terça-feira, 17 de julho de 2007

Vaias

Provavelmente vou ganhar umas vaias depois de escrever esse post, mas agora é tarde – ainda não escrevi, mas já me decidi a escrever, o que dá na mesma.
O brasileiro andou tendo comportamento de estádio de futebol na abertura do Pan, o que reflete muito bem a nossa falta de educação geral e o momento político brasileiro.
A vaia ao presidente Lula foi surpreendente, humilhando nosso governante diante do mundo e obrigando-o a cometer uma gafe histórica: o presidente ficou com medo de subir ao púlpito e tornou-se o primeiro governante na história dos jogos a não abrir a competição.
A meu ver, essa foi uma manifestação política oportuna e impactante. Algumas pessoas não concordam, achando que é falta de respeito e de civismo. Nada disso. Talvez seja um pouco de falta de civilidade, o que é normal quando a indignação com os governantes de um país chega ao ponto de fervura. Em alguns países vira revolução. Aqui no Brasil vira vaia da classe média (como bem lembrou uma amiga). Ponto para os vaiadores, que aproveitaram muito bem a oportunidade para fazer uma crítica legítima.
Aí, na seqüência, vaiaram a delegação americana. Que o povo tem o direito de vaiar quem quiser, tem. Isso não se discute. Mas aí já me parece mais falta de educação do que consciência política.
Ao contrário do que alguns pensam, os atletas americanos nos jogos Olímpicos e Panamericanos não representam seus governos – eles representam o ideal de união entre os povos. Os atletas não são o Lula, não são embaixadores, não tem visto diplomático. Ou são embaixadores de uma mensagem política outra: de que as diferenças, no momento da competição, precisam ser esquecidas.
E, ainda por cima, vaiaram os atletas não por causa do conjunto de ideais políticos americanos, mas porque um jornalista (que já havia sido punido) escreveu no quadro da sala de imprensa: bem-vindo ao Congo.
Calma, moçada: quem sofre de raiva mal-direcionada é terrorista. É o fundamentalista que não sabe diferenciar nada politicamente. Para ele, civil, atleta, ator, marceneiro, turista, tudo é a mesma coisa.
Resumindo: concordo com a vaia ao Lula e discordo da vaia aos americanos (não porque foi o Lula e não porque foram os americanos). A diferença entre uma vaia e outra é que em uma das situações o vaiado sabia exatamente porque estava sendo hostilizado.

Um comentário:

  1. Achei pouco a vaia que o Lula recebeu. Deveria receber é pedrada. E não acho ilegítimo vaiarem os americanos, nem por serem adversários no esporte, e muito menos por serem americanos. Enquanto adversários, só dá pra vaiar mesmo. É o papel da torcida desestabilizar o oponente. Azar deles se não estão preparados para isso. Além disso, nossos atletas também levam vaias fora de casa. Então isso não é má educação brasileira, é comportamento de torcedores mesmo.
    Enquanto americanos, levam vaias por serem responsáveis do governo deles. Não são representantes do governo? São, sim senhor. Podem não serem oficiais do governo, mas vêm de um país democrático, e a contrapartida da democracia é essa: a responsabilidade. Todo e cada americano, assim como todo e cada brasileiro, é responsável por seus governantes e por todos os atos do governo, pois foram eles que escolheram. Se escolheram mal, levam a responsabilidade assim mesmo. Quem é livre é responsável. Querem se livrar da responsabilidade? Que abram mão da liberdade, pois essas duas formam um binômio indissociável. Quem vota assume!

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