Minha filha esses dias, quando entrou em um antiquário (não pergunte por que), falou, sem cerimônia:
— Aqui é igualzinho à casa do moço.
— Moço? Que moço? – Perguntou minha esposa, meio surpresa, pois não tínhamos ido à casa de nenhum anônimo recentemente.
— Aquele de barba branca.
Pensei no Papai Noel, imediatamente. Mas minha filha já tinha cinco anos e não ia confundir qualquer um com o Papai Noel, ainda mais em julho.
— O tio Paulo? – Era o único tio que lembrávamos que tinha barba branca, mas fazia uns três meses que não íamos a casa dele.
— Não, mãe. Aquele moço que já morreu.
Minha mente já estava fervendo com as possibilidades mais malucas, quando, finalmente, caiu a ficha: ela tinha ido à exposição do Darwin na escola. O moço era o Charles Darwin!
E aí começamos a conversar sobre a exposição.
A Bia (minha filha, pra quem não conhece) comentou solenemente que, além de ver muita coisa velha, lá na exposição ela ficou sabendo que o Darwin gostava de andar de barco, que já tinha enfiado um inseto na boca e que gostava dos animais. Para ela, o essencial a saber sobre o Darwin não tinha nada a ver com a teoria da evolução das espécies. O Darwin da minha filha era um velho de barbas brancas que comia insetos.
Nunca imaginei o Darwin dessa forma e, se meus professores tivessem me apresentado à esse Darwin em vês de ir direto para a explicação da seleção natural, eu talvez gostasse um pouco mais de biologia.
De qualquer maneira, ficou a lição: depois de adultos, nos acostumamos a classificar as pessoas pelo o que elas são capazes de fazer e não mais por quem elas são.
Nossas realizações são importantes, claro e, no caso do Darwin, importantíssimas, mas não vale à pena perder de vista o jardineiro por trás do jardim.
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ResponderExcluirFomos na exposição, achamos fraca. Nem sei o que esperávamos, mas com certeza era alguma coisa que não teve.
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