terça-feira, 22 de setembro de 2009

SOS 80

Os anos oitenta estão morrendo – literalmente. Recentemente tivemos três perdas significativas: o Michael Jackson, a Farrah Fawcett e, agora, o Patrick Swayze. Como essa foi a década mais legal de todas (não a mais importante, nem a mais revolucionária, mas a mais legal – porque não tem nada mais legal que cultura pop), começo aqui minha contribuição para manter viva a memória dos anos 80.

Meu critério é pegar a primeira coisa da década que passar pela minha cabeça e escrever sobre ela... E vai ser... Ruas de Fogo!

Filme de 1984, dirigido por Walter Hill, meio ação, meio musical e esquisito por inteiro, o filme tinha no elenco Rick Moranis como o namorado rico de Diane Lane (lindíssima e novíssima), que, por sua vez, era ex-namorada de Cody, interpretado por um cara que eu não lembro o nome e não vou procurar na Internet agora, mas que, tem 90% de chance de ser um tal de Michael Parret (ou algo bem parecido).

Eu sei é que a Diane Lane é seqüestrada por um líder de uma gang de bikers (Willem Dafoe, também novão, mas já bem feioso) e o tal do Cody, que é um ex-mercenário (além de ex-namorado), fica sabendo e volta pra cidade pra dar tiros de doze em todo mundo até pegar a namorada de volta (que é cantora de uma banda de rock totalmente anos 80, com direito a calça de couro colada, cabelão esvoaçante e o caralho).

SÓ A DÉCADA DE OITENTA PRA PRODUZIR UM MUSICAL ROCK`N ROLL COM PERSEGUIÇÃO DE CARRO, PORRADARIA E TIROTEIO – E O PRODUTO FINAL AINDA SER BOM!

Você leu direito: o filme é bom! O Rick Moranis é engraçado, a Diane Lane é linda E gostosa, as músicas são fenomenais (incluindo I Can Dream About You, do Dan Hartman), a ação é decente e o final é meio que surpreendente.

Fica melhor ainda se você tiver doze anos de idade, assistindo a uma cópia pirata em VHS com as imagens meio alaranjadas e legendas brancas. Mas só quem foi adolescente nos anos 80 sabe o que é ter esse tipo de prazer.

Pra quem curte música dos anos 80, a trilha sonora do filme é uma das melhores compras que você pode fazer pois, além do hit supracitado, o filme ainda tem preciosidades como Tonight is What it Means to Be Young (com direito a teclados breguíssimos na introdução) e Countdown to Love, sendo que esta última tem um dos melhores arranjos vocais que já ouvi.

Streets of Fire, de Walter Hill, 1984. Os anos 80 morreram! Vida longa aos anos 80!

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Respeito pré-datado

Uma vez me disseram que "respeito é algo que precisa ser conquistado". Na hora, fiquei calado. Não porque não tivesse uma boa resposta (o que acontece com freqüência com todo o mundo), mas porque a pessoa já não estava mais muito a fim de ouvir o que eu tinha a dizer (o que, infelizmente, parece ser mais freqüente ainda, especialmente entre políticos e governantes). Mas a frase é infeliz.

Se eu fosse levá-la ao pé da letra, eu poderia simplesmente passar a mão na bunda da primeira moça que visse na rua. Ela não fez nada pra conquistar meu respeito e, portanto, não o merece: passo a mão na bunda e ainda chamo de gorda (mesmo que não seja, só pra provocar)!

Respeito ou a gente tem ou não tem. É claro que podemos perder o respeito por alguém que, aí sim, faça por merecer, mas, em tese, é primeiro preciso respeitar. Ou sou eu que estou falando um absurdo? Tomara que não!

Criações

Tim Schaffer é o criador, ou co-criador, de grandes clássicos dos jogos de aventura para computador e, em alguns casos, consoles. Da sua mente genial saíram obras-primas como Monkey Island, Full Throttle, Grim Fandango e Psichonauts. Seu senso de humor refinado e a caracterização brilhante dos personagens são sua marca registrada. Mas, curiosamente, com exceção de Psichonauts, Schaffer não é dono de nada do que criou. A LucasArts tem os direitos dos títulos e pode fazer o que bem entender com eles sem lhe dar satisfação. Mas, mais curiosamente ainda, eles não fazem. Schaffer e os outros criadores de Monkey Island participaram como consultores de todos os outros títulos da série e essa atitude da LucasArts tem um nome: chama-se consideração.

Uma consideração que fica ainda maior se adicionarmos que Schaffer saiu brigado da empresa. Claro que nem tudo são rosas e, mais de uma vez, surgiram boatos de que a LucasArts faria uma continuação de Full Throttle sem a participação de Schaffer. Mas, por enquanto, são boatos.

Stan Lee também não é dono de nada do que criou (Homem-Aranha, Thor, Homem de Ferro, Quarteto Fantástico, Hulk, só pra citar alguns), nunca foi. Mas está na folha de pagamento da Marvel até hoje - e como presidente (mesmo sem precisar aparecer pra trabalhar), ganha royalties sobre os filmes (ele nunca exigiu, foi uma cortesia), é consultor criativo de seus personagens e sempre faz uma ponta em todos os filmes de seus heróis. Isso se chama respeito.

Já o Darlan, brasiliense criador do Zé Gotinha, teve o personagem tirado de suas mãos por conta de uma tecnicalidade legal e, pra completar, o Zé Gotinha foi explorado por anos sem que se desse crédito, dinheiro ou um agradecimento ao seu criador. E, só recentemente, Siegel e Schuster, os criadores do Superman, foram devidamente recompensados pelo seu trabalho. Isso se chama sacanagem.

Normalmente, quem não respeita o valor de uma criação é aquele que nunca criou, porque não entende o processo. Ou quem é frustrado, que cria apenas coisas medíocres e precisa se apoiar na criação dos outros. Hoje em dia, a legislação protege até mesmo a criação de agências de publicidade, que são contratadas para criar algo de finalidade comercial – nenhum cliente pode usar indefinidamente o material publicitário; é preciso pagar novamente para a reutilização de uma idéia.

Mas o criador solitário, aquele que trabalha dentro das engrenagens da empresa, esse continua desprotegido. A lei tem brechas para que ele vá lutar pelo que é seu de direito, mas o custo é alto (financeiro e emocional) e as garantias são poucas. E, se ele vencer, será também uma vitória solitária, pois ele ficará com o produto de sua criação, mas sem condições de distribuí-lo, ninguém conhecerá o produto.

É uma balança delicada, pois a empresa tem plenos direitos de explorar aquilo que foi contratado (embora o que exatamente tenha sido contratado seja muitas vezes nebuloso) e nenhuma obrigação de ter consideração ou respeito pelo funcionário ou prestador de serviço – essas duas últimas coisas continuam dependendo largamente do caráter das pessoas que têm o controle da situação.

Já me vi dos dois lados da moeda: tem gente que até hoje me pede autorização para utilizar coisas que criei (mesmo sem precisar) e tem gente que acredita que eu não fiz mais que minha obrigação e altera, muda e utiliza minhas idéias sem me dar a menor satisfação (e talvez até precisassem).

É um terreno pantanoso, cheio de altos e baixos legais e morais, mas que pode ser muito facilmente atravessado com um pouco de respeito. O problema é que tem muita gente por aí que já não tem mais a menor idéia do que seja isso, como você vai ver na próxima crônica.