sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

48 fps


O Hobbit é um filmaço, um dos melhores do ano, o ritmo do filme é até melhor que o primeiro Senhor dos Anéis (embora o Senhor dos Anéis tenha cenas mais memoráveis), vá ver.

Dito isso, o filme é longo demais. Dava pra tirar uns bons 15 a 20 minutos sem prejudicar em nada a história.

Agora vamos falar sobre a tecnologia. Sou contra 3D em filmes. Pra mim, 3D é um recurso para ser usado em atrações de 5 minutos, causando uma explosão sensorial e pronto. Tipo um orgasmo – uma sensação superlegal, mas rápida, pra dar vontade de ter mais. Um orgasmo de mais de quarenta minutos pode ser algo tão desgastante que provavelmente vai fazer a pessoa ter medo de ter sexo.
Enfim, três horas de 3D é um saco.

E tem o tal dos 48 frames por segundo.

Vamos por partes: em primeiro lugar, o que Peter Jackson pretende lançando o filme em 48 fps? Publicidade, fidelidade e a oportunidade de brincar com efeitos especiais em movimento.

Mas ele conseguiu cumprir seu intento? Em parte, sim. A seguir, minhas observações depois de ver o filme:

Luminosidade: com mais frames, o filme passa a ter maior exposição de luz. Ótimo para 3D, mas péssimo para a tecnologia atual de iluminação. A iluminação do filme é irregular e alterna de cena pra cena. É quase imperceptível, mas se você é do tipo que presta atenção em tudo como eu, vai sair do clima quando isso acontecer.

Velocidade: existe um efeito ótico chamado paralax que é quando um objeto em primeiro plano se move em velocidade ou sentido diferente de objetos em segundo plano, relativo a um ponto de observação. Trocando em miúdos, é um efeito utilizado quando o diretor quer criar ilusões de velocidade, profundidade e altura. Os 48 frames por segundo eliminam o blur que ajuda a conseguir esse efeito e algumas cenas claramente perderam seu impacto, parecendo efeito especial de segunda categoria. Em 24 fps as mesmas cenas ficaram perfeitas e muito, mas muito melhores mesmo.

Outras cenas criaram elementos que distraem a visão do centro da tela, como uma cascata em Valfenda que se move ultrarrápido por estar em primeiro plano.

Nitidez: a eliminação do efeito de blur (na verdade não é bem blur, é uma coisa chamada metacomposição, mas vamos que vamos) também mantém o detalhe de objetos em movimento, o que em tese é bom. O problema é que seu cérebro sabe que, se algo se movimenta muito rápido, não dá pra ver direito. Como você está vendo direito, seu cérebro conclui que o “algo” não está se movendo rápido, mas você olha pra cena e pensa: “mas claro que está se movendo rápido porque é a porra de um wharg!”. Essa confusão é uma questão de hábito e normalmente passa depois de uma meia hora de filme.

Realismo: Em alguns momentos, o ambiente parece bastante real, o que mata o filme, pois dá pra perceber a maquiagem dos atores e que o cenário é falso. Acho que tentar alcançar um super-realismo em um filme de fantasia não é a melhor ideia do mundo...

Alta definição: quando funciona, os 48 fps aumentam em muito o potencial do HD, principalmente ressaltando as texturas e os diferentes elementos de cena, produzindo imagens belíssimas.

CGI: em raras vezes, o efeito acima destaca o CGI do cenário real e mata um pouco o efeito. Ora, em algumas vezes, ele até destaca demais elemento reais que ficam parecendo efeitos quando não são. Mas a verdade é que, na maioria dos casos, o CGI ganha bastante e fica claro que a tecnologia dos 48 fps é o futuro dos filmes de animação.

Novidade: a tecnologia não é nova, isso é puro marketing. Várias produções diretas pra TV e a indústria pornô já utilizam câmeras digitais que são mais baratas e gravam em mais frames pro segundo. Por isso que o filme ás vezes fica com cara de novela e parece uma produção barata. O resultado final normalmente não é dos melhores, mas a expectativa em torno do Hobbit é de que o alto nível de produção, junto com o 3D, atraia mais pessoas para o cinema. Só não sei se ir pelo caminho de produções pornô mequetrefes é a solução...

Resumindo: não é nada demais, é questão de costume, vai ajudar o 3D e o CGI, mas o restante da indústria ainda precisa se adaptar (maquiagem, luz, etc.).
O Hobbit ficou meio cagadinho em algumas partes e eu achei o filme em 2D e 24 fps muito melhor e envolvente (o 48 fps toda hora me tirava do clima porque destacava algo que não parecia certo). Ilusão é produzida por coisas que a gente não vê. Se o ilusionista deixa você ver mais, a ilusão tem menos impacto.

Minha filha viu comigo as duas versões. Na versão 2D (que ela assistiu depois), ela se encolhia nas cenas de luta e segurava no meu braço. Na versão 3D e em 48 fps ela estava claramente mais distraída e relaxada - conversando, pedindo para ir ao banheiro, etc.

Como dizem os americanos: I rest my case.

Gandalf sempre sábio.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Visitando Gramado


Gramado é uma Orlando de terceiro mundo. Uma cidade voltada para o turismo, bem cuidada, com um comércio centralizado ao longo de uma ou duas vias principais que vive de sazonalidades e é cercada por atrações temáticas. Mas com algumas diferenças importantes:

1. O tema: Em Gramado o Mickey é substituído por Jesus, Papai Noel, o Coelho da Páscoa e dinossauros (não pergunte), não necessariamente nessa ordem. Fica no ar um questionamento ético, uma vez que explorar comercialmente a Sagrada Família não me parece muito certo, mas alguém pode argumentar, com certa propriedade, que é melhor valorizar a paz e a união que o Pato Donald e o consumismo desenfreado. Pense sobre o assunto e, se chagar a uma conclusão, parabéns.

2. Os hotéis: a maioria dos hotéis em gramado são pensões com um ar pitoresco, que pode muito bem servir de sinônimo para mal-conservado e empoeirado, mas, justiça seja feita, uma boa parte dessas pensões são realmente agradáveis com seu jeito simples, mas todas as hospedarias, sem exceção, da mais cara a mais barata, são caras demais pelo que oferecem. O custo/benefício é baixo.

3. A cidade: sempre muito bem decorada e limpa, Gramado tem a vantagem de possuir uma beleza natural em suas cercanias que Orlando nem sonha. Assim como em Orlando, é fácil andar em Gramado, mas o trânsito de Gramado é péssimo.

4. As atrações: Poucas coisas no planeta Terra podem competir com a Universal em termos de entretenimento e, obviamente, nada em Gramado chega perto disso. Mas os principais shows de natal da cidade rivalizam com os shows B da Disney (com algumas ressalvas importantes especialmente no quesito segurança) e Orlando não tem arquitetura colonial e nem a Serra Gaúcha.

As atrações de Gramado, no entanto, tem um charmezinho por conta de sua boa intenção, já que a maioria são esforços de uma família ou indivíduo. Mas o formato comercial é podre e a conservação pobre. O Mundo a Vapor é pra mim a única atração genuinamente interessante em toda a cidade. As outras coisas podem até divertir um pouco, mas são dispensáveis, especialmente porque são caras pra entrar (pelo que oferecem).

Destaque negativo vai para a aldeia do Papai Noel. Um espaço imenso cheio de boas ideias desperdiçadas.

O comércio: Gramado não só não tem outlet, como, pelo contrário, a cidade vive de explorar o turista. Tudo é muito caro e não se anda dez metros na cidade sem pagar 10 reais pra alguma coisa. É um sistema burro e cansativo. Mesmo que eu fosse milionário não voltaria à cidade, pois não gosto de me sentir explorado. A exceção é a comida que, apesar de cara, vele à pena. Como em todo lugar, quem procura vai achar coisas legais e espaços onde seu dinheiro é tratado de forma mais honesta, mas confesso que enchi o saco de gastar dinheiro na cidade. Eu até tinha dinheiro pra gastar, só não estava mais disposto a gastá-lo.

Achei os Papais Noéis de Gramado meio sem noção.
Conhecer Gramado e Canela foi ótimo. Canela, especialmente, é bem charmosa e Gramado pode ser legal, com sua boa comida e atrações que apelam pra emoção. Mas confesso que a coisa toda requer um pouco de boa vontade por parte do turista, o que é um pré-requisito fundamental pra uma boa viajem em qualquer circunstância, mas... Mesmo assim... Olha: valeu, mas não volto.

Bruna Surfistinha - O filme


Ô filme ruim da porra.

O troço é uma história filmada, não exatamente um filme. A edição é triste, a fotografia é pobre, os atores parecem meio perdidos, sem direção. Mas o pior é que o filme não tem timing, não tem clima nenhum.

O único apelo é a Debora Seco pelada fazendo umas sacanagens. Nada contra sacanagem e nada contra a Debora Seco pelada, mas é pouco.

É pouco porque o personagem da Raquel é interessante. Tive a oportunidade de conhecê-la pessoalmente – por conta da minha profissão, não da dela, e ela é uma pessoa bem vibrante com um ótimo astral, que a Debora não consegue alcançar no filme, que é muito deprê a maior parte do tempo.

Entendo que a ideia é mostrar que a vida dela não foi fácil e tal, mas você precisa alternar o tom senão as coisas ruins perdem o impacto. A não ser que seja um filme completamente “tô na merda” como Despedida em Las Vegas, o que não é o caso.

O livro é mais alto astral que o filme e tem o mesmo foco na sacanagem. Tem partes no livro que entregam toda a dificuldade que a menina passou, mas a coisa toda é mais equilibrada e o livro nem é lá essas coisas.

Sei que a Raquel gostou do resultado do filme, mas é preciso colocar as coisas em perspectiva aqui. Eu também acharia do caralho se a Debora Seco interpretasse minha biografia, mesmo que para isso ela tivesse que engordar uns 60 quilos e raspar a cabeça, mas não estamos falando de realização pessoal e sim de cinema.

Como cinema, Bruna Surfistinha é ruim demais. Como um marco na vida da ex garota de programa é a prova de que a Raquel transformou sua história de vida em sucesso.

Mas não assista, não, porque não vale nem pela curiosidade.

O poster do filme parecendo o Expresso para o Inferno...

... e a capa do livro. A diferença de tom é óbvia. Sensualidade primeiro, realidade depois. Foi assim que a mulher ficou famosa.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Como diria o Galvão: ACABOU!


A saga do Crepúsculo acabou e isso é um marco na história do cinema. Nunca antes uma série tão ruim de filmes fez tanto sucesso e o fato de que essa aberração acabou me enche de alívio e esperança.

Fãs da série já me disseram: “Quem é você pra criticar o filme? Não é você que gosta de assistir a filmes ruins?”.

Sim, eu assisti a Troll 2 e Zombie Strippers, filmes tecnicamente até inferiores a crepúsculo, mas com uma diferença: eu não levo esses filmes a sério (e muito possivelmente nem mesmo o diretor e roteirista do filme).

O sucesso de Crepúsculo é grave porque tanto os fãs como a autora acreditam que o que está sendo mostrado é algo que tem algum significado além de fetiche travestido de inocência. Se a história de Crepúsculo fosse uma paródia, a coisa toda poderia ser diferente, mas o verniz de seriedade que permeia a série transforma tudo em um produto imbecil, na melhor das hipóteses.

Dizem que o último filme da série é tão exagerado que inclusive funciona muito bem como paródia de si mesmo e, assistido com essa ótica, parece ser divertido. Quero dizer, divertido de uma maneira distorcida e doente, como quando um candidato desses programas de talentos se humilha na frente de milhões de espectadores cantando desafinadamente.

E, no último filme da série, os críticos internacionais dizem que os produtores quase fizeram um filme razoável, chutando o pau da barraca na segunda metade do filme, ignorando o texto original do livro (que é uma merda) e emendando um terceiro ato digno de Os Vingadores.

Mas eles ficaram com tanto medo de fazer uma coisa boa, ao que parece, que nos minutos finais enterraram a série com uma pá de cal, utilizando não apenas um, mas dois dos recursos narrativos mais abominados no universo conhecido: “foi tudo um sonho” e um “deux ex machina” pra resolver o impasse final.

Bonito.

Essa série ruim do inferno já vai tarde.

Full disclosure: eu talvez não seja a melhor pessoa pra criticar a série, pois eu assisti somente a trailers dos filmes, 40 minutos do primeiro e a cena do lobisomen dormindo de conchinha com a namorada do vampiro emo. E eu li apenas 73 páginas do primeiro livro.

Eu parto do pressuposto de que se todo o resto for mil vezes melhor do que o que eu vi, a coisa toda ainda é um dos piores produtos de entretenimento já produzidos na história da humanidade.

Bela, eu sou totalmente atrído pela sua filha menor de idade, mas de uma maneira super legal e nada esquisita.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Scott Pilgrim Vs the World


Há algum tempo atrás saíram dois filmes que fracassaram na bilheteria e que alguns críticos disseram que, na verdade, foi o público que não entendeu a mensagem, que os filmes eram muito inteligentes e as massas não conseguiram absorvê-los.

Um deles foi Sucker Punch, que eu considero um filme razoável. Sim, mais inteligente que a maioria dos filmes de ação, mas nada demais. Uma autocrítica da cultura nerd machista e fetichista, com bons efeitos especiais.
O outro filme era Scott Pilgrim Vs the World.

Como não achei Sucker Punch nenhuma maravilha, esfriei pra ver Scott Pilgrim, até porque já tinha lido o quadrinho e também não achava ele lá essas coisas. O quadrinho é simpático, mas nada brilhante.

Mas ontem tive a oportunidade de ver Scott Pilgrim e posso dizer sem sombra de dúvida que o filme é genial. E, sim, nem todo mundo vai entender e mesmo quem entender tem grandes chances de não gostar.

Em primeiro lugar, o filme é ousado: ele conta uma história sem se preocupar em direcionar o filme para um público específico. Ele tem uma linguagem adolescente, os protagonistas são jovens na faixa dos vinte, as referências culturais são da década de oitenta, o pano de fundo é nerd, a trama central é um romance, a estrutura narrativa é a metáfora misturada com realismo fantástico e, esteticamente, o melhor do filme são as cenas de luta.

A única coisa que pode chegar perto da alucinação estética do filme é o novo Cloud Atlas, dos irmãos Seiquelovski (os caras do Matrix). Mas Cloud Atlas tem o Tom Hanks, os caras do Matrix, milhões de dólares e provavlemente se leva a sério. Scott Pilgrim é um filme besta e não tem nenhuma pretensão além disso: ser um filme besta narrado de uma forma diferente, criativa e divertida.

Prevejo que Scott Pilgrim será um eterno sucesso underground entre os jovens nerds de ambos os sexos e meninas e mulheres descoladas, que vão adorar a subjetividade e complexidade dos personagens femininos. Além, é claro, de também encantar adultos que têm uma queda por uma mistura criativa que dá certo, por mais maluca que seja.

Ao ver Scott Pilgrim não pude deixar de ver as semelhanças com a tal saga do crepúsculo (que escrevo com letra minúscula pra evitar qualquer sinal de respeito da minha parte). Ambos tratam de um jovem triângulo amoroso com elementos fantásticos. Mas enquanto os personagens de crepúsculo são ridículos sem intenção, Scott Pilgrim abraça o ridículo e o transforma em metáforas incrivelmente realistas, de forma bem-humorada e inteligente.

Enquanto crepúsculo é só bobo, Scott Pilgrim é bobo e brilhante, o que faz toda a diferença.
Pilgrim, Ramona e, ao fundo, a Liga dos Ex-namorados do Mal

domingo, 14 de outubro de 2012

Regresso científico


Ah, merda! Não se pode mais mesmo confiar na ciência. Em vez de fazer coisas interessantes como carros que voam e clonar dinossauros de uma vez, os cabeções só se ocupam em fazer versões novas de celulares, o que, se me perguntarem, é uma perda de tempo.

Já reparou que o celular faz tudo pior que sua contraparte? É uma agenda pior que uma agenda, um computador pior que um computador, uma plataforma de jogos pior que uma plataforma de jogos e um telefone pior que um telefone. A única “vantagem” é que você pode levá-lo para qualquer lugar – é uma fralda pra quem não sabe fazer uso da tecnologia no lugar certo.

Mas digresso, digresso.

Estou preocupado mesmo é com a questão da clonagem dos dinossauros, pois não é que um grupo de cientistas australianos (ou canadenses, agora não lembro) descartou completamente a hipótese de um dia clonarmos dinossauros?

Eles descobriram que com âmbar, gelo ou calcificação, a meia-vida do DNA não dura mais do que uns parcos milhões de anos. Pra resumir: do triássico, jurássico e essa turma toda só vamos ver mesmo os ossos.

Ou seja, meu sonho de ir pro trabalho montado em um velociraptor, ou num carro voador já que tocamos no assunto, parece cada dia mais distante. Agora montado na porra de um celular até já dá pra ir, porque o computador de bordo hoje em dia tá virando um celular com um carro em volta.

Enfim, ainda dá pra clonar o mamute e o tigre dentes-de-sabre.

Galera, vamos então fazer um combinado e parar de comprar todo ano o mesmo produto de novo só porque ele agora vem com uma câmera que tira fotos em uma resolução que o nosso olho não capta. Ok? OK?

Se todo mundo para de comprar, os caras param de quebrar a cabeça com essas porcarias e vão pensar em coisas que valem mais a pena. Fala sério: não é muito mais legal ir pro trabalho montado num tigres dentes-de-sabre do que ter um aparelho que faz dez milhões de coisas, mas que você só usa pra mudar de toque pro tema da novela (oi, oi, oi) e pra jogar angry birds? 

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Ai, Jesus


OK, já vou logo avisando que a história que vem pela frente é bizarra, daquelas que tem tudo pra ser mentira, mas é tão surreal que só pode ser verdade.

Enfim,

A sexagenária Cecília Gimenez da cidade de Zaragoza, na Espanha achou um belo dia no seu porão uma pintura com a efígie de Jesus Cristo. Desolada com o estado geral da gravura resolveu, ela própria, mesmo sem nenhum treinamento formal (ou informal) em artes dar um trato na imagem, com o intuito de recuperar o original.

O resultado da “recuperação” foi catastrófico e a moça transformou o rosto de Jesus no retrato de um babuíno desconfiado brotando de uma melancia (ou algo parecido).

Percebendo que fez merda (desculpem a frase direta, mas não tem outra forma mais clara de retratar o estado de espírito da artista amadora), ela procurou a igreja local e mostrou o resultado da sua obra.

A igreja identificou a gravura como sendo de uns trezentos anos antes e pegou a obra pra “ver o que dava pra ser feito”.

A história já seria ótima, mas não acaba aqui.

Antes que a igreja pudesse fazer qualquer coisa, a história se espalhou pela internet e dezenas de curiosos resolveram visitar a igreja pra ver pessoalmente o “Estrago de Cecília”, nome pela qual a obra passou a ser conhecida.

O tráfego na igreja cresceu tanto que o pároco local decidiu cobrar para que as pessoas vissem a obra. Com a brincadeira, a igreja faturou pouco menos de três mil dólares. Ao saber do lucro, Cecília não titubeou, acionou seu advogado e exigiu – pausa dramática – royalties!

O resultado do litígio ainda não saiu.

O cúmulo da mediocridade artística: destruir uma obra de dezenas de milhares de dólares pra exigir 1 e meio por cento de 2.600 dólares na justiça.



segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Pendurando as chuteiras


Existem Milhares de razões pra não se gostar de futebol. Das mais imbecis (não se marcam muitos pontos) às mais dolorosamente verdadeiras: futebol é o esporte coletivo menos técnico que existe.

Embora o futebol tenha jogada ensaiada, posicionamento, treinamento e preparação física, em qualquer outro esporte (vôlei, handebol, basquete), tudo isso é mais importante, mais evidente e tem muito mais impacto no resultado final.

Futebol é o único esporte no qual o pior em campo pode ganhar. Não o pior historicamente ou estatisticamente, mas efetivamente quem está jogando pior na partida! O time vai lá faz um gol meio que na cagada (o cara quis cruzar e a bola entrou) e aí vão os onze pra defesa e o goleiro pega tudo, a bola bate na trave, o juiz é ruim, etc. Embora isso faça até um pouco parte da emoção do futebol, não dá pra negar que é muitas vezes injusto.

É o esporte que menos se modernizou ao longo do tempo, é o que tem a pior arbitragem, a torcida mais violenta e é o que tem mais ladrão. E ainda assim, é o mais popular por aqui e o que movimenta mais dinheiro.

A explicação pra isso é até relativamente simples: tradição e acesso. A gente cresce assistindo a esse troço desde criança e dá pra jogar futebol em quase qualquer lugar, com quase todo tipo de coisa remotamente esférica. A bola não precisa quicar direito (como no handebol) e não precisa ter um peso razoável (como no vôlei).

Mas com todas essas críticas eu sempre gostei de futebol. De jogar e de assistir. Porém, ao acompanhar o Brasil nessas Olimpíadas (no futebol e nos outros esportes), o meu interesse por esse esporte, que já vinha minguando, murchou praticamente de vez.

E a explicação pra isso também é desgraçadamente simples: o futebol do Brasil, hoje em dia, não inspira nada. Não evoca patriotismo, garra, competência, dedicação, nada disso. Os moleques de periferia que jogam e treinam futebol como loucos, fazem isso pra ganhar dinheiro e pegar mulher. A paixão pelo esporte, quando existe, vem em segundo plano.

O futebol movimenta dinheiro demais. Os jogadores bons têm dinheiro muito antes de ter caráter, personalidade e maturidade. Os níveis mais altos de organização do esporte são panelinhas e portas giratórias, aonde as mesmas pessoas seguem dividindo o mesmo bolo, que só fica maior.

Eu assisti aos jogos de vôlei da seleção feminina nas olimpíadas com minha filha de nove anos, a Bia e, quando a Fernanda Garai fez o ponto final, abocanhando a medalha de ouro, ela pulou e comemorou e, depois de algum tempo, me disse:

 - Poxa, pai. Agora eu entendi porque você sempre me fala que é muito importante a gente lutar pelo que acredita.

Inspiração.

Na hora do hino ela ficou em pé e cantou o hino nacional (da melhor forma que ela pôde).

Patriotismo.

Sabe quando o futebol vai atingir esse nível? Acho que nunca.

E só pode ser o dinheiro. Não pode ser a origem humilde, pois cansei de ver corredores brasileiros que treinaram sem patrocinador e em condições horríveis abraçados com a bandeira e dizendo que tem orgulho de representar o Brasil. 

Claro, vários jogadores também já fizeram isso, mas nenhum é tão convincente. O último jogador de futebol que vi gritar de raiva, emoção e garra como a Thaísa foi o Maradonna, naquele jogo que ele tinha cheirado todas e foi expulso da competição.

Veja bem, não estou dizendo que todo jogador é mercenário, mas o que estou falando é que o que no vôlei é regra, no futebol é exceção.
Thaísa - garra e inspiração.
E bem melhor de olhar que o Neimar.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Tanananananananananananananan - BATMAN!


O último filme do Batman quase não tem o Batman, pois o homem-morcego propriamente dito é quem provavelmente menos aprece. Apesar disso, e talvez por causa disso, é muito bom.

Melhor que os outros? Talvez sim, mas vai depender muito de sua perspectiva. 

Tecnicamente é praticamente igual. Tem uma montagem de som levemente superior aos outros dois, fotografia semelhante, cenas de ação um pouco piores, tomadas mais ambiciosas, edição tão primorosa quanto.

A maior diferença entre os filmes está na trama e na construção narrativa.

O primeiro tem a vantagem de ser o primeiro. Nolan acertou no climão gótico sem cair na caricatura com sua visão realista do Batman que os quadrinhos modernos pregam e que os fãs mais novinhos exigem, como se o Batman não existisse antes do Frank Miller. Além disso, a história original do Batman é uma história boa de contar e não é preciso malhar demais o roteiro.

O segundo vai ter sempre a aura da morte do Ledger e isso torna o filme maior do que o que realmente foi. Não me leve a mal, o segundo é um filmão e o Coringa de Ledger é ótimo, mas ele nem é o melhor Coringa de todos os tempos. Esse troféu vai para o Mark Hamil, que interpreta o Coringa com perfeição nas animações e nos videogames. Ledger fez um ótimo psicopata inspirado no Coringa, atuou superbem e ganhou impulso com o tom realista que deu cara nova ao personagem. Show. Aí o cara morreu e tudo isso dobrou de valor. Fica difícil competir com esse tipo de coisa.

O terceiro tinha a ingrata missão de, mesmo sem a capacidade de surpreender esteticamente, dar um fim à sequência de filmes, sem manchar o legado dos dois primeiros. E, apesar do roteiro previsível, acaba fazendo um pouco mais que isso.

O filme tem fan service, tem uma deliciosa Selina Kyle (não tem mulher-gato, ninguém a chama de mulher-gato no filme e não, não é a mesma coisa), tem uma presença maior do elenco de suporte (e tinha que ter mesmo que os caras são bons pra caralho), tem um vilão interessante na figura do Bane e tem até o Batman.

Nolan pagou o preço de escolher um arco narrativo longo e não conseguiu contar toda a história com os detalhes que poderiam ajustar o tom de determinadas cenas e explicar melhor uma ou outra parte. O filme acabou um pouco sem “gravitas”, mas ficou divertido pra cacete. Quem não tem um mínimo de criatividade pra preencher um ou outro pedaço que ficou em branco não deveria nem estar vendo filme do Batman.

Teve gente que reclamou do final, mas vale à pena lembrar que esse Batman do filme é a versão do Nolan e não é bem o Batman dos quadrinhos. Acho que é até necessário um pouco de liberdade pra deixar as coisas interessantes.

Fora isso, o filme é meio idiossincrático, herdando dos dois primeiros esse contraste entre o realismo que Nolan insiste em imprimir com cenas piegas, frases de efeito, poses com mãozinha na cintura e a voz meio ridícula do Christian Bale como Batman, mas acho que é nisso que está uma boa parte da graça do filme.

Vale à pena ver? Claro.

É melhor que os outros dois? Todo mundo vai dizer que não, mas talvez seja, pois era o que tinha a missão mais difícil e ele segura a onda.

Audrey Hepburn - a Selina dos meus sonhos.

Michelle Pfeiffer - a Selina do fetiche (MILF e Bondage).

Anne Hathaway - a Selina melhor resolvida das versões live action
do Batman - e delicinha, delicinha.


terça-feira, 31 de julho de 2012

VISA - mas que amigos, hein?


Na época da última Copa do Mundo fiz uma série de posts (procura aí) falando sobre propagandas que não fazem muito sentido.

O que me chamou atenção na época foi o fato de que eram marcas de muito peso, como Coca-Cola, exibindo comerciais com mensagens de sentido dúbio e com uma lógica distorcida (além de erros de português).
Salvo engano, uma das propagandas que não fazia muito sentido era da Visa e, pelo visto, de lá pra cá, eles mantiveram a mesma agência de publicidade e o mesmo diretor de marketing, porque eles estão fazendo cagada de novo nas Olimpíadas.

Você já deve ter visto. É uma série engraçadinha que mostra pessoas sem noção como a família que quer ir pras Olimpíadas de Londrina ou os dois baixinhos querendo montar uma dupla de vôlei.

O slogan é: às vezes é bom ter um amigo pra avisar, pagar com Visa é muito melhor.

Pare pra pensar dois segundos no que a propaganda está realmente dizendo.

Eu te ajudo. A pessoa que aconselha os sem-noção, em vez de avisar que os caras estão fazendo algo surreal, aconselha-os a pagar com Visa. Ele deixa de dar um bom conselho. Ele deixa a família ir pra Londrina ver os Jogos Olímpicos e pega a grana dos baixinhos. Conclusão: quem te aconselha a pagar com Visa é um filho da puta.

A situação é sutil, mas a mensagem é clara. Quem te aconselha a pagar com Visa é provavelmente um babaca. O amigo do anúncio é, na verdade, um amigo da onça.

Eu sei que o objetivo da propaganda é muito mais fazer piada do que passar uma mensagem concreta, mas não é assim que se faz. Quando um publicitário expõe um produto, ele tem a responsabilidade de estar atento às conotações e denotações da mensagem. Meu orgulho profissional sempre morre um pouco quando vejo marqueteiros super bem pagos errando no básico.

Moçada do VISA, às vezes é bom ter um amigo pra avisar: seu comercial depõe contra a imagem da marca.

domingo, 29 de julho de 2012

Eu sabia! Eu sabia!


É comum ouvir uma pessoa mais velha reclamar de duas coisas:
1. Já não se fazem mais músicas como antigamente e
2. Essa juventude ouve música muito alta.

Um estudo de um grupo de cientistas espanhóis acabou de provar que as duas coisas são verdade. Eles juntaram um caralhão de músicas (não sei quantas) desde 1955 até 2010 e jogaram tudo no computador.

A primeira descoberta foi a mais óbvia: as produtoras musicais estão equalizando suas músicas em volumes mais altos e mais uniformes. Isso significa que o volume 5 em 1955 era muito mais baixo que o mesmo volume 5 em 2010 e que, além disso, todos os instrumentos em 2010 estão sendo equalizados mais uniformemente, sem sutilezas.

A falta de sutileza não afeta muito a “qualidade” da música porque as músicas de hoje tem menos instrumentos musicais (timbres), menos notas, menos variação de notas, menos palavras, menos rima, menos métrica e até menos variação de tom. Ou seja, até a maioria das vozes é igual.

Pronto, está provado cientificamente o que eu venho repetindo há anos. A globalização e os monopólios de entretenimento nos nivelam por baixo. Dos videogames aos filmes, passando pela música nós nunca fomos tão tecnicamente capazes e tão criativamente pobres.

Até a literatura, que tecnicamente evoluiu muito pouco, sofre com a homogeneização e pobreza da geração youtube.

Em 1957 e início dos anos 60, um livro para adolescente que se tornou um sucesso foi “Rifles para Watie”, contando a história de um jovem que se alista para a guerra civil em busca de aventura e encontra uma realidade bem diferente. O livro é engraçado, dinâmico, tem suspense e o autor fez um trabalho de pesquisa absurdo, dando vários detalhes sobre a guerra; de localidades, aos uniformes, passando pelo café horrível das trincheiras. Tudo em uma linguagem direta e simples.

Hoje, infanto-juvenil de sucesso fala sobre um vampiro emo apaixonado por uma garota retardada, que também arrasta uma asa pra um lobisomem metrossexual. E a autora não consegue nem acertar nos detalhes das criaturas inventadas, para as quais nenhuma pesquisa é necessária. Lobisomem depilado e vampiro que brilha não é criatividade, é gozação.

Existem bolsões de resistência, claro, no cenário independente de videogames, nos poucos e bravos diretores de cinema autorias (ou que já ganharam tanto dinheiro que já ligaram o foda-se) e em alguns blogs por aí que ainda usam a palavra homogeneização e não terminam cada post com uma contração ou siglas de expressões americanas, mas não estou vendo nenhuma luz no fim do túnel para a música.

Claro, ainda acho uma ou outra coisa que me agrada, mas a verdade é que no meu pendrive com milhares de músicas, menos de 5% é do final dos anos 90 pra cá. E desses cinco por cento, a maioria só está lá pra eu ouvir com minha filha que, a cada dia que passa, pede mais e mais as músicas dos outros noventa e cinco por cento. LOL.

Newberry Medal é um prêmio literário superconceituado que existe desde 1922.

Olhe para a cara da Bela e responda: onde está a outra mão do
Lobisomen?

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Por que a DC fracassou onde a Marvel teve sucesso?


Muita gente não sabe disso, mas a ideia de fazer um filme com os seus principais heróis foi primeiro da DC. Em uma Comic-con há alguns anos atrás, o pessoal da DC anunciou a intenção e a possibilidade sobre um filme da Liga da Justiça e a Marvel decidiu: vamos fazer primeiro!

Mas por que o projeto da Marvel deu certo e o da DC ainda está patinando no gelo?

Motivo 1: Ação! A Marvel se moveu muito mais rapidamente. Aprovou roteiros logo de cara, acertou no casting de primeira, contratou com mais agilidade, produziu de forma mais eficiente. Só com o Super-Homem, a DC ficou patinando anos, sem definir diretor, sambando em torno de 4 roteiros diferentes (um do Kevin Smith. Google Kevin Smith Superman e divirta-se) e sugerindo atores nada a ver como o Nicholas Cage para o papel principal. Adoro o Cage, mas como Super-Homem nem pensar.

Motivo 2: Fundação. Com o premiado trabalho de Mark Millar e Straczinsky em Marvel Millenium, a Marvel já tinha de onde tirar inspiração para uma perfeita conversão dos seus heróis para os dias atuais. O perfil dos personagens, o design dos uniformes, a maneira como eles interagem com o mundo e entre si e até diálogos e cenas inteiras foram chupados do excelente quadrinho.

A DC não tinha nada parecido. Só agora com o New 52 que alguma coisa aconteceu nesse sentido. Mas, mesmo assim, embora a nova Liga da Justiça tenha começado muito bem, o trabalho ainda é muito inferior ao roteiro de Millar para The Ultimates.

Motivo 3: Padrão. O Cavaleiro das Trevas do Nolan é um bom filme e a sequência é ainda melhor, mas o clima dos filmes não tem nada a ver com o quase infantil Superman e a ficção científica B de Lanterna Verde – esses filmes não parecem pertencer a um mesmo universo. Os filmes da Marvel são diferentes entre si, mas têm um padrão – e personagens em comum – que os torna facilmente reconhecíveis. Esse padrão existe até mesmo nos filmes de X-men e Homem-Aranha, tornando perfeitamente possível um cross-over entre essas franquias.

A DC não soube estabelecer um padrão para seus filmes e, com isso, até os filmes bons, como os do Batman, atrapalham o projeto.

Motivo 4: Casting. Ok, o fato de existir um Robert Downey Jr – um ator de altíssima categoria que não só gosta de quadrinhos, como é o próprio Tony Stark na vida real - foi sorte, mas o resto é competência. Os caras escolheram tudo certo – dos atores principais aos atores secundários (que inclui gente do porte de Natalie Portman e Gwineth Paltrow). Tiveram o cuidado de incluir a Maria Hill no filme – sem a menor necessidade – mas com absoluta competência. Tá certo, penaram com o Hulk, mas, na hora que mais importava, Mark Ruffalo mandou muitíssimo bem.

A DC acertou com o Christian Bale.

Motivo 5: Direção. A DC escolheu ótimos diretores para seus filmes, mas nenhum deles é um team player. Se você vai fazer um projeto no qual vários filmes vão virar um só no final, o diretor precisa entender que alguma coisa precisa ser sacrificada para que o tom e o universo dos filmes seja coerente. Além disso, escalar o Keneth Branagh, o cara que mais entende de Shakespeare em Hollywood pra dar naturalidade ao jeito esquisito de falar dos asgardianos foi um golpe de gênio. Os diretores da Marvel entenderam que precisavam fazer um filme de Super-Herói. O Batman de Nolan é um pouco realista demais e, embora isso traga bons resultados como um filme individual, descaracteriza o projeto, como já mencionei.

Motivo 6: lastro financeiro e experiência. A Marvel já estava com a bola rolando com vários sucessos no bolso como Homem-Aranha e X-Men (apesar dos filmes pertencerem a estúdios diferentes). Foi mais fácil financiar suas idéias e realizar produções de ponta. A DC vinha de uma série do Batman que até teve sucesso, mas se perdeu no final. Em todo caso, O Batman ainda tinha crédito no caixa, mas personagens menos conhecidos como o Lanterna Verde e a Mulher-Maravilha demoraram pra engrenar (a Mulher-Maravilha nem engrenou ainda. E eu gostaria de ver a cara do executivo que recusou o roteiro do Joss Whedon para a personagem).

Além disso, a Marvel acertou na mão nos seus efeitos especiais de luta e vôo e optou pelo caminho já trilhado, fazendo melhorias incrementais a cada filme. A DC quis fazer algo diferente e gastou muito com experimentação, queimando orçamento onde não devia e, pior, obtendo resultados péssimos.

Motivo 7: Diversão. Enquanto os filmes da DC eram cheios de idas e vindas e repletos de histórias sobre complicações no set de filmagem, os sets da Marvel são cheios de histórias engraçadas e boa sintonia entre atores, diretores e equipe. Das sempre divertidas homenagens a Stan Lee às piadinhas sobre os personagens dadas em entrevistas. No próprio filme, os atores e diretores acertaram o timing conseguindo levar o filme a sério o suficiente, mas sem perder a piada quando surge a oportunidade por causa de um clichê ou situação absurda.

Maria Hill nos quadrinhos...

... E Cobie Smulders, Maria Hill no filme - casting correto (do qual eu gostaria de ter participado).
A Marvel não é infalível, claro. Motoqueiro Fantasma é um exemplo. E o reboot do Homem-Aranha parece que está indo na direção contrária do que o estúdio aprendeu com Os Vingadores, mas depois de juntar cinco filmes em um sexto de alta qualidade, os caras estão com muito, mas muito crédito mesmo.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Avengers assemble!


Vamos ser diretos como um chute no estômago: Os Vingadores é um dos melhores filmes de ação já feitos e, possivelmente, o melhor filme de super-heróis de todos os tempos.

O primeiro motivo eu já falei em posts anteriores: Os Vingadores não é apenas um único filme, mas o ápice de um projeto que envolveu 5 outros filmes, todos sucesso de público (alguns em menor escala, mas todos foram sucesso). Quando o filme começa, pouquíssimas explicações precisam ser dadas, pois a audiência já sabe quem é quem e está pronta para o desenvolvimento da história.

Motivo 2: os atores estão à vontade em seus papéis, especialmente Robert Downey Jr que parece que nasceu pra ser Tony Stark. Mas todos parecem estar se divertindo e entraram totalmente no clima dos seus personagens.

Motivo 3: O tempo de tela de cada herói é ótimo. Todos têm boas cenas e oportunidade de brilhar e, por causa do motivo número dois, a sinergia entre os atores é excelente. Os diálogos têm um ótimo timing e algumas trocas de sopapos e ideias são antológicas.

Motivo 4: Tecnicamente o filme é do caralho. Excelente música, fantásticos efeitos especiais, tremenda montagem e as cenas de ação são variadas, características pra cada herói. Das artes marciais da Viúva Negra à bordoada nua e crua do Hulk o filme tem de tudo: nave espacial, tiroteio e chute no saco.

Motivo 5: O filme é bem-humorado e crítico. A história é levada a sério apenas na medida certa, com amplas passagens bem-humoradas e um humor auto-referencial que funciona muito bem. Do discurso do vilão interrompido com sutileza pelo Hulk até as piadinhas corta-clima de Tony Stark, mostrando que o roteiro sabe muito bem o que é clichê e o que não é.

Motivo 6: O roteiro. Espertamente, ninguém tentou fazer o roteiro do século. Copiaram a maior parte das idéias dos Vingadores de Mark Millar (que foi um puta sucesso nos quadrinhos e, na verdade, a referência para todo esse projeto) e deram ênfase na interação entre os personagens, deixando todo o resto como pano de fundo. Os produtores sabiam muito bem o que era importante para o filme funcionar.

Motivo 7: Fan service. Da primeira à última cena, o filme é repleto de referências a histórias famosas, frases marcantes dos heróis e cada coisinha que se espera de um Team Up de heróis está presente: conflito, união, traição, vingança, admiração, confiança, adversidade, vitória. Tá certo que tudo isso é exposto em alta velocidade e sem rodeios (o filme não exatamente Conduzindo Miss Daisy), mas dá pra entrar no clima sem forçar muito a barra. E mais: músculos dos garotões e close na bunda e nos peitos da Scarlet Johanson, pra todo mundo ficar satisfeito.

Motivo 8: a direção de Joss Wheddon é brilhante e o ele mantém o filme com um ritmo surpreendente. O cara entende de quadrinhos (fez uma boa rodada com os X-Men) e provou que consegue transmitir boa parte dessa linguagem para a telona, com cenas que funcionam muito bem em câmera lenta por serem reproduções fiéis de cenas famosas desenhadas por grandes artistas da Marvel.

Esse tipo de filme existe pra ser divertido e, honestamente, não lembro qual foi a última vez que me diverti tanto no cinema. Já vi filmes mais inteligentes, melhor editados, mais empolgantes, mais emocionantes e mais envolventes – mas vi poucos filmes mais divertidos. Os Vingadores conseguiu fazer o que a nova trilogia de Star Wars e o último Indiana Jones poderiam ter feito, mas falharam miseravelmente: me transformar de novo em criança, com olhos atentos na tela e um sorriso que não queria sair do rosto. 

quarta-feira, 25 de abril de 2012

O melhor emprego do mundo


Há alguns dias atrás, vazou um documento interno da Valve: uma cartilha que eles dão para os novos funcionários da empresa. Pra quem não sabe, os caras da Valve são os criadores de uma pequena franquia de jogos chamada Half-Life, dos fenômenos online Team Fortress e Left 4 Dead e, claro, do mais eficiente sistema de venda de jogos online que existe, conhecido como Steam.

A empresa fatura milhões por ano, é sinônimo de qualidade e de respeito ao usuário e é considerada por muitos como um dos melhores lugares do mundo pra se trabalhar. E agora a gente sabe por quê.

A cartilha, escrita com muito bom humor, avisa aos novos funcionários para não entrar em pânico, pois eles têm certeza de que você nunca trabalhou em um lugar assim e que é normal levar um tempo pra se acostumar. Olha só algumas das diretrizes da empresa:

. Não existe chefe na Valve. Você não presta contas a ninguém e ninguém te diz o que fazer. Você trabalha no que você quiser e não precisa ser nem dentro da sua especialidade. Eles, inclusive, encorajam você a trabalhar fora da sua especialidade. Os donos da empresa não são seus chefes – se eles te pedirem pra fazer alguma coisa, você pode dizer não.

. As mesas e cadeiras têm rodinhas. Elas são um símbolo de liberdade, mas também são usadas para, literalmente, mudar sua mesa de lugar quando você bem entender. Todos os seus sistemas (telefone, computador) são ligados por uma única tomada – você despluga a tomada, leva sua mesa para onde bem entender e liga em outra tomada de novo. Para achar alguém dentro da empresa você precisa recorrer à Intranet da empresa, que rastreia onde os computadores estão ligados.

. A empresa conta com sala de massagem, área de entretenimento, área de Buffet, área de descanso e academia. Eles encorajam você a usar todos esses espaços sem sentir culpa, quantas vezes por dia você quiser.

. Eles consideram trabalhar até tarde todos os dias sinônimo de ineficiência.
. Quando você tiver a fim, pode trabalhar de casa – não precisa inventar desculpa pro seu chefe – até porque você não tem um.

. Você recebe participação nos lucros da empresa. Como isso é feito? A solução é genial: uma vez por ano você é avaliado por todo mundo que trabalhou junto com você em alguma coisa. Essas pessoas te dão nota em uma série de itens e também apontam onde você pode melhorar. Os itens formam um “score” e o seu salário é revisto de acordo com a sua pontuação. Além disso, você recebe, de forma anônima, todas as dicas que te deram para melhorar. Ou seja, ultimate peer evaluation. Não tem chefe pra puxar saco e, se você abusar da liberdade que te deram, sem responsabilidade, isso vai refletir direto no seu bolso.

. Ninguém nunca foi demitido da empresa por cometer um erro. Eles incentivam o pensamento criativo e atitudes de risco.

. Tudo o que você fizer precisa ser feito com o consumidor em mente.

Funciona? Os salários da Valve são os maiores do mercado e, como eu falei antes, os caras estão nadando em dinheiro e reputação. A empresa não é muito ágil, mas eles também não precisam ser – ao menos por enquanto. O segredo está em quem contratar, pois não é qualquer pessoa que consegue se adaptar a esse tipo de ambiente: tem que ser alguém criativo, altamente motivado, que sabe trabalhar em equipe e que, principalmente, gosta e acredita no que faz. E aí? Vai mandar seu currículo?

terça-feira, 24 de abril de 2012

Sacanagem é não ter profissionalismo


Às vezes eu gostaria que mais coisas fossem feitas com o profissionalismo dos filmes pornôs italianos.

No filme de sacanagem italiano, a fotografia é boa, a maquiagem é bem-feita, o figurino é de primeira e os caras ainda capricham na locação. Não é superprodução, não. Mas é bem feito, profissional, arrumado.

De acordo com fontes que vão permanecer anônimas, os diretores até tem a preocupação de encontrar atores com membros de tamanhos similares para as cenas de ménage – pra tudo ficar esteticamente mais equilibrado.

Precisava disso tudo? Claro que não. A prova são os filmes de sacanagem americanos e brasileiros que são feitos com muito menos atenção e têm o mesmo sucesso (quando não fazem mais sucesso ainda por causa do marketing exagerado). Outra barreira de entrada para os filmes italianos é que eles têm diálogo (até diálogo tem!) e só quem fala italiano é italiano e uma menina que conheci uma vez na praia que era doidinha de tudo.

Enfim, os caras têm capricho e respeitam a própria profissão. E tem gente que ainda acha que filme de trepa-trepa não tem lição de moral.

Itália: luz indireta, filtro de luz e contra-luz.

Buttman: vamos fimar na praia que tem luz natural!

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Entendendo o Mangá e o Anime – a linguagem japonesa de narrativa ilustrada

Você sabe por que o Mangá e o Anime são mais bem aceitos pelos mais jovens? A resposta é simples, os mais jovens têm menos preconceitos culturais. Alguém que já está muito acostumado à linguagem narrativa ocidental (especialmente a importada dos Estados Unidos) pode estranhar muita coisa quando lê um mangá ou assiste a um Anime pela primeira vez e, muitas vezes, não consegue absorver o que está sendo mostrado, pois não consegue se livrar de suas pré-concepções sobre como uma história ou cena devem se desenvolver.

Hoje em dia, os elementos artísticos andam bem misturados, graças a artistas ocidentais que importaram referências orientais (como Frank Miller e Tarantino), graças à pesada influência dos videogames japoneses no ocidente (muito diminuída nos últimos dez anos, infelizmente) e graças também à forte penetração da cultura ocidental no Japão que, habituado a tratar tudo com certa reverência, absorveu de maneira quase religiosa uma série de elementos da cultura pop americana.

Mas os japoneses foram pioneiros em uma série de técnicas – e de manias - narrativas e hoje vou falar sobre algumas delas. Por quê? Porque ninguém perguntou, claro.

Representação do tempo

Mesmo antes da MTV, o ocidente já tinha a mania de contrair o tempo em suas narrativas, exibindo em minutos o transcorrer de horas e em poucos quadrinhos o que seria uma longa cena de ação. Quem nunca viu nos quadrinhos os recordatórios falando “horas depois...” ou “no dia seguinte...”? Ou, no seriado antigo do Batman, aquela vinhetinha que envolvia toda a cena em uma espiral para reapresentá-la no segundo seguinte já bem adiantada?
No Japão, a representação do tempo é muitas vezes bem diferente. O tempo é distendido. E por dois motivos muito fortes:

1. A preocupação com o que se passa na cabeça do personagem no momento da ação e não apenas com a ação em si.

2. A necessidade do autor de detalhar uma ação. Não basta mostrar que o Batman deu um soco no vilão. O autor de mangá e anime quer mostrar a tensão do músculo, o ponto de impacto, a técnica marcial exata utilizada, a expressão de raiva no rosto do atacante, a expressão de dor no rosto de quem levou o soco e, não raro, a reação de todo mundo que estava presente na cena e viu o soco sendo dado.

Esse elemento cultural pode resultar em momentos sublimes, como os estudados duelos de samurai que os westerns tipo spaguetti copiaram (câmera na arma, câmera nos olhos, câmera nos dedos se movendo, câmera nos olhos, câmera na platéia se escondendo, câmera na boca mascando o tabaco, etc.) a momentos que desfiam a lógica linear, como o herói que dá um pulo e parece que passa meia hora no ar, porque antes de cair no chão ele fala dos seus ensinamentos, relembra a infância e explica a técnica do pulo. Se você entende que o tempo ali naquela cena está distendido e que o narrador está apresentando contexto misturado com a ação, as coisas fazem bastante sentido. Se você não consegue perceber isso, a primeira reação é classificar o que viu como coisa de maluco (o que talvez até seja, mas agora você sabe que existe uma lógica por trás da loucura).

Expressões exageradas
Por trás das expressões exageradas dos desenhos japoneses existe um motivo cultural e um motivo estético.

O motivo cultural: embora isso tenha mudado um pouco nos tempos modernos, a sociedade japonesa sempre foi bastante reservada e a arte de uma forma geral sempre foi um outlet para a expressão mais desinibida e, muitas vezes, caricata, como um contraponto a esse universo de constante repressão social.

O motivo estético: a obsessão japonesa pelos detalhes e pelo desenvolvimento psicológico de seus personagens. É mais fácil partir para a caricatura quando você quer ter plena certeza de que a audiência entendeu o seu recado. Embora possam parecer ridículo os olhões esbugalhados e bocas gigantes, enquanto os quadrinhos americanos tinham três expressões: feliz, sério e zangado, o mangá japonês já conseguia mostrar coisas como: tesão, decepção, inveja, surpresa, constrangimento e loucura - veja a capa de A Piada Mortal, uma das histórias em quadrinhos mais aclamada de todos os tempos. A cara do Coringa na capa, magistralmente desenhada pelo Brian Bolland é puro mangá.

Hipersexualização
Essa coisa da mulher ser tratada desde novinha para servir o homem (em todos os sentidos) é um elemento cultural forte do Japão. E a presença dele nas ilustrações narrativas é reflexo dessa obsessão pela submissão feminina.

A Europa também sempre gostou do sexo e da sacanagem nos seus quadrinhos (herança da nobreza libidinosa), mas na Europa o sexo quase sempre aparece retratado como uma coisa que acontece entre adultos.

No Japão, a sexualidade é quase exclusivamente fetichista, e o fetiche normalmente envolve pré-adolescentes, dominação e, contraditoriamente, inocência. Essa mistura rende bons momentos quando cria interações complexas e provocantes entre os personagens, mas também freqüentemente gera cenas embaraçosas e constrangedoras para as nossas sensibilidades ocidentais.

Violência

Essa é simples. No Japão, assim como na Europa, quadrinhos e animação não são necessariamente coisas de criança. Esse conceito está mudando também por aqui no ocidente, mas por lá já é assim há muito tempo.

Além disso, lá existe um respeito muito grande à visão do artista e há menos revisões editoriais e menos preocupação em falar apenas sobre o que é politicamente correto. Por isso, não só violência como outros temas considerados tabu por aqui, por lá são “fair game”. Temas como homossexualidade, racismo, depressão, depravação e morbidez são comuns – até em desenhos considerados “infantis”. Na série O Pirata do Espaço, em um dos finais os dois personagens principais morrem. No final oficial, mais light, os personagens que cultivaram um amor platônico durante todo o desenho ficam separados para sempre. Esse desenho passava no Clube da Criança, apresentado pela Xuxa (na época que ela ficava pelada).

Essa mocinha com cara de inocente
matou o ex-namorado e deixou o garotão
aí chupando o dedo no final de
O Pirata do Espaço.
Um dia desses, o filho de dez anos de um amigo meu me perguntou, na frente do pai, o que era sodomia e apartheid, na mesma frase. Na hora deduzi que ele andou lendo a série Eden que emprestei pro pai dele. E se ele leu até a parte do apartheid, significa que ele também já tinha lido sobre genocídio, estupro, traição e fascismo. Essa revista foi parcialmente editada aqui pela Panini e qualquer moleque de dez anos poderia tê-la comprado na banca. Ou seja, não são os produtos japoneses que são inapropriados – inapropriada é a maneira com a gente consome esses produtos, sem entender para que público eles foram feitos.

E com isso, encerro esse post. Espero que tenha sido, como sempre, inútil, mas interessante.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Sabedoria

Se eu não sei o que estou fazendo...
... eu nem faço, disse o derrotista.
... eu peço para outro fazer, disse o líder.
... eu mando outro fazer, disse o chefe.
... eu mando outro fazer e digo que fui eu quem fez, disse o político.
... eu subcontrato, disse o gerente da empresa.
... eu subcontrato pelo dobro do preço para alguém que também não sabe fazer, disse o governo.
... eu choro, disse o maníaco-depressivo.
... eu faço e boto a culpa do resultado em outra pessoa, disse o carreirista.
... eu aprendo, disse o destemido.
... eu peço ajuda, disse o prático.
... eu fujo, disse o covarde.
... eu não posso me culpar por isso, disse o analisado.
... eu procuro um tutorial na Internet, disse o conectado.
... então ninguém mais sabe, disse o convencido.
... eu faço assim mesmo. O que vale é a intenção!, disse o otimista.
... eu convenço todos os outros de que quem não sabe são eles, disse o manipulador.
... eu marco uma reunião, disse o executivo.
... eu preencho o formulário em três vias requisitando alguém que saiba, disse o burocrata.
... eu não deveria ter assumido essa responsabilidade, disse o arrependido.
... eu deveria ser julgado como incapaz, disse o assassino orientado pelo advogado.
... eu visto a roupa e vou embora, disse o liberal.
... eu espero que ela também não saiba, disse o virgem.
... eu não deveria ter um blog, disse o escritor.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Mario? Que Mario?

Recentemente um amigo que gosta muito de videogames (sim, mais que eu) afirmou que o Super Mario 3 é o melhor videogame de todos os tempos. E completou a afirmação dizendo que isso é um ponto indiscutível entre os entendidos do assunto.

Bom, como não sou entendido, pensei em discutir o ponto. Na verdade, eu nunca nem joguei o Super Mario 3, o que me torna ainda mais qualificado para dissecar o tema sem nenhuma propriedade.

Vários personagens do mundo dos games, especialmente os que nasceram no século passado, antes dessa moda dos gráficos e histórias super-realistas, são definitivamente surreais. Os fãs diriam que são deliciosamente surreais, mas devo confessar que alguns desses personagens (e principalmente os da Nintendo) me assustam um pouco, com seu jeitão infantilizado e subtexto bizarro. E o Mario é um deles.

O bombeiro italiano começou sua carreira de videogame tentando salvar uma mulher de um macaco gigante (confesso que não sei se a mulher que o Donkey Kong capturava já era a princesa Peach). O macaco provou ser um incompreendido, regenerou-se e entrou para o clube dos bonzinhos da Nintendo – e o Mario foi fazer sucesso com o irmão, Luigi, que, pra mim, é uma versão cartoon do Seu Madruga.

Agora, me chamem de maluco, mas pra mim uma cena que começa com um bombeiro italiano chamado Mario é mais adequada pra um filme pornô que pra um videogame. Além disso, o cara fica fortão comendo cogumelos e mata os outros não com um desentupidor (o que seria compreensível dada a profissão do sujeito), mas com a bunda. Já pararam pra pensar nisso? A principal arma do sujeito é a bunda – a notória cuzada de morte.

Bom, dizem que no videogame o que importa não é a história, mas o gameplay, mas eu discordo. Super Mario 3 pode ser considerado o melhor videogame de todos os tempos porque é criativo, original, tem um bom ritmo, níveis inteligentes, gráficos charmosos, uma tremenda trilha sonora e uma curva perfeita de desafio, mas, galera, a história é uma merda.

Os fãs ignoram a esquisitice do Mario por causa do seu ar infantil e cara de bobo-alegre (o que, em minha opinião, só torna ele ainda mais esquisito), mas mesmo se o Mario fosse o Brad Pit e não tivesse o ímpeto de sentar na cabeça dos outros, a história do jogo é algo envolvendo os filhos do Bowser (uma mistura de jacaré com tartaruga) roubando os cetros mágicos do Reino dos Cogumelos (o porquê só Deus sabe), pra distrair o Mario e o Luigi enquanto o Bowser pega a Peach (de novo). Ou seja, uma trama, básica, pobre e lisérgica.

Talvez eu esteja perdendo o foco analisando a trama dessa forma, uma vez que, como dizem, o Diabo está nos detalhes. Ou seja, o que importa não é o “o que”, mas o “como”. Dentro do contexto do Super Mario 3 essa trama não só faz sentido como é até necessária para dar o tom certo do jogo de “mischievous innocence”, ou inocência sacana, na qual o pano de fundo é um contraste para a profundidade e desafio do jogo.

Ou talvez eu esteja só pegando no pé dos fanboys da Nintendo, o que também é sempre divertido. 

quarta-feira, 28 de março de 2012

Chronicle

Sabe o post anterior no qual eu falei que nem todo filme se beneficia do formato “filmagem encontrada”? Pois bem, Chronicle é um desses filmes.

Claro, claro, o fato dos personagens filmarem eles mesmos o que está acontecendo encurta distância e nos coloca na pele dos personagens, mas sabe o que mais nos coloca na pele dos personagens? Boas atuações. E os garotos do filme estão ótimos – os supercloses e imagens tremidas são desnecessários.

Chronicle ou “Poder Absoluto” é um filme de super-herói. A diferença é que esse, como já falei, conta a história a partir de pedaços de filme “encontrados” e, na verdade, essa diferença é um dos problemas do filme. Apesar de a mecânica render algumas boas cenas, da metade pro final a ideia vira mais um problema que uma solução, pois o filme toma outro ritmo.

O diretor se vira e conta a história, mas é obrigado a recorrer à câmera de segurança do caixa eletrônico, a câmeras de celulares anônimos, de helicópteros, enfim, o clima intimista, de documentário acidental, vai pro espaço. Sem contar, claro, as dezenas de cenas em que ter alguém com uma câmera ligada não faz o menor sentido.

O filme não precisava disso porque ele é diferente em outro sentido. O roteiro pseudo-realista conta a história de três jovens que se vêem com superpoderes e mostra, junto com a evolução dos poderes, a evolução desses jovens – como amigos e como pessoas.

O filme consegue ser bem humorado, dramático e dinâmico e termina de forma previsível mas não menos espetacular, com direito a flashbacks do mangá Akira. Teve um momento no qual eu achei que um dos personagens ia gritar: Tetsuooooo!

Enfim, o diretor poderia ter usado o fetiche de um dos personagens principais com câmeras de filmagem como recurso narrativo (intercalando com outras cenas) e não como obrigação (amarrando o filme, acelerando a narrativa e diminuindo a ousadia de alguns takes), mas no resto o filme acerta. Achei muito divertido. Um dos trunfos do filme é conseguir fingir que é despretensioso até o momento certo e tá, confesso, nesse ponto a “filmagem encontrada” até ajuda, mas tá na hora de acabarmos com esse gênero, não?

segunda-feira, 26 de março de 2012

Atividades Paranormais

Quando todo mundo começou a falar de Atividade Paranormal, confesso que a ideia do filme não despertou o meu interesse (até porque meu interesse ultimamente tem tido o sono muito pesado). Apesar de gostar de histórias de horror, não sou muito fã desses filmes de “filmagem encontrada”, pois acho que isso acaba sendo uma desculpa para justificar orçamentos baixos e, na maioria das vezes, diminui o filme, pois fica muito artificial.

Cloverfield, por exemplo, seria muito melhor sem esse “gimick”. Acho que a coisa funciona em Canibal Holocausto, por ter sido um dos primeiros e em Troll Hunter, pois o mecanismo está atrelado à história do filme. Nos dois casos, a intenção é fazer um documentário sobre o tema, o que justifica a ânsia de filmar tudo o que está acontecendo.

No caso de um ataque alienígena (Cloverfield) não sei se minha primeira reação seria filmar tudo segurando a câmera em ângulos improváveis. Mas eu gosto de Cloverfield, não vou matar o filme por causa de uma má ideia. Ah, e só pra constar e encerrar esse preâmbulo: acho que A Bruxa de Blair é uma merda.

Mas o assunto é Atividade Paranormal. Pois é, cansado de falsos documentários, ignorei o filme na época do lançamento, mas confesso que a curiosidade acabou falando mais alto e assisti logo aos três filmes de uma vez, porque eu, obviamente, não sou uma pessoa comedida.

Gostei muito do primeiro filme. A história é besta, mas o clima é fantástico e o diretor provou que um filme de horror pode ser interessante sem: cortes abruptos, edições acrobáticas, sustos baratos e baldes de sangue. Pelo contrário, os longos períodos de silêncio são os principais responsáveis pelo ambiente do filme.
A Paramount acertou em cheio ao comprar os direitos do filme pela bagatela de trezentos mil dólares (o filme faturou quase duzentos milhões) e Spielberg provou mais uma vez que tem o toque de Midas, pois foi ele quem sugeriu que o final do filme mudasse. Não vou estragar o final, mas do jeito que era seria muito difícil transformar o filme em uma série de sucesso.

Bom, vale à pena. É uma excelente experiência especialmente para ver com a namorada no escurinho.

Atividade Paranormal 2 não acrescenta nada à fórmula, mas acrescenta muito à história, juntando os dois primeiros filmes de maneira muito inteligente. Bem mais inteligente que os padrões normais de Holywood para continuações. Assista na ordem.

Já em Atividade Paranormal 3 a vaca parou de dar leite e o filme é apenas uma oportunidade desperdiçada, pois não acrescenta nada nem à formula nem à história. Por incrível que pareça é um filme que funciona até razoavelmente bem sozinho, mas se você já viu os dois primeiros ele fica sem graça e previsível ao extremo. Dá pra assistir, mas aí já tem coisa muito melhor por aí como por exemplo Troll Hunter e Cloverfield.

Acho que já dá pra aposentar a série que, honestamente, já rendeu bem mais que o esperado, né? 

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Palavra nova

Todo mundo diz que ler é muito bom, mas acho que esse conceito é muito genérico, pois, na verdade, o proveito que se tira da leitura vai depender muito do que se lê, certo?

O meu blog, por exemplo, é uma perda de tempo danada. E você há de concordar comigo que é melhor não ler nada do que ler as fotolegendas da Caras.

Em todo caso, como evito seguir meus próprios conselhos, ultimamente eu estava lendo bastante porcaria: uns quadrinhos antigos meio bestas, Veja online (que anda mais preocupada com entretenimento que com notícia), rótulo de sardinha e uns contos meio obscuros de autores completamente obscuros.

Foi quando me deparei com a palavra teleretismo. Não sei exatamente onde – pode ter sido até no rótulo de sardinha – pois quando leio porcarias eu fico num estado de semiconsciência. Um torpor auto-induzido pra proteger as partes mais sensíveis do meu cérebro de uma Paulo Coelhada.

Fiquei com a palavra na cabeça sem saber seu significado por umas duas semanas até que resolvi consultar o dicionário, pois não costumo colocar palavras que desconheço no Google, a última vez que fiz isso a imagem que apareceu me dá pesadelos até hoje.

Enfim, acabei descobrindo o que é teleretismo.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Jobs é o segundo maior inovador de todos os tempos?

No post passado toquei de leve na questão de Steve Jobs ser elevado ao status de ícone, uma espécie de exemplo a ser seguido. Acho isso temerário.

Jobs era um executivo que conseguia resultados, mas era um cara inescrupuloso, autocentrado e agressivo. Ele sabia se vender e vender as idéias dos outros como se fossem dele e acho que deixou lições fantásticas de marketing e administração, mas sem exageros.

Quer ver um exemplo de como essas coisas podem ficar fora de proporção muito rapidamente? O MIT fez uma pesquisa perguntando para seus alunos quem eles consideravam o maior inovador de todos os tempos. Jobs ficou em segundo lugar.
Jobs não era nem inventor e nem inovador. Era um tremendo analista de mercado e um eficientíssimo CEO. Ponto. Gutemberg, Newton, Da Vinci e Tesla, por exemplo, nem estavam na lista que o MIT divulgou.

O primeiro lugar ficou com Thomas Edison que, dizem, também era melhor marketeiro que inventor, registrando royalties de produtos melhor desenvolvidos por terceiros (como a lâmpada, de Tesla).

O que mostra o tanto que essa história de criar ícones – o melhor disso e daquilo – pode ser injusta e equivocada. Quando a gente admira sem ser de forma crítica corre o risco de copiar sem critério. Pode apostar que tem muito chefe escroto por aí se achando o máximo só porque o Steve Jobs também era do tipo carrasco.

Além disso, em quesitos como ciência e tecnologia e até mesmo mercado, o trabalho de um normalmente é conseqüência do trabalho dos outros que vieram antes – ou de uma equipe.

É como diria Newton: Se enxerguei mais longe é porque estava sobre os ombros de gigantes. Pois é: uns conseguem o sucesso subindo nos ombros e outros pisando na cabeça – é importante saber a diferença. 

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Os posts que eu não fiz em 2011 - PARTE 2

FILMES HORROROSOS
Na onda de fazer listas sobre filmes, me ocorreu, depois de assistir a Hostel 3 e me divertir um bocado, que poderia ser interessante fazer uma lista de filmes de horror.

Parei pra pensar um instante sobre quais filmes eu poderia considerar os mais assustadores que assisti e, pra minha própria surpresa, um dos filmes mais perturbadores que já vi não era sequer um filme de terror tradicional.
A lista nunca foi propriamente concluída, mas, como estamos falando de posts que quase existiram, esses foram os três filmes que passaram pela minha cabeça quando surgiu a ideia:

O Exorcista – Duh. Óbvio.

Cannibal Holocaust – Apesar do nome horrível, o filme é até razoavelmente inteligente e crítico (além de hipócrita e bizarro). O diretor e produtor foi preso após a exibição de estréia do filme por algo tipo “atentado contra os bons costumes” e depois ainda foi indiciado por assassinato – e teve que provar que os atores do filme estavam vivos e não tinham sido mortos em cena. O ator principal do filme era um astro pornô da época e alguns animais foram mortos de verdade na produção das cenas. Ou seja, uma peça rara.

Saló – Essa foi a surpresa, pois esse não é exatamente um filme de terror. Meu pai gostava muito da fotografia dos filmes de Passolini (achava as histórias uma extensão da mente revoltada do sujeito, mas adorava a fotografia). Na verdade, meu pai era um fã do cinema italiano e isso acabou gerando em mim uma grande curiosidade, que só aumentou depois de conhecer Sophia Loren.

Peitões à parte, todo esse preâmbulo é pra ajudar a justificar o que me levou a assistir Saló na íntegra, um dos filmes mais, bem... Escrotos já produzidos.
O pano de fundo da história é a Itália ocupada pelos nazistas e um observador mais atento vai observar que o filme traz metáforas que falam sobre poder, sexualidade, modernidade e a condição humana.

O problema é que essas metáforas são apresentadas na forma de sodomia, estupro, escatologia, assassinato, surrealismo e, claro, tortura física e psicológica DE ADOLESCENTES! É o único filme que já assisti em toda minha vida que me deu vontade de vomitar. Mas a fotografia é realmente lindíssima...

MAÇÃ

Em dezembro, pensei em comentar um pouco sobre a Apple e o foto do Iphone novo ter vendido 4 milhões de unidades em um final de semana e sobre lucro previsto da empresa de 4 bilhões de dólares para o último quadrimestre do ano (eles erraram - foi mais de 6 bilhões e meio de dólares), mas acabei não achando tempo.

Pois é... A morte de Steve Jobs e a extraordinária mídia em torno do fato alavancaram as vendas da Apple e aumentaram o valor das ações da empresa em mais de 30%. Até morto o cara manda bem.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

E, só pra fechar...

O trailer de Red Tails é fenomenal.

Vou chorar, desculpe mas eu vou chorar...

George Lucas disse que está se aposentando.

Ele tem mais um filme pra sair agora (Red Tail), mas disse que depois desse vai deixar de lado essa história de cinema e, especialmente, Star Wars, porque ele acha que os fãs reclamam de tudo o que ele faz e que, portanto, não vale à pena fazer mais.

Acho uma boa ele se afastar do cinema porque, obviamente, o homem já está distanciado da realidade. Claro que algumas reclamações dos fãs são infundadas ou exageradas (fãs não são razoáveis), mas o fato é que os novos filmes da série só tem os efeitos especiais de bom e mais nada – a história é ruim, a edição é ruim, a direção é ruim. Isso não é reclamação de fã, são observações técnicas.

E, cá entre nós, o cara é um multimilionário que criou um dos maiores sucessos de toda a história do cinema e ainda assim precisa da validação dos fãs? Claro, seria legal, mas você não vê nenhum profissional sério passando por isso. Alguns diretores consideram a opinião dos fãs, outros, respeitam... Mas, validação? Só alguém muito inseguro se apóia nesse tipo de coisa, pois aí o processo deixa de ser artístico e passa a ser... Sei lá! Algo para um bom psicólogo resolver.

E só um bom psicólogo conseguiria explicar porque Lucas nunca conseguiu aceitar o sucesso de seus primeiros filmes – o cara passou anos refazendo-os das mais diversas formas. Não sei de nenhum outro diretor que tenha feito algo parecido. Claro, filmes são relançados a todo o momento com extras, comentários do diretor, melhorias de som e de imagem, etc. Mas nenhum filme foi tão mexido e remexido como os três primeiros filmes da saga Star Wars (só a cena da cantina tem quatro versões diferentes!).

Lucas se defende dizendo que só estava deixando os filmes exatamente como ele queria que fossem desde o início. Uma declaração que, se levada ao pé da letra, comprova que ele nunca teve a menor ideia do que queria com a série e que todo o sucesso foi fruto de uma enorme coincidência.

Não acredito nisso. Acho que Lucas é um cara criativo e talentoso que teve tanto sucesso no começo de carreira que ninguém mais ousou criticá-lo ou questioná-lo, fazendo com que ele perdesse a objetividade. O mesmo aconteceu com Spielberg, claro, mas Spielberg continuou a amadurecer e a crescer tanto tecnicamente quanto como artista. Lucas regrediu – e virou um bebê chorão.

A entrevista que vi dele quase me deu pena. Quase.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Os posts que eu não fiz em 2011 - PARTE 1

2011 foi um ano diferente, no qual minhas prioridades não foram escolhidas por mim, mas pelo destino (ou o acaso, que é o primo sacana do destino). Por conta disso, muito do que planejei não aconteceu, inclusive uma série de crônicas, que foram ficando arquivadas na memória (do computador, que a minha já deu pau faz tempo).

COSPLAY
Pra quem não sabe, COSPLAY é a abreviação de Costume Play, que é basicamente se fantasiar de algum personagem famoso (quase sempre de filme ou videogame). Embora a maior parte dos cosplayers seja de adultos barrigudos com mais senso de humor que senso de ridículo, este também é um universo repleto de gatinhas nerds (sim, elas existem).

Uma tal de Konoe causou o maior sassarico na Internet lá pelo começo do ano, por três motivos, em ordem inversa de importância:
1. As fantasias dela são bem feitas.
2. As fotos são razoáveis e imitam bem o clima do videogame.
3. Ela é bonitinha e não se incomoda de pagar peitinho.

ANÚNCIO DA MAZDA