sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Retrospectiva 2007

O fato de ter chegado vivo e relativamente bem ao final de 2007 é um alívio e, até certo ponto, uma surpresa. Bem que alguns tentaram, mas tive a sorte de escapar com vida de todos os atentados metafóricos - e também dos literais, o que prova que meus inimigos não são muito eficientes. Também pudera, alguns deles chegam a pensar que são meus amigos!

Mas também prova que a vida, assim como eu, tem um senso de humor meio esquisito e que a felicidade pode conviver em harmonia com a decepção.

Lições aprendidas, sigo para 2008 com muito otimismo e com um pouco de desconfiança, desejando a todos os amigos e leitores do Ninguém Perguntou a realização espiritual plena. Ou uma realização espiritual razoável, com sexo toda semana e dinheiro suficiente para comprar uma bobagem de vez em quando sem sentir culpa. Pode escolher.

Oportunidades perdidas

Apesar do sucesso (ao menos estético) das recentes adaptações dos quadrinhos de Frank Miller, a verdade é que, de uma forma geral, a transposição dos quadrinhos para o cinema é um estudo de caso sobre oportunidades perdidas.

Não é de hoje que os quadrinhos têm apresentado idéias interessantes e inovadoras. E também não é de hoje que Hollywood tenta capitalizar em cima desse talento.

Os resultados nunca são tão bons porque os produtores de Hollywood acham que entendem mais de entretenimento do que os autores originais e misturam conceitos.

Acham, por exemplo, como muita gente acha, que quadrinhos e videogame são a mesma coisa. Não são. Hoje em dia, as duas mídias desafiam quaisquer pré-definições, mas ainda são esteticamente muito diferentes uma da outra: Tomb raider e From Hell não poderiam ser mais diversos e, no entanto, são tratados como se fossem a mesma coisa.

Robert Rodriguéz já provou que um pouco de respeito com o material original é um bom caminho para a produção de filmes interessantes, visualmente diferentes e com boa receptividade.

O mais recente exemplo de uma boa adaptação dos quadrinhos é 30 Dias de Noite, que já está em cartaz e conta o pesadelo dos moradores da pequena cidade de Barrow, no Alasca, que têm de repelir uma invasão de vampiros durante o inverno (quando o sol se põe e só volta a nascer depois de trinta dias).

Curiosamente, 30 Dias de Noite é também um bom exemplo de mais uma oportunidade perdida porque, apesar do filme ser divertido, o quadrinho ainda é mais interessante.

No filme, o diretor erra a mão nos vampiros e no timing de algumas cenas, mas, respeitosamente, resiste á tentação de mexer demais na história e o resultado final proporciona uma diversão interessante.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Saco cheio de Peru 2

A viagem ao Peru começou quase não acontecendo. Era para ser uma incursão de trabalho, uma troca de experiências no campo da comunicação em aids com o Peru. A Organização Panamericana de Saúde cuidaria de tudo.
Pois bem, até uma semana antes da viagem, eu não sabia em qual dia eu iria. Até três dias antes da viagem, não sabia a que horas sairia. No dia da viagem, não sabia nem em que hotel ficaria e nem se alguém iria me buscar no aeroporto – nesse mesmo dia, o povo do Peru (não a população, a turma com a qual trabalharíamos) também não sabia quando iríamos chegar. Para uma instituição que tem a palavra “organização” no nome...
Enfim, tudo resolvido de última hora, embarquei para São Paulo. Ao fazer o check in para o Peru, o funcionário da LAN perguntou:
— E o cartão de vacina?
— Que cartão e que vacina? – Perguntei, já prevendo o pior.
— O cartão de vacina internacional dizendo que o senhor já está vacinado para a febre amarela.
— Não tenho. Ninguém me disse que precisava.
— Então o senhor não vai embarcar.
— E se eu tomar a vacina agora?
— Não vai dar porque a vacina precisa de dez dias de incubação. E, além disso, o posto de vacinação do aeroporto fechou às cinco horas.
E já eram seis.
Fomos para o posto da Anvisa assim mesmo, eu e meu colega de trabalho, também sem cartão de vacina, também desinformado e também bastante puto.
Depois de muita conversa, ligações para Brasília para pressionar a Anvisa e muito jeitinho brasileiro, conseguimos um cartão de vacina internacional novo. Para isso, tomamos a vacina e o cara da Anvisa escreveu, à mão: revacinação.
O fato de termos reaberto o posto de vacinação foi, ao menos, benéfico para uma moça de uns vinte e poucos anos que precisava desesperadamente vacinar naquele dia para ir à China. Ela chorava copiosamente ao telefone:
— Vovô, vou vacinar, vovô... Vou vacinar, viu? Vou voar...
Teria sido mais tocante e menos esquisito se ela tivesse usado também palavras que não começassem com a letra “v”. E se eu já não estivesse tão mal-humorado.
Voltamos e, depois de mais conversa para explicar que diabos era a tal da “revacinação”, embarcamos em cima da hora, já cansados e irritados antes da viagem começar.
Amanhã, tem mais Peru, mas desde já adianto: deu merda com o cartão de vacina.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Saco cheio do Peru

Às vésperas do Natal, não sei se por coincidência ou se por ironia, fui parar no Peru. Um país cheio de gente bem intencionada, mas de hábitos esquisitos. Colocam o apelido em documentos oficiais, bebem gasosa, fazem xixi no banho e, mal cheguei, já perguntaram se eu gostava de pica (o que talvez fosse de se esperar, dado o nome do país).

Mas, trocadilhos com o espanhol à parte, ainda assim tive uma viagem repleta de pessoas e acontecimentos curiosos.

Um dos mais engraçados encontros foi com a peruana que comia pingüins. Estávamos na mesa de almoço, conversando obviamente sobre comidas tradicionais. Mencionei a feijoada e a caipirinha. Ela contra-atacou com o ceviche e o pisco sauer. Fui além, e falei da dobradinha e do sarapatel. Ela não se fez de rogada e explicou que os peruanos que vivem na floresta comem formiga e uma espécie de lagarto (vivo, inclusive). Perguntei, no meu portunhol:

— E você? Já comeu algo assim, pouco comum?

— Sí. Hay comido pinguino.

— Pinguino? Como assim? Pinguim? Você já comeu Pinguim?

Meu espanto, para alguém racional, não se justifica tanto. Estávamos falando justamente sobre iguarias excêntricas e, se comemos frango, porque não pingüim, que também é ave? Mas a verdade é que até aquele momento nunca tinha encontrado ninguém que tivesse comido pingüim.

— Mas é comum comer pingüim no Peru? - Perguntei, ainda incrédulo.

— Não - ela respondeu - para dizer a verdade eu também nunca ouvi falar de ninguém que tivesse comido pingüim. E eu também comi golfinho.

Soltei uma gargalhada, numa mistura de falta de educação com idiotice juvenil. A peruana não gostou muito e argumentou que o pinguino era um bicho como qualquer outro. Tão normal quanto comer vaca, peixe ou cuebra.

— Cuebra?

— Sim, cuebra, serpente.

Espirrei gasosa pelo nariz e tive que sair da mesa às pressas, para evitar um incidente diplomático.

E amanhã tem mais Peru no blog.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Delivery

— Orgia Delivery, o prazer é todo seu, boa noite.

— Boa noite. Eu estava procurando algumas anãs albinas para uma festinha...

— Senhor, as anãs albinas estão em falta, devido à grande procura por causa das confraternizações de fim de ano.

— Hmm. E você sugere alguma coisa?

— Senhor, as dançarinas núbias e as contorcionistas coreanas têm tido muita saída. Se tiver algum sado-masoquista no grupo, eu recomendaria uma estivadora russa, senhor.

— Tenho, deixa ver, dez SM por aqui.

— Uma estivadora russa serve bem cinco pessoas, senhor.

— Vou querer duas, então. E também duas contorcionistas coreanas. O endereço é...


 

— Enfermidade Delivery, tratando você bem, pra você ficar mal, boa tarde.

— Boa tarde. Eu estava precisando ficar doente hoje, mas não sei exatamente o que pedir.

— Se o senhor me disser o motivo, talvez eu possa ajudar.

— Eu tenho uma reunião importante no trabalho amanhã, mas não vou conseguir terminar a apresentação para o presidente.

— Então o senhor precisa de algo imediato, de efeito fulminante que faça o senhor faltar ao trabalho por pelo menos uma semana?

— Algo por aí. Um simples resfriado não vai colar.

— O ideal seria alguma doença infecto-contagiosa, como a caxumba ou uma virose tropical, como febre amarela.

— A virose parece ótimo, quanto é?

— Três mil reais e cinqüenta centavos, senhor, já com a taxa de entrega.

— Ah, mas é muito caro. Eu estava imaginando algo na faixa dos cem reais...

— Senhor, por esse preço e com essa urgência que o senhor precisa, o máximo que posso fazer é mandar o Pudim até o senhor.

— Como assim?

— O Pudim, nosso operativo, vai até sua residência, agride o senhor com violência extrema e simula um assalto. O senhor fica com três ou quatro ossos quebrados e, na promoção de Natal, o senhor já ganha a ocorrência policial sem custo adicional.

— Parece ótimo.

— Só tem um probleminha: não garantimos que o senhor sobreviva, senhor. Tudo bem?

— Tudo bem, vale a pena. O endereço é...


 

— Bom-senso Delivery, o óbvio ao alcance de todos, bom dia.

— Bom-dia. Eu queria um pouco de bom-senso, por favor.

— O senhor ligou para o lugar certo! Já conhece o nosso trio? Uma porção de bom-senso e outra de praticidade, acompanhada de uma dose de direitos humanos. Que tal?

— Não, obrigado. Eu queria apenas uma dose gigante de bom-senso.

— Seria para o senhor mesmo?

— Não, é para o meu chefe.

— Ah, certo. Já vai embrulhado para presente, então. Posso ajudá-lo em mais alguma coisa?

— Vocês trabalham com ética?

— Infelizmente não, senhor.

— Sabe onde eu posso encontrar?

— É muito difícil... Hoje em dia, quase ninguém mais trabalha - tem pouca saída. Se o senhor quiser posso ver se ainda tenho um pouco de profissionalismo. Se não me engano, ele já vem com ética dentro.

— Ah, obrigado! Vou querer também, então.

— Sim, senhor. Tudo para a mesma pessoa?

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

O príncipe

No último domingo estava assistindo ao filme Barbie Princesa da Ilha... O que foi? Por que está me olhando com essa cara? Saiba que a série de desenhos da Barbie é o que há de mais Cult no momento - é só o que se comenta na França.

Enfim, estava assistindo a Barbie Princesa da Ilha quando minha filha comentou que ela era a tal princesa. Aproveitando a deixa para investigar a vida afetiva da minha filha, perguntei:

— E o príncipe, filha? Qual de seus amiguinhos seria o príncipe?

Já estava imaginando que tipo de tortura psicológica aplicaria ao menino quando minha filha, como invariavelmente acontece, me surpreendeu com sua resposta:

— Nenhum. O príncipe é esse aí mesmo, pai.

O motivo?

— É mais bonito que os meus amiguinhos.

Essa menina vai longe.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Cara de bandido

Andando hoje pela manhã no calçadão do Rio de Janeiro, inventei um novo teste de caráter. O teste tem o selo de qualidade do Ninguém Perguntou, o que quer dizer que é totalmente impreciso e, na verdade, não teste ao caráter de ninguém.
Metodologia:
Enquanto andava, ia olhando para a cara das pessoas e mentalmente separando-as entre mocinhos e bandidos, usando a seguinte lógica: se eu estivesse escolhendo o elenco para um filme de ação, qual seria o papel dessa pessoa?
Resultado:
. Dezenas de capangas (motoristas, mordomos e buchas de canhão dos vilões);
. Vários bons vilões secundários (aqueles que morrem no meio da história e tem mais de um parágrafo de fala);
. 4 vilões principais (incluindo uma mulher que, garantido, vai me dar pesadelos essa noite);
. 2 anti-heróis (poderiam estar no papel de mocinhos, mas teriam um passado marcado por algo ilícito ou uma personalidade conturbada);
. Nenhum mocinho. Como o teste só foi conduzido no Rio, não sei se é uma característica da cidade ou do estado das coisas no geral, mas acho que é um pouco dos dois. O Rio é uma mistura de cidade grande, zona de guerra e praia que não pode dar em gente muito pacífica. Além disso, a malandragem do carioca não ajuda e, muitas vezes, transparece no físico (veja Romário e Zeca Pagodinho).
. Várias mocinhas bem interessantes, desde que não tivessem muitos diálogos no filme (nesse aspecto, o Rio de Janeiro continua lindo).

Já mandei o estudo para algumas revistas científicas, mas até agora nenhuma deu retorno.

sábado, 24 de novembro de 2007

Nada de novo

Sexo é coisa de velho. É, provavelmente, mais velho que andar para a frente, literalmente. Os primeiros seres vivos devem ter feito muita sacanagem no caldo primordial antes de desenvolverem pseudópodos e, por fim, pés.

Você se acha muito ousado com sua fantasia de Capitão Nascimento? Pois vou te contar uma coisa: só Deus sabe o que seu bisavô fazia vestido de Vigilante Rodoviário. Não tem nada que você pense em fazer na cama (ou em público, se lhe convém) que alguém mais velho já não tenha feito.

Escatologia, pansexualismo, troca de casais. Já foi feito, já foi feito e já foi feito. Alguns imperadores romanos ficariam entediados com as festinhas da zona sul do Rio de Janeiro.

— Mas, Calígula, já está todo mundo nu, o queijo já está derretido e os vídeos caseiros da Pamela Anderson já estão no telão... E você aqui na sacada, olhando o movimento dos carros lá fora?

Tudo aquilo era muito bom, mas onde estavam as cabras? Calígula soltaria um longo suspiro antes de entrar, com saudades dos bons e velhos tempos.

Sexo é uma coisa antiquada, já repetida à exaustão, cuja originalidade já se exauriu há muito tempo. Mas talvez seja a evidência mais marcante de que tudo que é bom mesmo nunca sai de moda.

O Ninguém Perguntou e o sexo

Por força das circunstâncias - e poucas coisas são mais fortes que as circunstâncias - encontrei a Gisela Rao esses dias. Escritora e presença marcante na Internet, Gisela mostrou-se super simpática pessoalmente, o que me levou a tomar uma atitude meio tiete, que não costumo ter: pedi para que ela visitasse meu blog, desse uma lida e depois ainda fizesse um comentário, desse uns toques, algo assim. Ei, não me olhe desse jeito. Todos temos nossos momentos de fraqueza.

Na esperança de que ela aceitasse o convite, resolvi dar uma olhada um pouco mais crítica no blog. Vocês sabem: arrumar a casa para uma visita importante. E a primeira coisa que me ocorreu é que faz tempo que não falo de sexo por aqui. Deve ter uma ou outra crônica mais abusada em algum lugar nos arquivos, mas nada recente, o que poderia ser um problema.

Por quê? Ora, a Gisela é especialista em falar sobre sexo (quase escrevi especialista em sexo, mas isso poderia gerar todo tipo de mal-entendido e eu ainda estou devendo uma boa explicação para minha esposa sobre aquela história de suruba às sextas-feiras) e ela chegou a me perguntar se tinha sexo no blog. Eu respondi que sim, claro, e agora vou ter que me virar em sacanagem.

Só que aconteceu o seguinte: me deu um branco. Nenhum pensamento libidinoso, nenhuma perversãozinha, nem uma punhetinha. Nada. De repente, foi como se eu tivesse passado os últimos anos em um mosteiro... Não, comparação errada. Se eu tivesse ficado os últimos anos num mosteiro, não conseguiria pensar em outra coisa que não fosse sexo. Foi como se eu tivesse passado os últimos meses em total libertinagem, zerando o Kama Sutra em orgias intermináveis. Ou seja, sexo agora, nem em pensamento.

Forcei a barra e a coisa mais erótica que me veio à cabeça foi um tabuleiro de xadrez. Você sabe, aquela história de todo mundo comendo todo mundo, o peão comendo a rainha só pra traçar o rei mais tarde, bestialismo (os cavalos) e até a confusão com o clero. Só a presença da torre fica mal explicada, mas essa coisa de castelo medieval dá um ar meio sado-masô pro negócio. E quer coisa mais fálica que uma torre?

Mas a analogia do sexo com xadrez é velha, assim como é velha a analogia do sexo com o futebol (entrou com bola e tudo; homem que vem de trás), com a culinária (mexa devagar, com movimentos circulares e constantes), enfim, com a vida (é muito legal, pena que acaba rápido).

É, não vai dar. Simplesmente sentar na frente do computador para escrever sobre sexo não vai rolar. Tá faltando, sei lá, inspiração. Faz o seguinte, Gisela, vai dando uma lida nas outras coisas por aí, que eu vou ali dar uma rapidinha e já volto.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Que Cirque que nada

Fui com a família toda ao Cirque du Soleil. Quase um mês depois perguntei para a minha filha de quatro anos qual a parte do espetáculo que ela tinha mais gostado, e ela respondeu, muito tranquilamente:
— O que eu mais gostei foi que, quando tinha uma escada bem grande para subir e eu fiquei com medo, você pegou na minha mão.
Será que continua assim quando tiver quinze anos?

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Fofinha

Elias sempre chamou a Mariane de Fofinha. Logo no começo do namoro, ele deu de presente a ela um ursinho de pelúcia e ela comentou:

— É a coisa mais fofa do mundo.

Ao que ele respondeu:

— Que nada, a coisa mais fofa do mundo é você.

E daí para Fofinha foi um pulo. Elias nunca pensou muito no significado real da palavra. Para ele, Fofinha era sinônimo de tudo o que havia de bonito no mundo: linda, charmosa, inteligente, sensual - Mariane era tudo isso: sua fofinha.

Para ele, foi uma surpresa e tanto quando na manhã do seu décimo aniversário de casamento, ele acordou com Mariane olhando fixo para ele, com uma arma na mão.

— Mas o que é isso, minha Fof...

Elias nunca completou a frase. Mariane deu um grito, interrompendo-o:

— Você nunca mais vai me chamar de gorda! Nunca!

E atirou na cabeça de Elias. Duas vezes. Teria atirado mais, mas o revólver só tinha duas balas.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Novidades

Coleciono vícios. Gosto de tudo que é criativo, estimula o cérebro e é capaz de me surpreender. Os vícios tradicionais de bebida e cigarro obviamente não se encaixam nessas categorias. Mas filmes, jogos eletrônicos, livros e quadrinhos, sim. Recentemente, adicionei um novo item a essa lista: jogos de tabuleiro.

Não sou o único. Minha esposa, minha sogra, meu cunhado e alguns amigos já se renderam aos prazeres de Puerto Rico, Carcassone, Last Night On Earth, Settlers of Catan, Saint Petesburg e outros. Administrar recursos, blefar, negociar, pensar taticamente e estrategicamente ou, simplesmente, rolar um punhado de dados e torcer pelo melhor resultado. Pelo menos uma vez por semana tenho me entregado despudoradamente a esse novo vício. E tem sido tão divertido que me pergunto se não seria uma virtude.

Se você quiser se juntar ao grupo, será bem-vindo, mas é importante que você saiba que jogos de tabuleiro podem ser extremamente perigosos se não forem manuseados com cuidado, especialmente com grupos grandes com pessoas de personalidades diferentes. No nosso grupo, estabelecemos algumas regras para garantir que tudo corra bem:

1. Todo mundo de roupa o tempo todo. Os jogos são às quintas e as orgias, às sextas. Tem gente que vive se confundindo (e eu desconfio que é de propósito).

2. Nada de comidas gordurosas para não ensebar as peças do jogo. Isso inclui não botar as peças do jogo na boca enquanto espera seu turno.

3. Nada de drogas que alteram comportamento. Você não quer ver um bêbado tentando alinhar seus trenzinhos em uma rota de Ticket to Ride.

4. Nada de animais silvestres (por mim, tudo bem, mas meu condomínio é meio careta).

5. Sem ofensas verbais que envolvam a mãe. A não ser que a mãe também esteja jogando.

6. Sim, eu sei que o jogo é interessante e diferente, mas não adianta pedir que não empresto.

Até agora as noites de jogos tem sido relativamente tranqüilas, apenas com um caso de hospitalização. Em todo caso, a pessoa que se feriu até já voltou a freqüentar o grupo, tomando o cuidado de nunca sentar de costas para a porta, claro.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

MC Torresmo

Todos vocês conhecem a trajetória de sucesso do MC Torresmo. Das suas origens humildes no morro do Branco Azedo, passando pelos bailes fânquis da Zona Norte e, finalmente, brilhando no Domingão do Faustão, ao lado da sua namorada Nega Véia, que conquistou esse apelido por ser afro-descendente e ter noventa e dois anos.

O mais novo trabalho de Torresmo, o CD "Fudeu, Rapaziada!" já está em todos os camelôs e vem recheado de sucessos como "Rosquinha Apimentada", "Polícia Parcêra" e a romântica "Suruba no Fusquinha". Totalmente a favor do comércio alternativo, Torresmo pirateia seus próprios CDs e distribui para a moçada da Feira do Paraguai em troca de comissão nas vendas.

- E vagabundo que tenta ganhar por fora eu arrebento ele e a mãe dele - afirma, orgulhoso de seu modelo de negócios.

Para os fãs que costumam baixar as músicas do famoso MC pela Internet, Torresmo reservou uma surpresa especial:

- É um vírus bem escroto que caga tudo - explica, didaticamente.

Em declaração exclusiva a esse repórter, Torresmo garantiu que não estava envolvido no escândalo denunciado ontem no Jornal Nacional.

— Até porque - afirmou - minha "farinha" é de muito melhor procedência. Fui!

E agora, um trecho da inédita "Ajoelhou tem que rezar":

"Sou forte, sou da periferia, mermão

Já escapei da dengue, da polícia e do ladrão

Escapei de enchente, já falei que sou forte

Só não deu pra fugir... Não deu pra fugir do Lancelotii".


 

Bob, você por aqui?



Hoje, quando saía de um estúdio de gravação, dei de cara com um sujeito que era a cara do Bob Esponja. A cara!


Achei que isso era surpreendente o suficiente para ser mencionado e registrado aqui no blog.




domingo, 18 de novembro de 2007

Falação

Tenho um amigo míope (não da vista, mas das idéias) que, tenho certeza, só conseguirá ler "felação" quando bater os olhos no título acima. Mas quem se der ao trabalho de continuar lendo o texto, vai ver que o tema é mesmo sobre falar bastante (eu espero).

Vamos lá.

Detesto fofoca. Desde pequeno que não me entroso muito com esse hábito de falar sobre os outros. Não precisa nem ser falar mal, falar sobre os outros simplesmente, como se eu tivesse alguma autoridade moral sobre a vida de terceiros me incomoda.

Não sou inocente, claro. Já falei muito sobre os outros e, muitas vezes, de forma injusta e inconveniente. Mas, se serve de consolo, não obtive prazer com isso, e me arrependi todas as vezes (ou quase todas). Mas o fato é que todo esse pudor com a fofoca me traz problemas.

O primeiro deles, natural, é que não gosto que eu seja o alvo das fofocas. Acho que ninguém gosta, mas eu me sinto particularmente injustiçado, já que evito a prática. Mas não me iludo. Sei muito bem o que é ter orelhas quentes.

O segundo problema é mais grave. Evitando a fofoca, não tenho muita prática em falar mal dos outros e, quando isso é necessário, sou atrapalhado por uma mistura de cavalheirismo com falta de jeito e nunca digo tudo o que realmente gostaria sobre os outros. Fico angustiado e, quando decido que realmente ainda precisava dizer uma ou outra coisa, já perdi a oportunidade.

Alguém poderia perguntar: mas existe mesmo a necessidade de falar mal de alguém? Existe: quando o acontecido é a mais pura verdade. Corrijo em tempo: quando se trata de um fato, já que a verdade pura não existe. A verdade é um fato narrado por um interessado e, freqüentemente, é contaminada por uma opinião ou ponto de vista.

Sei muito bem que um fato não é uma fofoca, mas, como todo músculo, a língua também precisa de treino para estar em forma.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Novo passageiro

Gostaria de interromper a programação normal para dar boas-vindas a mais um habitante do planeta Terra: o Pedro. Nascido na quinta-feira passada, ele veio para nos lembrar que a vida faz muito mais sentido quando gera mais vida. Parabéns aos pais, Mauro e Karina - que a vida do Pedro tenha apenas as decepções estritamente necessárias e que seja repleta de alegrias totalmente desnecessárias.

Um abraço.

Onde estás que não responde

Uns dias atrás fiquei muito impressionado ao constatar o tanto que as pessoas entendem pouco sobre ética. Pensei comigo mesmo: não é possível que tanta gente esteja enganada - deve ser eu que estou vendo coisas onde não tem.

Mas ainda bem que não costumo me dar ouvidos (meus conselhos para mim mesmo sempre são péssimos), pois, mais tarde, tive a epifania: ninguém gosta muito de pensar sobre ética quando está sendo antiético. Comportamento humano básico: se alguém concorda comigo, eu devo estar certo. Se muita gente concorda comigo, devo estar certíssimo - como já pensava Hitler.

A ética não está na opinião dos nossos amigos.

Mas onde ela está? Ainda não descobri, mas assim que chegar a uma conclusão, posto aqui. Ultimamente tenho tido muita oportunidade de pensar a respeito do assunto.

Death Note

O que você faria se tivesse o poder de matar sem ser punido? Essa é a premissa por trás de Death Note, um mangá japonês que virou frisson nos EUA e que também virou Anime. Para os não-iniciados, mangá é história em quadrinhos e anime é desenho animado em japonês.

Um demônio perde um caderno na Terra e esse caderno tem o seguinte poder: toda pessoa que tiver o nome escrito nele irá morrer. Quem escreve precisa ter o rosto da pessoa em mente, ou o caderno não funcionará (isso evita que homônimos sejam assassinados sem querer). O assassino pode ir mais além e escrever também a causa da morte e detalhar as circunstâncias em que a morte vai acontecer.

O detalhe é o seguinte: o caderno vai parar na mão de um menino que decide matar apenas criminosos. E a próxima questão é: as pessoas vão considerá-lo um criminoso também - ou um herói?

Há alguns anos cultivo um roteiro parecido para um livro. Chama-se O Assassino Simpático. A idéia é um grupo de criminosos que mata apenas políticos corruptos e acima da lei. Gente como o Roriz ou o Renan (esses nomes são fictícios e qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência). Confesso que não pensei em incluir demônios e poderes sobrenaturais na história, mas posso reconsiderar agora que já sei que, no mangá, fez sucesso.

domingo, 4 de novembro de 2007

A Copa do Mundo é Nossa

Tenho tudo para estar feliz com a escolha do Brasil para ser o país sede da Copa do Mundo de 2014. E, para sua comodidade, relaciono os motivos:

1. Devo estar vivo até lá. Não garanto o estado, mas as probabilidades de conseguir ir a um jogo são boas.
2. Gosto de futebol. Menos do que já gostei, mas ainda o suficiente para me empolgar com um jogo de seleção brasileira, que, ultimamente, tem feito de tudo para minar minha paixão pela bola. A Seleção ainda tem sete anos para me desestimular, mas acho que a paixão agüenta até lá.
3. O Brasil mostrou, no Pan, que, pelo menos aos olhos do mundo, é capaz de organizar um evento esportivo internacional. Os turistas gostaram, os atletas gostaram, a Globo gostou e até a Istoé e a Veja gostaram. Quem não gostou muito foram as emissoras de esporte de canais a cabo,que tiveram problemas de infraestrutura para a transmissão, mas o que esse povo entende de esporte, não é mesmo?
4. Trata-se de uma oportunidade para investimento em infra-estrutura. Não só esportiva, mas saúde, segurança e transporte devem receber investimentos que estavam há muito adiados.
Só uma coisa me impede de vibrar com a história toda: será mais uma oportunidade para roubo, superfaturamento, concessão de privilégios, orgias mercadológicas (e de outros tipos, mais tradicionais – mas em relação a essas, a única coisa contra é que não me convidam) e safadezas outras.
Citei mais de um item, mas trata-se de uma coisa só: a safadeza do brasileiro que está no poder: do presidente ao empresário, passando pelo traficante, somos um país administrado por pessoas mais interessadas em se aproveitar de uma oportunidade do que oferecer a oportunidade para todos. Se precisamos de uma Copa do Mundo para que haja investimentos em áreas prioritárias, que seja. Mas é muito difícil ficar feliz com isso.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Reações

As pessoas são imprevisíveis, mas só até certo ponto. Hoje fiquei absolutamente surpreso com a reação de uma pessoa... Por uns dez segundos. O tempo de perceber que, no fim, a criatura só poderia ter reagido mesmo daquela forma.

E é assim com quase todo mundo. O marido matou a esposa? O vizinho do lado provavelmente irá dizer, desolado:

— Eu sabia...

E um amigo:

— Mas porque você não fez nada a respeito?

O vizinho:

— É que antes eu nem desconfiava, mas depois que aconteceu, descobri que já sabia disso o tempo todo.

O amigo, de olhos arregalados:

— Que observação esquisita!

E o mesmo amigo, logo em seguida, mais conformado:

— Se bem que, vindo de você, não me surpreende...

E a cada dia que passa, fico mais surpreso com o tanto de coisas que eu já sabia sobre determinadas pessoas.

De volta de novo

O Ninguém Perguntou está de volta. Se bem que, na verdade, ele não foi a lugar nenhum e, apesar de vocês não estarem recebendo atualizações, continuei escrevendo uma ou outra coisa por aqui. Portanto, o mais correto seria dizer que as atualizações automáticas do Ninguém Perguntou estão de volta.

E, dessa vez, são realmente automáticas. A loura eslava que encaminhava as mensagens para vocês agora trabalha full time como minha personal trainner, e o gmail faz tudo sozinho, com a ajuda de uns programinhas novos que me ajudam a medir a freqüência do site, entre outras coisas.

Aliás, é sobre isso que quero falar com vocês: a freqüência está péssima. Era de se esperar, já que meus e-mails não estavam mais te encaminhando para o site, mas agora vamos deixar de preguiça e mover esse dedinho, clicar no link abaixo e mexer os olhinhos. É isso aí! Quero ver todo mundo com olhinho mexendo. Quem não ler tudo, vai pagar 50 flexões, moleque!

Hm... Desculpe pela empolgação. Desde que minha nova personal assistiu à Tropa de Elite que minha vida tem sido um inferno... Preciso descontar em alguém.

Também quero aproveitar para dar as boas novas aos novos assinantes do Ninguém Perguntou. Para quem não sabe, o sistema de assinaturas do Ninguém Perguntou funciona da seguinte forma: algum amigo-da-onça manda seu e-mail para mim pedindo para que eu inclua a pessoa no banco de dados, sem sua autorização ou permissão*. Isso é feito imediatamente e qualquer pedido do dono do e-mail para ser removido da lista é terminantemente ignorado. A pessoa vai receber e-mails não-solicitados do Ninguém Perguntou para o resto da minha vida - o que não deve durar muito: tenho recebido algumas ameaças por causa desse sistema de assinaturas.

Bom, sem mais delongas,

Bem-vindos ao Ninguém Perguntou

http://ninguemperguntou.blogspot.com


 

*Na verdade, você pode remover seu nome a qualquer momento. Basta responder a este e-mail solicitando a remoção. Ou incluindo mais alguém, passando a sacanagem para a frente.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Genética Perigosa 2

Laboratórios no mundo todo estão patenteando genes a torto e a direito. Isso significa que, de uma hora para outra, você pode deixar de ser considerado o legítimo dono de algo que está dentro de você. Quer mais? Estão descobrindo que muitos genes são responsáveis não apenas pela cor dos olhos, mas também por comportamentos: violência, desejo, vícios - é a famosa predisposição genética.

Sabe o que isso significa? Um assassino poderá alegar predisposição genética em um tribunal e sair livre. Depois que todos os genes estiverem todos catalogados e mapeados, se você souber que tem predisposição para diabetes e ainda assim engravidar alguém, poderá ser responsabilizado legalmente.. Você estará conscientemente espalhando uma doença genética.

Não acaba aí: através da manipulação genética, poderemos alterar a natureza: cachorros que são eternamente filhotes, baratas gigantes como bichos de estimação, peixes no formato da garrafa de Coca-Cola (pet ou original).

A manipulação genética é uma forma de garantir que não precisemos de colônias de louras como sugeri na crônica anterior, pode curar diversas doenças e produzir alfaces com gosto de BigMac (quero ver as crianças recusarem as verduras), mas o que provavelmente vamos acabar fazendo é dar ainda mais dinheiro para advogados e corporações multimilionárias, criar um supervírus e, quem sabe, uma super-bomba, que misture mutações instantâneas e radioatividade, para garantir ainda mais mutações a longo prazo.

Assim é a raça humana. Existimos para nos explorar uns aos outros. É hereditário. Se ao menos houvesse um jeito de mudar isso...

Genética perigosa

Foi com um pouco de horror que recebi a notícia de que as louras podem entrar em extinção nos próximos 400 anos. Bom, tecnicamente, os louros também vão se extinguir, mas estou preocupado mesmo é com as louras.

E, ao contrário do que muita gente maldosa possa pensar, não se trata do processo de seleção natural de Darwin, que defende que só os mais capazes sobrevivem. Nada disso, você não vai encontrar nesse texto nenhuma piadinha sobre a falta de inteligência das louras. Apenas os duros e frios fatos.

A culpa é da globalização, e desse povo que anda transando para cima e para baixo, misturando os genes e desorganizando o caldo biológico. O gene dos cabelos louros é recessivo e tem tudo para se perder no meio dessa suruba genética.

O ser - humano se adapta rápido e já estamos preparados para o pior. A tintura e a água oxigenada são correções evolutivas eficazes, assim como a lança e a roda foram necessárias para a preservação da espécie no passado. Mas ainda podemos agir enquanto é tempo.

Sugiro a construção de reservas na Dinamarca, na Noruega e na Suécia... Hmm... Na Suécia, não. As revistinhas de sacanagem de lá são ótimas. É melhor deixar a libertinagem correr solta por lá (por razões parecidas poupei a Holanda). Pode ser a Finlândia. Pronto: Dinamarca, Noruega e Finlândia.

Com três países voltados só para a reprodução de louras (e louros, inevitavelmente) acho que ficamos bem. Ei! Já fazemos isso com baleias e micos, por que não com as louras? Não é machismo, é consciência ecológica.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Eu e o Rio.

Em ordem cronológica, veja mais ou menos o que aconteceu comigo nas últimas vezes em que estive no Rio de Janeiro:
- Andei em um táxi com um motorista psicótico;
- Fui assaltado, com direito a ter um tiro disparado em minha direção.
- Dormi em um motel. Sozinho – o que torna a situação ainda mais deprimente (longa história). E esperei oito horas no aeroporto para voltar para casa.
- Aconteceu uma das maiores chuvas da história do Rio de Janeiro. Atente para o fato de que não foi simplesmente uma chuva forte. Vale repetir: uma das maiores chuvas da história do Rio de Janeiro. Demorei três horas para chegar ao aeroporto – e fiquei preso mais uma hora e meia dentro do avião antes que o mesmo pudesse decolar.

Gostaria, ainda, de deixar claro que jamais falei mal abertamente do Rio de Janeiro até o episódio do motorista psicótico. E que só passei a falar mal sistematicamente da cidade depois do episódio do tiro. O Rio começou e obviamente não tem a menor intenção de pedir desculpas. É guerra!

Não sei exatamente como um único indivíduo pode travar uma guerra com uma cidade, mas pretendo descobrir. Vou começar pela minha área: a publicidade. Nesse caso, negativa.

As principais cidades do mundo são cenários importantes, que refletem a cultura e o comportamento dos seus cidadãos. Enquanto Nova York é a escolha preferida para filmes que valorizam as relações humanas e a arte, enquanto Paris é a cidade preferida para a filosofia e o amor, o Rio de Janeiro faz sucesso pelo mundo mostrando a fragilidade humana diante da violência e da degradação moral. Ou vocês nunca ouviram falar de Cidade de Deus e Tropa de Elite?

Que coisa feia, Rio, que coisa feia. Quando é que você vai tomar jeito, hein?

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

House

Quem tem o canal da Universal na TV a cabo provavelmente já assistiu a um episódio de House e, se não assistiu, está perdendo.

House é um médico extremamente competente que usa toda essa competência como desculpa para ser intratável: arrogante, convencido, agressivo e antiético. É uma pessoa impossível de existir, mas o roteiro do seriado (e a atuação de Hugh Laurie) é inteligente o suficiente para dar credibilidade ao personagem.

Mais que isso: House é o profissional que todos gostaríamos de ser! Confesse: você bem que queria ser um fodão, o escroto do pedaço, o cara que todo mundo detesta e admira ao mesmo tempo, o cara que está certo o tempo todo, que tem sempre a frase certa no momento certo.

Pelo menos por alguns momentos - porque claro que ser o House o tempo todo seria um saco. Um sujeito sem amigos, sem namorada e sem esperança.

Mas ser o House não é um objetivo de vida, é uma catarse. Não é alguém que planejamos ser, mas alguém que gostaríamos de ser em uma situação saia-justa.

E é por isso que o seriado funciona. Por uma hora, você fica ali, vendo aquela personalidade magnética dominado o mundo à sua volta (inclusive o espectador) e, antes que você fique realmente incomodado, o episódio acaba. E ficamos com a ilusão perfeita de que ser alguém como o House pode ser muito bacana.

Os diálogos rápidos e inteligentes também colaboram com a diversão. Uma das minhas frases preferidas: “você não pode ter raiva de Deus e não acreditar nele ao mesmo tempo”.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

A lente da verdade

O nobre mago andava distraído, pensando nos grandes enigmas do universo quando tropeçou e caiu. Seus óculos voaram longe, bateram contra uma pedra e se partiram, irremediavelmente quebrados. "Justo hoje", pensou o nobre mago, "que não tenho comigo meu livro de feitiços banais".

Sim, porque, verdade seja dita, com um feitiço banal, o mago poderia restaurar seus óculos e voltar a ter uma visão perfeita. Que infelicidade! E ele nem conseguia se lembrar do feitiço banal! Era tão simples - como pôde esquecer?

Mas nem tudo estava perdido, pois um pobre camponês que passava por perto assistiu a tudo e aproximou-se do nobre mago:

— Nobre mago, perdão, mas vi o que aconteceu e acredito que posso ajudá-lo. Acontece que sofro do mesmo mal e carrego comigo sempre meus óculos sobressalentes. Posso emprestá-los para o senhor, se quiser.

Mas aconteceu o seguinte: vários aprendizes de feiticeiro tinham também assistido à cena e observavam o nobre mago atentamente. O mago percebeu que pegar os óculos emprestados com o camponês seria admitir a todos os presentes que havia esquecido o óbvio, que ele já não se lembrava de algo tão banal quanto o feitiço reparador. O que pensariam dele?

O nobre mago, então, se empertigou e, gesticulando no ar, falou:

— Não se preocupe. Já fiz um grande feitiço que me permitirá enxergar por um breve tempo até que pegue meus óculos sobressalentes.

Todos ficaram admirados com o mago, pois nem sabiam que o tal feitiço existia e o mago continuou seu caminho, cego, mas com a dignidade intacta. O mesmo não pôde ser dito do camponês que ainda foi alvo de algumas risadas. Que inocência achar que o mago precisava de ajuda, justo o grande nobre mago escolhido pelo próprio rei!

E cada um seguiu seu caminho.

Moral: Para enxergar as coisas através do ponto de vista dos outros é preciso humildade. Ou: se você é convencido, melhor usar lentes de contato.

Solúvel 2

Determinados problemas são muito difíceis de serem solucionados. Encaixam-se nessa categoria problemas que são seus, mas cuja solução depende de outros.

Se uma pessoa, por exemplo, bater no seu carro e fugir. O que fazer? Você pode torcer para alguém ter anotado a placa, torcer para que a pessoa entre em crise de consciência e volte para o local do acidente ou, simplesmente, declarar o problema insolúvel, arcar com o prejuízo e seguir em frente.

Alguns podem argumentar que seguir em frente é uma forma de solucionar o problema, mas essas pessoas são as mesmas que costumam ver a vida de forma positiva e que acham que tudo de ruim acontece por um motivo. Qualquer um sabe que esse tipo de pensamento só pode trazer tranqüilidade - e quem é que quer ficar tranqüilo hoje em dia? Eu, certamente, não.

Por algum estranho motivo, gosto de ver o mundo como ele é: um lugar sem solução.

Hipótese

A seguir, um roteiro hipotético para uma camapanha hipotética voltada para o jovem, com foco no direito de usar camisinha, hipoteticamente, claro.
ROTEIRO
CAMISINHA É UM DIREITO
30”

TEXTO LIDO EM ALTA VELOCIDADE, REPLETO DE IMAGENS RÁPIDAS E RECORTADAS DE JOVENS DE TODAS AS ETINIAS, GÊNEROS E CLASSES SOCIAIS, ILUSTRANDO DE FORMA BEM-HUMORADA O QUE O NARRADOR ESTÁ FALANDO.

A CADA DOIS SEGUNDOS A IMAGEM MUDA ENQUANTO O LOCUTOR FALA.

ALGUMAS IMAGENS SUGERIDAS:
JOVENS DANÇANDO, GRUPO DE AMIGOS, DOIS HOMENS TROCANDO UM SELINHO (BEIJO RÁPIDO), MÃOS DADAS, UM SENHOR BEM VELHINHO BRINCANDO COM O NETO, UM CASAL DE JOVENS SE AGARRANDO DENTRO DE UM CARRO VELHO, CENAS DE RUA, JOVEM DE CAMISA VELHA E PÉS DESCALÇOS, SOL, CHUVA, SERTÃO E PRAIA.

TEXTO:
O JOVEM É UMA CRIATURA HUMANA, RESIDENTE NO PLANETA TERRA, COM IDADE INDEFINIDA ENTRE 12 E 120 ANOS.
ELE SE DIVERTE, ELE NAMORA, ELE AMA, ELE TRANSA – ÀS VEZES SEM CAMISINHA.

IMAGEM :
JOVEM AO LADO DE UM AMIGO QUE BATE NA CABEÇA DO OUTRO COM DOIS CASCUDOS.

TEXTO:
MAS, MESMO ASSIM, É O JOVEM QUEM MAIS ENTENDE QUE A CAMISINHA EVITA A GRAVIDEZ E PROTEJE DA AIDS E DAS DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS.

E, POR ISSO, ELE CONQUISTOU O DIREITO DE ANDAR SEMPRE COM UMA CAMISINHA AO ALCANCE DA MÃO. OU DUAS.

IMAGEM :
APARECEM OS MESMOS JOVENS DA IMAGEM ANTERIOR FALANDO. O AMIGO TEM UMA CAMISINHA NA MÃO E O OUTRO, DUAS. ELE AGORA SORRI E DÁ UM CASCUDO NO AMIGO.

ASSINATURA (OUTRA LOCUÇÃO):
CAMISINHA – É UM DIREITO DE QUEM TRANSOU E DE QUEM AINDA VAI TRANSAR.

Amizade

Descobri recentemente que sou muito exigente com meus amigos. O que é péssimo, pois eu mesmo não sou o que pode ser considerado um amigo exemplar. O máximo que você vai conseguir me tendo como amigo é um telefonema de seis em seis meses e, com sorte, que eu lembre do seu aniversário de dois em dois anos. Não garanto que vou dar presente.
Esse é o pacote básico, mas eu ofereço um upgrade gratuito se as coisas se complicarem:
- Não dou em cima da esposa ou da namorada. (Se for muito gostosa, der em cima de mim e o amigo em questão estiver me devendo dinheiro, me reservo o direito de abandonar essa regra – mas usarei camisinha).
- Aceito qualquer desabafo por horas (e em qualquer horário) em casos de desilusão amorosa, chefe escroto ou perda de título nacional por causa de roubo do juiz.
- Levo no hospital em caso de bebedeira, acidente com objetos perfuro-cortantes e bolada no saco.
- Dou carona se não tiver que sair muito do caminho.
E é mais ou menos isso.
Por outro lado, exijo de quem queira ser meu amigo o seguinte: lealdade e respeito.
Tenho tido poucos candidatos.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Opinião

Minha filha de quatro anos acha que um fusquinha se parece muito com um cachorro quente e que o ser humano não pode pertencer ao reino animal porque não late e nem bota ovo.

Isso mostra que uma opinião pode ser tanto baseada em fatos quanto em experiência pessoal e ainda assim soar estranha aos ouvidos de muita gente. Isso também prova que, à medida que envelhecemos, nossas opiniões vão ficando cada vez menos originais e ainda menos interessantes.

Mas isso é só minha opinião.

domingo, 7 de outubro de 2007

Aparências

Na prática, coincidência e destino são a mesma coisa. Sendo assim, por coincidência ou destino, a ética (ou a falta dela) acabou estando muito presente em minha vida nos últimos meses: de um livro meu publicado sem minha autorização até uma possível campanha de publicidade que tive a oportunidade de discutir. O tema voltou a chamar minha atenção hoje quando, ao ler o jornal, dei de cara com a declaração da senadora escolhida para ser relatora na CPI das ONGs.

O nome dela me fugiu agora, mas a declaração dela me marcou: "A ética não pode ser o centro de tudo". Tudo indica que ela mantém ou manteve relações com uma das ONGs arroladas na CPI e, apesar de identificar um conflito ético na questão, isso não parece ser motivo suficiente para desqualificá-la como relatora. Pelo menos, não na visão da própria senadora.

Não vou entrar em detalhes nas outras discussões éticas que citei no primeiro parágrafo. As histórias são boas, mas mais adequadas para um bate-papo em uma mesa de bar que para o Ninguém Perguntou. O que me chamou atenção é que tenho tido a impressão de que o meu conceito de ética não é muito popular e não bate com o conceito de muita gente por aí.

Qual é minha referência para ética? É mais ou menos a seguinte: se uma atitude parece ser errada é porque provavelmente é mesmo.

Mas o mundo é mais complicado que isso e as pessoas, mais complicadas que o mundo.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Bobagem

O bobo da corte não se veste como os outros, não se comporta como os outros e é alvo do ridículo de todos. Ninguém dá crédito às coisas que ele diz e, embora seja divertido apreciá-lo por uns tempos, ninguém gostaria de ser visto junto ao bobo da corte em uma ocasião social. O bobo da corte normalmente está sozinho em suas convicções, que são esquisitas, improváveis e fora de moda.

O Renan Calheiros daria um ótimo bobo, pois só o próprio se vê como inocente, mas a ele falta um pré-requisito fundamental, o detalhe primordial que define o bobo: o bobo só fala a verdade, o que o torna inconveniente e chato de vez em quando.

Por conta dessa inconveniência, o Rei poderia mandar matar o bobo, mas o bobo o faz lembrar-se de outros tempos, quando ele ainda não era rei. Quando ele e o bobo sentavam juntos na calçada e ele ria de tudo que o bobo falava sobre o monarca anterior.

 

Jogos

Finalmente achei um hobby que parece ser saudável. Uma coisa que, além de divertida, não aliena você do mundo à sua volta. Pelo contrário, aumenta sua capacidade de socialização e já me rendeu, senão amigos, prováveis candidatos.

Jogos de tabuleiro.

Minha esposa gosta, minha sobrinha gosta, minha filha gosta e meu cunhado gosta (nada é perfeito). Uma porção de gente em todo mundo gosta e a comunidade online é uma das mais inteligentes e bem-humoradas que já visitei... Tá, você me pegou: é a única comunidade online que visitei – mas foi também a única que, após passar os olhos rapidamente, me interessou.

Além disso, hoje pela manhã acompanhei a história de uma família que, por intermédio de um jogo de tabuleiro, conseguiu fazer com que seu filho autista interagisse com o resto da família.

A dificuldade para o autista não é entender as regras ou os mecanismos de um jogo. A dificuldade para ele está em dividir a experiência do jogo com alguém, já que ele tem resistência em sair de seu universo particular. Ele agora está aprendendo a esperar a vez de jogar e entende os limites do que pode fazer em seu turno, respeitando também o direito dos outros de participar da brincadeira.

Acho que qualquer hobby que aproxima famílias e que ensina a respeitar limites e a compartilhar bons momentos é um bom hobby.

O videogame, agora meio esquecido, anda morrendo de inveja...

1, 2, 3, testando...

Ontem fiz uma coisa da qual não me orgulho muito. Resolvi fazer um teste de confiança.
Explico: estava prestes a tomar uma decisão importante e, para isso, seria interessante saber se uma determinada pessoa confiava em mim ou não.
Fiz o teste, a pessoa falhou miseravelmente e eu achei melhor ficar quieto e não tomar decisão nenhuma.
Embora a coisa toda tenha tido um efeito prático que me foi benéfico, o resultado final foi o seguinte: a pessoa confia ainda menos em mim e eu estou ainda mais decepcionado com a criatura (se é que isso era possível).
Lição: em qualquer situação onde um teste de confiança seja necessário é porque já não existe confiança há algum tempo e o teste é, portanto, desnecessário.


A história acima, apesar de narrada em primeira pessoa, é uma obra de ficção. A não ser, é claro, que a carapuça sirva em alguém.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Orelhas

Engraçado, cortei o que resta do meu cabelo bem rente há poucos dias atrás, o frio aumentou e tudo indica que vai chover - mas minhas orelhas continuam quentes.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Solúvel

Recentemente acompanhei uma discussão muito interessante na Internet que envolvia teses e hipóteses sobre sorte, arrogância, familiaridade, habilidade e robôs gigantes (eu falei que a discussão era interessante, não disse que era séria). De qualquer maneira, o grupo chegou às seguintes conclusões:

1. Existe um tipo de arrogância que é gerada quando alguém conquista alguma coisa por sorte, mas acha que foi por competência. Da mesma forma, muita gente confunde falta de capacidade com azar.

2. É possível conduzir uma situação com habilidade mesmo quando os elementos envolvidos não estão sob seu total controle. Especialmente, se você tem familiaridade com o problema.

3. Elementos randômicos são fundamentais em certas situações (filmes, festas, férias) e desagradáveis em outras (motel, salto de pára-quedas, volta das férias).

4. Explodir a cabeça de um robô gigante inimigo é sempre uma experiência satisfatória. Fazer isso a dois quilômetros de distância, com o alvo em movimento e utilizando seu último tiro de bazuca é tão espetacular que não dá para escrever mais nada depois disso. Vou ter que deixar para explicar o título desse texto em outra oportunidade.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Letras

Desde que comecei com essa história de blog já escrevi mais de trezentos textos. Alguns bem-humorados, outros repletos de ceticismo e uma ou outra elucubração com pretensões filosóficas.

Apenas algumas poucas frases, algumas poucas letras, foram românticas.

Isso tem uma explicação: não me sinto qualificado para escrever sobre o amor. Sei muito pouco sobre ele, embora esteja cercado dele.

Tenho em casa duas mulheres, minha esposa e minha filha, que sabem tudo sobre o amor. Todos os dias, as duas me ensinam alguma coisa nova sobre ele. As duas são especialistas na matéria e, confesso, isso acaba me intimidando um pouco. Afinal, qualquer coisa que eu escrever hoje sobre o amor, amanhã estará obsoleta, pois elas me mostrarão que o amor era mais do que eu pensava.

Elas fazem isso todo dia. Basta eu chegar a uma conclusão sobre o que é o amor, para que elas me provem, logo em seguida, que o amor era na verdade muito mais. Sempre mais e mais, verdadeiramente infinito. E, no entanto, o amor cabe por inteiro no abraço da minha filha e no beijo da minha esposa.

Amanhã voltamos à nossa programação normal.

Sonhos

Cheguei à conclusão de que meus sonhos precisam melhorar. Basicamente, tenho sonhado com mulher pelada desde os treze anos de idade, com poucas variações. Um ou outro pesadelo caindo no abismo, afogando, essas coisas que todo mundo sonha. Nada demais.

Hoje mesmo um amigo me contou que sonhou com o pai. Trivial, certo? Mas espere, o melhor está por vir: no sonho, o pai dele era o Antonio Fagundes. Belo casting para o sonho.

Os meus são bem mais pobres, com locações medíocres ou, pior, com aquele branco leitoso de background. Meus sonhos não têm figurantes, não têm trilha sonora e os efeitos especiais são de terceira categoria.

As tramas do meu sonho também não são interessantes e nem têm reviravoltas mirabolantes no final. È tudo tão banal que raramente lembro deles quando acordo.

Não sei exatamente como dar um upgrade no meu subconsciente. Tenho medo de ler Caras antes de dormir e dar de cara com o Paulo Coelho no meu sonho. Terei que gastar anos de terapia para me recuperar. Além disso, tudo ficaria com cara de novela da Globo, o que não sei se seria lá muito interessante.

Bem, vou continuar a ler meus livros e meus quadrinhos, que, apesar de serem muito interessantes, parecem não afetar muito meu subconsciente. O bom é que, pelo menos, não espantam as mulheres peladas.

Traição

É impossível provar uma traição. Você consegue provar um assassinato, uma agressão, uma coerção e até uma sacanagem, mas você não consegue provar uma traição.

Até mesmo no caso de um membro de um casal pular a cerca ou de um espião vender informações militares para outro país. Você consegue provar que houve infidelidade (ou quebra dos votos matrimoniais), você consegue provar que houve espionagem. Mas não consegue provar uma traição.

A traição é medida pelo que você espera de uma pessoa e não existe medida mais subjetiva que essa. Você pode fazer contratos, você pode conversar por horas estabelecendo as regras e os limites de uma relação, você pode se basear na ética universal. Mas ninguém consegue determinar, escrever ou simplesmente saber, de forma cristalina, o que espera de alguém.

Em relações distantes, quase conseguimos ser objetivos: espero da polícia que ela me proteja. Existem alguns tons de cinza aí, mas trata-se de uma boa generalização. Hoje em dia não nos sentimos traídos quando a polícia falha porque, verdade seja dita, gostaríamos que a polícia nos protegesse, mas já não temos essa expectativa há um bom tempo.

O processo vai ficando mais difícil à medida que sua intimidade com a pessoa ou instituição aumenta. Você espera um sem número de coisas do local onde você trabalha, da escola do seu filho, do seu cônjuge e dos seus amigos.

E, de repente, você se vê traído. Você não vai conseguir provar, você não vai conseguir entender, você não vai encontrar ninguém imparcial o suficiente para elucidar a situação.

A solução para o problema está entre você e o “traidor”. Ele precisa entender o que fez para trair sua confiança e você precisa entender ou, o que é mais difícil, aceitar os motivos que o levaram àquele gesto, àquela palavra ou àquela ação.

Se isso não acontecer, só lhe resta uma saída: esquecer.

Mas você não vai conseguir.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Loucos e pedras

Uma amiga, certa vez, me falou de um louco que costumava perambular pelas ruas de sua cidade (ou da cidade da mãe - enfim, não era aqui). A mania dele era a seguinte: toda pedra na qual tropeçava, ele guardava para si. Vivia caminhando, tropeçando e guardando pedras.

Um louco com uma pedra na mão não é uma imagem que inspire muita tranqüilidade, mas me ocorreu o seguinte: o sujeito não era tão louco assim. Ele apenas fazia literalmente o que todos nós fazemos no sentido figurado.

Quando encontramos pedras no nosso caminho, dificilmente damos a volta e seguimos em frente, sem olhar para trás. O mais provável é que, de alguma forma, levemos o obstáculo conosco, na forma de uma mágoa, um rancor ou, no mínimo, uma lembrança ruim que volta para nos assombrar de vez em quando.

O certo seria largarmos o obstáculo para trás ou, na impossibilidade disso, ao menos esvaziarmos os bolsos de vez em quando, para facilitar a caminhada.

Mas o bom mesmo, bom mesmo, seria poder jogar a pedra na cabeça de quem inicialmente a colocou no nosso caminho.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

A saga chega ao fim

Há uns dias atrás finalmente li o último capítulo da saga do Lobo Solitário. Minha própria saga para ler toda a obra de Kazuo Koike e Goseki Kojima também é digna de menção, já que li a primeira HQ do Lobo Solitário aos dezenove anos.

De lá para cá diversas editoras assumiram o título no Brasil, mas nenhuma conseguiu publicar todo o épico. Eu tinha que me contentar em ler o Lobo Solitário em espasmos, seguidos por intervalos de dois a cinco anos até a próxima história.

Mas a Panini foi valente e publicou tudo, do começo até o final, sem cortes, em vinte e oito volumes, com a orientação de leitura e onomatopéias originais. Bravo!

Ao ler o último capítulo, não consegui segurar as lágrimas. Algumas foram de alívio (finalmente terminei de ler essa porra!), mas outras foram de genuína emoção, o que prova o brilhantismo dos autores ou que o meu estado emocional não andava lá essas coisas.

Acho que foi mesmo o talento dos dois. Koike e Kojima receberam prêmios nos cinco continentes pela série, que exibe uma rara sensibilidade ao tratar de temas como honra, lealdade, dignidade e amizade, mostrando que essas coisas, que eram valorizadas no Japão feudal, não perderam sua importância nos dias de hoje - só ficaram mais raras.

Altas temperaturas

Com a recente onda de calor e a baixa humildade no ar (não escrevi errado, não - trata-se de uma referência obscura a coisas que ando observando por aí), as pessoas andam procurando alternativas para se refrescar.

Da tradicional garrafinha a tiracolo a blusas mais decotadas, vale tudo. No caso das mulheres, sou particularmente a favor das blusinhas decotadas, mas andei sabendo de uns marmanjos andando por aí sem cuecas, o que considero deprimente.

Essa onda de calor também gera todo tipo de consideração amalucada sobre como suportar o incômodo. A mais recente que me contaram foi andar pelado.

Não sei o quanto andar pelado contribuiria para a minha comodidade, mas provavelmente incomodaria os outros. Além disso, acho meio anti-higiênico - uma bermuda e chinelos seriam suficientes. Talvez uma camiseta cavada.

Enfim, o importante mesmo nessa história são as camisetas cavadas e os decotes generosos. Vamos lá, mulherada, que o calor está de matar!

domingo, 23 de setembro de 2007

Há males que vem...

Não acredito no ditado "Há males que vem para bem". Para mim, uma coisa ruim, é uma coisa ruim e ponto. Sem discussão. Certos sofrimentos e acontecimentos nos fazem aprender e entender determinadas coisas, mas tenho cá minhas dúvidas se essas coisas não poderiam ser aprendidas sem sofrer. E, de qualquer forma, não é todo sofrimento que nos faz crescer. Se fosse assim, quem está passando fome nas ruas teria que ter um padrão moral elevadíssimo ou uma sabedoria infinita.

Obviamente, tem muita gente que está nas ruas que tem mais sabedoria que eu, mas não sei se o responsável por isso é o sofrimento.

É claro que uma coisa ruim pode, eventualmente, nos levar a uma coisa boa. Mas isso não é um atributo próprio das coisas ruins e nem uma regra. Uma coisa boa pode nos levar a uma melhor ainda e, uma ruim, a outra pior.

Acredito que a santificação ou valorização do sofrimento seja uma herança católica, para que fiquemos mais conformados com as injustiças que somos obrigados a testemunhar todos os dias.

Existe sorte e existe azar, acontecimentos randômicos que interferem na nossa vida, nos levando para um lado ou para o outro, mas acho bobagem tentarmos transformar nosso sofrimento em algo interessante ou positivo.

Para mim, a melhor maneira de lidar com o sofrimento é aceitá-lo como uma realidade e, na primeira oportunidade, deixá-lo para trás. Como isso é extremamente difícil, acabamos fazendo as pazes com o sofrimento que nos acompanha e tentamos transformá-lo em algo bom: mais ou menos os que os torcedores do Botafogo fazem.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Rodrigo

Desde pequena que a Lavínia queria ter um Rodrigo. A obsessão começou lá pelos treze anos e de lá para cá, assim como ela própria, só cresceu.
Certa vez sua irmã mais velha, a Moema, apareceu em casa com um Felipe e ela gostou muito do modelo. Olhos claros, ombros largos. Mas o Felipe tinha um certo ar de superioridade que a incomodava, o que ela queria mesmo era um Rodrigo: um homem bonito, alto, forte, mas sem muita iniciativa, que era para não dar trabalho.
Ao longo da vida, a Lavínia teve que se contentar com outros modelos, inclusive um Agripino, que tinha manchas na lataria e vazava. Mas não desistiu de encontrar o seu Rodrigo.
Certo dia, na praia (um habitat natural dos Rodrigos), ela encontrou o que procurava. Jogou os longos cabelos loiros para trás e disparou:
— Seu nome é Rodrigo, não é?
— Na verdade...
— Não diga nada! De agora em diante vou te chamar de Rodrigo e pronto.
— OK.
Ela sorriu. Pela subserviência era mesmo um Rodrigo legítimo.
A vida da Lavínia com o Rodrigo não era exatamente o que ela esperava. Em primeiro lugar, a manutenção era trabalhosa e o Rodrigo passava pouco tempo com ela, por causa da malhação e do vôlei.
— Eu não sabia que os Rodrigos jogavam vôlei – confidenciou a uma amiga mais experiente, que atualmente estava com um Ricardo e um Francisco.
— Não é comum, mas muitos jogam. Mas é melhor que um Ronaldo – todos os Ronaldos jogam bola e volta e meia quebram.
— Que coisa...
— Escuta, você parece meio tensa. Quer o meu Ricardo emprestado?
— Ah, não. Obrigada.
— Olha, vou te dizer uma coisa: esses modelos muito badalados às vezes não valem a pena. Eu, por exemplo, ando muito satisfeita com o meu Francisco. Ele paga todas as contas e faz Lasanha aos domingos. E não quer transar o tempo inteiro.
— Pois é. Esse é outro problema: quando transo com o Rodrigo parece que estou transando com uma TV de plasma de 52 polegadas.
— Eu sei. Não é ótimo?
Não era. Lavínia andava por aí e não conseguia entender como é que outras mulheres, acompanhadas de modelos visivelmente defeituosos, pareciam muito mais felizes que ela. Mas quando surgia a oportunidade, ela enchia o peito de orgulho e perguntava, piscando os olhinhos:
— Eu já te mostrei o meu Rodrigo?


Essa crônica foi inspirada em fatos reais. Uma amiga recentemente me apresentou o seu namorado exatamente da forma descrita acima. É sempre reconfortante para um Emivaldo (modelo 73) saber que as pessoas continuam loucas e que o mundo continua sem fazer muito sentido.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Limbo

Não confirmei a notícia, mas isso é coisa para jornalista sério que, como todo mundo sabe, não existe. Ou existe, mas já abandonou o jornalismo por decepção. De qualquer maneira, tudo indica que o novo Papa acabou com o limbo.

Aparentemente foi tudo um mal entendido qualquer, um concílio mal interpretado, uma encíclica redigida por um estagiário (ou coroinha). Enfim, acabaram com o limbo, que sempre foi uma das minhas argumentações clássicas contra a doutrina católica. Até aí tudo bem, pois o limbo não fazia muito sentido mesmo, mas, como bem lembrou o Nivaldo (um colega de trabalho cujo bom-humor é fruto de um eterno mau-humor), o que fazer com toda a turma que ficou no limbo todos esses anos?

Até onde sei, por lá ficaram milhões de índios e de criancinhas que morreram sem ser batizadas e talvez mais um ou outro desavisado (não lembro exatamente quais eram todas as regras para ir parar no limbo). Enfim, é menos um lugar para conhecer depois que tudo se acabar por aqui.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Inocência

Certa vez, aos onze anos de idade, eu quebrei o vidro da sala da diretora do meu colégio jogando uma pedra nela (na janela, não na diretora). Minha intenção não era quebrar o vidro, mas apenas fazer a diretora sair na janela para ver o que estava acontecendo. Claro que, quando ela aparecesse na janela, eu já estaria a quilômetros de distância, rindo como um idiota. Mas as coisas não saíram conforme o planejado e o vidro espatifou-se. Levei um susto tão grande que não me mexi e, quando a diretora apareceu na janela, deu de cara comigo. Olhando para mim fixamente ela perguntou:

— Você viu quem fez isso?

Nesse momento aprendi uma lição importante na vida: não aparentar culpa é mais importante do que ser verdadeiramente inocente. Você pode escapar impune de qualquer coisa se sua cara de pau for grande o suficiente. Fica melhor ainda se você conseguir convencer a si próprio de sua inocência, mas só convencer aos outros já é suficiente.

Além disso, assumir um erro é algo que mostra um pouco de caráter, mas que, na prática, não leva a nada. Provavelmente fará com que você perca o emprego ou a esposa (ou o(a).......................................... - favor inserir na linha pontilhada termo politicamente correto que melhor se adéqüe ao seu gênero e/ou preferências sexuais e/ou crenças religiosas e/ou estilo de vida).

Nesse ponto do texto eu estava planejando uma virada na argumentação para encerrar em um tom mais otimista, mas agora já fui realista demais e vai ser difícil retroceder.

Bom... Fazer o quê? Não fui eu quem fez as regras da vida. Quem foi? Também não sei, mas provavelmente é alguém com uma carinha de inocente.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Texto razoável

Algumas palavras, mesmo sendo irmãs (ou sinônimas), acabam tendo conotações diferentes. Deve ter a ver com a turma que elas andam, más escolhas em sua adolescência e acredito que, assim como as pessoas, as palavras estão muito à mercê da opinião que os outros têm sobre elas.
É o caso das palavras “medíocre” e “razoável”. Elas têm um significado semelhante, mas acabaram querendo dizer o seguinte:
Razoável: poderia ser melhor, mas está bom.
Medíocre: Está ruim, mas poderia ser pior.
Existem outros exemplos, mas um exemplo só para um texto escrito em dez minutos é bem razoável. Poderia ser pior – poderia ser medíocre.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Vida Fácil

Você pode escrever sobre a vida com resultados bastante razoáveis (preciso escrever uma crônica sobre a palavra razoável, mas fica para a próxima) e sem muito esforço. Basta compará-la com qualquer outra coisa. Você não só pode escrever um texto como, muitas vezes, livros inteiros. E a técnica também é muito útil para produzir frases de efeito, que podem até ser consideradas inteligentes, dependendo da turma com a qual você anda.

Para exemplificar, vamos escolher um tema aleatório, como, hm, vacas! Não, vacas, não: surfe.

A vida é como o surfe: uma coisa aparentemente sem objetivo, que pode ser muito divertida e compensadora se você se dedicar a ela.

A vida é como uma prancha de surfe: não importa sua habilidade em conduzi-la, para conseguir bons resultados, você ainda vai depender da onda.

A vida é como o surfe: faz mais sentido quando se mora perto da praia.

Etc.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Internetes

Volta e meia recebo uns e-mails cuja autoria é, de forma muito suspeita, atribuída aos mais diversos indivíduos. Hoje mesmo recebi um que, supostamente, foi a resposta de uma menina de dezesseis anos a uma questão de prova que envolvia um poema de Camões. Já recebi o mesmo e-mail, com o mesmo texto que, salvo engano, referia-se a uma resposta a uma questão de vestibular que um garoto, blá, blá, blá.
Mesmo texto, autores diferentes.
Não tenho nada contra a mentira na literatura e nem na vida real. Acho que a mentira é o refúgio do homem comum e quem não consegue enganar a si mesmo normalmente não é muito feliz.
Me incomoda muito quem mente para prejudicar os outros ou quem mente para se beneficiar de forma ilícita ou anti-ética. Mas o fato é que as pessoas têm uma péssima relação com a verdade, pois ela é quase sempre chata e inconveniente.
E é por isso que adoramos a Internet. Ela nos mente o tempo todo. Todo mundo é nosso amigo, todo mundo quer sexo, todo mundo é inteligente, o mundo é um lugar divertido, grotesco e interessante.
E os e-mails continuam chegando, repletos de histórias reais que nunca aconteceram.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

A pessoa ao lado

Se neste momento você estiver sozinho lendo essa crônica, talvez seja melhor ir fazer outra coisa. Volte quando tiver alguém no seu raio de visão.
Muito bem, agora olhe bem para a pessoa ao seu lado, seja ela quem for, e se pergunte: você sabe do que ela é capaz?
Não falo de situações hipotéticas extremas, daquelas que só acontecem nos livros e no Rio de Janeiro. Coisas como assassinato, canibalismo, prender a respiração por vários minutos ou sobreviver a um ataque de zumbis. Nada disso. Falo de coisas mais simples que possam ser aplicadas em um passeio, em casa ou no trabalho.
Quantas palavras por minuto ela datilografa? Como ela se sai apresentando uma proposta para um grupo de empresários? Ela sabe trocar o pneu de um carro? Quantas posições do Kama Sutra ela já executou com sucesso? E essa pessoa sabe para que lado é o boroeste? (não falei que os conhecimentos precisavam ser úteis).
Você pode pedir o currículo do indivíduo, pode conversar com a mãe dele, pode morar com ele há quinze anos e não saber, na verdade, do que aquela pessoa é capaz.
Desconfio que não temos nem a medida certa do que nós mesmos podemos e conseguimos fazer. Eu, por exemplo, tenho quase certeza de que ainda consigo plantar bananeira, mas uma mistura de desânimo e bom senso me impedem de tentar.
E eu ia chegar a algum lugar interessante com esse texto, mas decidi parar por aqui. Tenho convicção de que vocês são capazes de chegar a alguma conclusão bem interessante por conta própria.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Placas

Antes de sair de férias eu tinha um caso com a Malu Mader. Nós não falávamos sobre o assunto, claro, pois nossos mundos são muito diferentes e, ora, ambos somos casados e amamos nossas esposas. Quer dizer, eu amo minha esposa e ela ama o marido.

A coisa começou há uns seis anos atrás. Eu demorei um tempo para perceber, mas depois de passar todos os dias pela mesma rua, voltando do trabalho, tudo ficou muito claro: do alto de seu outdoor do Café do Sítio, a Malu não tirava os olhos de mim. Todos os dias, sem falta, ela me encarava com suas sobrancelhas de taturana.

A partir daí, uma certa cumplicidade foi sendo construída. Nada de sexo, nada de encontros clandestinos em motéis cheios de baratas, nada de conversas telefônicas sussurradas no meio da noite. Apenas uma troca de olhares diária que queria dizer, simplesmente, "sim, eu te entendo". Não se tratava nem de amizade e nem de romance. Era algo mais misterioso, que só nós dois entendíamos.

Mesmo quando o outdoor mudou e o Toni Beloto foi incluído no cartaz, a Malu não tirava os olhos de mim. O maridão ali do lado, como um cão de guarda, mas a fidelidade da Malu não esmorecia, seus olhos compreensivos sempre me acompanhavam.

Quando voltei de viagem, contudo (e para minha surpresa), a Malu Mader não estava mais lá. Ou a campanha acabou ou descobriram o que andava acontecendo entre nós ou... Sei lá! O mundo é um lugar estranho e nem sempre podemos saber o que se passa pela cabeça das pessoas – especialmente as que estão representadas por uma foto de outdoor.

Mas sinto falta da Malu.

E, enquanto estamos no assunto das placas, uma outra apareceu enquanto eu estava fora, dessa vez na pista que leva ao meu trabalho. No caminho que faço todos os dias, quando chego a um determinado cruzamento, preciso virar à direita. Pois bem, apareceu uma placa que diz o seguinte: "Salvador" – e aponta para o caminho da esquerda.

Agora, todos os dias sou confrontado com a escolha entre ir trabalhar ou seguir para Salvador. Se um dia desses eu desaparecer sem avisar, não estranhem.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

A Volta do Ninguém Perguntou

Acabou a minha missão no estrangeiro. As coisas não foram fáceis por lá e descobri que ser espião não é fácil. Como todos sabem (se não sabiam leiam até o final da frase e depois a leiam de novo, aí a frase fica correta), minha missão incluía uma breve passagem por Miami e uma série de outras atividades em Orlando, a ratolândia.

A primeira barreira foi a língua. Meu inglês é bom, mas não adianta nada saber falar inglês em um lugar onde só se fala espanhol. Meu primeiro relatório para o serviço de inteligência brasileiro, escrito em letras grandes e com palavras fáceis, já que o nosso serviço de inteligência tem o QI muito baixo, foi explicando que a invasão aos Estados Unidos já havia começado. É claro que o domínio dos latinos ainda está limitado aos sub-serviços, mas já não há mais volta no processo de latinização do litoral sul dos EUA. Viva la revolución!

O resto é mais ou menos o que eu esperava: segregação racial, muitos gordos, mickeys e patetas (inclusive eu). E, claro, muita diversão.

O Ninguém Perguntou está de volta. Eu, ainda não. Permaneço incógnito e escondido. É preciso ter muito cuidado quando se pões os pés no Brasil. A vida de espião internacional é difícil, mas a de brasileiro é muito pior.

    

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Os últimos dias do Ninguém Perguntou

Ao contrário do que o título acima possa insinuar, eu não vou parar de escrever no Ninguém Perguntou, para a infelicidade das pessoas que recebem regularmente meus e-mails não-solicitados.

Trata-se apenas de uma pausa, mas não é por causa disso que vamos perder a oportunidade de fazer drama e sensacionalismo.

O motivo é nobre: estou indo em missão secreta para as terras do Tio Sam. E a missão é tão secreta que nem eu mesmo sei qual é, o que é ótimo, pois provavelmente vai sobrar tempo para passear na Disney.

Enquanto não volto, tenho duas sugestões para vocês que me lêem com certa freqüência:

1. Reler alguns dos posts mais antigos do Ninguém Perguntou. Tem mais de 400, não é possível que você se lembre de todos – deve ter alguma coisa aí que seja interessante de rever.

2. Fazer qualquer outra coisa.

Como sempre, obrigado pelo carinho e pelas críticas (mais pelo carinho que pelas críticas), um grande abraço a todos e aproveitem bastante a minha ausência (eu aproveitarei).

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Fazer o bem sem olhar a quem 2

Neste mundo, as pessoas precisam umas das outras. Desde o básico (reprodução) até o complexo (fazer funcionar uma cidade inteira, com sua rede elétrica e de esgoto). Estabelecer relações proveitosas é necessário e parte da condição de ser humano. Beijar, namorar, abraçar, conversar com amigos, sorrir, amar, educar os filhos, fazer um trabalho bem-feito – tudo isso é egoísmo. É sobrevivência. Você dá, mas recebe algo em troca, imediatamente.

Não quero entrar em uma discussão filosófica sobre o que é o bem ou o mal, mas classifico, para efeito desse ensaio, uma boa ação como uma escolha consciente para beneficiar alguém em detrimento do benefício que isso possa nos trazer. Levar o filho à escola é praticamente uma obrigação, mas buscá-lo naquela festa, às duas da manhã de uma quinta-feira só pode ser classificado como um ato de bondade – e quem se ferra é você que ficará um caco no dia seguinte e não vai render nada no trabalho.

Mas o engraçado nisso tudo é que as boas ações também são necessárias para a preservação, se não das nossas vidas, da nossa sanidade. Precisamos acreditar na bondade. Acreditar em Deus, acreditar no outro, acreditar em nós mesmos.

Precisamos, a cada segundo nos certificar de que podemos ser melhores que os políticos que povoam o Jornal Nacional, pois o ceticismo absoluto nos paralisaria. A bondade é como um alimento para a alma. Sem ela, as coisas perdem o sentido e o beijo pode ficar sem sabor e o amor pode virar conveniência.

Mas levantei a questão como um alerta: sustento para a alma, sim, mas toda comida engorda. E algumas dão uma indigestão danada.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Fazer o bem sem olhar a quem

Alguns ditos populares são suspeitos, pois só trazem alívio psicológico ou beneficiam um lado da equação.
"O importante é competir" só serve para consolar o perdedor. "Dinheiro não traz felicidade" é ótimo para quem não tem um tostão (ou inveja de quem tem). E a frase "Fazer o bem sem olhar a quem" provavelmente foi inventa por um picareta precisando de ajuda.
Não existe boa ação que passe impune. Ao contrário do que muitos acreditam, fazer o bem não resulta em bem – pelo menos, não para quem faz. E o maior exemplo disso é Jesus Cristo. Tudo o que ele queria era que nos amássemos uns aos outros e foi traído, torturado e crucificado. Ele e praticamente todos os santos da igreja católica têm histórias tristes e terríveis. Gandhi também foi morto e bastou Jhon Lennon começar a falar de paz em suas músicas que também levou chumbo.
Esses são exemplos extremos, mas a teoria também funciona no nosso dia-a-dia. Fazer o bem aos outros não é algo que devamos fazer irrefletidamente, ou pior, achando que o outro ficará agradecido ou que a boa ação nos recompensará de alguma forma. Se quer fazer o bem, faça sabendo que isso lhe trará conseqüências.
Emprestar dinheiro, dar carona, dar conselhos e trazer estranhos para dentro de casa são todos exemplos de boas ações que podem acabar mal.
Sendo assim, podemos concluir que não vale a pena ajudar os outros, certo?
Resposta no próximo texto do Ninguém Perguntou.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Contemporâneos

Eu e meus amigos nascemos quase ao mesmo tempo e crescemos quase do mesmo jeito, passando mais ou menos pelas mesmas fases, mais ou menos na mesma época.

Primeiro namoro, primeiro beijo, primeira transa, primeiro noivado, primeiro casamento (alguns já no segundo), primeiro filho (ou filha), com um ou outro ano de diferença, pouca coisa.

Provavelmente, envelheceremos e morreremos quase ao mesmo tempo, com um ou outro partindo um pouco mais cedo ou um pouco mais tarde. Mais que amigos, somos contemporâneos - eternamente destinados a dividir nossas alegrias e tristezas.

Chegará o momento, contudo, no qual restará apenas um de nós. É assim mesmo: a vida é tudo o que existe entre o segundo e o penúltimo suspiro, o resto é solidão.

Embaixadinhas

Não dá para esconder que fiquei um pouco decepcionado com o processo de retirada do visto para visitar os Estados Unidos.

Não sou daqueles brasileiros muito nacionalistas, anti-norteamericanos. Ao contrário, gosto muito da cultura pop americana (quadrinhos, filmes, literatura). Tenho lá minhas restrições à promoção do consumo desenfreado e à política externa estadunidense, mas simpatizo com a produção cultural americana e com a eficiência de sua indústria de entretenimento.

Mas a requisição do visto é uma maluquice sem tamanho.

Os questionários são extensos e oscilam entre a chatice e o surreal, com perguntas que vão desde onde estudei no segundo grau até se tenho ou não intenção de cometer genocídio em terras americanas.

As regras sobre a concessão do visto não são muito claras e as pessoas que já passaram pelo processo têm todo o tipo de histórias de terror para contar, criando um climão de suspense escroto pra caralho (desculpem meu francês).

O agendamento da entrevista é complicado, desnecessariamente demorado e, em última instância, inútil. No fim, você ainda tem que enfrentar uma fila imensa e ficar horas em pé e migrando de fila em fila. É preferível pular a etapa do agendamento, acordar às três da manhã e fazer plantão na porta da embaixada. Você perde um dia no processo, mas pode ganhar meses no seu planejamento de viajem.

O local onde você faz a entrevista é meio derrubado. Os banheiros são fedidos, não tem ar-condicionado (só uns ventiladores de teto) e a entrevista é conduzida com você em pé conversando com o entrevistador que fica em um guichê, como o caixa de um banco pós-moderno que, em vez de armazenar dinheiro, armazena dados sobre você.

O lado bom é que eles dão água de graça, foram educados (apesar de metódicos) e liberaram o visto de forma rápida e tranqüila (um anticlímax, já que eu esperava um verdadeiro interrogatório e me foram feitas apenas quatro perguntas). Mas de primeiro mundo mesmo vi só a arrogância.

terça-feira, 24 de julho de 2007

Torcedor adormecido

Os Jogos Olímpicos e o Panamericano sempre despertam o torcedor em mim. Não o torcedor com o qual estou acostumado, que xinga o técnico da seleção de futebol (independente de quem seja) e lamenta a situação atual do Flamengo (e, por situação atual, refiro-me aos últimos dez anos).

O torcedor que acorda é o patriota, que torce pelo Brasil em qualquer situação, não importa o tipo de esporte. Judô, esgrima, boxe, cuspe à distância, qualquer um. Mesmo sem ter interesse real pelo esporte ou, como é frequentemente o meu caso, sem nem entender as regras.

Na última luta de judô, aquela que a brasileira foi desclassificada por conta de uma decisão meio contestável do juiz (palavras do apresentador), juro que achei que a brasileira tinha perdido a luta porque o kimono dela estava desarrumado.

Frustrante. Mas compensei vendo o handball feminino - e o masculino - levarem a medalha de ouro e morrendo de rir toda vez que o narrador gritava “A Chana não deixa passar nada”!*

Pra frente Brasil.


* Pra quem não sabe, Chana é a goleira do time de handball feminino.

sábado, 21 de julho de 2007

Detalhes

Alguns filmes, apesar de serem bons, não são memoráveis – ou escapam de ser espetaculares por pouco. Uma fotografia comportada demais, diálogos formulaicos, um ator desinteressado ou uma história trivial podem ser fatores decisivos para que o filme troque a glória pela mediocridade. O terceiro capítulo da saga de O Poderoso Chefão é um dos exemplos mais famosos desse tipo de filme. A presença da Sophia Coppola no elenco quebra o ritmo e a credibilidade das cenas, deixando-o bem abaixo do patamar dos dois primeiros capítulos. É um bom filme, concorreu ao Oscar e tudo, mas está longe de ser obrigatório, por causa de muito pouco.

Mas o mais interessante é que o inverso pode muito bem acontecer. Filmes medíocres ou razoáveis que, por causa de uma cena ou diálogo, ou uma música marcante, ou uma brilhante atuação, ganham status muito superior ao que seria normal. Para continuar pegando no pé da Sophia Coppola, cito o exemplo de Lost in Translation. Graças a uma atuação simplesmente brilhante de Bill Murray, o filme chato, lento e sem final de Sophia virou um programa imperdível, a ponto de alçá-la à categoria de diretora respeitável.

Esse assunto me veio à mente porque ontem assisti a Diamante de Sangue, com o Leonardo diCaprio e o Djimon Hounsou (esse tive de conferir a grafia do nome na Internet), um filme legalzinho, mas meio esquizofrênico, mistura de filme de ação com denúncia social. Um bom programa que teve sua qualidade elevada por uns três ou quatro diálogos mais inteligentes que o normal e pelo momento que marca a virada de caráter do personagem de DiCaprio, pontuado pela seguinte frase: "meu coração me diz que as pessoas são inerentemente boas, mas minha experiência sugere o contrário".

Falar mais é estragar o prazer de ver o filme, mas que achei a frase brilhante, achei.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Coisinhas pequenas

Minha filha agora está em uma fase interessante. Na infância, todas as fases são interessantes, parece que é na adolescência que as coisas vão degringolando.
Mas o fato é que, ultimamente, ela anda muito impressionada com o vasto conhecimento que eu e minha esposa temos sobre o mundo e suas milhares de pequenas coisas.
— Quem é aquele moço vestido de laranja com o apito, papai?
— É o guarda de trânsito, filha. Ele tenta organizar as ruas que tem muitos carros, pra ninguém bater em ninguém.
— O que é essa setinha aqui?
— Ela mede a velocidade do carro.
— Por que o Sol é quente?
— Porque ele é uma bola de fogo bem grande.
— Como você sabe disso tudo?
— O papai do papai ensinou para ele. Quando você estiver maior, você também vai ensinar para o seu filhinho.
— Mas papai...
— O quê, filha?
— Até eu ficar grande eu vou esquecer tudo isso.
Fique tranqüila, filha. Estou escrevendo tudo aqui no meu blog, para que nem eu nem você nos esqueçamos desses momentos.

As Maravilhas e eu

A votação pela Internet das novas sete maravilhas do mundo foi uma maluquice sem tamanho. Alguns dos indicados não eram tão maravilhosos assim – e muitos não eram novos, poderiam estar na mesma lista das maravilhas anteriores.

Minha opinião neste assunto (e em muitos outros) é pouco importante e, se vocês não quiserem saber qual é, eu firmemente desaconselho a leitura deste blog, mas, se dependesse de mim, as novas maravilhas seriam coisas realmente modernas, como a Saturn V (aquela lata velha que levou o homem ao espaço e eventualmente à Lua) e a Internet (talvez você já tenha ouvido falar).

Colocaria também a TV a cabo, não fosse por um detalhe: os intervalos comerciais.

O espírito inicial da TV a cabo era ter uma transmissão temática, sustentada por um formato de assinaturas, diferente do formato comercial das TVs abertas. A idéia durou pouco, pois o marketing, uma espécie de doença infecciosa da comunicação, corrompe tudo que toca.

O que ganhamos foi uma ocasional pérola em um mar de opções medíocres, com um formato comercial misto que provoca uma imensa repetição de comerciais de um mesmo anunciante. Normalmente um grande cliente seduzido pela segmentação e o baixo custo do anúncio (se comparado com o Jornal Nacional ).

Bem, se algum mídia de agência estiver lendo isso aqui, o que eu duvido, aqui vai uma dica: existe uma coisa chamada "overkill". A superexposição de alguns filmes publicitários transforma um bom filme em algo chato e inconveniente. Juro que se ouvir mais uma vez a musiquinha do Mercado Livre (someone is there, waiting for my call...) entro em um surto psicótico.

E por falar no comercial do Mercado Livre (e em surtos), você reparou que o cara vai entregar o beijo sem saber quem comprou? A menina vê a foto dele fazendo beicinho, mas o magrelo do filme sai para entregar o beijo sem saber quem comprou. Poderia ser um lutador de sumô ou uma velha desdentada. E, no entanto, vemos ele no filme com o ar todo sonhador e romântico. E já repararam que a casa da menina no final não tem nenhum móvel dentro? Bem, se eu não tivesse assistido à droga da propaganda umas dez mil vezes, eu jamais teria percebido isso. Maldito Mercado Livre!

Mas do que é que estávamos falando mesmo?

terça-feira, 17 de julho de 2007

Nacionalismo

Não dá para escrever muito sobre a discussão anterior porque senão ninguém lê, mas é claro que muitos argumentos ficaram de fora. Um deles é o de que a vaia ao Lula, no momento da abertura dos Jogos Panamericanos, poderia ser considerada uma atitude antipatriótica, que não era o momento adequado para esse tipo de manifestação, etc.
Bem, se a manifestação teve efeito, o momento foi adequado – se a própria manifestação foi adequada aí é outra discussão.
Mas também não achei falta de respeito com o país, não. O Presidente da República não é nem a Bandeira e nem o Hino Nacional, não é um símbolo do País (no sentido monolítico da coisa). Ele é o representante eleito do povo e acho que o povo irá respeitá-lo na medida em que considerá-lo digno desse respeito.
A Bandeira não planta a estrela do PT no jardim doado pelo Imperador japonês. O Hino não ajuda o filho a conseguir patrocínios de órgãos governamentais. O Presidente erra, o presidente é passível de impeachment, o presidente pode ser criticado – em público, inclusive.
A bandeira é um símbolo nacional. O presidente pode ser motivo de orgulho ou vergonha nacional dependendo de suas atitudes. Fingir que está tudo bem com o país enquanto recebemos a visita de delegações estrangeiras parece muito com um raciocínio do próprio Lula, revelado em pronunciamento na Estação de Tratamento de Óleo Fazenda Alegre, da Petrobrás, em fevereiro de 2005:

“Eu lembro de um momento, logo no início do governo, quando um alto companheiro meu, de uma função muito importante, veio prestar contas de como ele tinha encontrado a instituição em que estava trabalhando. E ele me dizia simplesmente o seguinte: “A nossa instituição está quebrada. Estamos falidos. O processo de corrupção que aconteceu antes de nós foi muito grande. Algumas privatizações que foram feitas em tais lugares levaram a instituição a uma quebradeira”.
— Eu disse ao meu companheiro: “Olha, se tudo isso que você está me dizendo é verdade, você só tem o direito de dizer para mim. Aí para fora você fecha a boca e diga que a nossa instituição está preparada para ajudar no desenvolvimento do país”.

O certo, então, era esperar acabar a abertura, todo mundo pegar um avião na segunda e ir vaiar o Lula lá no Planalto, dentro do gabinete dele – e bem baixinho.

E, por falar no Brasil bem representado, clique no link abaixo para relembrar pérolas como “O Atlântico é um rio caudaloso” e “A Nigéria e o Brasil são os dois países com o maior número de afro-descendentes do mundo”, dentre outras.
http://www.puggina.org/gafes/index.php?&pageNum=1

Vaias

Provavelmente vou ganhar umas vaias depois de escrever esse post, mas agora é tarde – ainda não escrevi, mas já me decidi a escrever, o que dá na mesma.
O brasileiro andou tendo comportamento de estádio de futebol na abertura do Pan, o que reflete muito bem a nossa falta de educação geral e o momento político brasileiro.
A vaia ao presidente Lula foi surpreendente, humilhando nosso governante diante do mundo e obrigando-o a cometer uma gafe histórica: o presidente ficou com medo de subir ao púlpito e tornou-se o primeiro governante na história dos jogos a não abrir a competição.
A meu ver, essa foi uma manifestação política oportuna e impactante. Algumas pessoas não concordam, achando que é falta de respeito e de civismo. Nada disso. Talvez seja um pouco de falta de civilidade, o que é normal quando a indignação com os governantes de um país chega ao ponto de fervura. Em alguns países vira revolução. Aqui no Brasil vira vaia da classe média (como bem lembrou uma amiga). Ponto para os vaiadores, que aproveitaram muito bem a oportunidade para fazer uma crítica legítima.
Aí, na seqüência, vaiaram a delegação americana. Que o povo tem o direito de vaiar quem quiser, tem. Isso não se discute. Mas aí já me parece mais falta de educação do que consciência política.
Ao contrário do que alguns pensam, os atletas americanos nos jogos Olímpicos e Panamericanos não representam seus governos – eles representam o ideal de união entre os povos. Os atletas não são o Lula, não são embaixadores, não tem visto diplomático. Ou são embaixadores de uma mensagem política outra: de que as diferenças, no momento da competição, precisam ser esquecidas.
E, ainda por cima, vaiaram os atletas não por causa do conjunto de ideais políticos americanos, mas porque um jornalista (que já havia sido punido) escreveu no quadro da sala de imprensa: bem-vindo ao Congo.
Calma, moçada: quem sofre de raiva mal-direcionada é terrorista. É o fundamentalista que não sabe diferenciar nada politicamente. Para ele, civil, atleta, ator, marceneiro, turista, tudo é a mesma coisa.
Resumindo: concordo com a vaia ao Lula e discordo da vaia aos americanos (não porque foi o Lula e não porque foram os americanos). A diferença entre uma vaia e outra é que em uma das situações o vaiado sabia exatamente porque estava sendo hostilizado.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Vaiado, Lula não declara aberto o Pan

O título acima, ambíguo, é a manchete do Globo Esporte Online. Assim, fica até parecendo que o Lula proibiu o Pan de acontecer ou que o Pan está acontecendo à revelia de suas intenções.
Não foi bem assim, foi pior. Pela primeira vez na história dos jogos, o presidente do país não fala na cerimônia de abertura, declarando oficialmente a abertura dos jogos. Para evitar mais vaias, o presidente fingiu que não era com ele o convite do representante da Odepa para subir ao púlpito. A honra ficou para o Nuzman, presidente do COB e os jogos, obviamente, começaram de qualquer maneira.
O Lula ficou lá na arquibancada, como figura decorativa até o final da abertura. Mais ou menos como ele faz com o resto do país, que funciona apesar dele e sua curriola.
Ele fica ali, só olhando. Se tudo der certo, ele colhe os louros. Quando dá errado, ele não sabia de nada. Lula, hein? Acho que o nome do bicho poderia ser outro...

domingo, 15 de julho de 2007

Argentina quem?

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Até que enfim jogamos bem! E, claro, tinha que ser contra a Argentina, que não tinha vacilado ainda na Copa América. O que prova mais uma vez que não falta futebol ao Brasil – às vezes falta motivação e humildade. Mas hoje não faltou nada.

Josué e Mineiro botaram o Riquelme no bolso. O Alex e o Maicon cansaram o Messi e o Juan e o Gilberto cutucaram a canela do Teves até ele não saber mais pra que lado era o Gol. Prova da qualidade do Time da Argentina: para marcar cada jogador da Argentina precisou dois do Brasil. Mas o Brasil soube ser 22 e anular o time que era o franco favorito.

Ainda contamos com Wagner Love e Júlio Batista, que jogaram muito e com o Robinho, que, mesmo sem brilhar, foi útil nos contra-ataques. Enfim, deu tudo certo.

Tivemos sorte na bola na trave do Riquelme quando tudo estava um a zero e na lambança do Ayala no final do primeiro tempo. Dois lances cruciais que poderiam ter mudado a história do jogo. Mas só isso foi sorte – o resto foi competência.

Contudo, a festa preparada para ser campeão (com direito à camiseta promovendo a Copa do Mundo no Brasil) mostra que a imprensa esportiva brasileira tem todo o direito de continuar de orelha em pé em relação à administração mercenária e oportunista da CBF. Agora mais ainda, pois, assim como os políticos brasileiros, os nossos dirigentes de futebol têm a mania de esconder suas vigarices e incompetências embaixo do tapete de um trabalho bem feito (pelos outros).

Mas enquanto isso...

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Ganhamos outra vez!!!!!!!

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