quarta-feira, 23 de novembro de 2005

O Longuíssimo Adeus

Está difícil de me despedir da boa impressão que o livro de Raymond Chandler, O Longo Adeus, deixou em mim.
O detetive Philip Marlowe, como todo bom personagem, é uma figura impossível de existir na vida real. E boa parte do seu fascínio reside justamente nisso.
Ele não é nem imoral e nem amoral. É uma figura com moral própria, a inspiração para todos os tiras e detetives durões e cínicos que você já viu no cinema. Vive sem dinheiro, mas guarda uma nota de cinco mil dólares no cofre. Recusa uns casos e aceita outros por motivos que só ele pode explicar. Trata todo mundo de forma ríspida e direta e o resultado é uma pessoa que todos odeiam, mas na qual confiam plenamente. Enfim, não existe ninguém como ele. Que personagem!
Não é, obviamente, o maior personagem da literatura universal. Mas foi o único, até hoje, que já tive vontade de roubar. Se tivesse competência para tanto, começaria hoje mesmo uma trama de mistério, ciúme e sordidez humana tendo Philip Marlowe à frente do elenco. E que elenco seria!
A loura bonita e aristocrática, de passado nebuloso. O policial marcado pelo tempo e pela vida, mas ainda honesto e brilhante. A imigrante polonesa bonita e aparentemente avoada. O milionário amargo e bêbado, dividido entre a esposa e a amante. A atriz famosa, sedutora e inacessível. O negro marginal, um contraventor notório, mas com um senso de honra intocado. O juiz corrupto que... Que elenco! Que elenco!
E a trama? Você nem imagina. Pelo menos três pessoas morreriam ao longo da história. Sexo, dinheiro e violência em doses pequenas e calculadas. Reviravoltas garantidas da página quarenta e cinco em diante. Falsas acusações. Suicídios. Pelo menos uma briga em um beco escuro (ou em um quarto barato de motel, ainda não decidi).
A história que eu escreveria já foi escrita, com pequenas alterações, mais de mil vezes por mais de mil escritores e, finalmente, eu sei porquê. Ela é ótima.
Mas me faltam a competência e os direitos autorais.

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