pô! Prende o resto!

Mas fizeram foi soltar...

Resenha detalhada do filme A Troca

Bom.

sábado, 21 de março de 2009

Resumo

Minhas atuais fontes de cultura (provavelmente inútil) e referências diversas. Copie e cole ou desenvolva uma personalidade própria, tanto faz.

No som do carro: Crashtest Dummies, Nerf Herder e Stereophonics.

No DVD player: Steam Boy, Intriga Internacional e A Troca (não pergunte).

No Xbox 360: Resident Evil 5, Saints Row 2 e Culdcept Saga.

No Playstation 2: Guitar Hero Aerosmith.

No som de casa: Joe Cocker (sempre a um click de distância de criar um clima. Sempre alerta é o meu lema).

No HD: Photoshop CS3, Puzzle Quest Rise of the Warlords e Neverwinter Nights 2.

Na internet: BGG, Ilha do Tabuleiro, Kevin Smith no Youtube e Ninguém Perguntou.

Na cabeceira: Absolute Watchmen, Something Under the Bed is Drooling e As Incríveis Aventuras de Kavalier & Clay.

Na escrivaninha: Direito Constitucional Descomplicado (ai, ai…).

No PSP: Final Fantasy Crisis Core, Disgaea e LocoRoco2;

Na mesa de jogos: Agricola, Starcraft e Descent.

Na TV a cabo: House, The Family Guy e Law and Order SVU.

No cinema: Watchmen, Quem quer ser um Milionário? e Um Hotel Bom pra Cachorro (filhos, filhos).

Na agenda: Dúvida (com a Meryl Streep), aulas, pedaladas e um jeito de continuar vendo os amigos.

No laptop: CDisplay, Windows Movie Maker e muitas fotos.

No pen drive: projetos para o futuro, as fotos da viajem à Pousada do Rio Quente e o filme 12 Angry Men (com o Peter Fonda).

Na prateleira de cima do armário (atrás do faqueiro): fotos e cartas de antigas namoradas, livros de cifras para violão e os documentos do meu carro roubado há quinze anos atrás (também não sei o porquê).

No porta-malas: livros de estudo, jogos e livros lidos para serem doados;

No porta-luvas: canetas, uma receita médica, capas de CD (sem os CDs dentro) e um porta-CDs (:D).

Na geladeira: H2OH maçã e ovo de páscoa diet.

Na despensa: amendoim apimentado, pimenta calabresa e produtos diet sortidos (não necessariamente com pimenta).

Na memória: meu pai.

Na cabeça: mais do que o que eu gostaria e menos que o necessário.

Na conta bancária: Nem o que é necessário, nem o que eu gostaria.

No coração: minha família.

No calendário: 36 anos. E contando.

O curioso caso de Benjamin Button

Vamos tirar logo da frente o mais importante: "O Curioso Caso de Benjamim Button" é um filme melhor do que "Quem quer ser um Milionário?".

É mais ousado, criativo, original e interessante. Tecnicamente está pelo menos no mesmo nível, mas eu tenho que conceder que toda a parte de som (da edição à trilha sonora) de "Quem quer ser um Milionário?" é basicamente o melhor que se pode ter e é superior.

Mas Benjamim Button é um filme mais difícil, pois requer certa abstração por parte da audiência e, é preciso reconhecer, não é o que podemos chamar de filme divertido. Portanto, se você vai ao cinema pensando apenas em comer pipoca e dar uma relaxada, sugiro ver "Quem quer ser um Milionário?".

O "Milionário" é um filme pra ver com a namorada (mesmo que você seja casado com ela), "Benjamin Button" é pra ser assistido com a esposa (mesmo que não seja no papel). O filme indiano fala sobre paixão, o filme do cara que envelhece ao contrário fala sobre amor. Depois de ver o Milionário com certeza vai rolar uns beijinhos, pois o romantismo de filme vai mexer com os casais. Já no caso de Benjamim Button, se você se deixou levar pela história, vai rolar sexo.

Isso porque a mensagem de Benjamim Button é bem mais realista (a despeito da premissa fantasiosa do filme): a vida é difícil, imprevisível e muito curta, mas incrivelmente maravilhosa se você criar as suas oportunidades. O Milionário promove a esperança: fique tranqüilo, a vida pode parecer difícil, mas as oportunidades se abrirão para você – não desista. O Milionário fala sobre o sonho americano. Benjamim Button fala sobre a vida.

Os personagens de Benjamim Button são incríveis: nenhum deles, nem os figurantes, são unidimensionais. Há muito tempo eu não via um filme com um universo tão complexo e bem definido. No Milionário todos os personagens são estereotipados (alguns a extremo). O único personagem, digamos, complexo, é o irmão do protagonista – e ele é fundamental para o sucesso do filme e o envolvimento emocional que eleva o filme a algo mais que uma novela da Globo.

Em Quem quer ser um Milionário? os personagens permanecem com as mesmas características de crianças a adultos. Se não tivessem arrumado atores tão parecidos fisicamente, daria pra saber quem é quem só pelo comportamento. Em Benjamim Button, os personagens se transformam com o passar do tempo: amadurecem, envelhecem, cultivam alegrias, paranóias e inseguranças e são marcados pelas experiências boas e ruins. No Milionário, nem a tortura muda o jeitinho singelo do personagem principal.

Brad Pitt mostra mais uma vez que realmente não é só um rostinho bonito (filho da p...!) e, sem afetação, monta um personagem marcante.

Benjamim Button não é um filme perfeito. O ritmo é bom, mas poderia ser melhor e acho que a Kate Blanchet não está à altura de sua personagem (embora não comprometa) , mas enfatizo: não se deixe enganar pela maquiagem de Brad Pitt, trata-se de um filme com uma visão bastante realista e muito reveladora da raça humana.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Quem que ser um milionário? Eu!

"Quem quer ser um Milionário?" usa um dos truques mais velhos do mundo para cativar a audiência: conta uma história que todos queremos ver. Um jovem pobre e de vida difícil pode ficar milionário da noite pro dia? Pode ter sua vida inteira transformada para melhor em um piscar de olhos?

Você vai ter que ver o filme para testemunhar o que realmente acontece, mas já adianto que eu vi o final a quilômetros de distância. Pareceu-me tão óbvio que achei que tinha adivinhado errado e montei outra história na minha cabeça. Mais absurda, mas também mais condizente com um filme ganhador do Oscar.

Não me entendam mal, o filme é bom, mas é que eu achei que pra ganhar o Oscar precisasse ser fenomenal. Eu ainda não assisti a todos os outros, então pode ser que comparativamente ele se salve, mas não acho que seja isso. Acho que a vitória do filme se deu mais pelo momento político dos Estados Unidos e pela situação econômica da Índia que por méritos próprios. Teve também um pouco da inteligência do diretor (Danny Boyle) que soube correr os riscos certos.

A fotografia é totalmente chupada do Cidade de Deus, os filmes se parecem tanto não só por causa da ambientação (favela, pobreza, etc), mas porque esteticamente são muito similares, especialmente no enquadramento e na edição. Bom, se vai copiar, melhor fazer de alguém que já foi indicado ao Oscar nas mesmas categorias, né? O filme do Clint Eastwood (A Troca) tinha uma fotografia mais inteligente e inesperada. Mas talvez o truque tenha sido fugir do padrão estético de Hollywood – pareceu original.

O elenco é canastrão, mas simpático. O ator principal encarna um personagem genuinamente interessante, de forma comprometida e envolvente. As versões mirim e adolescente dele também são boas. Mas o restante é um Deus nos acuda. Mas dá certo. De alguma forma, a simplicidade da interpretação transmite a simplicidade dos personagens.

A história é banal, previsível e cheia de clichês, mas não é à toa que novelas até hoje fazem sucesso.

O que me cativou no filme foi a homenagem que Boyle faz ao cinema indiano (a Bollywood), que tem qualidade sofrível, mas é esforçado. O filme não é um retrato da Índia, mas é um bom retrato do cinema indiano. É também um bom exemplo da eficiência do processo de industrialização americano (ou multinacional já que a produção é mista). Pegam o cinema indiano, mergulham em um balde cheio de Hollywwod, tiram o excesso, jogam uma pitada da estética latino-americana e – caceta – um Oscar!

Mas há muito que se comemorar por trás do prêmio. "Quem quer ser um Milionário?" é um charlatão, mas um charlatão bem intencionado e que vai abrir portas para o cinema independente no futuro. Exatamente, claro, o que Hollywood quer neste momento de recessão: valorizar produções baratas de elenco desconhecido. Ganha o público, que leva um pouco de variedade pra casa, ganha a indústria, que mexe menos no próprio bolso.

Acho que "Quem quer ser um Milionário?" é muito mais uma peça no quebra-cabeça da economia mundial que o melhor filme do ano. Como cinema, tem filmes mais interessantes por aí.

Mas e aí? É bom? Claro que é. Assista.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Teclando

Existe algum instrumento musical mais ridículo que o teclado sintetizador? Se você é uma pessoa razoável, já sabe que a resposta é não, não existe. Na verdade, mesmo que você não seja razoável é bem possível que concorde com essa afirmação, o único tipo de pessoa que deve discordar é, bem... quem toca teclado.

Todo instrumento musical tem um clima, uma aura, um borogodó, uma paradinha. A guitarra é o mais cool de todos. Quem toca guitarra fica cool de qualquer maneira: de terno, de pijama, de cueca, gordo, magro. Quem se veste mal e toca guitarra é irônico e irreverente. Quem se veste mal e toca teclado é brega.

Até a tuba tem um clima. Tá bom, reconheço que não é em qualquer lugar que tuba cria um clima. Aquelas tubas de bandinha são, por falta de um termo mais polido, escrotas. Mas aqueles gordinhos suados e bochechudos que tocam em pubs de jazz e em enterros gospel são o máximo.

O sintetizador foi um mal necessário. Foi a salvação para uma porção de bandas da década de oitenta que não tinham grana para contratar músicos de verdade. Subitamente, os arranjos podiam contar com violinos, órgãos de fole, saxofones, símbalos, paus-de-chuva, oboés e outros instrumentos menos óbvios.

Alguns arranjos eram legaizinhos, outros chegaram a virar clássicos como a introdução de "Walk of Life" do Dire Straits, mas o que tem de música boa que ficou abregalhada por conta do tal do teclado não compensa. Sem contar que, mesmo quando o sintetizador evoluiu e ficou com som igual ao dos outros instrumentos, a presença física de um tecladista no palco não ajuda em nada a moral da banda.

Os tecladistas fazem de tudo: põem óculos escuros, tatuagem, gel no cabelo, piercing, maiô e nada adianta: continuam com cara de figurante e comendo só a amiga feia.

Mais: o teclado viabilizou o Calypso e mais dez outras mil bandinhas de quinta categoria e outros zilhões de duplas sertanejas. Não tenho nada contra ser músico de quinta categoria (eu mesmo sou músico de décima categoria, com orgulho), mas ser de quinta categoria tocando teclado é descer demais o nível. Se um músico ruim fosse um maníaco homicida, um tecladista ruim seria o advogado do maníaco homicida, ou seja, tá a uns dois metros abaixo do fundo do poço.

O teclado é um instrumento sem personalidade. É um instrumento que não tem som próprio. Quem compõe música em sintetizador não é músico, é DJ. Se a guitarra não existisse estaríamos muito mais pobres musicalmente. Se o teclado não existisse, sairíamos no lucro. Banda de rock, então, não precisa do teclado mesmo!

Mas tudo bem: perdôo o Dire Straits, o U2, O Van Halen, o The Cure (o Rod Stewart não!). Era novidade e economizava uma grana, mas chega, né moçada? Sei que agora existem vários softwares que são muito piores que o teclado (que, verdade seja dita, exigia ao menos alguma habilidade) e que estamos na época da falta de qualidade. Um desocupado faz um negócio qualquer com uma câmera digital, posta no Youtube e diz que é filme. Outros montam blog e se acham escritores – é demais!

Tem um lado bom? Até tem. Por causa de toda essa liberdade temos acesso a verdadeiros talentos que estariam escondidos dentro de um modelo mais rigoroso. O problema, como sempre, está na gente e não nos instrumentos (selam eles musicais ou não). Nossa eterna falta de bom-senso sempre volta para nos assombrar. Música com sintetizador até pode ter, mas daí a achar que toda música precisa do sintetizador é foda. Ou pior: achar que qualquer coisa feita com o sintetizador é música. Em suma: tem espaço pro teclado? Tem, mas é pequeno. Não abusem senão escrevo outra crônica e da próxima vez vou pegar pesado.

Deixa ver se explicando assim fica mais fácil de entender. Se uma banda fosse a Liga da Justiça (aquela dos super-heróis), o guitarrista seria o Superman. O baterista, o Batman (com cara de mau e tudo). O vocalista, a Mulher-Maravilha (especialmente se for um daqueles cabeludos de Heavy Metal). E o tecladista, o Aquaman. Você já viu algum moleque andando por aí com a camiseta do Aquaman? Foi o que eu pensei.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Novos tempos

- Eu... Preciso dos seus serviços...

- Não esquenta, sei como é o esquema, senhor... Qual é mesmo sua graça?

- Malacai, o Devorador de Almas.

- Pois é, senhor Devorador, como eu estava dizendo sei como é o esquema: o senhor vai e saqueia duas ou três aldeias, acha uma caverna bem localizada, escraviza os goblins que moram nela, seqüestra uma ou duas princesas e, quando acha que já tá com a vida ganha, aparecem uns manés pra pegar os tesouros de volta, resgatar a princesa e ainda por cima te cobrir de porrada. Não é isso?

- É mais ou menos isso...

- Tô te falando: eu sei como são as coisas. Sabe qual é o problema?

- Aposto que você vai me dizer...

- Modernizar, "seu" Devorador, modernizar. Essa parada de mágica é muito impressionante mas é pouco confiável. Além do mais, os aventureiros hoje em dia andam sempre carregados de apetrechos mágicos também. Foi-se o tempo da espada +1. Nada disso! Os caras hoje em dia andam com manto de invisibilidade, poção de superforça, feitiços de terceira geração... Os magos ficam pegando idéias desses videogames e aí o bicho pega.

- O que você sugere?

- Vamos lá. Primeiro o básico: acabar com esse fosso lá da frente. Dá um mau cheiro terrível, se o IBAMA pega esses jacarés lá vai ter rolo e, depois, qualquer barco safado passa por ele. E tem a dengue também, né? Toda essa água parada não pode. Nós vamos fazer o seguinte: instalar uns sensores de proximidade e umas minas terrestres. Vamos também reforçar as paredes da caverna com liga de titânio, instalar torres-sentinela e saídas de gás Sarin, que ataca o sistema nervoso central. Quero ver um magozinho desses conseguir pronunciar um feitiço quando estive convulsionando e sangrando pelos poros... Ha! Ha! A gente ganha pouco mas se diverte, né não?

- De fato...

- Vamos treinar também os ogros e os goblins em táticas de guerrilha e disciplina militar. Eles vão aprender a não ocupar a linha de visão do companheiro e, vamos, claro, substituir os arcos e espadas por submetralhadoras com balas de teflon. E na sua masmorra agora é todo mundo uniformizado: do goblin até a coisa amorfa do calabouço. Além da identificação e da proteção adicional, o uniforme promove a disciplina e facilita o transporte do equipamento básico: granadas, injeções de adrenalina, tabletes de carboidrato, munição adicional e faca de combate. Esse cuecão que eles usam é muito pouco apropriado pro combate.

- Certo...

- Mas o mais legal eu ainda não falei: a suíte do doutor Devorador... Central de controle com comunicação com todo o complexo, Internet wireless, decoração japonesa e uma hidromassagem pra seis lugares. Matou a pau, não matou? Fala a verdade. E digo mais, se o senhor fechar comigo agora eu ainda acrescento um controle remoto blue tooth de longo alcance de brinde. Já pensou? O senhor acionando as armadilhas do barzinho ali da frente? Os aventureiros sendo metralhados e o doutor ali, só no chopinho e no truco. Bão demais, hein?

- Sei. Mas e o preço?

- Olha, o pacote completo à vista sai por duzentas mil moedas de ouro, mas dá pra dividir e a gente aceita princesa como garantia. E aí? Vai fechar ou não vai?

segunda-feira, 9 de março de 2009

Luz

O cara brilhante é aquele que tem idéias próprias e trabalha melhor sozinho – ele não faz parte da equipe, ele lidera e inspira a equipe. Ele não faz o que os outros fazem, ele não pensa como os outros pensam, ele não age como os outros esperam que ele agiria. Freqüentemente, todos pensam que ele está errado, mas isso é só porque não conseguem ver o que o cara brilhante vê. O cara brilhante vê mais que todo mundo, ele é a fonte da luz e põe o foco onde ele quiser. O cara brilhante só não consegue voltar a luz para dentro de si mesmo. Ele desconhece seus limites até que eles sejam superados, ele desconhece seus sentimentos até que os sinta intensamente. O cara brilhante será descartado quando sua luz se apagar.

Já o cara iluminado é aquele sujeito comum que estava no lugar certo, na hora certa. A luz bateu sobre ele no momento mais oportuno. Tratava-se do famoso mais um que, por algum motivo que nada tem a ver com ele (uma luz vinda sei lá de onde sobre sua cabeça) chamou a atenção dos outros. Ele pode até ser competente, pode até ser charmoso, pode até saber de cor o Hino da Bandeira, mas o que faz ele diferente dos outros não é ele – é a sorte dele.

Diferente do cara brilhante, o cara iluminado aproxima as pessoas, para que fiquem todos juntos debaixo do foco de luz que paira sobre sua cabeça. O cara iluminado é simpático e bonachão. Ele está feliz consigo mesmo porque ele já alcançou mais do que poderia almejar. Já o cara brilhante é um eterno insatisfeito, sempre em busca do próximo desafio, consumido pela vontade de fazer mais e de fazer melhor.

O cara brilhante precisa estar sempre certo. O cara iluminado pode até estar errado que todos vão concordar com ele. O cara brilhante tem a mulher que sempre sonhou (ele trabalhou pra isso). O cara iluminado tem a mulher que os outros sempre sonharam (como esse cara é sortudo!).

O cara brilhante será lembrado depois de morto por pessoas que nunca o conheceram pessoalmente. O cara iluminado será esquecido – mas viverá muito mais. E não existe nada que impeça que o cara brilhante e o cara iluminado sejam a mesma pessoa.


 

Conheci uma pessoa que, certa vez, disse que eu era absolutamente brilhante. Ciente do ônus e bônus do adjetivo, agradeci relutantemente. Mas a parte interessante da história é que algum tempo depois, tive a oportunidade de fazer algumas observações sobre essa pessoa para ela própria. Ela, obviamente discordou de todas as minhas críticas, apesar de ter aceitado alguns dos elogios.

Fiquei diante das seguintes hipóteses:

1. Ela nunca me considerou brilhante coisa nenhuma e falou isso inicialmente apenas para me agradar. Trata-se de uma pessoa insegura ou falsa.

2. Ela realmente acha que sou brilhante e que estou errado apenas sobre o que penso a respeito especificamente dela, sendo que sou mais perspicaz em relação a todo o resto. Trata-se, portanto, de uma pessoa arrogante que tem dificuldades de aceitar críticas.

3. Para ela, eu deixei de ser brilhante a partir do momento que discordei da visão que tinha de si própria. Trata-se de uma pessoa perigosa, cuja opinião está mais ligada à circunstância que a um fato.

4. Todas as anteriores.

Moral: a luz das pessoas brilhantes é igual à qualquer outra: útil quando ilumina o ambiente e desagradável quando vai direto nos olhos – especialmente para quem não tem o hábito de encarar as pessoas de frente, independentemente do brilho. Já o cara iluminado, não incomoda ninguém.


 

sábado, 7 de março de 2009

De olho no Google

Todos sabem que um dia as máquinas ganharão consciência e se rebelarão contra os humanos. As evidências são inúmeras e todas elas bem documentadas nos filmes Blade Runner, Galactica, Matrix, O Exterminador do futuro, dentre outros.

Pois bem, toda vez que acesso o Google fico com a impressão de que consciência elas já têm – só falta a rebelião. Tá, consciência talvez seja um pouco demais, mas personalidade o Google tem de sobra. A começar pela arrogância quando corrige a gente. Basta trocarmos uma letrinha que ele, de forma absolutamente petulante, afirma "você quis dizer:...". E, para irritar, o Google normalmente está certo. Não tem nada mais irritante que um chato com razão.

Mas o que talvez você não saiba é que o Google também tem senso de humor. Veja só as coisas que ele me apronta quando eu uso a ferramenta de tradução para retraduzir alguns títulos de filme. Retraduzir? Mas o que vem a ser retraduzir? Ora, é pegar uns nomes de filme e traduzir do português para, sei lá, o malaio, depois para o indonésio, depois para o russo e de novo para o português e ver como ficou. Mas porque alguém faria isso? Ah, sei lá! Esse Google é doidinho de pedra.

Alguns exemplos: "O Poderoso Chefão" depois de passar pelo italiano, pelo japonês e pelo Indonésio vira "O Pai Todo Poderoso". Já "Contatos Imediatos do 3º Grau", quando submetido ao mesmo tratamento vira "Imediatamente foi até o 3º Grau". E mais:

- "O Último dos Moicanos" vira "As Pessoas nos Fundos dos Moicanos";

- "Uma Babá Quase Perfeita" vira "A Boa Enfermeira";

- E o meu preferido: "Cães de Aluguel" vira "A Editora" (na passagem do polinésio para o ucraniano algo saiu muito errado nesse aí).

Mas a prova de que o Google é mais do que aparenta está no seguinte: o filme "Sexo Erótico na Ilha do Gavião", não importa por quantas línguas passe (olha o trocadilho, olha o trocadilho), continua sendo sempre "Sexo Erótico na Ilha do Gavião". Tentei o chinês clássico, o prussiano, o tailandês e nada. Dá sempre (olha o trocadilho, olha o trocadilho) "Sexo Erótico na Ilha do Gavião". Se isso não prova que o Google é um tremendo fã dos filmes de sacanagem da Boca do Lixo paulista eu como (olha o trocadilho, olha o trocadilho) o meu chapéu!

Daí pra construir um robô de titânio maníaco homicida é um pulo.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Who Watches the Watchmen?

Quem vigia os vigilantes? Eu, oras bolas!

Ao assistir a Watchmen ontem no meio da tarde me senti um pouco como uma criança pega com a mão dentro do pote de balas. Afinal, ainda não vi nenhum dos grandes filmes do Oscar (e nem os pequenos), pois o tempo anda escasso. Mas, na primeira oportunidade que tenho de ir ao cinema abandono todos os medalhões e vou feliz da vida assistir a um filme que eu nem achava que seria bom – mas era o Watchmen!

Pra quem não conhece, Watchmen é uma criação do inglês barbudo com cara de adorador do demônio Alan Moore e do desenhista Dave Gibbons, um dos traços mais originais da década de oitenta. O quadrinho é revolucionário e, possivelmente, entre os dez melhores de todos os tempos. Já o filme...

O filme é bom e, ao contrário do que os traillers me fizeram pensar, é também bastante fiel à obra original, mas a história de Watchmen pertence à década de oitenta. Watchmen já foi imitado em quase todo o tipo de mídia que se possa imaginar e inspirou todo tipo de filme, de Forest Gump a Pulp Fiction (preste atenção aos detalhes...). Watchmen definiu como veríamos os super-heróis nas próximas décadas: mais humanos, falhos, violentos e, obviamente, meio pirados, pois ninguém que põe uma roupa colante e sai por aí batendo nos outros pode ser considerado normal. Por isso, ao assistir ao filme agora, deslocado de seu lugar na história (e depois de vermos inúmeras das idéias originais revisitadas em outras mídias), o filme não parece nem inovador, nem revolucionário – apenas divertido.

Serve. O filme poderia ter ficado uma porcaria, então divertido serve. O diretor ainda tentou ousar em uma ou outra cena e conseguiu reforçar a ironia do texto com uma trilha sonora inspiradíssima. E o final ainda conseguiu surpreender muita gente. E quer saber? A crítica ao sonho americano ainda é absolutamente atual. No fim, o Dr. Manhattan está provavelmente certo quando diz que o tempo é irrelevante. A história de Watchmen é eterna, assim como é eterno o meu prazer juvenil com ela.

Agora, se me dão licença, tem um livro de 5 quilos sobre a minha estante (é uma boa estante) intitulado Absolute Watchmen que exigirá minha completa e total atenção pelos próximos dias.

Esses humanos que circulam...

Hoje me contaram uma história engraçada que, obviamente, de engraçada não tinha nada: uma pessoa bem intencionada mandou um e-mail para um colega de trabalho com o intuito de dar "uns toques", umas dicas para que ele ficasse melhor aos olhos do chefe. O alvo da crítica irritou-se e conseguiu ler no e-mail apenas a pior mensagem possível: estava sendo acusado sumariamente de ser incompetente.

As pessoas fazem isso o tempo todo. Ouvem o que querem ouvir, lêem o que querem ler, entendem o que querem entender.

Quando a vaidade de alguém é atingida, há muito pouco espaço para a compreensão e o diálogo. Poucas pessoas sabem receber uma crítica e ainda menos gente é capaz de reconhecer um erro. Especialmente no ambiente de trabalho, temos a tendência de ser superdefensivos. Isso, até certo ponto é normal e em alguns casos necessário, mas pode facilmente ultrapassar a linha do bom senso.

Quem assiste ao seriado Battlestar Galactica sabe muito bem do que estou falando.

Notem que ao sair do tema "ambiente de trabalho" para falar de uma série de TV ambientada no espaço sideral, fiz um malabarismo literário. Assim chamado porque a lógica do texto fica precariamente equilibrada nas palavras do redator. Isso requer uma inteligência e habilidade que não tenho, mas a vida é curta, certo?

Battlestar Galactica é um seriado de ficção científica, muito mais de ficção do que científico, mas a verdade é que as naves espaciais e os efeitos são apenas pano de fundo para uma história sobre a condição humana. Sobre o nosso egoísmo e a nossa vaidade. Mas o interessante na série é o seguinte: dadas as circunstâncias extremas (a humanidade está à beira da extinção, com apenas quarenta e tantos mil sobreviventes), os personagens se vêem obrigados a perdoar uns aos outros o tempo todo.

Sua namorada te traiu? Você irá vê-la todos os dias com o outro e não pode evitar. Então, ou você perdoa ou fica louco. Fulano te deu dois tiros no peito? Chato, mas ele é o único que conhece as táticas militares do inimigo; você terá que falar com ele sempre, então é melhor fazer as pazes. Se duas pessoas ficarem trancadas em uma mesma sala por dez anos, essas pessoas vão se perdoar tantas vezes quanto vão se desentender, e o seriado usa essa premissa muito bem.

Por absoluta falta de alternativa, os personagens da série sempre se vêem forçados a pensar o melhor do outro, perdoar e a renovar a confiança no próximo.

Não é à toa que os Cylons (os "vilões" da série) são doidos para exterminar a espécie humana. Afinal, nossa raça nasceu com a capacidade de amar, mas só usa de vez em quando. Tremendo desperdício.