quarta-feira, 23 de novembro de 2005

O Longo Adeus

Estou adorando o fato de ter muito trabalho e estar estressado. É que acabo perdendo o sono e, durante as madrugadas, tenho encontrado tempo para ler alguns clássicos que andavam acumulando pó na estante.
O primeiro a cair durante esse período insone foi, apropriadamente, As Mil e Uma Noites. Mas o meu preferido foi, sem dúvida, O Longo Adeus, de Raymond Chandler.
O personagem Philip Marlowe, detetive cínico, cético e inconveniente combina com um leitor noturno, como eu. Comparado com o ambiente sórdido e deprimente do livro, nossos próprios problemas tendem a esvanecer.
E não é só isso. O bom-humor cínico do detetive é um ótimo conselheiro. Depois de ajudar na fuga de um suposto assassino, ser preso e apanhar da polícia, Marlowe se aborrece porque o cigarro acabou. O mundo está ruindo ao seu redor. Tudo bem. Mas ficar sem cigarros? É de deixar qualquer um louco.
Marlowe está certo. São as pequenas coisas que verdadeiramente nos aborrecem. O ser humano, de alguma forma, está preparado para os grandes dramas – parece que encontramos força na adversidade. Mas é quando o prédio fica sem água ou quando topamos com o dedão no pé da mesa que o desespero se insinua, esse oportunista. É a gota d’água que nos enlouquece, é o detalhe que nos atormenta.
Mas eu gostei mesmo do livro porque achei engraçado. Diverti-me a valer. Ficou clara para mim a inspiração do Veríssimo na criação do Edh Mort. Já botei na minha lista que preciso ler algo do Dashiell Hammet. Mas só depois de ler A Cobra Teresa e a Fadinha Triste. É que minha filha anda adoentada e de vez em quando acorda no meio da noite, me acompanhando nestes saraus noturnos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário