terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Saco cheio do Peru

Às vésperas do Natal, não sei se por coincidência ou se por ironia, fui parar no Peru. Um país cheio de gente bem intencionada, mas de hábitos esquisitos. Colocam o apelido em documentos oficiais, bebem gasosa, fazem xixi no banho e, mal cheguei, já perguntaram se eu gostava de pica (o que talvez fosse de se esperar, dado o nome do país).

Mas, trocadilhos com o espanhol à parte, ainda assim tive uma viagem repleta de pessoas e acontecimentos curiosos.

Um dos mais engraçados encontros foi com a peruana que comia pingüins. Estávamos na mesa de almoço, conversando obviamente sobre comidas tradicionais. Mencionei a feijoada e a caipirinha. Ela contra-atacou com o ceviche e o pisco sauer. Fui além, e falei da dobradinha e do sarapatel. Ela não se fez de rogada e explicou que os peruanos que vivem na floresta comem formiga e uma espécie de lagarto (vivo, inclusive). Perguntei, no meu portunhol:

— E você? Já comeu algo assim, pouco comum?

— Sí. Hay comido pinguino.

— Pinguino? Como assim? Pinguim? Você já comeu Pinguim?

Meu espanto, para alguém racional, não se justifica tanto. Estávamos falando justamente sobre iguarias excêntricas e, se comemos frango, porque não pingüim, que também é ave? Mas a verdade é que até aquele momento nunca tinha encontrado ninguém que tivesse comido pingüim.

— Mas é comum comer pingüim no Peru? - Perguntei, ainda incrédulo.

— Não - ela respondeu - para dizer a verdade eu também nunca ouvi falar de ninguém que tivesse comido pingüim. E eu também comi golfinho.

Soltei uma gargalhada, numa mistura de falta de educação com idiotice juvenil. A peruana não gostou muito e argumentou que o pinguino era um bicho como qualquer outro. Tão normal quanto comer vaca, peixe ou cuebra.

— Cuebra?

— Sim, cuebra, serpente.

Espirrei gasosa pelo nariz e tive que sair da mesa às pressas, para evitar um incidente diplomático.

E amanhã tem mais Peru no blog.

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