quinta-feira, 19 de abril de 2007

Volta

O Valdinei estava concentrado no computador do trabalho vendo o e-mail de mulher pelada que o Santos da contabilidade tinha mandado, quando se deu conta que tinha alguém parado atrás dele.
— Oi, Valdinho – disse uma voz grave de barítono.
Valdinho? Não podia ser o chefe. O chefe jamais o chamaria de Valdinho. Ao se virar, deparou-se com um homem de trinta e poucos anos, barrigudinho, de colã roxo bem grudado no corpo, capa amarela e máscara de Zorro. Ah, e bigode.
— Quem é você? – Perguntou o Valdinei, fechando o arquivo rapidamente.
— Como, quem sou eu, Valdinho? Vai dizer que não se lembra? Que é isso?
Valdinei olhou em volta, mas seus colegas de trabalho pareciam alheios àquela versão do Capitão Gay.
— Meu senhor, tenho certeza de que não nos conhecemos...
— Que é isso, Valdinho? Sou eu, o Sargento Brasinha. Eu voltei!
Brasinha... Brasinha... Caiu a ficha!
— Brasinha! O Sargento Brasinha que era meu amigo imaginário quando eu tinha cinco anos!
— Isso mesmo, Valdinho! Eu e você, juntos, derrotamos as criaturas das fossas abissais – que, na verdade, eram o gato e o periquito da Dona Elvira.
— Mas você está diferente...
— Claro que estou, Valdinho. O tempo passa para todos, até para os amigos imaginários. Tive uns problemas aí, andei um tempo com uma turma meio barra pesada... mas o importante é que eu voltei, Valdinho! Voltei para você!
O Valdinei olhou em volta para ter certeza de que só ele era mesmo capaz de ver o Sargento Brasinha. Se o Onofre presenciasse aquele adulto de colã fazendo uma declaração daquelas, não iria mais ter paz...
— Olha, Brasa...
— Brasinha! Pra você serei sempre o Brasinha.
— Olha, Brasinha... Não leve a mal... mas não dá para gente continuar se vendo...
— Como assim? Olha, escrevi em um caderno todas as missões que ainda não completamos... Ainda não visitamos a Dimensão 5, que é o armário da Dona Elvira...
— A Dona Elvira já morreu, Brasinha.
— Mas...
— Brasinha, não me procure mais – ou vou ter que acionar meu advogado.
— Mas eu voltei...
— Tarde demais, Brasinha, tarde demais.

O Ninguém Perguntou também está de volta. Espero que vocês ainda se lembrem de mim - e que não seja tarde demais.

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