sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006

Saudade

Para falar de saudade é preciso estar embebido do sentimento. É proibido transformar o termo em literatura ou música sem aquele brilho nos olhos, sem o suspiro sentido, sem o sorriso de Esfinge ou sem o uísque na mão. No meu caso, o uísque metafórico, porque não bebo. O que é uma vantagem, pois posso agitar minhas pedras de gelo imaginárias e digitar no computador ao mesmo tempo.
Saudade é estar feliz por estar triste, é ter um sorriso nos lábios e lágrimas nos olhos. Saudade é metafísica. È mais que querer voltar no tempo, é querer que o passado venha até você e se faça presente novamente.
Saudade não é querer a primeira vez de novo, é querer a segunda vez que nunca existiu.
Saudade é a voz do meu pai, que me acompanha, mesmo quando meu pai já não está mais comigo.
Não se mata a saudade, é a saudade que às vezes mata a gente. Mas podemos adormecê-la, domá-la e levá-la para passear no parque em uma tarde de sol. A saudade enfurecida e selvagem é uma doença, nem sei se ainda é saudade. A saudade só nos serve plácida, no máximo severa, como a avó que nos pegou com a mão no pote de doce.
Desespero, melancolia, arrependimento – nada disso é saudade. Lá em casa, a saudade é recebida de braços abertos, pois saudade é amizade distante, é o abraço não dado e a história que espera para ser contada. Saudade são os momentos que dividimos com alguém que não está por perto.
Tenho muita saudade, de muitas coisas diferentes. Sinal que minha jornada, até aqui, tem sido rica e feliz, pois ninguém tem saudade de sofrimento.
Estava com saudades de escrever para o Ninguém Perguntou.

2 comentários:

  1. Zinho, amei! A saudade a anos já é minha companheira, inevitavelmente. Amigos e família espalhados pelo mundo e eu morando aqui nessa cidade-porto... Brasília é a cidade onde a saudade mora, as outras são a passeio... Beijos!

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