sexta-feira, 18 de abril de 2008

O Bode

Você conhece a história.

Um grupo de publicitários está reunido e o desespero e o caos se instalam na sala. Os deadlines estão chegando, as idéias não vêm, o computador deu pau (e era um Mac!) e nada parece dar certo. O que eles fazem?

Alguém põe um bode na sala.

Claro que a situação piora. Nada foi resolvido e agora eles ainda têm que lidar com o bode comendo os leiautes e fedendo horrivelmente.

Durante um tempo, as pessoas vão tentar se comportar como se o bode não estivesse lá. Ninguém falará do bode (pelo menos não na frente do bode), tentarão tratar o bode como um igual e até rirão das suas piadas. Mas uma hora o fedor vai ser maior que a boa vontade de todos.

A solução clássica para esse problema é tirar o bode, mas eu não concordo com ela.

Claro, isso causará um alívio imediato e, de repente, tudo parecerá bem de novo... Mas não vai estar. Seja lá o que foi que causou o caos inicial ainda estará entre eles. A solução de tirar o bode pressupõe que a culpa da incompetência momentânea do grupo é do bode quando, muito provavelmente, é de quem sugeriu botar o bode na sala.

Essa pessoa claramente não tem nenhuma competência administrativa, visão estratégica ou espírito de equipe. Mas o bode tira a atenção do grupo. De repente, o problema é o bode. É o bode expiatório – literalmente.

O ideal é se livrar de quem trouxe o bode, mas a questão é que, quem normalmente põe o bode na sala, é a única pessoa que pode fazer isso sem ser chamada de louca ou inconseqüente. É a única pessoa que tem o poder de entrar com um bode no prédio sem ser barrada na portaria: o chefe.

O bode não tem chance. E olha que ele tinha umas idéias ótimas!


 

Quebrando a Banca

O filme Quebrando a Banca é exatamente como o truque de contar as cartas de sua própria história: simples, mas poucas pessoas conseguem fazê-lo.

A primeira pista que você tem de que o filme vai ser no mínimo interessante é logo no travelling inicial da câmera, que começa como qualquer cena aérea de abertura de filme americano e termina num close do rosto do protagonista, sem cortes. Tudo isso enquanto o menino atravessa uma ponte de bicicleta e sem dar uma dica de que é um efeito especial.

A história é previsível e a trilha sonora é uma oportunidade perdida, mas Lawrence Fishbourne e Kevin Spacey nem precisam se esforçar para ficar bem em papéis que são a cara deles.

O menino que faz o geniozinho convence e sua namorada é um colírio para os olhos. E o filme é passado em Las Vegas!

Assista.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Terrorismo

— Se eu te contar uma coisa, cê promete que não vai me achar maluca?

— Prometo – respondeu o Tavinho, obviamente, mentindo.

— Eu sou louca com esse negócio de terrorista.

— Hã? Como assim?

— Terrorista. Aqueles caras irados que se explodem com o avião e tudo. Talibã, essas coisas.

— O que é terrorista eu sei. Mas não entendi essa sua confissão aí. Você gosta de terrorista? Acha legal o que eles fazem?

— Não tem nada a ver com ideologia deles. E nem com as mortes, detesto morte. Mas é com a coisa de ser terrorista, entende? Eu tenho uma coisa com terrorista. Essa piração toda das dez mil virgens e de treinar no videogame pra pilotar o avião e engolir a arma pra passar no raio-X.

— Engolir a arma? E quem é que engole arma, Malu?

— Não é uma uzi, né Otávio! Mas aquelas pequenininhas do 007 dá pra comer. Eles comem com gelatina que é pra proteger o estômago.

— Onde você viu isso, Malu?

— Ah, num programa desses aí. Eu vejo tudo de terrorista. Irã, Iraque, Arábia, Moscou, tudo. Não posso ver um figura de nariz grande e aquela cara de mau que já fico toda interessada.

— Que é isso, Malu?

— Inclusive, tenho que admitir: só me liguei em você porque você tem uma cara de homem-bomba...

— Eu?

— Véio, eu morro de tesão por homem-bomba. É uma coisa na palavra, sei lá. Ho-mem-bom-ba. Olha, fiquei toda arrepiada.

— Homem-bomba?

— Ai! Fala de novo...

— Falar o quê? Homem-bomba?

— Isso. Vem me fazer explodir, meu homem-bomba, vem. Vem...

— Malu, não to muito no clima. Esse tema é muito barra pesada...

— Eu já não vesti de enfermeira pra você?

— Já, mas não é a mesma coisa...

— Otávio, você pára de frescura. Vem você e o seu nariz pra cama agora, senão eu ponho fogo na sua coleção da Playboy!

— Pô, Malu, que terrorismo é esse?

— Ai, Tavinho... Assim você me deixa louca!


 


 

Distrações 2

E tem aquela história da Mônica e do Agamenon que trocaram celulares. A Mônica esqueceu e, no dia seguinte, resolveu passar uma mensagem de texto romântica ao marido.
Digitou o texto e enviou pela internet. O telefone em sua bolsa tocou e ela, distraída, pensou: “nossa, como sou desligada! Mandei a mensagem para mim mesma! Vou enviar novamente”.
É claro que o telefone tocou mais uma vez e ela foi ficando cada vez mais intrigada, pois, dessa vez, tinha certeza de que havia mandado a mensagem para o número certo. Ligou para o marido para contar do acontecido e ele, gentilmente, a lembrou de que eles haviam trocado de celular. Ela, embaraçada, desligou e não pensou mais no assunto.
Alguns dias depois, celulares destrocados, foi mexer por acaso no celular do marido e se espantou! Viu lá uma mensagem toda romântica. Quem seria a sirigaita que estava mandando essas mensagens para o seu marido? E duas vezes!
Quase deu divórcio.

Distrações

Se houvesse um campeonato mundial de gente distraída, acho que me sairia bem na modalidade “onde diabos está a chave do carro?”. Mas sei que jamais chegaria à final, pois tem gente que é profissional.
Juliana, por exemplo, foi ao Supermercado com o carro do marido. Fez as compras e, na saída, não conseguiu encontrar seu carro. E não conseguiria nunca, já que havia ido com o carro do marido. Mas ela se distraiu e esqueceu.
Chamou a segurança do supermercado e ficou horrorizada quando soube que a instituição não se responsabilizava por carros roubados no estacionamento. “Mas vocês não têm câmeras?”. Eles não tinham.
Uma pequena multidão se juntou ao lado de Juliana, para apoiar moralmente a moça que teve o carro “roubado”.
— Pra você ver como são as coisas... Hoje em dia não temos segurança em lugar nenhum – disse um.
— Minha filha, abra um processo contra o supermercado que você ganha – disse outro.
E, claro, chamaram a polícia, que pediu modelo e a placa do carro. O policial convidou Juliana a ir até a delegacia, para fazer a ocorrência. Mas aí aconteceu o seguinte: prenderam o ladrão do carro!
O marido de Juliana, que estava com o carro dela, passava justamente por uma blitz no momento em que o comunicado do roubo foi feito pelo rádio. E, nesse instante, Juliana pressionou nervosamente o botão do alarme do carro e o veículo apitou, a uns trinta metros de distância.
Juliana caiu em si, explicou a situação e guardou as compras do carro, sob o olhar de censura de todos. A aglomeração, agora, se ocupava de falar mal da Juliana. E o caso quase deu divórcio.

Os personagens da crônica acima são mais ou menos reais e qualquer semelhança com a realidade é pura indiscrição da minha parte.