Existem Milhares de razões pra não se gostar de futebol. Das
mais imbecis (não se marcam muitos pontos) às mais dolorosamente verdadeiras:
futebol é o esporte coletivo menos técnico que existe.
Embora o futebol tenha jogada ensaiada, posicionamento,
treinamento e preparação física, em qualquer outro esporte (vôlei, handebol,
basquete), tudo isso é mais importante, mais evidente e tem muito mais impacto
no resultado final.
Futebol é o único esporte no qual o pior em campo pode ganhar.
Não o pior historicamente ou estatisticamente, mas efetivamente quem está
jogando pior na partida! O time vai lá faz um gol meio que na cagada (o cara
quis cruzar e a bola entrou) e aí vão os onze pra defesa e o goleiro pega tudo,
a bola bate na trave, o juiz é ruim, etc. Embora isso faça até um pouco parte
da emoção do futebol, não dá pra negar que é muitas vezes injusto.
É o esporte que menos se modernizou ao longo do tempo, é o
que tem a pior arbitragem, a torcida mais violenta e é o que tem mais ladrão. E
ainda assim, é o mais popular por aqui e o que movimenta mais dinheiro.
A explicação pra isso é até relativamente simples: tradição
e acesso. A gente cresce assistindo a esse troço desde criança e dá pra jogar
futebol em quase qualquer lugar, com quase todo tipo de coisa remotamente
esférica. A bola não precisa quicar direito (como no handebol) e não precisa
ter um peso razoável (como no vôlei).
Mas com todas essas críticas eu sempre gostei de futebol. De
jogar e de assistir. Porém, ao acompanhar o Brasil nessas Olimpíadas (no
futebol e nos outros esportes), o meu interesse por esse esporte, que já vinha
minguando, murchou praticamente de vez.
E a explicação pra isso também é desgraçadamente simples: o
futebol do Brasil, hoje em dia, não inspira nada. Não evoca patriotismo, garra,
competência, dedicação, nada disso. Os moleques de periferia que jogam e
treinam futebol como loucos, fazem isso pra ganhar dinheiro e pegar mulher. A
paixão pelo esporte, quando existe, vem em segundo plano.
O futebol movimenta dinheiro demais. Os jogadores bons têm
dinheiro muito antes de ter caráter, personalidade e maturidade. Os níveis mais
altos de organização do esporte são panelinhas e portas giratórias, aonde as
mesmas pessoas seguem dividindo o mesmo bolo, que só fica maior.
Eu assisti aos jogos de vôlei da seleção feminina nas
olimpíadas com minha filha de nove anos, a Bia e, quando a Fernanda Garai fez o
ponto final, abocanhando a medalha de ouro, ela pulou e comemorou e, depois de
algum tempo, me disse:
- Poxa, pai. Agora eu
entendi porque você sempre me fala que é muito importante a gente lutar pelo
que acredita.
Inspiração.
Na hora do hino ela ficou em pé e cantou o hino nacional (da
melhor forma que ela pôde).
Patriotismo.
Sabe quando o futebol vai atingir esse nível? Acho que
nunca.
E só pode ser o dinheiro. Não pode ser a origem humilde,
pois cansei de ver corredores brasileiros que treinaram sem patrocinador e em
condições horríveis abraçados com a bandeira e dizendo que tem orgulho de
representar o Brasil.
Claro, vários jogadores também já fizeram isso, mas
nenhum é tão convincente. O último jogador de futebol que vi gritar de raiva,
emoção e garra como a Thaísa foi o Maradonna, naquele jogo que ele tinha
cheirado todas e foi expulso da competição.
Veja bem, não estou dizendo que todo jogador é mercenário,
mas o que estou falando é que o que no vôlei é regra, no futebol é exceção.
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Thaísa - garra e inspiração. E bem melhor de olhar que o Neimar. |