O Ninguém Perguntou de hoje é dedicado a um amigo específico e à amizade em geral. Que a fonte nunca se seque.O apelido do cara é Bode. Está mais perto dos quarenta que dos quinze e ainda fala “véio" (ou véi). Tem uma fixação quase obsessiva com Guerra nas Estrelas – ou com as espadas dos Jedi, ainda não entendi direito. E ainda assim vai casar no próximo final de semana. O amor é mesmo para todos.Conheço o Bruno desde a época que ele falava “véi” e era obcecado por Guerra nas Estrelas... Hmm... É melhor reformular: ele é que é o bom nas contas, mas, se não me falha a memória, conheço-o há pelo menos uns quinze anos. Provavelmente mais que isso, mas aí já é assumir a própria velhice. Quinze anos tá bom.O importante é que o cara vai casar no próximo sábado. Já fizemos a despedia de solteiro (evento do qual quanto menos se falar, melhor), mas este não é o verdadeiro ritual de despedida. Trata-se apenas de uma tática diversionária, um truque com luzes e espelhos. Enquanto todos os olhos estão voltados para a despedida de solteiro, a verdadeira cerimônia de despedida acontece em outro tempo e local. É a Última Ceia – o almoço com os amigos no dia do casamento. Fui o primeiro do grupo a casar, e, conseqüentemente, o fundador da tradição da Última Ceia que, para nós, é um ritual quase tão importante quanto o evento cristão. Com algumas diferenças:1. Não tem lugar para Judas. Mas se alguém quiser me oferecer trinta dinheiros, podemos conversar.2. Nunca ninguém foi preso. Podemos atribuir isso mais à ineficiência da polícia brasileira que à inocência do grupo. Se fosse no Império Romano, não sei não. 3. Pão eu não posso garantir, mas, vinho, tenho certeza que nunca ninguém bebeu. E ainda bem. Se o resultado final da ceia fosse o noivo comparecer bêbado à cerimônia, a tradição não teria durado tanto.4. Ninguém usa toga. Teve uma vez que um da galera foi vestido de caubói, mas não vou citar nomes, a não ser que alguém me ofereça trinta dinheiros.5. Não tem mulher pelada. Se bem que, até onde sei, na Santa Ceia também não teve. Bom, por via das dúvidas, vou deixar esse item aí.Mas uma coisa, sem qualquer sombra de dúvida, o nosso ritual tem em comum com a celebração cristã: é sagrado. Vejo todos vocês no sábado.
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