quinta-feira, 21 de setembro de 2006

Aspas

Recentemente, um amigo me chamou a atenção para a versatilidade das aspas. A informação alojou-se em alguma parte do meu cérebro, mas não escrevi imediatamente sobre o assunto. É que descobri um site novo com várias fotos “artísticas” de algumas “modelos”, no qual me perdi alguns dias em aprofundada “pesquisa”. Mas estou de volta, cheio de “disposição” e mais animado do que nunca.
Ah, as aspas!
Elas são a licença para matar da literatura. Com elas, você pode dizer qualquer coisa e depois desmentir, dizendo que não era isso que você queria dizer. Ou escrever isso, querendo dizer aquilo. Ou fingir que se trata de uma citação de alguém real ou fictício. Você pode até disfarçar o fato de desconhecer a grafia correta de determinada palavra. Para que olhar no dicionário se existe as aspas?
Entre aspas, tudo é permitido, pois tudo é relativo: estive na exposição de fulano de tal e achei o quadro “razoável”. Opa! Como assim? Razoável em que contexto? Tanto faz! Não interessa. Que enlouqueçam tentando descobrir se gostei ou não do quadro. Poderia ser ainda pior. Eu poderia ter colocado a palavra quadro entre aspas, deixando a afirmação ainda mais enigmática.
Mas o perigo real aparece quando as aspas são usadas fora do papel, na linguagem falada. Invisível ao olho nu, as aspas atingem todo seu potencial para a destruição.
— Mas, meu amor, você disse que não tinha problema, que eu poderia fazer um happy hour com meus amigos...
— Jamais afirmei tal coisa!
— Eu disse que estávamos programando uma cervejinha e perguntei se estava tudo bem. Perguntei se tinha algum problema e você respondeu...
— Eu lembro muito bem do que eu disse!
— Você falou, abre aspas, problema? Nenhum, fecha aspas. Não foi isso?
— Quase. Você só errou nas aspas. O que estava entre aspas era só a palavra nenhum.
Conheço pessoas que falam tudo entre aspas. E, em algumas noites, tenho pesadelos com elas.

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