quinta-feira, 10 de agosto de 2006

A caixa de chocolates

Gosto muito do filme Forest Gump, mas ele tem uma analogia que não me convence totalmente. Nem tanto pela analogia em si, mas pela explicação da mesma: a vida é como uma caixa de chocolates (até aí, tudo bem), você nunca sabe o que vai encontrar dentro dela... Melou. Afinal, até onde sei, dentro da caixa de chocolates tem chocolates e pronto, sem surpresa. Ele provavelmente estava se referindo a uma caixa de chocolates sortidos, ou ao kinderovo, vai saber, mas a explicação é fraca. A analogia, contudo, é boa.

A vida é como uma caixa de chocolates – foi feita para nos dar prazer, mas tem conseqüências. Colesterol, gordura e, no caso dos diabéticos, conseqüências mais graves. Assim também é a vida, se a consumimos despudoradamente as conseqüências serão fortes e rápidas, como a diarréia de quem come um quilo de chocolate de uma sentada só. Para vivermos bem e felizes, é importante aprender a retirar o máximo de prazer de pequenos bocados: um sorriso, um olhar, uma mordidinha no chocolate. Não adianta atacar a vida com gula e sofreguidão, pois o resultado disso só pode ser fastio, enjôo e frustração. Pois assim como não é possível comer todo o chocolate que existe no mundo, não é possível viver tudo o que há para ser vivido. Ninguém visitará todas as cidades do mundo, viverá todos os amores ou celebrará todas as comemorações. É, meu amigo, a vida é como uma caixa de chocolates – um presente que todos gostam, mas que, infelizmente, acaba rápido.

E só para esgotar o assunto, outra mensagem interessante do filme é que, para ser verdadeiramente feliz, o indivíduo tem que encarar tudo o que faz com pureza no coração e determinação absoluta. Ou seja, tem que ser meio bobo.

E tem mesmo, sabe? É claro que é perfeitamente possível ser feliz e inteligente, mas nunca ao mesmo tempo. Quando o racional está com força total, a pessoa calcula muito, pesa as conseqüências e acaba não fazendo. E, quando faz, se arrepende. E viver é fazer, é realizar, é construir alguma coisa. Não é fazer qualquer coisa de qualquer jeito, não dá para ser absolutamente inconsequente ou, pior, irresponsável – isso é só perder tempo, o equivalente a enfiar todos os bombons da caixa na boca de uma só vez.

E, para arrematar: quando falo bobo, quero dizer inocente, ingênuo e não crasso, imbecil. Estou falando do Peter Sellers em Muito Além do Jardim e não do Lula que, de bobo, não tem nada.

Um comentário:

  1. Infelizmente percebi que ser bobo é mais vantajoso quando estava no período racional. Já era... Fazer o quê?!

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