Gramado é uma Orlando de terceiro mundo. Uma cidade voltada
para o turismo, bem cuidada, com um comércio centralizado ao longo de uma ou
duas vias principais que vive de sazonalidades e é cercada por atrações
temáticas. Mas com algumas diferenças importantes:
1. O tema: Em Gramado o Mickey é substituído por Jesus, Papai
Noel, o Coelho da Páscoa e dinossauros (não pergunte), não necessariamente
nessa ordem. Fica no ar um questionamento ético, uma vez que explorar
comercialmente a Sagrada Família não me parece muito certo, mas alguém pode argumentar,
com certa propriedade, que é melhor valorizar a paz e a união que o Pato Donald
e o consumismo desenfreado. Pense sobre o assunto e, se chagar a uma conclusão,
parabéns.
2. Os hotéis: a maioria dos hotéis em gramado são pensões
com um ar pitoresco, que pode muito bem servir de sinônimo para mal-conservado
e empoeirado, mas, justiça seja feita, uma boa parte dessas pensões são
realmente agradáveis com seu jeito simples, mas todas as hospedarias, sem
exceção, da mais cara a mais barata, são caras demais pelo que oferecem. O
custo/benefício é baixo.
3. A cidade: sempre muito bem decorada e limpa, Gramado tem
a vantagem de possuir uma beleza natural em suas cercanias que Orlando nem
sonha. Assim como em Orlando, é fácil andar em Gramado, mas o trânsito de
Gramado é péssimo.
4. As atrações: Poucas coisas no planeta Terra podem
competir com a Universal em termos de entretenimento e, obviamente, nada em
Gramado chega perto disso. Mas os principais shows de natal da cidade rivalizam
com os shows B da Disney (com algumas ressalvas importantes especialmente no
quesito segurança) e Orlando não tem arquitetura colonial e nem a Serra Gaúcha.
As atrações de Gramado, no entanto, tem um charmezinho por
conta de sua boa intenção, já que a maioria são esforços de uma família ou
indivíduo. Mas o formato comercial é podre e a conservação pobre. O Mundo a
Vapor é pra mim a única atração genuinamente interessante em toda a cidade. As
outras coisas podem até divertir um pouco, mas são dispensáveis, especialmente
porque são caras pra entrar (pelo que oferecem).
Destaque negativo vai para a aldeia do Papai Noel. Um espaço
imenso cheio de boas ideias desperdiçadas.
O comércio: Gramado não só não tem outlet, como, pelo
contrário, a cidade vive de explorar o turista. Tudo é muito caro e não se anda
dez metros na cidade sem pagar 10 reais pra alguma coisa. É um sistema burro e
cansativo. Mesmo que eu fosse milionário não voltaria à cidade, pois não gosto
de me sentir explorado. A exceção é a comida que, apesar de cara, vele à pena.
Como em todo lugar, quem procura vai achar coisas legais e espaços onde seu
dinheiro é tratado de forma mais honesta, mas confesso que enchi o saco de
gastar dinheiro na cidade. Eu até tinha dinheiro pra gastar, só não estava mais
disposto a gastá-lo.
Achei os Papais Noéis de Gramado meio sem noção. |
Conhecer Gramado e Canela foi ótimo. Canela, especialmente,
é bem charmosa e Gramado pode ser legal, com sua boa comida e atrações que
apelam pra emoção. Mas confesso que a coisa toda requer um pouco de boa vontade
por parte do turista, o que é um pré-requisito fundamental pra uma boa viajem
em qualquer circunstância, mas... Mesmo assim... Olha: valeu, mas não volto.
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