terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

O cartaz

Já comentei várias vezes que um leigo dar palpite sobre publicidade é um pouco como dar palpite na criação dos filhos dos outros. A argumentação pode até ser razoável, mas, normalmente é fora de contexto e sem viabilidade prática.
Ninguém dá palpite no trabalho de um cirurgião, devido á complexidade técnica envolvida, mas, como todo mundo se comunica (uns melhor que outros), todos se sentem à vontade para falar sobre comunicação. Em tese, não vejo muito problema com isso, já que um dos princípios básicos da publicidade é justamente a interação com os outros, mas essa liberdade toda, se contribui com o processo, também produz aberrações.
Exemplo recente é a crítica ao cartaz PROTEÇÃO PARA VOCÊ, do Ministério da saúde, que mostra uma garrafa de cerveja e uma camisinha, lembrando que, se a cerveja precisa de proteção (o isopor) para ficar boa, você também precisa de proteção (a camisinha) para ficar bem. Os críticos da peça têm afirmado que esse cartaz estimula o consumo de álcool. Dá para entender? Bem, entender, é até possível, só não se pode é concordar.
Estímulo, em publicidade, funciona da seguinte forma: pegamos o ato de beber e o associamos a diversas coisas “legais”, como mulheres (ou homens, dependendo da preferência), amigos, farra, relaxamento, prazer, sabor, etc.
A cerveja com a camisinha no cartaz diz simplesmente o seguinte: ao lembrar da cerveja, lembre-se da camisinha. É claro que o cartaz também não produz nenhuma associação negativa com o álcool, o que obviamente impediria que o mesmo fosse colocado nos bares e que o público-alvo aceitasse e entendesse a mensagem.
Entendo que tem gente que morre de medo de tocar em qualquer assunto delicado e prefere que não se faça nada, com medo de errar. Não falamos de camisinha para não falar de sexo, não falamos de seringas descartáveis para não falar de drogas, não falamos de travestis para não revelar ao mundo que elas existem e não falamos sobre cerveja para não lembrar que as pessoas bebem, sim e que, ao beber, podem esquecer a camisinha. É o mesmo tipo de pessoa que vai detestar esse meu texto. Gente que adora dar palpite sem ser questionado.
Paciência. É preciso respeitar o ponto de vista das pessoas. Só não respeito os jornalistas que editaram a matéria do Globo sobre o assunto. Estes últimos, pelo menos em tese, deveriam usar o conhecimento de comunicação que têm para analisar as questões criticamente e não só para fazer barulho.

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