O mercador seguia pela estrada de terra tranquilamente em sua carroça quando se deparou com uma tropa liderada pelo novo bugiô (funcionário do governo – neste caso, um fiscal de estradas) de Nagasaki.
— Sua carroça e seus bens estão confiscados – disse o bugiô, depois de apresentar-se formalmente.
— Mas... Por quê? – Perguntou o mercador, que tinha todos seus documentos em ordem.
— Por contrabando.
— Mas, senhor, levo comigo apenas tecidos. Estou sendo acusado sem provas?
— Provas podem ser arrumadas posteriormente. O importante é que eu mostre serviço, pois sou novo e desejo impressionar meus superiores. Uma carroça grande como a sua e tão cheia de mercadorias é perfeita para isso.
O mercador foi derrubado de sua carroça e amarrado. Nesse meio tempo, um ronin (samurai sem mestre) que a tudo ouvia escondido nas sombras do bosque que ladeava a pequena estrada, apareceu e apresentou-se:
— Sou Ito Ogami, assassino.
E, com golpes precisos e fortes de sua katana, matou o bugiô e seus soldados. Com um último golpe, libertou o mercador das cordas.
— Obrigado – agradeceu o mercador, inclinando-se para frente.
— Sua gratidão não é necessária. Estou aqui a mando de outro mercador, que sofreu a mesma injustiça que você. Não fiz o que fiz para ajudá-lo, mas para cumprir meu contrato.
O mercador olhou para os pés feridos do ronin, que deveria estar rondando a estrada há dias, e perguntou, em tom humilde:
— Para onde vai?
— Para Edo (Tókio).
— Então peço que suba em minha carroça que o levarei até lá. É justamente para onde estou indo.
— Já disse que sua gratidão não é bem-vinda – respondeu o ronin.
— Mas não se trata de gratidão! Absolutamente! Falo de algo maior chamado destino. Não fosse o senhor aparecer para cumprir sua tarefa neste exato momento, eu perderia tudo o que eu tinha. Não fosse minha carroça para ocultar a sua chegada, o senhor talvez não tivesse tido a oportunidade de aproximar-se tanto de seu alvo. O destino nos favoreceu a ambos. E quis o destino que o senhor salvasse a vida não apenas de um mercador, mas a de um mercador, dono de uma carroça, cujo itinerário lhe convém.
O ronin ficou em silêncio. Um meio sorrido ameaçando formar-se em seus lábios. O mercador continuou:
— O destino está lhe convidando a chegar mais cedo e descansado em Edo e o que o destino nos reserva, senhor samurai, devemos aceitar.
O samurai então pediu licença, limpou seus pés e subiu na carroça.
Essa é minha homenagem a Kazuo Koike, criador de Ito Ogami, O Lobo Solitário.
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