domingo, 18 de novembro de 2007

Falação

Tenho um amigo míope (não da vista, mas das idéias) que, tenho certeza, só conseguirá ler "felação" quando bater os olhos no título acima. Mas quem se der ao trabalho de continuar lendo o texto, vai ver que o tema é mesmo sobre falar bastante (eu espero).

Vamos lá.

Detesto fofoca. Desde pequeno que não me entroso muito com esse hábito de falar sobre os outros. Não precisa nem ser falar mal, falar sobre os outros simplesmente, como se eu tivesse alguma autoridade moral sobre a vida de terceiros me incomoda.

Não sou inocente, claro. Já falei muito sobre os outros e, muitas vezes, de forma injusta e inconveniente. Mas, se serve de consolo, não obtive prazer com isso, e me arrependi todas as vezes (ou quase todas). Mas o fato é que todo esse pudor com a fofoca me traz problemas.

O primeiro deles, natural, é que não gosto que eu seja o alvo das fofocas. Acho que ninguém gosta, mas eu me sinto particularmente injustiçado, já que evito a prática. Mas não me iludo. Sei muito bem o que é ter orelhas quentes.

O segundo problema é mais grave. Evitando a fofoca, não tenho muita prática em falar mal dos outros e, quando isso é necessário, sou atrapalhado por uma mistura de cavalheirismo com falta de jeito e nunca digo tudo o que realmente gostaria sobre os outros. Fico angustiado e, quando decido que realmente ainda precisava dizer uma ou outra coisa, já perdi a oportunidade.

Alguém poderia perguntar: mas existe mesmo a necessidade de falar mal de alguém? Existe: quando o acontecido é a mais pura verdade. Corrijo em tempo: quando se trata de um fato, já que a verdade pura não existe. A verdade é um fato narrado por um interessado e, freqüentemente, é contaminada por uma opinião ou ponto de vista.

Sei muito bem que um fato não é uma fofoca, mas, como todo músculo, a língua também precisa de treino para estar em forma.

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