terça-feira, 10 de outubro de 2006

Política

Normalmente não falo sobre política aqui no site por dois motivos. Primeiro, porque política é coisa séria, coisa que o site não é. E, segundo, porque trabalho para o governo. E aí não é medo de ser demitido ou nenhum conflito ético mais complicado. Estamos em uma democracia e, contanto que eu não revele aqui nenhuma informação privilegiada, me sinto bem à vontade para falar bem ou mal de qualquer um. O problema é ser trabalho – escrevo isso aqui para me divertir e, na medida do possível, divertir os outros. O Ninguém Perguntou não é uma extensão natural das minhas mesquinharias cotidianas.
Mas pensei em abrir uma exceção. Eleições presidenciais, segundo turno, sabe como é. Todo mundo só fala nisso, ninguém iria me acusar de nada se o assunto aparecesse por aqui também.
Cheguei a ensaiar uns discursos e mandei uns e-mails, dizendo que eleição não é comparação – é escolha responsável, dizendo que tem muita gente votando hoje com o que sobrou da ideologia da eleição passada, dizendo que não consigo comprar o argumento de que “todo mundo rouba”, dizendo que os ideais são mais frágeis que as ideologias, enfim, dizendo que a situação tá feia.
Mas esse é o tipo de coisa que dá trabalho escrever, pois sua argumentação tem que ser muito extensa e completa. Ninguém vai simplesmente ler e refletir sobre o que foi proposto. Nada disso! Vão querer contra-argumentar, exigir retratações, balançarão a cabeça em aprovação e em desaprovação, relerão o texto procurando incongruências e, no fim, ninguém vai mudar de idéia.
Não falarei, portanto, da minha preferência pessoal (que não é tão óbvia quanto o texto dá a entender), mas como já cheguei até aqui, vou concluir o raciocínio de uma forma mais geral.
O destino da eleição está nas mãos da imprensa – e do atual presidente. Se conseguirem provar o envolvimento direto do Lula em alguma coisa ou se o Lula escorregar em algum pronunciamento, os indecisos podem resolver tomar uma decisão. Ao concorrente, Alkmin, resta sair de perto, tapar os ouvidos e torcer para a bomba explodir.
Esta eleição (e muitas outras) poderia ser diferente se os jornais tivessem dado mais espaço para as realizações deste governo e os planos dos candidatos para o próximo, mas, como sempre, ficamos acompanhando pela televisão a corrida de cavalos, vendo pelas pesquisas quem está na frente, quem ganhou o debate, quem tem, finalmente, a proverbial cabeça de vantagem, com muito barulho e pouca argumentação. Do jeito que é, em vez de conversarmos calmamente sobre o assunto, ficamos gritando das arquibancadas. Uns torcendo para o seu cavalo preferido e outros só querendo que a corrida acabe, seja lá qual for o resultado.
Se bem que eu acho que uma reflexão inteligente e ponderada sobre tudo o que está aí podia era dar o maior índice de votos em branco da história.

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