terça-feira, 18 de julho de 2006

Páginas da Vida

O depoimento que a Rede Globo exibiu no último sábado, na novela Páginas da Vida é criminoso. Seduzida pela possibilidade de aparecer na TV, uma senhora humilde expôs detalhes de sua vida íntima, em uma declaração real. Nada contra o orgasmo na velhice ou que a novela trate de sexualidade de forma direta, mas Manoel Carlos e a Globo não precisam de uma senhora de sessenta anos para isso.
A cena já virou piada no site Kibeloko, mostrando que a falta de respeito da emissora só poderia resultar mesmo em ridicularização e mais falta de respeito.
É relativamente fácil para um homem de 30 anos seduzir uma menina de doze, fazendo-a acreditar que está indo para a cama com um homem mais velho por sua própria vontade. É o que a Globo faz. Usa seu poder de fascinação para convencer pessoas a se exporem em cadeia nacional. O Big Brother faz isso oferecendo dinheiro e, para mim, é um programa que se equilibra perigosamente na estreita linha da ética, mas o que aconteceu na novela é imperdoável.
Os responsáveis se justificarão dizendo que era uma coisa que precisava ser dita, para afastar o véu de hipocrisia que cobre a sociedade, etc. Discurso barato e fácil. Independentemente da necessidade da mensagem, a verdade é que a senhora foi usada.
Repito. Manoel Carlos e a Globo não precisam de uma senhora de sessenta anos para criar polêmica sobre a sexualidade na velhice, mas preferiram fazer isso porque é mais fácil. É chocante, agressivo e dá audiência e não há necessidade de se criar bons textos ou de colocar bons atores à frente da tela – tudo isso dá muito trabalho. Mais fácil explorar uma pessoa humilde, recurso que vem sendo utilizado pela TV brasileira com freqüência em vários tipos de programas.
O ser humano tem uma curiosidade mórbida. Reduz a velocidade do carro quando passa diante de um acidente e senta na frente da TV para ver o ridículo dos seus pares em exibições de calouros e reality shows. Mas é preciso lutar contra isso. Infelizmente, a ética não é um comportamento natural – se fosse, não seria algo que precisa de regulamentação. Para ter ética é preciso refletir, considerar e, muitas vezes, tomar decisões difíceis.
Mas o que mais me revolta é que, neste caso, a decisão era fácil. Trata-se simplesmente de aplicar um princípio ético repetido por nossos pais, avós e bisavós: respeitar os mais velhos.

Um comentário:

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