segunda-feira, 26 de abril de 2010

Covardia ocidental

É duro, eu sei, mas a verdade é que somos um bando de frouxos. Jamais existiria um piloto kamikaze ou um samurai ocidental. Queremos curtir a vida, ganhar dinheiro e fazer um churrasquinho com os amigos no final de semana.

Honra é um conceito meio nebuloso por aqui. Consideramos burrice assumir a responsabilidade por algo que fizemos, pagar o que devemos ou defender alguém injustiçado (não temos nada a ver com isso, certo?). Obedecemos à lei quando nos é conveniente, consideramos o trabalho braçal e de casa como uma coisa menor e medimos, sim, os outros pelas roupas que vestem ou os carros que dirigem.

Alguém muito cara-de-pau poderia falar que isso não é exclusividade ocidental e eu até concordaria. Afinal, com a globalização, estamos exportando nossa covardia junto com o McDonald's, criando um planeta de pusilânimes imediatistas.

Nossa memória fraca e o hábito de fingir que não é com a gente é um prato cheio para políticos que, no final do ano, estarão comemorando às nossas custas todo o dinheiro que vamos dar a eles durante os próximos quatro anos. A não ser, é claro, que consigamos botar alguém honesto e corajoso lá em cima. Bom, se aqui embaixo for todo mundo honesto e corajoso também, é fácil.

Mas eu puxei esse assunto porque na noite passada vi um filme que me chamou a atenção: Red Justice, com o Richard Gere. Você já deve ter visto também. É um no qual ele é acusado injustamente de matar a filha de um general chinês e é julgado pelo sistema jurídico da China, que é longe de ser justo. Tem uma cena, completamente fantasiosa, na qual ele, seguro na embaixada dos estados Unidos, decide sair para enfrentar um julgamento armado só para não prejudicar sua advogada, que seria responsabilizada por sua fuga.

Fiquei pensando: alguém faria isso na vida real? Eu conheço alguém capaz de fazer um sacrifício enorme apenas para evitar o sofrimento de um conhecido? Resposta honesta? Não sei. Esse é o tipo de pessoa que se revela apenas quando a situação exige e, infelizmente, nas situações mais cabeludas que presenciei até hoje, o que mais vi foi gente abandonando o navio (inclusive alguns capitães).

Enfim, entre morrer com a sensação de dever cumprido ou botar o rabo entre as pernas pra lutar outro dia, qual seria a escolha mais inteligente?