O jornalista Alex Gutemberg, do jornal o Estado do Paraná publicou, em dois de fevereiro, um artigo sobre o Nordeste intitulado Um Mundo que Parou no Tempo. Neste texto, Alex descreveu o Nordeste como uma terra quase medieval, repleta de violência e miséria e botou a culpa disso tudo nos estupradores europeus, que bagunçaram a pureza étnica de lá e criaram um povo sem raízes e desestruturado.
Para provar seus argumentos, Alex dá o seu depoimento pessoal sobre duas cenas do “cotidiano” nordestino. Na primeira, um motoqueiro acompanhado de sua namorada dispara dois tiros contra um transeunte, atraindo pouca ou nenhuma atenção dos passantes. E, na segunda, uma senhora abastada não se incomoda de jogar lixo na rua, “já que está suja mesmo”.
O artigo de Alex é perigoso porque mistura fatos concretos com uma conclusão muito particular e estreita do jornalista, correndo o risco de ser convincente. Sinto-me, portanto, na obrigação de desmenti-lo.
Os índios brasileiros foram explorados em todos os lugares do país, inclusive no Sul, onde foram exterminados mais eficientemente e onde a miscigenação é menor. Menor, porém existente.
Violência e miséria não são exclusividade do Nordeste, mas um mal que assola todo o país, especialmente nos grandes centros urbanos. Políticos e governantes corruptos e populistas, interessados em manter a indústria da fome e da desinformação têm muito mais culpa sobre a situação do país que qualquer estuprador estrangeiro, com a vantagem de que os governantes ainda podem ser identificados e punidos, se não pela justiça, quem sabe pelo voto. E se é verdade que a exploração e a circunstância acentuaram as diferenças sociais do Nordeste, também é verdade que passo minhas férias muito mais tranqüilo no Nordeste que no Rio de Janeiro.
E o fato é que as cenas terríveis que Alex descreve podem acontecer em qualquer cidade do Brasil, inclusive no sul do país. Acrescento ainda o meu depoimento pessoal: nunca vi ninguém ser assassinado nas ruas do Nordeste e já vi várias pessoas jogando lixo nas ruas de lá – a maioria delas turistas. Gente de fora que vai para lá curtir o sol e as mulheres, mas trata a terra com o mesmo desprezo que os estupradores europeus.
Alex, algumas das coisas terríveis que você descreve em sua matéria não estão acontecendo apenas no Nordeste – estão acontecendo no Brasil. E me entristece muito ver um jornalista brasileiro falando dos problemas brasileiros como se não fosse com ele. Separatismo é isso.
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