sexta-feira, 14 de outubro de 2005

Crítica

Tem certas coisas que são fáceis de criticar. O nazismo e os filhos dos outros, por exemplo. Mas o que fazer quando sua namorada passa horas no cabeleireiro e aparece com um penteado pior que o do Alex, no último jogo da seleção? E se um amigo seu pede para que você leia o último poema que ele escreveu?
Nessa hora, você tem poucas opções e, ainda por cima, tem que tomar uma decisão em frações de segundo.
Mentir pode ser a primeira coisa a passar pela sua cabeça. A mentira tem fama de ser ruim, por causa de seu relacionamento estreito com a política, mas já salvou mais de um casamento e também algumas amizades. Mas é um caminho sem volta.
— Está lindo!
— Você acha?
— Puxa, perfeito! Obra-prima!
— Que isso...
— Mas se eu estou te falando.
— Que bom que você gostou, pois eu pintei este quadro justamente pensando em você. Pra você colocar na parede do seu apartamento novo.
— ...
— O que foi? Não gostou? Olha, se não gostou, pode falar.
— Não é nada disso. Já não falei que tinha gostado? Gostei! É que meu apartamento é muito simples. Não merece tanto.
— Você mercê muito mais que isso! Quantos anos de amizade? Sei lá, são tantos. Você merece.
— É que tem a Lisandra...
— Que tem a Lisandra?
— Ela não pode com caranguejo. Tem alergia.
— No quadro?
— Alergia braba.
—Ah! De qualquer forma, isso aqui não é um caranguejo. É um caramujo com pênis humano.
— Oh!
— Vai ficar lindo na sala de jantar, não vai?
E tem a verdade. Que, no exemplo acima, poderia fazer com que você perdesse um amigo, salvando a sala de estar e o relacionamento com a Lisandra. Outra opção é o subterfúgio: fingir um ataque cardíaco e cair duro no chão ou alegar ignorância sobre o tema:
— Você sabe que não entendo nada de arte...
Esse assunto me veio à cabeça porque alguns amigos manifestaram um certo constrangimento em criticar as coisas que escrevo no Ninguém Perguntou. Podem criticar, gente. O que escrevo por aqui são opiniões muito pouco refletidas, escritas em meia hora ou menos – algumas opiniões não são nem minhas, são do Alceu, o meu alter ego. Só não vale xingar a mãe, que é santa, sagrada e lê o blog.

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