Um Mundo que Parou no Tempo
Alex GutembergTexto publicado no jornal O Estado do Paraná, em 11 de 02 de 2007
O Nordeste brasileiro é um mundo à parte. O que os portugueses fizeram como povo da região, durante 4 séculos, foi criminoso. Usaram as índias. Oumelhor, estupraram as índias aos milhões e depois as pobres negrasescravas. Obviamente não assumiram as proles, pelo contrário, deixaram as coitadasgrávidas, os maridos traídos na marra e ainda acabaram com as virgensindígenas, que não tinham a menor idéia do que estava se passando. O custosocial disso tudo foi gigantesco. Todo brasileiro sofre até hoje. Essa violência criminosa destruiu várias sociedades de tribos nordestinas,humilhou ainda mais as negras e os negros e gerou uma civilizaçãoestranha, de miseráveis, com poucas oportunidades, que influencia umanação e não consegue se desenvolver por causa dessa contínua falta deassistência. Eles estão mais sujeitos a doenças, aos problemas sociais e a violência doque o povo do Sul do Brasil. Não resistem. Essas contínuas gerações de mamelucos e cafuzos, resultado de umamiscigenação desenfreada - e aqui um parêntese, não existe preconceitonesta afirmação, pois os brancos não podem nem viver perto de índios paranão contaminá-los com nossas doenças esquisitas, quanto mais ter relaçõesconsangüíneas, sofre diariamente. Passa fome continuamente. Eles têm seus direitos sociais e civis cassados pelas minorias brancas,pelos políticos e até mesmo por seus conterrâneos. O trabalho escravopersiste por todos os cantos. O que se ouve de Salvador a São Luís são avisos constantes aos turistas,ou a quem tem a pele branca: cuidado, não saia com a máquina fotográfica.Não saia com esse tênis, não leve dinheiro para a rua. Cuidado na praia,os ladrões estão em todos os cantos. A liberdade não existe entre eles. Existe sim o medo crônico, uns dosoutros, às vezes de pessoas maltrapilhas e famintas, que podem serbandidos ou apenas mendigos. O povo nordestino vive num mundo à parte. As cidades são imundas, o crimecompensa e a exploração por meia dúzia de coronéis em cima do retirante,do miserável é uma constante infinita. Eles não têm noção de limpeza, deeducação, de respeito entre eles mesmos. São muito hospitaleiros. O povo de uma maneira geral, trata bem o sulista. Entretanto, acham que ofuturo da humanidade está nos Bolsas-Esmolas do Lula, que, certamente seráo novo Padim Padre Cícero da região. Um santo. Nesse mundo diferente, longe da globalização, até os ricos e mais letradosacreditam no Lula, no governo petista. Pior, sabe lá o que se passa nacabeça desse povo mal alimentado, para adorar seus políticos, comoInocêncio de Oliveira, Antônio Carlos Magalhães, José Sarney e clã, entreoutros. Para pensar no domingão Cenas do cotidiano nordestino Naa sexta-feira, 2 de fevereiro, por volta das três hora da tarde. nocalçadão da praia Porto da Barra, em Salvador, os camelôs apresentavamseus produtos. Os turistas tiravam fotos da bela paisagem, e eu, andava àprocura de um lugar para beber água. De repente, um sujeito desceu da sua moto, deixou a bela moça na garupa,sacou o revólver, gritou para um tipo metido a capoeirista: não mexa maiscom minha mulher. E bum bum, dois tiros, um na cabeça e outro no coração. O povo se amontoou por uns instantes e depois foi todo mundo embora, nemderam muita atenção, para dizer a verdade. Não era com eles. O assassino pegou a moto, a mulher o abraçou em tom de aprovação e saíramvoando. No Nordeste é assim, cabra mexe com a mulher alheia, morre comoanimal, ali mesmo, horário comercial, na rua. Em Fortaleza, no domingo dia 4 de fevereiro, uma senhora com sua filhinhasaía da locadora de vídeo. Ao parar em frente ao seu carro importadoalemão de primeira linha, a madame jogou na rua um pedaço de papel. Euapanhei o lixo e entreguei a ela. E disse: a senhora deixou cair. A surpresa veio quando ela disse: não, é lixo mesmo, eu joguei. Semqualquer constrangimento. Depois de um instante e com educação ela falou: desculpe, você tem razão,eu não deveria jogar na rua. Mas é que está tão suja, um a mais, outro amenos, não muda nada. É a imagem do Nordeste.
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