Há muitos anos atrás, um sábio passava pela cidade de Brasília, quando foi abordado por uma pequena turba de deputados distritais:
— Ó, Sábio, precisamos da sua ajuda!
— Mas como sabem que sou sábio?
— Ora, pela barba branca e o cajado – responderam, em coro, os deputados distritais.
— Ah, sim! – exclamou o sábio, achando que ter comprado o cajado tinha sido... bem... muito sábio de sua parte, uma grande jogada de marketing.
E completou, em seguida:
— E como posso ajudar?
O deputado distrital mais velho explicou:
— Temos aqui dois amigos que não se falam mais. Estão bravos um com o outro.
— Se não se falam mais, é possível que não sejam mais amigos...
— Sim... Bom, o fato é que gostaríamos que eles financiassem nossa reeleição, mas, para isso, precisamos que eles voltem a se falar, pois o dinheiro só de um será insuficiente.
— E por que eles pararam de se falar?
— Um acusa o outro de que suas palavras são sempre mal-interpretadas.
O sábio ficou em silêncio por um longo tempo. Ele sabia que não adiantava um terceiro argumentar, pois eles também interpretariam as palavras do terceiro de acordo com sua vontade. E ele também sabia qual era o problema: um não confiava mais no outro. E o sábio também sabia (pois era bastante sabido) que a confiança, uma vez quebrada, só pode ser remontada com uma ferramenta especial, chamada humildade, que ninguém mais fabricava. Finalmente, o sábio falou:
— Podem procurar outras pessoas para financiar as campanhas de vocês!
— Quer dizer que eles nunca mais voltarão a se falar?
— Talvez sim, talvez não. Mas se um dia esses dois voltarem a ser amigos, eles terão suplantado seu próprio orgulho e terão atingido um nível de sabedoria maior que o meu. E isso significa que dificilmente eles cairão no papo-furado de um bando de deputados distritais.