Há algum tempo atrás saíram dois filmes que fracassaram na
bilheteria e que alguns críticos disseram que, na verdade, foi o público que
não entendeu a mensagem, que os filmes eram muito inteligentes e as massas não
conseguiram absorvê-los.
Um deles foi Sucker Punch, que eu considero um filme
razoável. Sim, mais inteligente que a maioria dos filmes de ação, mas nada
demais. Uma autocrítica da cultura nerd machista e fetichista, com bons efeitos
especiais.
O outro filme era Scott Pilgrim Vs the World.
Como não achei Sucker Punch nenhuma maravilha, esfriei pra
ver Scott Pilgrim, até porque já tinha lido o quadrinho e também não achava ele
lá essas coisas. O quadrinho é simpático, mas nada brilhante.
Mas ontem tive a oportunidade de ver Scott Pilgrim e posso
dizer sem sombra de dúvida que o filme é genial. E, sim, nem todo mundo vai
entender e mesmo quem entender tem grandes chances de não gostar.
Em primeiro lugar, o filme é ousado: ele conta uma história
sem se preocupar em direcionar o filme para um público específico. Ele tem uma
linguagem adolescente, os protagonistas são jovens na faixa dos vinte, as
referências culturais são da década de oitenta, o pano de fundo é nerd, a trama
central é um romance, a estrutura narrativa é a metáfora misturada com realismo
fantástico e, esteticamente, o melhor do filme são as cenas de luta.
A única coisa que pode chegar perto da alucinação estética
do filme é o novo Cloud Atlas, dos irmãos Seiquelovski (os caras do Matrix). Mas
Cloud Atlas tem o Tom Hanks, os caras do Matrix, milhões de dólares e
provavlemente se leva a sério. Scott Pilgrim é um filme besta e não tem nenhuma
pretensão além disso: ser um filme besta narrado de uma forma diferente,
criativa e divertida.
Prevejo que Scott Pilgrim será um eterno sucesso underground
entre os jovens nerds de ambos os sexos e meninas e mulheres descoladas, que
vão adorar a subjetividade e complexidade dos personagens femininos. Além, é
claro, de também encantar adultos que têm uma queda por uma mistura criativa
que dá certo, por mais maluca que seja.
Ao ver Scott Pilgrim não pude deixar de ver as semelhanças
com a tal saga do crepúsculo (que escrevo com letra minúscula pra evitar
qualquer sinal de respeito da minha parte). Ambos tratam de um jovem triângulo
amoroso com elementos fantásticos. Mas enquanto os personagens de crepúsculo
são ridículos sem intenção, Scott Pilgrim abraça o ridículo e o transforma em
metáforas incrivelmente realistas, de forma bem-humorada e inteligente.
Enquanto crepúsculo é só bobo, Scott Pilgrim é bobo e
brilhante, o que faz toda a diferença.
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Pilgrim, Ramona e, ao fundo, a Liga dos Ex-namorados do Mal |