Toshi Ito era uma pessoa sensível, poeta, amante das artes. Por força das circunstâncias, acabou parando na carreira errada: piloto kamikaze. O mundo estava destinado a jamais conhecer a poesia de Ito, pois ele morreria dentro de uma semana, sem nunca ter publicado nada.
Meio a contragosto, Ito aceitou seu destino e preparou-se para a morte. Era seu trabalho. O dinheiro garantia comida para a família e era uma maneira honrada de viver, mesmo que tivesse de morrer por isso. No fim, concluiu, não era tão ruim saber a data da própria morte. Pôde organizar tudo, botar as contas em dia e manter a correspondência atualizada. Estava pronto, podia morrer em paz.
Mas aconteceu o seguinte: os Estados Unidos soltaram as bombas e a guerra acabou e, com ela, a demanda para a especialidade de Ito. O pobre japonês viu-se, de uma hora para outra, sem mercado de trabalho.
Não era um bom piloto tradicional – suas aterrissagens eram péssimas, os trancos incomodavam os passageiros e danificavam o equipamento. Tinha treinado para trombar com as coisas e não para pousar delicadamente. Mas o pior não era isso. O pior era estar preparado para a morte e não morrer.
Ito não tinha planos para o final de semana. Não só para o próximo final de semana, mas para nenhum final de semana seguinte. Não tinha namorada e havia perdido o contato com seus amigos. Não tinha nem ânimo e nem disposição para freqüentar bares e festas. A vida, subitamente, parecia insossa e inapropriada. Passava por dificuldades financeiras, pois seu soldo havia sido reduzido e não tinha economias.
Chegou a pensar em se matar, mas era uma saída pouco honrada e Ito valorizava a honra. Foi por causa da honra que decidiu seguir a carreira improvável na aeronáutica. Se em vez de honra tivesse bom senso ou ambição pessoal, quem sabe um pouco de sorte... Mas, não. Tinha era honra, muita honra. E mais nada.
Voltou a escrever. Pouca coisa alimenta tanto a alma do poeta quanto a depressão. Obrigou-se a sair de casa e conhecer pessoas. Bebeu, drogou-se e experimentou um pouco de tudo no sexo. Acalmou-se, entrou para a Yoga, batalhou para ver seus poemas publicados e, um dia, distraído, voltou a sorrir. Morreu neste mesmo dia, à noite, em um acidente automobilístico, sem nem mesmo saber porque havia sorrido pela manhã.
Durante toda a sua vida, Ito teve dificuldades em conciliar o que se passava dentro de si mesmo com o que se passava no mudo à sua volta. Morreu de forma anônima e incômoda, como só os verdadeiros heróis morrem. Foi um exemplo de como o destino pode ser cruel ou aleatório e a prova de que qualquer uma das duas coisas é deveras perturbadora.
Existe um Toshi Ito dentro de cada um de nós. Um pedaço da gente que não está satisfeito com as coisas como estão, mas que também não vê alternativa para a mudança. Uma parte que aceita a morte, mas não a compreende e não sabe lidar com ela na prática. Fica, portanto, a lição, que deve ser interpretada de forma ampla e livre: mesmo para um piloto kamikaze é importante aprender a pousar suavemente.
Meio a contragosto, Ito aceitou seu destino e preparou-se para a morte. Era seu trabalho. O dinheiro garantia comida para a família e era uma maneira honrada de viver, mesmo que tivesse de morrer por isso. No fim, concluiu, não era tão ruim saber a data da própria morte. Pôde organizar tudo, botar as contas em dia e manter a correspondência atualizada. Estava pronto, podia morrer em paz.
Mas aconteceu o seguinte: os Estados Unidos soltaram as bombas e a guerra acabou e, com ela, a demanda para a especialidade de Ito. O pobre japonês viu-se, de uma hora para outra, sem mercado de trabalho.
Não era um bom piloto tradicional – suas aterrissagens eram péssimas, os trancos incomodavam os passageiros e danificavam o equipamento. Tinha treinado para trombar com as coisas e não para pousar delicadamente. Mas o pior não era isso. O pior era estar preparado para a morte e não morrer.
Ito não tinha planos para o final de semana. Não só para o próximo final de semana, mas para nenhum final de semana seguinte. Não tinha namorada e havia perdido o contato com seus amigos. Não tinha nem ânimo e nem disposição para freqüentar bares e festas. A vida, subitamente, parecia insossa e inapropriada. Passava por dificuldades financeiras, pois seu soldo havia sido reduzido e não tinha economias.
Chegou a pensar em se matar, mas era uma saída pouco honrada e Ito valorizava a honra. Foi por causa da honra que decidiu seguir a carreira improvável na aeronáutica. Se em vez de honra tivesse bom senso ou ambição pessoal, quem sabe um pouco de sorte... Mas, não. Tinha era honra, muita honra. E mais nada.
Voltou a escrever. Pouca coisa alimenta tanto a alma do poeta quanto a depressão. Obrigou-se a sair de casa e conhecer pessoas. Bebeu, drogou-se e experimentou um pouco de tudo no sexo. Acalmou-se, entrou para a Yoga, batalhou para ver seus poemas publicados e, um dia, distraído, voltou a sorrir. Morreu neste mesmo dia, à noite, em um acidente automobilístico, sem nem mesmo saber porque havia sorrido pela manhã.
Durante toda a sua vida, Ito teve dificuldades em conciliar o que se passava dentro de si mesmo com o que se passava no mudo à sua volta. Morreu de forma anônima e incômoda, como só os verdadeiros heróis morrem. Foi um exemplo de como o destino pode ser cruel ou aleatório e a prova de que qualquer uma das duas coisas é deveras perturbadora.
Existe um Toshi Ito dentro de cada um de nós. Um pedaço da gente que não está satisfeito com as coisas como estão, mas que também não vê alternativa para a mudança. Uma parte que aceita a morte, mas não a compreende e não sabe lidar com ela na prática. Fica, portanto, a lição, que deve ser interpretada de forma ampla e livre: mesmo para um piloto kamikaze é importante aprender a pousar suavemente.
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