Muita gente não sabe disso, mas a ideia de fazer um filme
com os seus principais heróis foi primeiro da DC. Em uma Comic-con há alguns
anos atrás, o pessoal da DC anunciou a intenção e a possibilidade sobre um
filme da Liga da Justiça e a Marvel decidiu: vamos fazer primeiro!
Mas por que o projeto da Marvel deu certo e o da DC ainda
está patinando no gelo?
Motivo 1: Ação! A Marvel se moveu muito mais rapidamente.
Aprovou roteiros logo de cara, acertou no casting de primeira, contratou com
mais agilidade, produziu de forma mais eficiente. Só com o Super-Homem, a DC
ficou patinando anos, sem definir diretor, sambando em torno de 4 roteiros
diferentes (um do Kevin Smith. Google Kevin Smith Superman e divirta-se) e sugerindo atores nada a ver como o Nicholas
Cage para o papel principal. Adoro o Cage, mas como Super-Homem nem pensar.
Motivo 2: Fundação. Com o premiado trabalho de Mark Millar e
Straczinsky em Marvel Millenium, a Marvel já tinha de onde tirar inspiração
para uma perfeita conversão dos seus heróis para os dias atuais. O perfil dos
personagens, o design dos uniformes, a maneira como eles interagem com o mundo
e entre si e até diálogos e cenas inteiras foram chupados do excelente
quadrinho.
A DC não tinha nada parecido. Só agora com o New 52 que
alguma coisa aconteceu nesse sentido. Mas, mesmo assim, embora a nova Liga da
Justiça tenha começado muito bem, o trabalho ainda é muito inferior ao roteiro
de Millar para The Ultimates.
Motivo 3: Padrão. O Cavaleiro das Trevas do Nolan é um bom
filme e a sequência é ainda melhor, mas o clima dos filmes não tem nada a ver
com o quase infantil Superman e a ficção científica B de Lanterna Verde – esses
filmes não parecem pertencer a um mesmo universo. Os filmes da Marvel são
diferentes entre si, mas têm um padrão – e personagens em comum – que os torna
facilmente reconhecíveis. Esse padrão existe até mesmo nos filmes de X-men e
Homem-Aranha, tornando perfeitamente possível um cross-over entre essas
franquias.
A DC não soube estabelecer um padrão para seus filmes e, com
isso, até os filmes bons, como os do Batman, atrapalham o projeto.
Motivo 4: Casting. Ok, o fato de existir um Robert Downey Jr
– um ator de altíssima categoria que não só gosta de quadrinhos, como é o
próprio Tony Stark na vida real - foi sorte, mas o resto é competência. Os
caras escolheram tudo certo – dos atores principais aos atores secundários (que
inclui gente do porte de Natalie Portman e Gwineth Paltrow). Tiveram o cuidado
de incluir a Maria Hill no filme – sem a menor necessidade – mas com absoluta
competência. Tá certo, penaram com o Hulk, mas, na hora que mais importava,
Mark Ruffalo mandou muitíssimo bem.
A DC acertou com o Christian Bale.
Motivo 5: Direção. A DC escolheu ótimos diretores para seus
filmes, mas nenhum deles é um team player. Se você vai fazer um projeto no qual
vários filmes vão virar um só no final, o diretor precisa entender que alguma
coisa precisa ser sacrificada para que o tom e o universo dos filmes seja
coerente. Além disso, escalar o Keneth Branagh, o cara que mais entende de
Shakespeare em Hollywood pra dar naturalidade ao jeito esquisito de falar dos
asgardianos foi um golpe de gênio. Os diretores da Marvel entenderam que precisavam
fazer um filme de Super-Herói. O Batman de Nolan é um pouco realista demais e,
embora isso traga bons resultados como um filme individual, descaracteriza o
projeto, como já mencionei.
Motivo 6: lastro financeiro e experiência. A Marvel já
estava com a bola rolando com vários sucessos no bolso como Homem-Aranha e
X-Men (apesar dos filmes pertencerem a estúdios diferentes). Foi mais fácil financiar suas idéias e realizar produções de ponta. A DC
vinha de uma série do Batman que até teve sucesso, mas se perdeu no final. Em
todo caso, O Batman ainda tinha crédito no caixa, mas personagens menos
conhecidos como o Lanterna Verde e a Mulher-Maravilha demoraram pra engrenar (a
Mulher-Maravilha nem engrenou ainda. E eu gostaria de ver a cara do executivo
que recusou o roteiro do Joss Whedon para a personagem).
Além disso, a Marvel acertou na mão nos seus
efeitos especiais de luta e vôo e optou pelo caminho já trilhado, fazendo
melhorias incrementais a cada filme. A DC quis fazer algo diferente e gastou
muito com experimentação, queimando orçamento onde não devia e, pior, obtendo
resultados péssimos.
Motivo 7: Diversão. Enquanto os filmes da DC eram cheios de
idas e vindas e repletos de histórias sobre complicações no set de filmagem, os
sets da Marvel são cheios de histórias engraçadas e boa sintonia entre atores,
diretores e equipe. Das sempre divertidas homenagens a Stan Lee às piadinhas
sobre os personagens dadas em entrevistas. No próprio filme, os atores e
diretores acertaram o timing conseguindo levar o filme a sério o suficiente,
mas sem perder a piada quando surge a oportunidade por causa de um clichê ou
situação absurda.
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Maria Hill nos quadrinhos... |
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... E Cobie Smulders, Maria Hill no filme - casting correto (do qual eu gostaria de ter participado). |
A Marvel não é infalível, claro. Motoqueiro Fantasma é um
exemplo. E o reboot do Homem-Aranha parece que está indo na direção contrária
do que o estúdio aprendeu com Os Vingadores, mas depois de juntar cinco filmes
em um sexto de alta qualidade, os caras estão com muito, mas muito crédito
mesmo.