Um rei, vendo-se assoberbado e confuso com as inúmeras decisões que seus súditos exigiam dele diariamente, decidiu que precisava de um conselheiro.
Como iria dividir suas angústias pessoais a respeito de sua liderança, o rei sabia que este conselheiro não poderia ser qualquer um. Então, imaginou se não poderia consultar-se com sua própria sombra.
Companheira de todas as horas, sua sombra era discreta e eficiente, crescendo ou diminuindo, dependendo da situação. Mas o rei optou por não promover a sombra ao status de conselheira, pois ela o conhecia bem demais e ele tinha medo de que as críticas pudessem ser muito duras e difíceis de suportar.
Pensou, então, no seu próprio reflexo. Também era alguém próximo e familiar, mas tinha um distanciamento maior. Convidou o reflexo, que aceitou prontamente o cargo. Os problemas, é claro, não demoraram a aparecer.
O Rei havia esquecido que, diferente da sombra, o reflexo não era parte dele. O reflexo tinha sua aparência, mas era, na verdade, seu oposto. O Rei e o reflexo não concordavam em nada e o que um mandava fazer, o outro desmandava.
Os súditos tinham muita dificuldade em saber quem era o reflexo e quem era o rei. O reflexo era canhoto, mas quem presta atenção em detalhes?
O reino se dividiu, os exércitos do rei e do reflexo entraram em guerra e, ao final de muita disputa e muito sangue derramado, tudo que sobrou daquele reino tão belo e tão promissor foi esta história.
E, pouco antes de seu último suspiro, o rei finalmente entendeu que quem não confia nem na própria sombra também não pode confiar em si mesmo.
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