É comum ouvir uma pessoa mais velha reclamar de duas coisas:
1. Já não se fazem mais músicas como antigamente e
2. Essa juventude ouve música muito alta.
Um estudo de um grupo de cientistas espanhóis acabou de
provar que as duas coisas são verdade. Eles juntaram um caralhão de músicas
(não sei quantas) desde 1955 até 2010 e jogaram tudo no computador.
A primeira descoberta foi a mais óbvia: as produtoras musicais
estão equalizando suas músicas em volumes mais altos e mais uniformes. Isso
significa que o volume 5 em 1955 era muito mais baixo que o mesmo volume 5 em
2010 e que, além disso, todos os instrumentos em 2010 estão sendo equalizados
mais uniformemente, sem sutilezas.
A falta de sutileza não afeta muito a “qualidade” da música
porque as músicas de hoje tem menos instrumentos musicais (timbres), menos
notas, menos variação de notas, menos palavras, menos rima, menos métrica e até
menos variação de tom. Ou seja, até a maioria das vozes é igual.
Pronto, está provado cientificamente o que eu venho repetindo
há anos. A globalização e os monopólios de entretenimento nos nivelam por
baixo. Dos videogames aos filmes, passando pela música nós nunca fomos tão
tecnicamente capazes e tão criativamente pobres.
Até a literatura, que tecnicamente evoluiu muito pouco,
sofre com a homogeneização e pobreza da geração youtube.
Em 1957 e início dos anos 60, um livro para adolescente que
se tornou um sucesso foi “Rifles para Watie”, contando a história de um jovem
que se alista para a guerra civil em busca de aventura e encontra uma realidade
bem diferente. O livro é engraçado, dinâmico, tem suspense e o autor fez um
trabalho de pesquisa absurdo, dando vários detalhes sobre a guerra; de
localidades, aos uniformes, passando pelo café horrível das trincheiras. Tudo
em uma linguagem direta e simples.
Hoje, infanto-juvenil de sucesso fala sobre um vampiro emo
apaixonado por uma garota retardada, que também arrasta uma asa pra um lobisomem
metrossexual. E a autora não consegue nem acertar nos detalhes das criaturas
inventadas, para as quais nenhuma pesquisa é necessária. Lobisomem depilado e
vampiro que brilha não é criatividade, é gozação.
Existem bolsões de resistência, claro, no cenário
independente de videogames, nos poucos e bravos diretores de cinema autorias
(ou que já ganharam tanto dinheiro que já ligaram o foda-se) e em alguns blogs
por aí que ainda usam a palavra homogeneização e não terminam cada post com uma
contração ou siglas de expressões americanas, mas não estou vendo nenhuma luz
no fim do túnel para a música.
Claro, ainda acho uma ou outra coisa que me agrada, mas a
verdade é que no meu pendrive com milhares de músicas, menos de 5% é do final dos
anos 90 pra cá. E desses cinco por cento, a maioria só está lá pra eu ouvir com
minha filha que, a cada dia que passa, pede mais e mais as músicas dos outros
noventa e cinco por cento. LOL.
Newberry Medal é um prêmio literário superconceituado que existe desde 1922. |
Olhe para a cara da Bela e responda: onde está a outra mão do Lobisomen? |
Caro amigo, permita-me discordar. O fenômeno da equalização é explicado pelo enorme desenvolvimento da tecnologia das gravações. Antes tudo era feito ao vivo, artesanalmente, ou, depois, analogicamente, com muita dificuldade. Hoje, todos temos em casa programas como Ableton Live, ProTools e Logic, e podemos gravar e mixar em casa. Produtores de cada lado do mundo gravam e finalizam seus trabalhos sem nunca se encontratem pessoalmente, como o The Postal Service. Quanto ao fenômeno do over clipping, concordo e acho totalmente desnecessário. Mas isso se aplica, na sua grande maioria, aos artistas do "mainstream" (hoje em dia, ou pops-chiclete com vozes femininas, ou raps/R&B, todos com altas doses de Auto-tune).
ResponderExcluirA forma de fazer música mudou. Esqueça a forma de pensar de antes, em que as gravadoras e as rádios tinham um papel preponderante em nos mostrar o que havia para ser ouvido. Hoje, em sites como o BandCamp, milhares de músicos podem se expressar para o mundo e ainda ganhar seu dinheiro. Há coisas excepcionais, tão criativas quanto o que houve nos anos passados, ou até melhores. Como exemplo, sugiro que ouça as coletâneas da Kitsuné, ou consulte qualquer site/blog de música independente.
A indústria da música como conhecíamos está morrendo, e, de fato, o que vemos na grande - e fadada à obsolecência - mídia são apenas músicos pasteurizados e sem criatividade. Mas, as novas gerações não mais assitem TV como fazemos, nem se importam com as rádios. Hoje, giram em torno do computador. E a música que eles procuram não estão nas FMs, mas no Grooveshark. Procure lá, você vai ver que os jovens continuam fazendo música excelente e vibrante, como fazíamos nos anos passados. A diferença está na forma como você terá acesso a elas. Aliás, essa forma de acesso à boa música sempre foi mudando dos anos 50 para cá: boca-a-boca, festivais, revistas, FMs, fitas K7, MTV, cds (re)graváveis, Napster, Emule, Torrent, blogs... Cabe a nós abrir a mente para tudo isso e ignorar os choques de gerações.
A crítica é principalmente ao cenário POP. O circuito alternativo sempre foi o melhor caminho pra achar coisas interessantes na música.
ResponderExcluirA diferença, concordo com você, é que nos dias de hoje o "alternativo" é do tamanho da Internet, o que não é pouca coisa.
Bons músicos não faltam e concordo quanto às mudanças dos formatos de distribuição que hoje em dia são mais democráticos mas, infelizmente, mais dispersos.
Quanto à equalização, sem dúvida existem diferenças de tecnologia, mas acho que isso deixou os técnicos preguiçosos. Tem muito trabalho feito à mão da década de sessenta que dá de dez a zero no que é feito hoje. A fidelidade hoje é maior, mas a sensibilidade já não garanto hehe.
Mas, repito, estou falando principalmente do main stream.
Excelente contraposição de qualquer modo.