quinta-feira, 11 de maio de 2006

Sexy beast

Por uma vez na vida tive a felicidade de ter um computador de última geração, uma máquina mais avançada que a mais avançada das tecnologias, como já disse Caetano. É a sensação mais próxima do tesão que já conheci. Sem dúvida, um dos maiores prazeres da vida, além do sexo, é o da conquista. Conquistar dinheiro, fama, um objeto.
Notem que não falo sobre os prazeres sublimes, que elevam nosso espírito e purificam nossa alma (ter filhos, plantar árvores, escrever livros, etc.). Falo do prazer pecaminoso que alimenta o egoísmo e a vaidade.
Cada um tem sua droga. A minha é a tecnologia. Videogames, computadores, som, essas coisas. Por isso, no meu caso, ter um supercomputador é algo verdadeiramente luxuriante.
Eu instalava no computador os mais avançados jogos e softwares, com todas as opões que sobrecarregavam a máquina ligadas ao máximo e ela, como uma verdadeira vilã de novela mexicana, jogava os cabelos para trás e emitia uma sonora gargalhada.
— Mais! – Ela pedia. – É só isso que você pode fazer? Mais! Maaaaais! Ha, ha, ha, ha, ha!
Programas rodando ao mesmo tempo, gráficos maravilhosos, tudo se movendo em 60 frames por segundo ou mais. Um computador médio já teria se incendiado ou apelado para a tela azul da morte, mas não o meu.
Porém, o tempo passou.
Na semana passada, instalei um jogo chamado Oblivion em meu computador. Trata-se de um RPG avançadíssimo, com gráficos, física e inteligência artificial ultrasofisticados. Como sempre faço, coloquei todas as opções do jogo no máximo. Anti-aliasing, anisotropic filtering, volumetric shadows, view distance, complex physics, blur, high definition textures, o caralho. O jogo nem carregou.
OK, nada de pânico. Falhar uma vez é normal, pode acontecer com qualquer um. O estresse do dia-a-dia, uma noite mal-dormida. Pode desabafar, vamos conversar a respeito. Baixei a resolução e desativei os programas que estavam rodando no plano de fundo. O jogo rodou, mas tudo se movimentava em câmara lenta. Diminuí a qualidade das texturas, baixei ainda mais a resolução e desativei mais alguns efeitos especiais. O resultado? Insatisfatório. Meu computador estava tornando-se obsoleto diante de meus próprios olhos e não havia nada que eu pudesse fazer.
Oblivion fez minha máquina ficar de joelhos, pedir água e chorar feito mulherzinha. Vi um lado do meu computador que eu não conhecia. É triste vê-lo frágil e impotente.
Ele ainda devora outros softwares com facilidade, mas já não ri mais na cara deles, está mais humilde, já não me olha mais nos olhos, nossa relação se deteriorou. É uma questão de tempo agora, já iniciei os planos para trocá-lo.
Ai, ai. A vida é dura.

2 comentários:

  1. Tudo bem... Mas o que "sexy beast" tem a ver com isso? MDR

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  2. É o meu computador. Ele era sexy e animal. Agora é um pobre coitado.

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