terça-feira, 26 de maio de 2009

Inspirado pelo House (de novo)

Se você acha que está fazendo a coisa certa, será que você pode fazer qualquer coisa? Essa foi uma das questões levantadas pelo episódio de hoje de House. O que seria pior: fazer a coisa errada com as intenções certas ou a coisa certa com intenções erradas?

Se quiserem saber minha opinião – e parto do princípio que vocês querem ou não estariam lendo isso aqui – a intenção é uma mentira que ainda não foi contada. Trata-se de uma fantasia, uma farsa. Ela não incrimina, nem absolve porque existe apenas na nossa cabeça. Então, faça sempre a coisa certa, independentemente de intenção.

Vou dar um exemplo intencionalmente hipotético: certa vez enfiaram-me uma faca nas costas, ataram-me a um cavalo e arrastaram o corpo em praça pública. Se você perguntar aos envolvidos, dirão que não era uma faca, que não foi bem nas costas, que não se lembram do cavalo e que a praça, se é que era uma praça, não era pública. Mas, enfim, depois do acontecido, o melhor que puderam fazer foi dizer que não tinham intenção. Um deles, porém – e apenas um de um grupo de, digamos, mais de um - depois de alegar a tal desintenção, desamarrou-me, comprou-me uma caixa de band-aids, deu um beijinho pra sarar e passou lá em casa no dia seguinte para ver como eu estava. Claro que eu o recebi com pedradas e músicas da Kelly Key. Isso não o impediu de, de vez em quando, mandar cartõezinhos de melhora. Durante dois anos! Com bombons! Da kopenhagen!

O que posso dizer? O cara provou que ou estava muito afins de mim ou arrependido (que é outra coisa que não existe sem a ação, sem uma atitude), ele teve a coragem de sair do maravilhoso mundo das intenções. Ganhou meu respeito.

Mas o serumano gosta de valorizar aquilo que não tem valor, como o Domingão do Faustão e a revista Caras. E valoriza tanto as intenções que, para alguns, é preciso, além de primeiras intenções, ter ainda segundas! Políticos, por exemplo, estabelecem toda uma carreira vendendo suas intenções e, apesar de suas atitudes cada vez mais duvidosas, muitos deles vão muito bem, obrigado.

E a prova definitiva de que a intenção e nada podiam muito bem ser sinônimos é que, quando comecei a escrever essa crônica, meu intento era falar de outra coisa completamente diferente.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Caubóis

Você sabe que está entre amigos quando você pode mandar alguém ir tomar no cu sem maiores conseqüências. O máximo que vai acontecer é você ouvir um "vai você" bem-humorado ou, no caso de um "vá se foder" mais sincero, um convite pra botar tudo em pratos limpos.

Entre amigos você pode rir e chorar sem constrangimentos. Pode soltar pum. Pode dormir bêbado no sofá. Pode contar vantagem. Pode até, em casos extremos, trocar tapas. Entre amigos, tudo o que é bom é sincero e tudo que é ruim, desabafo.

Quem é seu amigo não te trata como uma pessoa qualquer. Ele tem, para com você, uma atitude diferente e exclusiva chamada respeito. Não é o respeito formal, que devemos aos chefes, juízes e policiais (sob pena de demissão, coça ou cadeia), nem o respeito proveniente da admiração, que reservamos aos nossos ídolos. O amigo nos respeita pelo que a gente é – e isso inclui, pasmem, nossos defeitos.

Nenhum gênero de cinema classifica tão bem a noção que tenho de amizade quanto o Western. No filme Apaloosa, um banqueiro, incomodado com as atitudes do xerife contratado por ele e seus amigos endinheirados da cidade, pergunta para o amigo do xerife, numa tentativa de minar o relacionamento dos dois:

— Eddie anda muito violento. ..Você não acha que ele está errado?

A resposta:

— O Eddie é o Eddie.

É como eu penso. Amigo é amigo. E se você não entende essa definição, está na hora de encontrar um amigo de verdade.