quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Saco cheio de Peru 2

A viagem ao Peru começou quase não acontecendo. Era para ser uma incursão de trabalho, uma troca de experiências no campo da comunicação em aids com o Peru. A Organização Panamericana de Saúde cuidaria de tudo.
Pois bem, até uma semana antes da viagem, eu não sabia em qual dia eu iria. Até três dias antes da viagem, não sabia a que horas sairia. No dia da viagem, não sabia nem em que hotel ficaria e nem se alguém iria me buscar no aeroporto – nesse mesmo dia, o povo do Peru (não a população, a turma com a qual trabalharíamos) também não sabia quando iríamos chegar. Para uma instituição que tem a palavra “organização” no nome...
Enfim, tudo resolvido de última hora, embarquei para São Paulo. Ao fazer o check in para o Peru, o funcionário da LAN perguntou:
— E o cartão de vacina?
— Que cartão e que vacina? – Perguntei, já prevendo o pior.
— O cartão de vacina internacional dizendo que o senhor já está vacinado para a febre amarela.
— Não tenho. Ninguém me disse que precisava.
— Então o senhor não vai embarcar.
— E se eu tomar a vacina agora?
— Não vai dar porque a vacina precisa de dez dias de incubação. E, além disso, o posto de vacinação do aeroporto fechou às cinco horas.
E já eram seis.
Fomos para o posto da Anvisa assim mesmo, eu e meu colega de trabalho, também sem cartão de vacina, também desinformado e também bastante puto.
Depois de muita conversa, ligações para Brasília para pressionar a Anvisa e muito jeitinho brasileiro, conseguimos um cartão de vacina internacional novo. Para isso, tomamos a vacina e o cara da Anvisa escreveu, à mão: revacinação.
O fato de termos reaberto o posto de vacinação foi, ao menos, benéfico para uma moça de uns vinte e poucos anos que precisava desesperadamente vacinar naquele dia para ir à China. Ela chorava copiosamente ao telefone:
— Vovô, vou vacinar, vovô... Vou vacinar, viu? Vou voar...
Teria sido mais tocante e menos esquisito se ela tivesse usado também palavras que não começassem com a letra “v”. E se eu já não estivesse tão mal-humorado.
Voltamos e, depois de mais conversa para explicar que diabos era a tal da “revacinação”, embarcamos em cima da hora, já cansados e irritados antes da viagem começar.
Amanhã, tem mais Peru, mas desde já adianto: deu merda com o cartão de vacina.

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