O fato de que gosto de jogar bola não me torna um jogador de futebol. Da mesma forma, ninguém pode acusar a Bruna Surfistinha de escritora só porque ela escreveu um livro, mesmo que o livro seja interessante. Afinal, existem peladeiros, jogadores de final de semana, muito bons, daqueles que a gente sempre escolhe primeiro depois do par ou ímpar. Mas, por maior que seja o sucesso deles nas redondezas, não são profissionais.
Alguém pode argumentar que o sucesso da Surfistinha foi muito maior que as redondezas, mas não é isso. É que a Internet transforma o mundo todo em uma grande superquadra (sou de Brasília, não tenho familiaridade com o termo “bairro”). Mas não há nada de mal em ser o rei da pelada, em ser conhecido na vizinhança (conhecido – falado, não). É também o meu caso, guardadas todas as proporções. O fato de que gosto de escrever não me torna um escritor. Se um dia ficar famoso, será equívoco. É mais provável que seja culpa dos outros que mérito meu.
Escritor é Saramago, Machado de Assis, Pelé e Zico (sei que ao chamar Pelé de escritor, desrespeitei a coerência do texto – mas respeitei a analogia).
Apesar de ter gostado, não considero o livro da Surfistinha uma obra de arte, assim como não é qualquer jogador que me faz levantar do sofá e fazer uma reverência. Mas, em minha miopia, ainda enxergo arte em filmes como O Senhor dos Anéis.
De vez em quando, brigo com um amigo sobre a definição de arte. Certa vez ele encerrou a discussão dizendo que a arte não tem objetivo. Desta forma, os filmes comerciais e, bom, os próprios comerciais de TV ou revista, por mais bonitos ou emocionantes que sejam não poderiam ser considerados obras de arte. Pensei também naquele gol que o Pelé não fez, driblando o goleiro sem a bola. O objetivo do futebol é o gol, Pelé ignorou o objetivo pra ir fazer lá sua arte.
Ainda não decidi se concordo com a definição ou não, mas gostei do tipo de reflexão que ela traz. Acho que a arte pode ter objetivo, sim. Mas precisar, não precisa.
Só não dá para confundir falta de objetivo com falta de técnica. Para mim, artista é o que sabe o que está fazendo, mesmo quando os outros ainda não saibam, ou nunca venham a saber. Senão, qualquer desenho de uma criança de dois anos vira obra de arte e, na minha opinião, arte não se produz ao acaso. Pra desconstruir, tem que saber construir primeiro.
Quando era mais novo, gostava de desenhar, talvez inspirado pelos quadrinhos, paixão antiga. Meu tio, artista de verdade, avaliou um dos meus desenhos e disse que o resultado final até que não estava mal, mas que eu precisaria trabalhar melhor a firmeza dos traços. Respondi, de nariz em pé:
— É o meu estilo.
E ele:
— Todo estilo precisa ser desenvolvido a partir de uma técnica. Primeiro, domine a técnica.
E ele tinha razão. Aquilo não era o meu estilo, era o melhor que eu podia fazer. Por outro lado, já vi muitos peladeiros fazerem uns golaços que profissional não faz. É que às vezes o profissional fica muito preocupado com o objetivo. Fazer gol, ganhar a partida – e esquece da arte. O peladeiro, descompromissado, vai lá, faz o chapéu e põe na gaveta, uma pintura de gol. Ainda não é arte, mas é parecido, é a fotocópia do quadro, a banda cover. Ou será que não? Vai ver é ainda mais arte, por ser uma superação, um momento único.
Uma coisa que depende tanto da interpretação do observador, como a arte, está destinada a nunca ter definição. Para o Barbosa, por exemplo, arte é quando o Coringão ganha – e pode até ser com gol de barriga.
Alguém pode argumentar que o sucesso da Surfistinha foi muito maior que as redondezas, mas não é isso. É que a Internet transforma o mundo todo em uma grande superquadra (sou de Brasília, não tenho familiaridade com o termo “bairro”). Mas não há nada de mal em ser o rei da pelada, em ser conhecido na vizinhança (conhecido – falado, não). É também o meu caso, guardadas todas as proporções. O fato de que gosto de escrever não me torna um escritor. Se um dia ficar famoso, será equívoco. É mais provável que seja culpa dos outros que mérito meu.
Escritor é Saramago, Machado de Assis, Pelé e Zico (sei que ao chamar Pelé de escritor, desrespeitei a coerência do texto – mas respeitei a analogia).
Apesar de ter gostado, não considero o livro da Surfistinha uma obra de arte, assim como não é qualquer jogador que me faz levantar do sofá e fazer uma reverência. Mas, em minha miopia, ainda enxergo arte em filmes como O Senhor dos Anéis.
De vez em quando, brigo com um amigo sobre a definição de arte. Certa vez ele encerrou a discussão dizendo que a arte não tem objetivo. Desta forma, os filmes comerciais e, bom, os próprios comerciais de TV ou revista, por mais bonitos ou emocionantes que sejam não poderiam ser considerados obras de arte. Pensei também naquele gol que o Pelé não fez, driblando o goleiro sem a bola. O objetivo do futebol é o gol, Pelé ignorou o objetivo pra ir fazer lá sua arte.
Ainda não decidi se concordo com a definição ou não, mas gostei do tipo de reflexão que ela traz. Acho que a arte pode ter objetivo, sim. Mas precisar, não precisa.
Só não dá para confundir falta de objetivo com falta de técnica. Para mim, artista é o que sabe o que está fazendo, mesmo quando os outros ainda não saibam, ou nunca venham a saber. Senão, qualquer desenho de uma criança de dois anos vira obra de arte e, na minha opinião, arte não se produz ao acaso. Pra desconstruir, tem que saber construir primeiro.
Quando era mais novo, gostava de desenhar, talvez inspirado pelos quadrinhos, paixão antiga. Meu tio, artista de verdade, avaliou um dos meus desenhos e disse que o resultado final até que não estava mal, mas que eu precisaria trabalhar melhor a firmeza dos traços. Respondi, de nariz em pé:
— É o meu estilo.
E ele:
— Todo estilo precisa ser desenvolvido a partir de uma técnica. Primeiro, domine a técnica.
E ele tinha razão. Aquilo não era o meu estilo, era o melhor que eu podia fazer. Por outro lado, já vi muitos peladeiros fazerem uns golaços que profissional não faz. É que às vezes o profissional fica muito preocupado com o objetivo. Fazer gol, ganhar a partida – e esquece da arte. O peladeiro, descompromissado, vai lá, faz o chapéu e põe na gaveta, uma pintura de gol. Ainda não é arte, mas é parecido, é a fotocópia do quadro, a banda cover. Ou será que não? Vai ver é ainda mais arte, por ser uma superação, um momento único.
Uma coisa que depende tanto da interpretação do observador, como a arte, está destinada a nunca ter definição. Para o Barbosa, por exemplo, arte é quando o Coringão ganha – e pode até ser com gol de barriga.
Futebol eh arte??? Arte nao tem objetivo???
ResponderExcluirPra mim, futebol, assim como todos seus congeneres, eh um esporte. E a arte tem objetivo sim senhor, a beleza. O que nao siginifica que o futebol nao possa ser bonito... mesmo se seu objetivo seja duvidoso. Ganhar a partida? Divertir a torcida? Divertir-se a si mesmo (pros amadores)?
Nao sou contra o futebol. Se o Brasil participa da final da copa do mundo, e eu nao tiver nada melhor pra fazer, assitiria o jogo...
Sera que o termo ARTE tem que ser usado pra tudo, desde que nos queiramos dizer que isso ou aquilo eh bem feito? Tenho minhas dividas.
a arte tem um objetivo, a inovacao, o inusitado, surpresa, choque, bonito ou feio, atrativo ou repusivo.
ResponderExcluirSe for repeticao, eh um artesanato.
Tô contigo Fred. Comparar Rodin ao gol do Pelé é brincadeira. Entretanto, fico meio preocupado quando tentamos colocar tudo em caixinhas. Conceituar o que é ou não arte me parece um pouco presunçoso.
ResponderExcluirObeliscos são referências em todo o mundo, vaso sanitários também não ficam atrás. Eu particularmente gosto muito do museu de Madame Trousseu, algumas pessoas me excluem por conta dessa afirmação.
Fazer o quê?! Cada um com o seu cada um.