domingo, 22 de outubro de 2006

O pulo

Existe uma história de humor negro sobre um homem que acredita ser a última pessoa na face da Terra. Desesperado e solitário, resolve se jogar da janela de um arranha-céu. No momento em que ele pula, se arrepende. Por quê? Porque o infeliz ouve o telefone tocar, a prova definitiva de que ele não estava sozinho no mundo.
Caso o telefone tocasse alguns segundos antes, o homem o atenderia, lógico, mas, dependendo de quem fosse, poderia voltar à janela com ânimo renovado, se é que podemos associar animação com suicídio.
Poderia ser um operador de telemarketing. Sempre achei que, na hipótese do holocausto, tanto as baratas quanto os operadores de telemarketing teriam grandes chances de sobreviver. As baratas, pela sua resistência natural e os operadores de telemarketing por viverem trancados em bunkers subterrâneos e mal-iluminados, eternamente tentando preencher sua cota de ligações.
Já me disseram que minha visão sobre os operadores de telemarketing não é muito acurada, mas, se eu fosse dar crédito ao que me dizem, estaria agora estudando para o concurso do TCU a fim de garantir um futuro razoável à minha filha, e não escrevendo isso aqui.
Poderia ser o Clodovil ao telefone. Por que não? Poderia ser qualquer um, já que nada afeta a credibilidade de uma história hipotética. Poderia ser um candidato à presidência pedindo o seu voto. Poderia ser seu chefe lembrando que, fim do mundo ou não, amanhã o expediente é normal, hein?
Mas o fato é que o homem não atende ao telefone. Melhor assim. Provavelmente era engano.

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