quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Dúvidas instigantes

Por que toda mulher chamada Peyton nos filmes americanos tem um peitão?
E, mais importante, por que eu acho isso engraçado pra caramba?

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Retrospectiva 2010

O ano começou mais ou menos, aí foi indo, aí ficou bom e depois ficou ótimo. Mas passou um pouquinho foi ficando ruim de novo, aí piorou, aí melhorou, aí piorou, aí aconteceu um negócio espetacular, mas foi alarme falso. Depois melhorou, piorou, melhorou, melhorou, piorou e tá com cara de que vai terminar bom.

Veja o gráfico detalhado:

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Medições e meditações

“Você pode medir o tamanho da sua fé pelo tamanho da sua preocupação com o futuro”.
A frase não é minha, mas é bem interessante. Tem lá seus furos, pois uma pessoa muito jovem terá, em tese, sempre menos preocupação com o futuro por:
1. Falta de informação,
2. Pouco passado e
3. Muito futuro ainda pra gastar.
Mas depois dos trinta o mérito da frase aumenta.
E eu poderia filosofar mais sobre o tema, mas acho a frase auto-explicativa. E não tem nada pior do que uma frase que leva à reflexão seguida de uma reflexão já pronta.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Inversão

Culpa é uma coisa aparentemente muito difícil de avaliar.

Por exemplo, quando algo dá errado, a culpa é de quem? De quem fez a coisa errada? Do chefe de quem fez a coisa errada? De quem viu o cara fazer a coisa errada e não fez nada? Da mãe do cara que fez a coisa errada? Da polícia, que deveria ter prendido o cara quando ele fez a primeira coisa errada? Ou da gente, que votou no cara que fez a coisa errada?

Possivelmente, a culpa é um pouco de todo mundo, mas as pessoas costumam tratar a culpa como uma coisa única e indivisível, que só pode ser atribuída a uma única pessoa. Normalmente, à vítima do cara que fez a coisa errada. Ou ao bode, coitado.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Post que quase não rolou

Pensei em fazer um post sobre as eleições.

Falar sobre a Weslian e sua luta para defender a corrupção, sobre o Tiririca, sobre os encontros casuais de 4 em 4 anos na zona, sobre o debate desanimado e sem sal, sobre as sobrancelhas da Marina, as barbas de molho do Serra e o sorriso corrigido da Dilma (continua feia que dói. Um bichinho de pelúcia do Serra só não venderia mais que um da Dilma porque o da Dilma não seria vendido, viria de brinde com um do Lula, que seria sucesso de vendas).

Pensei em fazer e acabei fazendo, mas vai ser um post curto. Infelizmente, esses nossos políticos estão a cada dia que passa merecendo menos o meu tempo.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Licença para ser ruim 3





Connery topou fazer Zardoz porque precisava de grana e, vá lá, Sword of the Valiant poderia ter dado um filme razoável se a produção não tivesse tomado todas as decisões erradas, mas, meu Deus, por que diabos Connery topou fazer Highlander 2?

O primeiro filme foi um aclamado Cult e foi, finalmente, onde Connery achou um personagem interessante fora do perfil 007, mas, no segundo, as coisas desandaram.
Algumas curiosidades:
1. O filme é tão ruim que o diretor afirmou que o filme era péssimo na noite de estréia, saindo da sala de projeção depois de 15 minutos de exibição.
2. Cristopher Lambert ameaçou desistir do projeto, mas a multa contratual era muito grande e ele ficou.
3. Os imortais foram transformados em alienígenas do planeta Zeist (ou Zest, não lembro). Curiosamente, os nomes alienígenas de McLoud e Ramirez (os personagens de Lambert e Connery) eram McLoud e Ramirez!!!!!!
4. O filme foi todo montado errado, com cenas importantes cortadas e duas cenas de lutas de espada erroneamente fundidas em uma só, com o cenário e as armas dos personagens constantemente mudando.
5. O filme tem 4 versões, em diversas tentativas desesperadas de fazer a história colar. Em duas versões as referências ao Planeta Zest (ou Zeist) foram retiradas.
6. Nenhuma das quatro versões foi considerada para a continuação ou para a série de TV, que ignoram completamente a existência do episódio 2.
A culpa disso tudo? De acordo com o diretor, o fato do filme ter sido co-produzido por uma produtora argentina... Esses hermanos, hein?

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Licença para ser ruim 2

Como prometido, mais do pior de Sean Connery.

Diz a lenda que, na época que foi convidado para fazer Zardoz, Connery estava na pindaíba e chegou até a dispensar o motorista que teria na produção para incluir metade do que seria o salário do cara no seu cachê.

É que Connery só recebia convites para papéis no estilo 007 e, como ele estava querendo se livrar do estigma do personagem, acabou ficando muito tempo sem trabalhar. Porém, Connery continuou sendo convidado a fazer papéis de espião, mesmo depois de Zardoz e até fez outra vez o 007!

Pra se livrar de vez do personagem, Connery teve uma idéia brilhante: fazer um vilão!

Em sua defesa, The Sword of The Valiant – The Legend of Sir Gawain and the Green Knight (1984) prometia ser uma espécie de superprodução de fantasia para a época e vários outros atores de nome foram arrastados para a roubada, como Peter Cushing e John Rhys-Davies. Além disso, o roteiro, baseado em uma das lendas da Távola Redonda, não poderia ser tão ruim, poderia?

Famosas últimas palavras.

O problema é que, por conta do sucesso de Conan, os roteiristas decidiram que tinham que incluir muitos elementos fantásticos na história, e a produção não deu conta de acompanhar essas idéias.

Entre as coisas mais bizarras estão um unicórnio de chifre flácido (parecia feito de maria-mole), o visual bárbaro-gay de Connery (com maquiagem de purpurina, capacete de chifre de veado e cabelos Elba Ramalho), a cena terrivelmente executada na qual Connery arranca a própria cabeça e põe de volta só pra mostrar que é fodão e uma série de erros de continuidade bizarros, incluindo o cabelo de Morgana Le Fey, que é um nas cenas de longe e outro nas cenas de perto.

Soma-se isso a um herói com cara de bobo (o infame Miles O'Keefe), uma trama desconjuntada, que tenta contar a história toda de Sir Gawain, mas acrescenta umas partes e remove outras e uma trilha sonora das mais infelizes e temos mais um filme bem ruinzinho estrelado pelo nosso Sean Connery.

Para ser justo, enquanto as histórias do Rei Arthur, Sir Tristão e Sir Percival eram carregadas de drama, tensão e tragédia, a história de Sir Gawain, nos contos da Távola Redonda, é mais leve e até bem-humorada, sem maiores complicações. "Desafiado por todos, derrotado por ninguém" era o slogan do nobre cavaleiro, mas, mesmo considerando esse espírito meio Indiana Jones do personagem, o filme é fraco.

Além disso, nada justifica o fato de que o filme não tem nenhuma mulher pelada (fato comum e corriqueiro nas diversas produções de Espada e Fantasia da época), especialmente porque a atriz principal é a lindíssima Ciryelle Clair.

Mas você, é claro, não precisa acreditar em nada disso que estou dizendo. É só seguir o link abaixo e ver o trailer do filme com seus próprios olhos.

http://www.youtube.com/watch?v=TW7B-UNWk4s

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Inception

A Origem é um Matrix dos pobres.

Note que isso não quer dizer que o filme seja ruim, porque Matrix é um filmaço, o que significa que até uma versão mais pobre dele pode render um bom filme.

Os atores estão bem, as cenas de ação são legais, os efeitos são bacanas, o filme tem ritmo, tem tensão, tem um bom clímax, mas Crsitopher Nolan perdeu uma oportunidade gigantesca ao copiar mais idéias que o necessário.

A maneira como os caras entram no mundo dos sonhos é igualzinho a entrar na Matriz: deitadinho na cadeirinha, os amuletos foram chupados de uma história do Alan Moore sobre viajem em sonhos, mas até aí tudo bem.

Nolan teve inclusive o cuidado de criar personagens anti-heróis: paranóicos, deprimidos, neuróticos, etc. Pra diferenciar dos super-heróis de Matrix, mas falhou ao querer imprimir realismo ao mundo dos sonhos, que ficou parecendo uma Matriz sem graça.

Caramba! Mundo dos Sonhos! Era a hora de soltar a imaginação e estourar o orçamento da computação gráfica! Cadê os peixes de chapéu? As paisagens etéreas? Os diálogos enigmáticos? O mundo dos sonhos de Nolan é tão real que reflete as propriedades físicas do plano físico (se alguém cai enquanto sonha o mundo do sonho fica sem gravidade! WTF?).

Pra ser sincero, Nolan conseguiu criar um universo coerente, com regras bem definidas, que ajudam a envolver o espectador, mas é um universo que me pareceu repetitivo e sem inspiração. Em Matrix, a idéia era apresentar um mundo real para depois desconstruí-lo gradativamente. O mundo de Nolan é desconstruído apenas para atender à trama para, logo em seguida, voltar a ficar realista.

Parece-me até que essa era a intenção, já que uma das idéias centrais do filme é que nem sempre é possível diferenciar o sonho da realidade. Meh. A idéia tinha espaço para mais ousadia e foi pouco aproveitada mesmo.

E Michael Caine deveria ganhar o Oscar de melhor ator subutilizado da história do cinema. Muitas vezes bons atores aparecem pouco em um filme porque seus personagens são importantes e a cena, embora curta, precisa ter impacto. As falas do Michael Caine no filme (todas as duas!) têm impacto zero e, inclusive, o personagem dele poderia ter sido facilmente removido na edição final do filme que faria pouca diferença.

Enfim, eu esperava mais. Ainda não é o filme de ficção moderno que vai substituir Matrix.

Um outro detalhe: O Leonardo DiCaprio não compromete, mas achei todos os outros atores melhores que ele no filme – inclusive o Michael Caine.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Licença para ser ruim

Qual a primeira coisa que passa pela sua cabeça quando você ouve o nome Sean Connery? Aventura? 007? Classe? Sofisticação? Pegador?

Do mentor imortal de Christopher Lambert em Highlander ao pai do Indiana Jones, passando pelo espetacular Malone, que lhe rendeu o Oscar em Os Intocáveis, Connery protagonizou papéis memoráveis e emprestou a todos eles uma classe e categoria muito próprias. É quase como se todos os personagens interpretados por ele se apropriassem um pouco do carisma de James Bond.

Todos?



A foto é do filme Zardoz, de 1973, escrito e dirigido por John Boorman, cineasta que já produziu e dirigiu filmes de todos os calibres, mas nada tão ruim quanto esse, eu garanto.

Por onde começar?

Bom, ver o Sean Connery de fraldão vermelho, cinto de bandoleiro, botinha de puta e rabo de cavalo (notem que nem falei nada do bigode) já é dose, mas o roteiro do filme é de lascar. Nos primeiros cinco minutos de filme acontece o seguinte: uma cabeça voadora gigante aparece e fala, sem a menor cerimônia: “A arma é boa. O pênis é ruim”. Daí a cabeça começa a cuspir um bando de armas e a galera que via a cabeça falar pega as referidas armas e se mata.

Sobra o Sean Connery, que se esconde em uma pilha de aveia e vai parar dentro da cabeça (porque a cabeça come aveia). Dentro da cabeça, que é uma nave espacial, moram imortais de pijama que torturam o nosso 007 psicodélico com cenas de sexo e, nas horas vagas, comem pão verde-limão.

O Sean Connery acaba matando os imortais (sim, ele mata os imortais) e descobre, não sei exatamente como, que o culpado de tudo é um computador. O Sean Connery então mergulha dentro do computador (num efeito especial de merda, a la Ed Wood) e rola uma batalha final na qual o interior do computador é representado por uma sala de espelhos.

Puta que pariu! Quem acompanha o blog sabe que raramente escrevo palavras de baixo calão, mas, antes de me censurar, dê novamente uma boa olhada na foto aí de cima.

Puta que pariu é pouco!

E você acha que Connery aprendeu a lição? Tem mais!

No próximo episódio do Ninguém Perguntou.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Biscoitinho

Casado há oito anos com a Claudete, a quem ele chamava de Biscoitinho, o Pascoal achou estranho quando o garçom perguntou para a sua esposa:

— O de sempre?

— Ué, Biscoitinho, que intimidade é essa com o garçom? É a primeira vez que a gente vem a esse restaurante!

— Iiih, Piscuxo – a Claudete chamava o Pascoal de Piscuxo – Venho aqui direto com o pessoal do trabalho.

No caminho pro motel (coisa que eles não faziam há uns dois anos), o Pascoal se perdeu, mas a Claudete socorreu-o a tempo:

— Vira aqui!

Na suíte, Pascoal ficou admirado com a desenvoltura da esposa. Sabia onde ficava tudo: do chinelinho ao bar embutido no armário. Sabia até qual o canal do filminho de sacanagem! Na cama, mais surpresas: sua esposa mostrou uma elasticidade e disposição só equiparáveis à época de namoro, exigindo o máximo do pobre do Pascoal, que sentiu até câimbras e deu um jeito no ombro.

Pascoal não falou nada, mas, por via das dúvidas, parou de chamar a Claudete de Biscoitinho. E ela nem reparou!

terça-feira, 6 de julho de 2010

Cueca cheia

A seleção da Holanda tem a vantagem de ser regular e sem nenhum perna-de-pau. Além disso, são frios, não sentem muito a pressão do jogo e tem dois excelentes jogadores: o Roben e o Snider (esse último um craque). Além disso, o goleiro é bem acima da média e já salvou o time diversas vezes.

Mas a melhor qualidade do time nessa Copa é ser cagão. No fim do jogo, as cuecas laranjinhas voltam cheinhas pro vestiário. Desse jeito, vão acabar sendo campeões do mundo, embora eu prefira a competência da Alemanha.

sábado, 3 de julho de 2010

A Copa do Mundo é nossa!

Primeiro sobre o Dunga.

O maior erro é achar que alguém que nunca foi técnico de futebol pode ser técnico da Seleção Brasileira. Experiência é importante e não tem nada a ver com competência, pois o Dunga foi até competente, com muitas vitórias no caminho, mas na hora de mostrar liderança, foi o primeiro a perder a cabeça.

Ele estava nervosíssimo na estréia contra a Coréia, catatônico, encostado ao banco de reservas. Depois arrumou confusão com a imprensa, falhou em ver o que acontecia no jogo enquanto esperneava e não conseguiu ter flexibilidade, malícia ou inteligência. O Brasil cair na catimba da Argentina ainda vai (os caras são profissionais), mas perder a cabeça com a catimba da Holanda é muito destempero. Manter o Felipe Melo no time depois do show dele contra Portugal Também não foi prudente, mas a teimosia é também recurso do líder inexperiente, que administra tudo de forma personalista e não profissional. Claro que a união é um elemento importante em uma equipe vencedora, mas não pode ser o único elemento.

O Brasil teve futebol, teve o Kaká até dando pro gasto, teve o Gilberto Silva surpreendendo, teve um primeiro tempo espetacular, teve raça, teve determinação, mas não teve nem o equilíbrio emocional da seleção de Gana, por exemplo, que não desmoronou em campo depois que o Uruguai empatou o jogo – esse assim um jogão da Copa.

Merecemos voltar para casa e espero que tenhamos aprendido uma lição: experiência é fundamental (E até os argentinos, que escolheram o técnico mais improvável para a sua seleção, sabem disso. Não é à toa que na comissão técnica da Argentina está o técnico que foi campeão em 86).

Agora, sobre o Felipe Melo.

Não dá pra esconder, o jogo seria outro sem a presença dele. O Brasil poderia perder, claro, mas acho que teríamos feito um papel melhor. Marcamos nosso primeiro gol contra em copas – e o Felipe conseguiu ser o único jogador na história da competição a fazer gol contra e ser expulso no mesmo jogo. É muito prejuízo. E o depoimento dele ao final do jogo foi ainda mais triste, ao afirmar que a expulsão não foi justa porque ele não quebrou a perna do Roben...

Sobre a seleção.

Não conseguiu empolgar nessa copa, fazendo uma campanha pior que em 2006 (menos pontos e menos futebol). As vitórias foram contra times fracos (embora tenha até jogado razoavelmente especialmente contra o Chile e a Costa do Marfim) e, nas duas oportunidades que teve, contra Portugal e Holanda, empatou e perdeu. Se juntou às decepções da Copa, guardadas as devidas proporções, já que França e Itália bateram o recorde, sendo eliminadas na primeira fase.

Pra quem defende o Dunga, o Lula e todos os marinheiros de primeira viagem que escalam degraus por motivos políticos ou pessoais (e não por qualificação): não é porque dá certo de vez em quando que é certo. Pode ter certeza – se algo deu certo com a pessoa errada, teria sido muito melhor com a pessoa certa. Claro, claro, toda regra tem exceção, etc. Mas me diga uma coisa: se você estivesse escolhendo uma babá para o seu filho você preferiria alguém com boas referências ou uma pessoa muito simpática que está sendo babá pela primeira vez? Pode responder honestamente, não tem ninguém olhando.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Falem mal, mas falem de mim 4

Enquanto a propaganda do Visa Electron é ótima, com os mariachis (ou algo parecido) cantando o jingle "que coisa triste", a do VISA institucional é menos interessante. Mais uma vez, é muito bem produzida e tem a narração do Antonio Fagundes, mas o texto é estranho.

A primeira coisa estranha é a utilização do slogan em inglês, "Go", que não funciona muito bem em português: "Mais pessoas vão com visa". Vão pra onde? Em tese seria para qualquer lugar que elas queiram, contanto que paguem, mas não acho nada genial, não. Porém, o problema do texto não é esse.

O comercial diz basicamente o seguinte: enquanto o resto do mundo espera o jogo acabar, espera pela próxima geração de craques, espera na fila para ser campeão, o Brasil comemora comprando com VISA. Um discurso estranho porque é arrogante, com clima de já ganhou e estabelece uma relação muito forçada entre comemorar um jogo de futebol com usar cartão de crédito. Não é horrível, mas a mensagem é enviesada e, no fundo, não diz nada.

Tchau Inglaterra!

O humor inglês é ótimo, embora muitas vezes de mal gosto e agressivo e às vezes, é ótimo justamente porque é de mal gosto e agressivo.
Mas achei essas duas fotos que estão circulando pela internet muito inteligentes e bem-humoradas. Pra dividir com a galera.



segunda-feira, 28 de junho de 2010

Só erra quem tenta, mas uma hora é preciso parar de tentar

É difícil admitir o erro. Especialmente se você é inseguro em relação ao que está fazendo, competente ou não. Marinheiros de primeira viajem como o Lula e o Dunga são mestres em fazer pose de estar sempre certos, mesmo quando obviamente não estão. Mas o Dunga subiu no meu conceito ao pedir desculpas para a torcida pela sua atitude. Não pediu desculpas para a imprensa e talvez não tenha mesmo que pedir, pois sabe-se lá o que realmente aconteceu nos bastidores do relacionamento entre ele e a Globo. Mas pediu desculpas lá do jeito dele. Bacana.

Até por que, com um pequeno ajuste de atitude, o Dunga vai perceber que a imprensa tem elogiado seu trabalho – e eu mesmo acho que ele foi muito bem no jogo contra o Chile, substituindo quem deveria ser substituído. Tá certo que parte das atitudes do Dunga foi em função de contusões e não de mudança de opinião, mas a cavalo dado...

Vou até confessar que eu mesmo resolvi abrir meu coração (essa expressão é muito Ana Maria Braga, não é?) e parar de criticar o Maradona, que está mais simpático do que sempre foi e tratando os jogos com uma alegria e empolgação contagiantes. Até demais – não me surpreenderia se saísse a notícia em uma revista de fofoca que o Maradonna está pegando o Messi. "Pegando" no mal sentido mesmo. Ou no bom, dependendo da preferência.

Claro que o "mea culpa" do Dunga só aconteceu por conta da pressão imensa de todas as emissoras de televisão, o que acabou deixando ele meio sem alternativa. Difícil mesmo é você admitir o erro quando só você sabe que errou. Quantas vezes você já fez isso?

terça-feira, 22 de junho de 2010

Falem mal, mas falem de mim 3

Outro comercial com boa estética e lógica estranha é o do Carrefour. Tem um narrador que fala: "Lá na vila é assim: de 4 em 4 anos a gente se reúne pra ver o jogo..." (até aí tudo bem), "E para decidir quem vai comprar o quê."

E aí, em vez de compras para um animado churrasco, o que seria o normal, vemos o pessoal da vila comprando, comunitariamente, geladeira, televisão e um 3em1!

Que porra de vila é essa? Nunca ouvi falar de uma comunidade que se reunisse pra comprar TV de 4 em 4 anos. Depois a TV fica com quem? Rifa? Se existe um negócio desses, seguramente não é comum. Parece que alguém classe média bem alta (um metro e noventa, pelo menos) tentou fazer um filme sobre uma comunidade mais simples. E falhou miseravelmente.

Todo mundo se acotovelando em um bar ou na casa de alguém? Beleza. Mas fazer vaquinha pra comprar TV de tela plana com os vizinhos é uma barra muito forçada, que não gera nem identificação e nem idealização. E quando um filme publicitário não casa com nenhum desses dois conceitos, acaba namorando um terceiro conceito: fracasso.

A empatia da Ana Maria Braga na assinatura é o que salva o filme (apesar de ser um truque mais velho que andar pra trás). Não funciona com certos tipos de pessoa, claro, mas é uma proposta adequada ao aparente público-alvo do filme.

Falem mal, mas falem de mim 2

Nem lembro o nome do carro, pois filme publicitário ruim é assim mesmo: não marca, mas o argumento de venda me chamou a atenção.

Vemos um cara parado em cima do morro ao lado do carro falando que nunca escalou montanha, nunca pulou de pára-quedas, nunca nadou com tubarões, etc. Mas que nunca sentiu nada igual como a emoção de pilotar o carro em questão.

Eu perdi alguma coisa? É claro que andar de carro é a coisa mais emocionante que o cara já fez – ele não fez nada! O argumento deveria ser o contrário: um cara superaventureiro que, mesmo assim,não abre mão da emoção de andar no carro X.

No texto como ficou, só faltou o slogan no final: o carro dos bananas!

Péssimo argumento de venda. Estava louco quem sugeriu e mais louco ainda quem aprovou. A direção de arte e os efeitos do filme são bem legais, mas o comercial perde todo o impacto com um argumento furado desses.

Falem mal, mas falem de mim

Com o mundo dominado pelo marketing burro e exagerado, o texto das propagandas anda sofrendo. Sempre tivemos comerciais malucos, mas os textos ruins eram normalmente reservados aos comerciais locais de orçamento baixo.

Hoje em dia, a falta de qualidade é geral, com textos com problemas de lógica, redundância e com apelos de duplo sentido.

Inaugurando a sessão Falem mal, mas falem de mim, o filme do Powerade, bebida cujo slogan é: Powerade – escolhido pela FIFA para hidratar os jogadores da Copa do Mundo da FIFA. Não é muito FIFA para uma frase só?

Ou: Escolhido pela FIFA para hidratar os jogadores da Copa do Mundo (que só pode ser a da FIFA. Ou tem também da CONCACAF?).

Ou, já que os marqueteiros agora decidiram que Copa do Mundo da FIFA virou um nome só: escolhido para hidratar os jogadores da Copa do Mundo da FIFA.

O excesso de FIFA mata a elegância do texto e não cabe em um anúncio da Coca-Cola.

domingo, 20 de junho de 2010

6 pontos

O Brasil jogou bem. Nada excepcional, mas foi eficiente, aguerrido e mostrou vontade com o ocasional bom futebol. Animei-me com o jogo. Destaque negativo para o juiz, francês, mostrando que a França não deveria mesmo ter vindo à Copa. Papelão dos jogadores se recusando a treinar, papelão do Domenec boicotado e sem moral e papelão até do juiz francês: frouxo e protagonista de uma cena das mais estranhas, a conversinha com o Luis Fabiano depois do gol, que, em minha opinião, deveria ter sido anulado.

Sim, teria sido um gol espetacular se a matada fosse no peito, mas não foi. Tem gente que adora isso no futebol, o gol de mão do Maradona contra a Inglaterra em 86, a mão na bola do Henry que classificou a França para a Copa. Eu não gosto, pois a incompetência em ver um lance desses é a mesma responsável pela expulsão do Kaká e pela violência desenfreada no final do jogo. Prefiro um juiz exemplar, que tivesse anulado o gol do Luis Fabiano, mas que também tivesse expulsado uns dois jogadores da Costa do Marfim antes que a partida virasse o que virou.

Além disso, o Brasil não precisava de favores do juiz para ganhar o jogo e nem para fazer um golaço, caso do primeiro gol brasileiro.

O Brasil me agradou – quem não agradou, pra variar, foi o Dunga. Destemperado durante o jogo, falhou na leitura do que estava acontecendo, pois deveria ter tirado o Kaká de campo logo depois do primeiro amarelo, e deveria ter tomado atitude para tranqüilizar os jogadores. Continuou destemperado durante a entrevista coletiva, falando palavrões ao vivo e sendo irônico e arrogante. Se o Brasil ganhar a Copa, o cara vai ficar insuportável.

Enfim, encerro o Ninguém Perguntou com o comentário da Bia, minha filha de 7 anos, que está acompanhando a Copa com grande interesse, apesar de afirmar que detesta futebol:

- Pai, essas pessoas são muito loucas. Elas brigam, brigam, brigam e no final se abraçam, ficam sem camisa. É muito maluco isso!

E sobre o lance com o Kaká:

- Se o Kaká encostou no peito dele, porque o moço botou a mão no rosto?

- Ele estava fingindo, filha, pra enganar o juiz.

- Mas então esse juiz é muito bobo, pai.

Fica aí atestado o óbvio, por uma criança de sete anos que detesta futebol.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Argentina

Perguntaram-me porque não botei a Argentina na minha lista de favoritos a levar o caneco desta Copa. É que eu sempre me esqueço da Argentina, afinal, apesar do bom futebol, a seleção Argentina ainda não tem nenhum título mundial. Em 78, a Copa foi meio roubada e, em 86, quem ganhou foi o Maradona, que vai morrer achando que é melhor que o Pelé (que não ganhou suas Copas do Mundo sozinho, mas foram três...).

Inclusive, só lembrei novamente da Argentina porque minha filha viu o Maradona na televisão e perguntou quem era aquele baixinho gordinho que ficava beijando os outros jogadores. Ela achou que era tipo um palhaço para animar a torcida por causa do gestual exagerado e das caras e bocas. Não tinha me tocado o quanto o Maradona tinha ficado ridículo. Ele sempre foi caricato, arrogante e personalista – bem parecido com o Dunga nesses quesitos, somando inclusive, mais uma semelhança: são dois ex-jogadores sem experiência alguma assumindo as seleções de seus países. Mas existem diferenças: o Dunga está a vários níveis abaixo do Maradona no quesito futebol e vários níveis acima no quesito profissionalismo, já que o treinamento do Maradona se resume a dar folgas para os jogadores e adulá-los na frente da imprensa com beijos, abraços, elogios e olhares carinhosos.

O Messi joga muita bola – é talvez o jogador mais excepcional da atualidade. E a Argentina ainda tem alguns outros jogadores que fazem muita diferença como o Tevez, o Milito, o Masquerano e até o velhinho Verón. Além disso, os argentinos contam com a sua tradicional raça e a presença do Maradona no banco, animando a torcida e assustando as crianças, com o seu jeitinho bizarro e simpático ao mesmo tempo.

É uma das favoritas ao título, sim, ainda mais em uma Copa com apresentações tão irregulares. Tem boas chances de ser campeã de verdade pela primeira vez.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Falem mal...

O Marketing é um acessório. Após uma decisão ser tomada a gente a veste de marketing para que ela seja mais eficiente, mais visível, melhor divulgada, etc. Quando a decisão é tomada em função do Marketing existe uma inversão de papéis – é o rabo balançando o cachorro. O que pode até ser interessante para o rabo, mas deixa o cachorro em uma posição desconfortável.

Bom exemplo é a Jabulani.

Bola de futebol não é algo que precise de concerto. Funciona muitíssimo bem do jeito que está. Então, pra que mexer? Ora, marketing.

Vá lá – entendo que se queira inventar um nome pra bola e pintá-la de cores diferentes (é o marketing como acessório), como as outras tantas bolas de Copa – a Jalisco, a Etrusco e outras que não lembro o nome, mas mudar o material do qual ela é confeccionada é uma decisão imbecil, não importa o tanto de tecnologia utilizada.

Na Copa do Mundo, todos querem ver os craques no seu apogeu, o que já é difícil já que a competição acontece no final da temporada européia. Fica mais difícil ainda se o jogador ainda tem que se adaptar à bola. As mudanças não foram tão grandes assim e, sem dúvida os dois grandes perus da copa pouco têm a ver com a Bola, mas temos visto um festival de inversão de jogadas fracassadas (a bola quica mais que o normal), lançamentos inalcançáveis e faltas nas quais a bola se recusa a descer (como o material da bola sofre menos atrito, a parábola que ela descreve é mais alongada). Ou seja, o futebol de algumas seleções já não é lá essas coisas e a bola está, sim, enfeiando as partidas.

O marketeiro vai argumentar que esta será a bola mais famosa de todas as copas. Mas ser famoso porque atrapalha não é o que eu chamaria exatamente de um sucesso. Assim como é o caso das vuvuzelas, que estão ficando famosas por serem chatas. A primeira Copa da África merecia menos marketing.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Abrem-se as cortinas, etc.

Foi dada a largada para a Copa do Mundo num show à parte (à parte mesmo- emissora de TV que quisesse transmitir tinha que pagar extra) do maluco, mas o meu tipo de maluco, Desmond Tutu e da cada dia mais gostosa e mais loura Shakira. Pelé assumiu que o importante é ganhar e que se exploda o futebol bonito (nome do projeto que ele criou!) e os favoritos são a Espanha (de novo!), que nunca leva, o Brasil (de novo!), que já levou mais que todo mundo e os outros suspeitos de sempre: Alemanha, Holanda (outra que nunca levou) e Inglaterra. E o Brasil pode jogar de novo contra a Holanda – quem faz o sorteio dessa porcaria? A Copa só acontece de quatro em quatro anos e a gente tem que jogar sempre contra os mesmos caras? Queria jogar contra o Uruguai, caramba! Dar o troco por 50!O Uruguai que é aqui do lado a gente só enfrenta nas eliminatórias, mas a porra da França e da Holanda é copa sim, copa não, quando não são as duas na mesma competição. A bola, a tal da Adidas Jabulani, que a TV chama só de Jabulani, é uma merda: leve e sem aderência. Inclusive, cada vez que reformulam a bola ela fica mais leve e mais sem aderência, mais umas duas Copas e vão encher a gorducha com gás hélio e lambrecar de vaselina. Quem sabe assim eu não volte a me empolgar com o futebol? E hoje voltei a me emocionar com as letras do Renato Russo, quase sem querer. O que isso tem a ver com bola? Nada. Mas a Shakira também não tem nada a ver com futebol e, hoje em dia, nem o Pelé.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Mulher diz que engravidou vendo filme 3D

Eu assisto Jornal Nacional como todo mundo, mas são essas notícias esdrúxulas que chegam pela Internet as que mais me fascinam. Não porque eu tenha uma curiosidade mórbida (embora todo mundo tenha ao menos um pouco), mas porque elas beiram o inacreditável e, para quem escreve, saber que o inacreditável pode ser real é um estímulo à criatividade, uma vez que fica comprovado que o impossível é algo relativo.

Mas divago, divago.

O caso é que uma moça americana, cujo marido militar estava há um ano fora de casa (esses militares...), surpreendeu o amado na volta para o lar com um bebê negro nos braços. Segundo ela, o bebê foi concebido quando ela, com as amigas, foi ver um filme pornô 3D em Nova Iorque. De acordo com ela, o menino era a cara do ator negro do filme.

Na notícia que li, o maridão disse que acreditava na esposa, registrou o petiz e que os dois já estavam se preparando para processar a produtora do filme. A mulher ficou aliviada com o apoio do marido e reafirmou que jamais seria capaz de traí-lo com outro homem.

Certo.

Bom, aprendi muita coisa com essa notícia.

1. Existe filme pornô 3D (ou será que isso faz parte da fantasia da moça?). Já parou pra pensar nisso? Claro que não era difícil de imaginar que isso um dia acabaria acontecendo, mas só de pensar tenho arrepios. O princípio do 3D é impressionar a platéia projetando coisas na direção do espectador – mas em um filme pornô, nada do que pode ser projetado em minha direção me interessa muito.

2. A mulher é uma idiota.

3. O marido pode ser também um idiota, mas existe uma segunda opção. Ele pode saber que ela está mentindo, mas amá-la de tal forma que está disposto a passar por idiota para permanecer ao lado dela. A segunda opção talvez não o absolva completamente da acusação de ser idiota, mas ser um idiota apaixonado é sem dúvida uma atenuante.

4. Aprendi também que o meu filtro de spam no e-mail precisa ser aperfeiçoado.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

É do Peru!

Dia desses recebi um e-mail chamado PERU INIGUALÁVEL!

Não vou entrar em detalhes, tire suas próprias conclusões, mas a verdade é que a criatividade e o grotesco andam de mãos dadas na Internet e seus subprodutos (como os e-mails spam).

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Covardia ocidental

É duro, eu sei, mas a verdade é que somos um bando de frouxos. Jamais existiria um piloto kamikaze ou um samurai ocidental. Queremos curtir a vida, ganhar dinheiro e fazer um churrasquinho com os amigos no final de semana.

Honra é um conceito meio nebuloso por aqui. Consideramos burrice assumir a responsabilidade por algo que fizemos, pagar o que devemos ou defender alguém injustiçado (não temos nada a ver com isso, certo?). Obedecemos à lei quando nos é conveniente, consideramos o trabalho braçal e de casa como uma coisa menor e medimos, sim, os outros pelas roupas que vestem ou os carros que dirigem.

Alguém muito cara-de-pau poderia falar que isso não é exclusividade ocidental e eu até concordaria. Afinal, com a globalização, estamos exportando nossa covardia junto com o McDonald's, criando um planeta de pusilânimes imediatistas.

Nossa memória fraca e o hábito de fingir que não é com a gente é um prato cheio para políticos que, no final do ano, estarão comemorando às nossas custas todo o dinheiro que vamos dar a eles durante os próximos quatro anos. A não ser, é claro, que consigamos botar alguém honesto e corajoso lá em cima. Bom, se aqui embaixo for todo mundo honesto e corajoso também, é fácil.

Mas eu puxei esse assunto porque na noite passada vi um filme que me chamou a atenção: Red Justice, com o Richard Gere. Você já deve ter visto também. É um no qual ele é acusado injustamente de matar a filha de um general chinês e é julgado pelo sistema jurídico da China, que é longe de ser justo. Tem uma cena, completamente fantasiosa, na qual ele, seguro na embaixada dos estados Unidos, decide sair para enfrentar um julgamento armado só para não prejudicar sua advogada, que seria responsabilizada por sua fuga.

Fiquei pensando: alguém faria isso na vida real? Eu conheço alguém capaz de fazer um sacrifício enorme apenas para evitar o sofrimento de um conhecido? Resposta honesta? Não sei. Esse é o tipo de pessoa que se revela apenas quando a situação exige e, infelizmente, nas situações mais cabeludas que presenciei até hoje, o que mais vi foi gente abandonando o navio (inclusive alguns capitães).

Enfim, entre morrer com a sensação de dever cumprido ou botar o rabo entre as pernas pra lutar outro dia, qual seria a escolha mais inteligente?

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Avatar

Os americanos tem um certo tesão pela Pocahontas. Justificável se ela for mesmo mais ou menos como é mostrada nos filmes e desenhos, mas não é exatamente isso que eu queria dizer. Esclareço: quando Kevin Costner reviveu o conto do soldado estrangeiro que se apaixona pela cultura local (entenda-se por cultura uma índia suspeitamente gostosa) em Dança com Lobos, deu Oscar. Agora, em Avatar, James Cameron conseguiu garantir sua presença no Oscar com o mesmo enredo.

A falta de originalidade de Cameron vai além: reciclando a Sigourney Weaver e a cultura mariner de Aliens, com direito a um mech que lembra pra cacete a empilhadeira do referido filme.

Mas o filme é bom?

Achei o design meio cansativo. Os aliens azuis de Mass Effect (o videogame) são melhores. Além do fato de serem todos mulheres gostosas, em Mass Effect, os elementos culturais são mais criativos. Os N'avi de Cameron emulam em exagero uma cultura indígena, lembrando ainda mais a Pocahontas do primeiro parágrafo. Legal o fato do planeta todo ser uma entidade viva em simbiose com todas as suas criaturas, mas a idéia acaba sendo politicamente correta demais nessa época pós Al Gore pra estimular o meu cérebro Nerd.

Mas o filme é bom?

Não sei se os aparelhos do Cinemark não são lá essas coisas, mas o peido 3D do Shrek no filme que vi na Disney me impressionou mais. Ok, Ok, os efeitos são interessantes, mas, de novo, pouco criativos. A única cena que me arrepiou o cabelo da bunda foi uma tomada menor na qual o cara pega a tela transparente do computador e sai carregando ela pela sala. Muito bom! As naves voando, as explosões e as criaturas não me encantaram. Achei tudo tecnicamente muito bem feito, mas sem alma, sem agressividade, sem ousadia. Os bichos eram basicamente cavalos, lobos, dinossauros e pterodáctilos com mais dentes e a mesma paleta de cor. Os aliens de um Star Wars da vida são até menos coerentes, mas muito mais interessantes.

Mas o filme é bom?

Se tem uma coisa que me surpreendeu foi a atuação dos avatares dos atores, a versão digital dos caras. É uma animação muito bem feita e a gente até esquece que estamos vendo um cara que está interpretando um cara que está interpretando um cara. Entendeu? É um construto de computador simulando um ator que está simulando que está num construto genético. É uma metalinguagem que poderia até ser filosófica se o roteiro estivesse à altura.

Mas o filme é bom?

É, é, pode ir ver... Mas o marketing em torno dele é melhor e colocá-lo para concorrer ao Oscar de melhor filme entrega de cara o estado da indústria cinematográfica americana. Isso e o fato de, neste ano, o Oscar ter 10 indicações para o prêmio máximo. A continuar nesse ritmo, no ano que vem eles vão estar indicando os mais assistidos do Youtube!

sábado, 30 de janeiro de 2010

As 5 melhores histórias de videogame de todos os tempos

Nos seus primórdios, ninguém jogava videogame pela história. Jogava pela catarse de ver uns quadradinhos coloridos representando algo grandioso que associávamos a alguma coisa que tínhamos lido ou visto em outras mídias. O pixel virava apenas uma referência remota ao herói de ação do filme ou livro (esses sim verdadeiros veículos inspiradores das histórias que montávamos em nossas cabeças).

Mesmo após sua evolução e incursão no universo dos gráficos 3D, o desafio, a ação e a busca por uma melhor pontuação ainda eram apelos mais fortes que a "história" de qualquer joguinho. E dá-lhe salvar princesas!

Vale lembrar que, no computador, os primeiros jogos eram efetivamente só de história, porque não tinham gráfico nenhum, mas a interatividade desse jogos era muito limitada e eles eram muito mais uma versão digital dos livrinhos "agora você decide" que qualquer outra coisa. E a maioria dos temas era fantasia – e embora alguns tivessem bons textos, o desenvolvimento da trama era relativamente previsível.

Mas nos últimos 10 anos a tecnologia e o investimento de dinheiro por trás dos jogos aumentaram tanto, que a contratação de roteiristas profissionais e/ou a possibilidade de mesclar interatividade com narrativa criou experiências impressionantes.

Meu critério para a avaliação que faço a seguir é simples; perguntei-me: que joguinhos dariam grandes filmes? E aqui vai a resposta (juntos com os famosos "major spoilers"). E eu não coloquei cinco, foram sete (me processe).

Grand Theft Auto (Vice City, San Andreas e IV)

Embora eu ache tão divertido quanto qualquer um pagar uma prostituta para recuperar a saúde só pra depois bater nela para que ela devolva o dinheiro, sempre achei que os joguinhos da série ficavam um pouco chatos e repetitivos depois das primeiras horas. Acho o amalucado Saint's Row um jogo até mais divertido (embora de produção mais pobre), mas as histórias e os personagens do universo de GTA (Grand Theft Auto) são simplesmente espetaculares. Eu tinha vontade de ter um CD com todos os cineminhas só pra assistir a tudo sem as interrupções do jogo no meio. As tramas de todos esses jogos dariam filmes de gangster espetaculares e algumas interpretações dignas de Oscar. O drama pessoal de Nico Belic, tentando largar uma vida de violência militar investindo no American Dream é tocante, engraçado e violento. O jogo também parece agradar, já que é uma das séries mais vendidas de todos os tempos, mas confesso que a enormidade de coisas para fazer (embora ajudem a estabelecer um elo emocional com o personagem) me entedia um pouco. Façam logo um filme preservando os diálogos originais.

Final Fantasy X

Final Fantasy VII tem uma das reviravoltas mais marcantes da história do videogame – a personagem principal morre no meio da história e não ressuscita - algo meio impresisonate pra época e, pra ser sincero, pouca gente tem coragem de fazer isso até hoje. Uma vez que videogame é pra ser um troço comercial, a tendência é deixar os caras vivos pra alimentar a franquia. Bom, o elenco do jogo era grande, mas, mesmo assim... Porém o resto da história do jogo não era lá essas coisas, era o tradicional se juntar pra salvar o universo, coisa e tal. Outros Final Fantasy também tem detalhes marcantes na história. Tem um, salvo engano, no qual os heróis falham. É isso aí, os caras até ganham a batalha final, mas o continente ou país que eles defendiam vai pras cucuias também. Ou seja, a ousadia é uma característica da série. Além de heróis com cara de mulherzinha, cabelos esdrúxulos, heroínas peitudas, adolescentes insinuantes, alguém chamado CID e a porra do Chocobo (que é uma espécie de pintinho que nunca vira galinha).

Mas a história de Final Fantasy X realmente surpreende. No melhor estilo de Os Suspeitos, é apenas nos minutos finais que você terá a revelação que dará sentido a toda história. E o pior é que faz sentido mesmo! Não fica aquela narrativa cheia de buracos comum aos videogames e desenhos japoneses. Tá, tem alguns buracos, mas são poucos. No jogo, você junta um bando de rejeitados pra tentar salvar o planeta de um ciclo vicioso no qual as almas dos mortos precisam ser dadas de alimento a uma criatura barra-pesada, sob pena de destruição total da porra toda. Na maior parte do tempo você atua como guarda-costas de uma sacerdotisa que performa o ritual de enviar essas almas para o descanso, sendo que ela mesma tem como destino se sacrificar para a tal criatura ao final da peregrinação. A narrativa do jogo é magistral, mostrando todo mundo bem-humorado no começo da aventura e ficando cada vez mais deprê à medida que eles se aproximam do final da peregrinação, morte certa para a heroína.

No apagar da luzes, o mocinho descobre que a criatura do mal é o pai dele!!

Tchans!

E aí? Surpreendente, hein?

Calma que eu não ia fazer isso com vocês! Essa não é a revelação bacana da história. Star Wars já fez isso de forma definitiva. Em todo caso, a criatura do mal é mesmo o pai do Zé Mané principal, mas a grande sacada da trama vem logo depois, quando você acha que já está partindo pro final feliz. E aí você pára e pensa: putaquepariu! E joga o troço todo de novo (70 horas) só pra ver as referências ao final que você perdeu porque estava prestando mais atenção na peituda que na história. Ou, se for preguiçoso que nem eu, faz um review no youtube e aproveita pra ver as cenas digitalmente alteradas da peituda sem sutiã.

Dica: a criatura do mal é uma entidade antropormófica de 30 metros de altura que aterroriza o planeta há centenas de anos e o mocinho filho dele é um humano de uns dezessete (com boa vontade). Como? Como? E a explicação é bem razoável.

The Prince of Persia – The Sands of time

Aparentemente, outras pessoas concordam comigo, pois estão fazendo uma superprodução cinematográfica do jogo. Isso não é referência, claro, pois já fizeram filmes de Mortal Kombat e DOOM, mas, nesse caso, pode funcionar. As cenas de ação só precisam copiar a coreografia do joguinho que serão incríveis. A roupa semi-transparente da princesa também não precisa mudar. E, claro, é importantíssimo deixar o final intacto, mas não sei se Hollywood vai ter coragem. A trama do jogo é meio pra baixo: o príncipe é um babaca arrogante que manda o reino inteiro do pai pro espaço (ou, no caso, pras areias do tempo), consumido pela culpa, tenta consertar o estrago, se apaixona no meio do caminho e, bem, já vi finais mais felizes (mas não tão legais). A trama faz bom uso do conceito de viagem no tempo (conceito que se integra ao jogo, permitindo que você volte no tempo para refazer movimentos fracassados) e é mais uma daquelas que só entregam o ouro nos últimos minutos.

Mass Effect 1 e 2

Mass Effect está longe de ser o melhor jogo de todos os tempos, mas é o jogo que tem os melhores personagens, inclusive o que você controla. A história do Comandante Sheppard é clichê de ficção científica: sua missão é salvar o universo de uma ameaça que só você consegue ver. Aí você junta uma tripulação de rejeitados sociais e prova pra todo mundo que o perigo era real só para, na seqüência, ninguém acreditar em você de novo, você ter que reunir uma galera ainda mais esquisita e salvar o universo todo outra vez. A terceira parte tem tudo pra ser a mesma porcaria. E eu vou comprar no dia que sair e não vou descansar enquanto não terminar de jogar.

Se você for parar pra pensar, a história do Poderoso Chefão também não é lá essas coisas. A saga de uma família de gângsteres na qual o pai fica doente, o filho mais velho morre e o trono vai para o filho bonzinho que não queria se envolver com o crime – e depois o pai morre. Mas o filme tem o Marlon Brando com a prótese na bochecha, tem uma das trilhas sonoras mais espetaculares de todos os tempos, tem uma fotografia que virou sinônimo de filme de gângster e é copiada até hoje, tem o James Caan, tem o Al apcino – e diálogos fantásticos.

Em Mass Effect é a mesma coisa. Não é o que, é o como que faz a diferença. Gráficos excelentes, dublagem fenomenal e opções de diálogo interessantes fazem o jogo.

O primeiro era bastante ambicioso e falhou em algumas coisas. O combate era meio mais ou menos, o sistema de estoque de itens era bagunçado e outras chateações. Mas você podia se envolver romanticamente com uma alienígena azul gostosíssima (com direito a ceninha de sexo) e, enquanto trabalhava nisso como objetivo maior, conduzir seu personagem da forma que mais te interessasse: babaca, herói, herói e babaca, violento, diplomata, diplomata e violento, etc.

Mass Effect não foi o primeiro jogo a te dar esse tipo de liberdade (o primeiro lugar da lista foi um dos primeiros), mas fez isso de forma envolvente, com personagens carismáticos. O ex-agente de polícia frustrado, a soldado exemplar discriminada por ser mulher, a alienígena gostosinha que não pode sair da roupa de isolamento porque não tem sistema imunológico, o cara com fortes poderes mentais por causa de implantes de quinta categoria, a já mencionada alienígena azul pertencente a uma raça só de mulheres gostosas (que não se incomodam em ir pra cama com outras mulheres), um mercenário de uma raça que glorifica a violência e por aí vai. A cada vez que você conversa com cada um deles você tem a opção de escolher sua atitude e os outros personagens podem gostar, detestar ou ser influenciados pelo o que você diz.

Na segunda parte, os diálogos melhoraram, os personagens também e o jogo abandonou um pouco o lado RPG para investir em um combate melhor. Não foi uma decisão muito sábia, pois acho que o jogo em si perdeu em complexidade estratégica. Mas o elenco da segunda parte é bem legal. Olha só: uma mulher geneticamente alterada para ser perfeita que é a cara do Michael Jackson (e, não me pergunte como, é uma gata!!!!), um soldado de uma corporação pró-humanos, uma assassina psicopata que anda pelada da cintura pra cima (o corpo dela é todo coberto de tatuagens), um cientista que criou uma praga genética para esterilizar uma raça (a do mercenário do primeiro jogo), uma criatura produzida em laboratório com sérios problemas de controle de raiva, uma inteligência artificial que era seu inimigo no primeiro jogo, uma alienígena daquela raça da mulherada azul cujo objetivo é matar a própria filha e um assassino com memória perfeita, que acredita que seu corpo é apenas uma ferramenta e, por isso, não sente remorso em matar.

As decisões na segunda parte também são menos preto e branco. Sua raça está em guerra e um grupo mercenário infiltrado consegue disparar duas ogivas nucleares contra um planeta, você só conseguirá deter uma: você escolhe salvar a metrópole habitada por milhões de pessoas ou salvar a cidade industrial, que constrói naves, armamentos e refina combustível para o esforço de guerra? A decisão, e o rumo da história está em suas mãos.

O mais legal é que Mass Effect consegue implementar isso de forma coesa, com uma direção de arte que não deixa nada a dever para os grandes filmes de FC. Trata-se, sem dúvida, de um videogame único.

Knights of the Old Republic

Essa é, simplesmente, a melhor trama de Star Wars desde o segundo filme. E uma das melhores histórias de ficção científica de todos os tempos. Você começa como um cara (ou mulher) meio velho pra ser Jedi, mas que demonstra um talento fora do comum para controlar a força. Acaba sendo aceito pelo conselho Jedi e ganha uma Mestre para acompanhá-lo em suas aventuras. Uma trama maior vai se revelando e você vai tendo que fazer opções pelo bem ou pelo mal, que vão determinando os seus poderes e o seu caminho para o lado bom ou mal da força. À medida que você progride você pode perder aliados ou corrompe-los/salvá-los dependendo da sua influência sobre eles.

Se isso soa familiar é porque essa foi a estréia do sistema de escolhas desenvolvido pela Bioware que, mais tarde, foi parar em outros jogos como Mass Effect e Dragon Age. Aqui, o sistema ainda está em sua infância e ou você é bom ou é mal, mas para o conceito de Jedi funciona muito bem. Mas o grande barato da história é outro: durante todo o jogo você vive as conseqüências de um recente conflito entre os Jedis e um Lorde Sith fodão chamado Darth Revan. Conversa vai, conversa vem e você descobre no meio do jogo que o tal do Revan é você, garotão! O Conselho apagou sua memória depois de te derrotar e aí você se vê diante de uma grande decisão: a redenção e virar um Jedi bonzinho ou o caminho da vingança, se tornando mal como o pica-pau. A revelação consegue ser surpreendente e te pega de calças curtas – e o andamento do jogo até o final ainda tem uma ou outra surpresa interessante. E, sim, você pode dominar a galáxia como um lorde Sith.

Planescape Torment

Você começa o jogo morto. Não falo mais nada que é pra não estragar. Vá jogar se conseguir achar uma cópia.

Fallout

O pai dos jogos de liberdade. Cara, nesse jogo você podia mirar no saco dos outros, colocar granadas nos bolsos das pessoas, bater na esposa, ter relações homossexuais e, enfim, deu pra entender. Mas, mais do que isso, a história do jogo avançava de forma orgânica, pelas suas ações e diálogos. A tensão sobre o que fazer e o que não fazer era permanente, pois você tinha um número contado de dias para cumprir uma missão: trazer um chip purificador de água para o seu Vault. Caso contrário, todo mundo que você conhecia iria morrer. Os vaults eram construções que sobreviveram ao holocausto nuclear. Dentro deles, a vida continuava (apesar de certa disciplina militar), mas fora deles o mundo havia se transformado em uma terra de ninguém: escorpiões gigantes, mutantes, gangs, radiação pra tudo quanto é lado.

Para um cenário tão sombrio, o jogo tinha um bom humor extraordinário e a história culmina em um dos finais mais emocionalmente pesados da história dos videogames. O combate tático também era – e ainda é – muito bom. A revisão feita recentemente tem gráficos fantásticos, mas não tem 2% da ousadia do jogo original.


 


 


 


 

 

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Percepção

Essa história começa com um homem olhando para cima. Ocorrência, dizem, incomum no cotidiano das grandes cidades, mas eu não posso realmente confirmar isso. Olho pouco para as pessoas e a verdade é que não sei para onde eles voltam suas cabeças enquanto andam pelas calçadas. Mas um homem olhou para cima e viu, no beiral do prédio da operadora de celular, dois outros homens. Alguma coisa na posição deles parecia suspeita e ele logo percebeu o que era. Parecia que estavam sem aparato algum de segurança a bem uns quinze andares de altura. Talvez mais.

Sua sensação de estranhamento deu lugar a um frio na barriga quando um deles fez menção de saltar, o que fez com que o outro se aproximasse bruscamente. Estaria ele diante de uma tentativa de suicídio? Sinalizou para o guarda que estava perto, que chamou os bombeiros. Logo, logo, a equipe da rede de televisão também estava a postos. Nos dez minutos que levou tudo isso, os homens pareciam conversar, e a distância entre os dois parecia ter diminuído. Começava uma preparação das autoridades para subir ao prédio, mas, súbito, os dois deram-se as mãos e saíram do beiral.

A multidão que se juntou estava agitada. A polícia e a imprensa entraram no prédio. A porta de acesso àquela parte do telhado, antes trancada por fora, abriu-se revelando um homem beirando seus quarenta, de aparência assustada e cabelos desgrenhado e um outro, de olhar triste e distante. Foi este último que disse, numa voz emocionada:

— Este homem é um herói. Salvou-me de minha própria estupidez...

A Câmera de TV focou no rosto do herói e os jornalistas dispararam perguntas. O que ele havia dito ao suicida? Fazia o que da vida? Como tinha subido também ao beiral? Que presença de espírito! Descobriram rapidamente que ele havia sido demitido naquele mesmo dia e que, como se encontrava deprimido, havia subido ali para apreciar a vista da cidade. Ter outra perspectiva, falou. Para sua surpresa, havia um outro homem ali. Mas o que havia dito para o suicida? Não quis comentar.

Virou herói. Recuperou seu emprego, pois a empresa não queria a mídia negativa que demitir um homem tão valoroso poderia gerar. Sua esposa e filhos, que o consideravam um fracasso, passaram a olhá-lo de forma diferente e não sem certa reverência. Foi a programas de entrevistas. Tudo o que falava passou a ser mais considerado.

O outro foi julgado um coitado. Ganhou um pito da polícia e uma ameaça de processo da operadora de celular. Conseguiu, a muito custo, manter seu nome fora da mídia, o que poderia ter-lhe arrumado mais problemas pessoais. Afinal, era um fraco.

E, neste momento, voltamos ao primeiro dos três homens que protagonizam essa narrativa, aquele que olhou para cima. Este acabou por sair do local do tumulto quieto e bastante pensativo. "Que coisa", falou consigo próprio, "Poderia jurar que quem fez menção de pular tinha sido justamente o outro".



terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O experimento

Aos dezoito anos Katrina Savinski acreditava que tinha muitas opções pela frente. Mas seu destino estava sendo discutido em um armazém, a cerca de dez quilômetros da sua casa. Um homem gordo, de barba farta e mal cuidada, dentes tortos e amarelados, trajado com roupas esfarrapadas conversava com uma mulher alta, de cabelos cuidadosamente presos e um vestido preto de cinco mil reais. A improvável dupla conversava educadamente.

— Como ela está fisicamente? – Perguntou a mulher, de forma desinteressada.    

— Não tão bem como poderia. Leva uma vida parcialmente sedentária, mas seu material genético é realmente muito bom. Os níveis de gordura são baixos e as taxas de LDL e HDL são ótimas. O Tônus muscular é flexível e o quadril tem uma largura bem adequada à procriação eficiente.

— Doenças?

— Poucas. Na infância, catapora e caxumba e algumas viroses. Como quase todos desse grupo, é suscetível ao câncer, mas já passamos a considerar isso inevitável. Fora do ambiente hostil de estudo, acreditamos que possa viver cerca de 150 anos.

— É o mais próximo que já chegamos.

— Como ela, temos cerca de outras trinta mil pessoas nessas condições em todo o mundo.

— Chegamos perto dessa vez, mas ainda é muito pouco.

— Sim, essa também é minha avaliação, mas Mercúrio não concorda.

— Isso me surpreende. É a primeira vez que vejo vocês discordarem.

— Sim, é a primeira vez que isso acontece.

— Onde está Mercúrio neste momento?

— Ele está desaparecido há dois dias.

— Como assim, desaparecido?

— Encontramos o biotransmissor dele jogado em uma lata de lixo. Acionamos todos os nossos agentes, mas foi inútil.

— O que você sugere?

    — Pegar a garota e sair. Imediatamente.

    — De acordo.


 

Em casa, Katrina conversava com o namorado animadamente ao telefone. Um sujeito magrelo, de óculos de aro grosso, alto e narigudo chamado Frederico. Fã de filmes de ficção científica e jogos de RPG, Frederico era calado a tão anti-social quanto um nerd poderia ser. Ninguém entendia suas piadas, ninguém tinha paciência para suas conversas estapafúrdias, que sempre giravam em torno de complexas teses sobre o comportamento humano. Mas Frederico exercia um estranho fascínio sobre Katrina. O envolvimento dos dois começou por causa do conhecimento enciclopédico de Frederico sobre rock. Depois de uma conversa casual Katrina se viu mais e mais recorrendo a Frederico para dicas de música. Ele sempre tinha uma banda desconhecida para indicar cujo repertório sempre casava com o gosto particular de Katrina.

Certo dia, Frederico pediu um beijo em troca de mais uma dica. Uma proposição ridícula que Katrina se viu, inexplicavelmente, compelida a aceitar. Talvez fosse pena, talvez um carinho acumulado ao longo dos encontros musicais e talvez fosse até mesmo interesse. Fosse o que fosse, Katrina deixou-se ser beijada e surpreendeu-se. A boca de Frederico era inesperadamente suave e o beijo a seduziu imediatamente. Um calor inusitado percorreu seu corpo e ela chegou até a deixar escapar um suspiro de prazer. Isso foi há três meses atrás.

O namoro, oficializado depois de três encontros, teve como efeito colateral longas e apaixonadas conversas ao telefone, como a que acontecia naquele momento, sob o olhar de leve censura da mãe de Katrina, que preparava um chá para a filha. Um costume antigo. Toda noite, por volta de umas onze horas, mãe e filha se encontravam na cozinha para conversar. A mãe preparava um chá para as duas e depois de um animado bate-papo sobre o dia, Katrina ia dormir e a mãe, normalmente, ver televisão. Katrina sempre dormiu muito cedo e sua mãe sempre gostou de assistir à TV madrugada a dentro. Ultimamente, a mãe vinha reclamando que esses momentos andavam cada vez mais reduzidos, por conta do "namoro telefônico". Katrina sorria e virava para o lado, dando pouca atenção às queixas da mãe, de forma pouco sutil. Naquela noite, os dois estavam particularmente falantes. Katrina falou de seus sonhos e de suas desilusões e Frederico parecia ler seus pensamentos, falando sempre a coisa certa no momento certo. Até o ponto em que Frederico alterou levemente o tom de voz, ficando repentinamente menos delicado e mais sério, até um pouco ríspido:

— Kat, você confia em mim?

— Ora, mas claro!

— Se eu te pedir para fazer uma coisa completamente absurda, você faz?

— Eu, hein! Que papo besta Fred.

— Você faz?

— Bom, depende do que é. Não vou sair pelada pelo meio da rua, por exemplo.

Ele riu.

— Não é nada disso! É algo até bastante simples, só não vai fazer muito sentido.

— O que é?

— Só vou dizer o que é se você prometer que vai fazer. Sem pensar e sem questionar.

— Não tem nada a ver com sexo?

— Não.

— Ok. Prometo.

— Abaixe-se!


 

Continua no próximo capítulo.