terça-feira, 31 de julho de 2012

VISA - mas que amigos, hein?


Na época da última Copa do Mundo fiz uma série de posts (procura aí) falando sobre propagandas que não fazem muito sentido.

O que me chamou atenção na época foi o fato de que eram marcas de muito peso, como Coca-Cola, exibindo comerciais com mensagens de sentido dúbio e com uma lógica distorcida (além de erros de português).
Salvo engano, uma das propagandas que não fazia muito sentido era da Visa e, pelo visto, de lá pra cá, eles mantiveram a mesma agência de publicidade e o mesmo diretor de marketing, porque eles estão fazendo cagada de novo nas Olimpíadas.

Você já deve ter visto. É uma série engraçadinha que mostra pessoas sem noção como a família que quer ir pras Olimpíadas de Londrina ou os dois baixinhos querendo montar uma dupla de vôlei.

O slogan é: às vezes é bom ter um amigo pra avisar, pagar com Visa é muito melhor.

Pare pra pensar dois segundos no que a propaganda está realmente dizendo.

Eu te ajudo. A pessoa que aconselha os sem-noção, em vez de avisar que os caras estão fazendo algo surreal, aconselha-os a pagar com Visa. Ele deixa de dar um bom conselho. Ele deixa a família ir pra Londrina ver os Jogos Olímpicos e pega a grana dos baixinhos. Conclusão: quem te aconselha a pagar com Visa é um filho da puta.

A situação é sutil, mas a mensagem é clara. Quem te aconselha a pagar com Visa é provavelmente um babaca. O amigo do anúncio é, na verdade, um amigo da onça.

Eu sei que o objetivo da propaganda é muito mais fazer piada do que passar uma mensagem concreta, mas não é assim que se faz. Quando um publicitário expõe um produto, ele tem a responsabilidade de estar atento às conotações e denotações da mensagem. Meu orgulho profissional sempre morre um pouco quando vejo marqueteiros super bem pagos errando no básico.

Moçada do VISA, às vezes é bom ter um amigo pra avisar: seu comercial depõe contra a imagem da marca.

domingo, 29 de julho de 2012

Eu sabia! Eu sabia!


É comum ouvir uma pessoa mais velha reclamar de duas coisas:
1. Já não se fazem mais músicas como antigamente e
2. Essa juventude ouve música muito alta.

Um estudo de um grupo de cientistas espanhóis acabou de provar que as duas coisas são verdade. Eles juntaram um caralhão de músicas (não sei quantas) desde 1955 até 2010 e jogaram tudo no computador.

A primeira descoberta foi a mais óbvia: as produtoras musicais estão equalizando suas músicas em volumes mais altos e mais uniformes. Isso significa que o volume 5 em 1955 era muito mais baixo que o mesmo volume 5 em 2010 e que, além disso, todos os instrumentos em 2010 estão sendo equalizados mais uniformemente, sem sutilezas.

A falta de sutileza não afeta muito a “qualidade” da música porque as músicas de hoje tem menos instrumentos musicais (timbres), menos notas, menos variação de notas, menos palavras, menos rima, menos métrica e até menos variação de tom. Ou seja, até a maioria das vozes é igual.

Pronto, está provado cientificamente o que eu venho repetindo há anos. A globalização e os monopólios de entretenimento nos nivelam por baixo. Dos videogames aos filmes, passando pela música nós nunca fomos tão tecnicamente capazes e tão criativamente pobres.

Até a literatura, que tecnicamente evoluiu muito pouco, sofre com a homogeneização e pobreza da geração youtube.

Em 1957 e início dos anos 60, um livro para adolescente que se tornou um sucesso foi “Rifles para Watie”, contando a história de um jovem que se alista para a guerra civil em busca de aventura e encontra uma realidade bem diferente. O livro é engraçado, dinâmico, tem suspense e o autor fez um trabalho de pesquisa absurdo, dando vários detalhes sobre a guerra; de localidades, aos uniformes, passando pelo café horrível das trincheiras. Tudo em uma linguagem direta e simples.

Hoje, infanto-juvenil de sucesso fala sobre um vampiro emo apaixonado por uma garota retardada, que também arrasta uma asa pra um lobisomem metrossexual. E a autora não consegue nem acertar nos detalhes das criaturas inventadas, para as quais nenhuma pesquisa é necessária. Lobisomem depilado e vampiro que brilha não é criatividade, é gozação.

Existem bolsões de resistência, claro, no cenário independente de videogames, nos poucos e bravos diretores de cinema autorias (ou que já ganharam tanto dinheiro que já ligaram o foda-se) e em alguns blogs por aí que ainda usam a palavra homogeneização e não terminam cada post com uma contração ou siglas de expressões americanas, mas não estou vendo nenhuma luz no fim do túnel para a música.

Claro, ainda acho uma ou outra coisa que me agrada, mas a verdade é que no meu pendrive com milhares de músicas, menos de 5% é do final dos anos 90 pra cá. E desses cinco por cento, a maioria só está lá pra eu ouvir com minha filha que, a cada dia que passa, pede mais e mais as músicas dos outros noventa e cinco por cento. LOL.

Newberry Medal é um prêmio literário superconceituado que existe desde 1922.

Olhe para a cara da Bela e responda: onde está a outra mão do
Lobisomen?