sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

48 fps


O Hobbit é um filmaço, um dos melhores do ano, o ritmo do filme é até melhor que o primeiro Senhor dos Anéis (embora o Senhor dos Anéis tenha cenas mais memoráveis), vá ver.

Dito isso, o filme é longo demais. Dava pra tirar uns bons 15 a 20 minutos sem prejudicar em nada a história.

Agora vamos falar sobre a tecnologia. Sou contra 3D em filmes. Pra mim, 3D é um recurso para ser usado em atrações de 5 minutos, causando uma explosão sensorial e pronto. Tipo um orgasmo – uma sensação superlegal, mas rápida, pra dar vontade de ter mais. Um orgasmo de mais de quarenta minutos pode ser algo tão desgastante que provavelmente vai fazer a pessoa ter medo de ter sexo.
Enfim, três horas de 3D é um saco.

E tem o tal dos 48 frames por segundo.

Vamos por partes: em primeiro lugar, o que Peter Jackson pretende lançando o filme em 48 fps? Publicidade, fidelidade e a oportunidade de brincar com efeitos especiais em movimento.

Mas ele conseguiu cumprir seu intento? Em parte, sim. A seguir, minhas observações depois de ver o filme:

Luminosidade: com mais frames, o filme passa a ter maior exposição de luz. Ótimo para 3D, mas péssimo para a tecnologia atual de iluminação. A iluminação do filme é irregular e alterna de cena pra cena. É quase imperceptível, mas se você é do tipo que presta atenção em tudo como eu, vai sair do clima quando isso acontecer.

Velocidade: existe um efeito ótico chamado paralax que é quando um objeto em primeiro plano se move em velocidade ou sentido diferente de objetos em segundo plano, relativo a um ponto de observação. Trocando em miúdos, é um efeito utilizado quando o diretor quer criar ilusões de velocidade, profundidade e altura. Os 48 frames por segundo eliminam o blur que ajuda a conseguir esse efeito e algumas cenas claramente perderam seu impacto, parecendo efeito especial de segunda categoria. Em 24 fps as mesmas cenas ficaram perfeitas e muito, mas muito melhores mesmo.

Outras cenas criaram elementos que distraem a visão do centro da tela, como uma cascata em Valfenda que se move ultrarrápido por estar em primeiro plano.

Nitidez: a eliminação do efeito de blur (na verdade não é bem blur, é uma coisa chamada metacomposição, mas vamos que vamos) também mantém o detalhe de objetos em movimento, o que em tese é bom. O problema é que seu cérebro sabe que, se algo se movimenta muito rápido, não dá pra ver direito. Como você está vendo direito, seu cérebro conclui que o “algo” não está se movendo rápido, mas você olha pra cena e pensa: “mas claro que está se movendo rápido porque é a porra de um wharg!”. Essa confusão é uma questão de hábito e normalmente passa depois de uma meia hora de filme.

Realismo: Em alguns momentos, o ambiente parece bastante real, o que mata o filme, pois dá pra perceber a maquiagem dos atores e que o cenário é falso. Acho que tentar alcançar um super-realismo em um filme de fantasia não é a melhor ideia do mundo...

Alta definição: quando funciona, os 48 fps aumentam em muito o potencial do HD, principalmente ressaltando as texturas e os diferentes elementos de cena, produzindo imagens belíssimas.

CGI: em raras vezes, o efeito acima destaca o CGI do cenário real e mata um pouco o efeito. Ora, em algumas vezes, ele até destaca demais elemento reais que ficam parecendo efeitos quando não são. Mas a verdade é que, na maioria dos casos, o CGI ganha bastante e fica claro que a tecnologia dos 48 fps é o futuro dos filmes de animação.

Novidade: a tecnologia não é nova, isso é puro marketing. Várias produções diretas pra TV e a indústria pornô já utilizam câmeras digitais que são mais baratas e gravam em mais frames pro segundo. Por isso que o filme ás vezes fica com cara de novela e parece uma produção barata. O resultado final normalmente não é dos melhores, mas a expectativa em torno do Hobbit é de que o alto nível de produção, junto com o 3D, atraia mais pessoas para o cinema. Só não sei se ir pelo caminho de produções pornô mequetrefes é a solução...

Resumindo: não é nada demais, é questão de costume, vai ajudar o 3D e o CGI, mas o restante da indústria ainda precisa se adaptar (maquiagem, luz, etc.).
O Hobbit ficou meio cagadinho em algumas partes e eu achei o filme em 2D e 24 fps muito melhor e envolvente (o 48 fps toda hora me tirava do clima porque destacava algo que não parecia certo). Ilusão é produzida por coisas que a gente não vê. Se o ilusionista deixa você ver mais, a ilusão tem menos impacto.

Minha filha viu comigo as duas versões. Na versão 2D (que ela assistiu depois), ela se encolhia nas cenas de luta e segurava no meu braço. Na versão 3D e em 48 fps ela estava claramente mais distraída e relaxada - conversando, pedindo para ir ao banheiro, etc.

Como dizem os americanos: I rest my case.

Gandalf sempre sábio.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Visitando Gramado


Gramado é uma Orlando de terceiro mundo. Uma cidade voltada para o turismo, bem cuidada, com um comércio centralizado ao longo de uma ou duas vias principais que vive de sazonalidades e é cercada por atrações temáticas. Mas com algumas diferenças importantes:

1. O tema: Em Gramado o Mickey é substituído por Jesus, Papai Noel, o Coelho da Páscoa e dinossauros (não pergunte), não necessariamente nessa ordem. Fica no ar um questionamento ético, uma vez que explorar comercialmente a Sagrada Família não me parece muito certo, mas alguém pode argumentar, com certa propriedade, que é melhor valorizar a paz e a união que o Pato Donald e o consumismo desenfreado. Pense sobre o assunto e, se chagar a uma conclusão, parabéns.

2. Os hotéis: a maioria dos hotéis em gramado são pensões com um ar pitoresco, que pode muito bem servir de sinônimo para mal-conservado e empoeirado, mas, justiça seja feita, uma boa parte dessas pensões são realmente agradáveis com seu jeito simples, mas todas as hospedarias, sem exceção, da mais cara a mais barata, são caras demais pelo que oferecem. O custo/benefício é baixo.

3. A cidade: sempre muito bem decorada e limpa, Gramado tem a vantagem de possuir uma beleza natural em suas cercanias que Orlando nem sonha. Assim como em Orlando, é fácil andar em Gramado, mas o trânsito de Gramado é péssimo.

4. As atrações: Poucas coisas no planeta Terra podem competir com a Universal em termos de entretenimento e, obviamente, nada em Gramado chega perto disso. Mas os principais shows de natal da cidade rivalizam com os shows B da Disney (com algumas ressalvas importantes especialmente no quesito segurança) e Orlando não tem arquitetura colonial e nem a Serra Gaúcha.

As atrações de Gramado, no entanto, tem um charmezinho por conta de sua boa intenção, já que a maioria são esforços de uma família ou indivíduo. Mas o formato comercial é podre e a conservação pobre. O Mundo a Vapor é pra mim a única atração genuinamente interessante em toda a cidade. As outras coisas podem até divertir um pouco, mas são dispensáveis, especialmente porque são caras pra entrar (pelo que oferecem).

Destaque negativo vai para a aldeia do Papai Noel. Um espaço imenso cheio de boas ideias desperdiçadas.

O comércio: Gramado não só não tem outlet, como, pelo contrário, a cidade vive de explorar o turista. Tudo é muito caro e não se anda dez metros na cidade sem pagar 10 reais pra alguma coisa. É um sistema burro e cansativo. Mesmo que eu fosse milionário não voltaria à cidade, pois não gosto de me sentir explorado. A exceção é a comida que, apesar de cara, vele à pena. Como em todo lugar, quem procura vai achar coisas legais e espaços onde seu dinheiro é tratado de forma mais honesta, mas confesso que enchi o saco de gastar dinheiro na cidade. Eu até tinha dinheiro pra gastar, só não estava mais disposto a gastá-lo.

Achei os Papais Noéis de Gramado meio sem noção.
Conhecer Gramado e Canela foi ótimo. Canela, especialmente, é bem charmosa e Gramado pode ser legal, com sua boa comida e atrações que apelam pra emoção. Mas confesso que a coisa toda requer um pouco de boa vontade por parte do turista, o que é um pré-requisito fundamental pra uma boa viajem em qualquer circunstância, mas... Mesmo assim... Olha: valeu, mas não volto.

Bruna Surfistinha - O filme


Ô filme ruim da porra.

O troço é uma história filmada, não exatamente um filme. A edição é triste, a fotografia é pobre, os atores parecem meio perdidos, sem direção. Mas o pior é que o filme não tem timing, não tem clima nenhum.

O único apelo é a Debora Seco pelada fazendo umas sacanagens. Nada contra sacanagem e nada contra a Debora Seco pelada, mas é pouco.

É pouco porque o personagem da Raquel é interessante. Tive a oportunidade de conhecê-la pessoalmente – por conta da minha profissão, não da dela, e ela é uma pessoa bem vibrante com um ótimo astral, que a Debora não consegue alcançar no filme, que é muito deprê a maior parte do tempo.

Entendo que a ideia é mostrar que a vida dela não foi fácil e tal, mas você precisa alternar o tom senão as coisas ruins perdem o impacto. A não ser que seja um filme completamente “tô na merda” como Despedida em Las Vegas, o que não é o caso.

O livro é mais alto astral que o filme e tem o mesmo foco na sacanagem. Tem partes no livro que entregam toda a dificuldade que a menina passou, mas a coisa toda é mais equilibrada e o livro nem é lá essas coisas.

Sei que a Raquel gostou do resultado do filme, mas é preciso colocar as coisas em perspectiva aqui. Eu também acharia do caralho se a Debora Seco interpretasse minha biografia, mesmo que para isso ela tivesse que engordar uns 60 quilos e raspar a cabeça, mas não estamos falando de realização pessoal e sim de cinema.

Como cinema, Bruna Surfistinha é ruim demais. Como um marco na vida da ex garota de programa é a prova de que a Raquel transformou sua história de vida em sucesso.

Mas não assista, não, porque não vale nem pela curiosidade.

O poster do filme parecendo o Expresso para o Inferno...

... e a capa do livro. A diferença de tom é óbvia. Sensualidade primeiro, realidade depois. Foi assim que a mulher ficou famosa.