quarta-feira, 13 de maio de 2009

Caubóis

Você sabe que está entre amigos quando você pode mandar alguém ir tomar no cu sem maiores conseqüências. O máximo que vai acontecer é você ouvir um "vai você" bem-humorado ou, no caso de um "vá se foder" mais sincero, um convite pra botar tudo em pratos limpos.

Entre amigos você pode rir e chorar sem constrangimentos. Pode soltar pum. Pode dormir bêbado no sofá. Pode contar vantagem. Pode até, em casos extremos, trocar tapas. Entre amigos, tudo o que é bom é sincero e tudo que é ruim, desabafo.

Quem é seu amigo não te trata como uma pessoa qualquer. Ele tem, para com você, uma atitude diferente e exclusiva chamada respeito. Não é o respeito formal, que devemos aos chefes, juízes e policiais (sob pena de demissão, coça ou cadeia), nem o respeito proveniente da admiração, que reservamos aos nossos ídolos. O amigo nos respeita pelo que a gente é – e isso inclui, pasmem, nossos defeitos.

Nenhum gênero de cinema classifica tão bem a noção que tenho de amizade quanto o Western. No filme Apaloosa, um banqueiro, incomodado com as atitudes do xerife contratado por ele e seus amigos endinheirados da cidade, pergunta para o amigo do xerife, numa tentativa de minar o relacionamento dos dois:

— Eddie anda muito violento. ..Você não acha que ele está errado?

A resposta:

— O Eddie é o Eddie.

É como eu penso. Amigo é amigo. E se você não entende essa definição, está na hora de encontrar um amigo de verdade.

Um comentário:

  1. Coincidentemente estava conversando sobre isso num almoço essa semana (e, claro, com um amigo). Estávamos discutindo a atitude de um rapaz que se afastou do grupo por conta de um relacionamento. Havia uma pessoa à mesa que não era tinha tanta afinidade com o grupo que sempre fazia comentários no sentido da reprobabilidade da atitude do amigão que se afastara por conta da mocinha. Interessante que por mais sentido que pudessem fazer as ponderações desse terceiro, não conseguíamos ver tanta reprobabilidade assim. O que mais pesava era a saudade pela ausência do cara no meio.
    Tem uma expressão bem piegas, em inglês, que sempre utilizávamos quando éramos moleques e rolava aquele constrangimento imbecil de demonstrar afeto/admiração aos amigos: o "no matter what" (ela foi adotada jocosamente depois de uma sessão de um filmeco meia-boca no cinema do CNB – é... tem um tempinho já). Sempre vinha a afirmação sincera acompanhada do “no matter what” (num tom jocoso e bem “macarrônico”), como que para não admitir que se estava expressando abertamente um sentimento. Algo do tipo: “te amo, meu irmão – no matter what!”.
    Enquanto lia o post eu lembrei disso e acho que cai como uma luva como complemento da definição de amigo. Amigo é amigo – no matter what. E, agora, sem o tom jocoso.

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