sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Contando os centavos

Dinheiro é, em tese, a coisa mais importante do mundo. Países sem dinheiro vivenciam quase que literalmente o apocalipse diariamente, com a fome, a peste, a guerra e a morte sempre presentes.

Pessoas sem dinheiro vivem em situação precária e, na maioria das vezes, não têm condições de buscar as realizações tão necessárias para aquele negócio chamado felicidade.

Dito isso, existe um ponto no qual o dinheiro deixa de ser importante, de forma inversamente proporcional: quanto mais dinheiro nós temos, menos importante ele é.  

O problema é que o ser humano comum tem dificuldade de perceber esse ponto. Não passar fome e ter onde morar parece ser o básico, mas já conheci pessoas que passaram necessidades pesadas e nem por isso deixaram de ser felizes e realizadas.

Dinheiro pra viajar e conhecer novos lugares e pessoas também é importante, mas já vi gente que nunca saiu da cidade onde nasceu e não parece se importar nem um pouco e... Bom, você já viu onde quero chegar: este ponto indefinível em que ter mais ou menos dinheiro não tem tanta importância assim é um alvo móvel, subjetivo, fortemente influenciado pela cultura e psicologia do sujeito (ou sujeita, como queiram).

Mas o mais importante do dinheiro não é ter-lo – é saber como gastá-lo. O acúmulo de dinheiro a La Tio Patinhas só pode ser visto como obsessão e é um beco sem saída. O aproveitamento do seu dinheiro (pouco ou muito) é a chave para transformá-lo em uma ferramenta de felicidade.

Gastar 40 reais em uma conta de boteco pode ser um investimento melhor que 400 em um restaurante mais fino, aonde até as batatas vêm de nariz empinado para a mesa e o garçom te olha com desdém e enfado.

E se endividar para realizar um sonho pode ser uma idéia muito menos maluca do que aparenta.


Não estou incentivando ninguém a queimar a poupança pra andar de lhama no Nepal e nem a freqüentar ambientes questionáveis cheios de alegria e comidas com colônias de bactérias, estou só dizendo que, às vezes, pra equilibrar a vida, é preciso desequilibrar nossas economias.

Adivinha qual dos dois tem muito dinheiro...

domingo, 11 de agosto de 2013

O que estou prestes a fazer é algo para o qual não tenho a menor qualificação: dar um conselho. Na verdade, dois.

Sim, eu sei que todo mundo que já viveu um tanto tem, em tese, algum tipo de experiência para compartilhar. Mas o fato de ter a experiência não significa que vamos interpretá-la corretamente e, provavelmente, sua experiência de vida não terá uma aplicação prática na minha, pelo simples fato de sermos pessoas diferentes, com passados diferentes, em locais diferentes, cercados por um ambiente diferente.

Por isso que todo livro de auto-ajuda é, no máximo uma inspiração e, possivelmente uma enganação.

O básico discurso do “acredite em você mesmo e não desista nunca” fez um simplório americano mergulhar na miséria, perder a família e jogar fora vinte anos de sua vida na tentativa de colocar no mercado o seu jogo “speedball”, que nada mais é que um air hockey bem piorado.
Então aqui vai o meu primeiro conselho: preste atenção no contexto em que as coisas acontecem. Isso vai possibilitar que você interprete as experiências de vida que são passadas a você através de filmes, livros, conversas, sermões. Isso vai permitir que você consiga entender melhor o que pode e o que não pode funcionar pra você.


Meu segundo conselho tem a ver com dinheiro – e vai ficar para a próxima crônica.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Águas Paradas

Às vezes me pergunto onde foram parar as coisas que me animavam a escrever para o blog. A pergunta é, obviamente, uma tentativa de fuga, pois nada mudou com o mundo, que continua cheio de coisas estranhas e estapafúrdias.

O problema é obviamente comigo. Especialmente se o leitor atentou para o fato de que, ao me perguntar coisas, estou basicamente falando sozinho, o que nunca é um bom sinal.

Acho que meu cinismo finalmente evoluiu a ponto de criar uma aura protetora e nada mais me impressiona. Ou estou ficando velho e saudosista, achando que não se fazem mais coisas como no meu tempo, mesmo que essas coisas sejam esquisitices a serem comentadas em um blog de segunda categoria.

Por exemplo, filmes. Nada no novo filme do Super-homem me motivou a cutucar o teclado. Tá legal, o Super-homem mata e o filme tem um filtro cinza permanente, mas no meu tempo, o remake do Super-homem era ruim pra valer e tinha uma cota de efeitos especiais dedicada a esconder o pinto do protagonista. Muito mais interessante.

Política: A Dilma faz lá suas trapalhadas, mas eu cresci acostumado a criticar o Lula! O barbudo de caráter impermeável que só falava bobagens e era cercado de escândalos peculiares como o caso do dinheiro na cueca, filme pirata na videoteca do Planalto e contratos milionários com empreiteiras patrocinando a firma de jogos para celular do próprio filho (que, ao que me consta, não sei se chagou a produzir algum jogo).

Até as manchetes sensacionalistas não são mais as mesmas. Legal saber que tem gente pensando em fazer implante de silicone em papagaios, mas no meu tempo tínhamos gatos que ligavam pra polícia e cachorros com diploma universitário.
Música ruim: o funk das poderosas é uma merda, claro. Mas você quer mesmo comparar com a música Colostro, da Marli? E que graça tem em sacanear o One Direction se as próprias adolescentes maníacas pelo grupo concordam que eles são bem viadinhos mesmo?


Mas não me iludo. Sei que por mais cético ou saudosista que eu seja, o ser humano ainda vai conseguir me impressionar novamente. Na arte de fazer merda a gente sempre se supera.

A calmaria antes da tempestade. E pra passar o tempo: você consegue ver o golfinho?