terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Honestidade

— Foi bom?

— Foi ótimo...

— Pode falar a verdade...

— Foi ótimo. Juro.

— Sabe o que eu acho?

— Hã? Não, não sei não.

— Que a maior parte dos relacionamentos é baseada em mentira e dissimulação e que isso, no fim, acaba prejudicando a relação. A sinceridade, quanto vista com maturidade, pode fazer muita diferença. Posso dar um exemplo?

— Não sei...

— Vou dar. O seu pênis, por exemplo.

— Meu pênis é o exemplo?

— Ele é bastante grande. Por isso, quando você penetra com muita impulsividade, machuca um pouco. Se você for mais gentil na penetração inicial, sentirei mais prazer e acho que nossa transa vai ser ainda melhor.

— Você acha?

— Viu? Não doeu nada (sem trocadilho) e já demos um primeiro passo para um segundo encontro mais interessante que o primeiro. Sua vez.

— Minha vez de quê?

— De ser honesto. Pode dizer alguma coisa que você não gostou em mim, que você acha que poderia ser melhor... Pode falar, não vou ficar chateada.

— Mas não tem nada, foi ótimo.

— Ahhh, alguma coisa deve ter. Pode falar.

— Bem...

— Não disse? Sempre tem alguma coisa. Vamos lá, exercite sua sinceridade.

— Você mexeu pouco. Foi, não sei, deixa ver, pouco participativa.

— Pouco participativa?

— Um pouquinho... Ei, você disse que não iria ficar chateada.

— Não estou chateada. É que discordo de você, mas... Tudo bem, vá lá. Pouco participativa, rebolar mais, tá anotado.

— Mais uma coisa...

— Tem mais?

— Uma coisinha de nada. Melhor deixar pra lá.

— Nada disso! Manda.

— Esse seu sutiã engana um pouco a gente, né?

— Como assim?

— Ele é daqueles que levanta o peito, né? Eu achei que você tinha um peitão, aí quando você tirou...

— Você achou meu peito pequeno?

— Não, o tamanho é bom, mas...

— Você achou meu peito caído?

— Não, mas...

— Mas o quê?

— É que eu fiquei um pouco decepcionado...

— Decepcionado?

— Decepcionado não é bem a palavra. Olha, não era o que eu esperava, só isso. Nada de mais.

— Nada disso! Se não foi decepção então qual é a palavra? Quero saber a palavra exata.

— Olha, deixa isso pra lá. Vem mais pra cá e vamos mais uma vez, vamos.

— Não.

— Não? Mas eu pensei...

— Pensou errado. Estou com dor de cabeça.

— Ah, vamos lá. Prometo ir bem devagarzinho dessa vez.

— Me deixa dormir!

E não ficou só nisso. No dia seguinte, ela espalhou para todo mundo que ele tinha o pinto pequeno. "Pra dizer a verdade, minúsculo", foi o que ela disse.


 


 

Um comentário:

  1. Adorei ! Lembrou-me de uma frase de Paul Valéry: "Nao existe no mundo um ser que seja capaz de amar um outro ser como ele é. Pedimos modificaçoes."

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